Mil


O Blog ultrapassou o milésimo acesso. Não posso negar que me sinto feliz e orgulhoso. As pessoas que aqui chegam em geral gostam do que lêem, muitas vezes voltam e algumas vezes, se tornaram assíduas. Os comentários e as perguntas ainda são poucos, é verdade, mas vamos melhorando um passo de cada vez.

Mas vocês já se perguntaram porque o número 1000 exerce todo esse fascínio? Seja na virada do milênio, seja no dia que seu Blog chega a mil acessos?

Na época da virada do milênio, li um livrinho (mesmo, tinha aquele formato de bolso) chamado “O milênio em questão”, de um biólogo evolucionista espetacular chamado Stephen J. Gould. Ele mostrava que a natureza humana, em sua incansável busca por explicações, razões ou compreensões, acabou determinando arbitrariamente a importância desse número sem que ele determinasse absolutamente nada na natureza.

Alias, muitas outras questões relacionadas com contagens e calendários são puramente arbitrárias. Os dias da semana em sete, as estações do ano em 4… a lista segue.


A natureza nos brindou com 3 ciclos: os dias (voltas da terra em torno de si mesma), as lunações (voltas da lua ao redor da terra, que são ligeiramente parecidas com nossos meses) e os anos (voltas da terra ao redor do sol).

Mas eles não se encaixam de nenhuma maneira. Exatamente por isso, o Carnaval cai cada ano em um dia diferente, sendo que nunca vai ser em Agosto, mas nunca vai ser dois anos na mesma data: O carnaval cai sempre entre o solstício de verão e a próxima lua cheia.

A nossa matemática decimal, com base 10, pode derivar do fato de termos 10 dedos nas mãos, ainda que muitas outras culturas tenham sistemas numéricos distintos (a informática usa a base hexadecimal – 16 – por isso seu computador tem memória de 256 e 512 Mbytes – todos múltiplos de 16). Os Maias, por exemplo, tinha a base 20 (e como o livro brinca, talvez eles contassem os dedos dos pés e das mãos). E isso se soma ao grande grupo de evidências que sugere essas foram decisões arbitrárias para ajudar a reduzir a ansiedade do ser humano com relação as coisas que ele não controla. Como se o a cada segunda-feira os problemas da semana anterior desaparecessem e tivéssemos a cada 7 dias, uma chance de recomeçar. O que serve para os anos, séculos e especialmente, milênios.

O 1000 parece menos importante quando pensamos no 10 da camisa do Pelé, ou no 100 de uma nota de US$100. Mas a bíblia está recheada de questões dessa natureza e muitas ligadas ao apocalipse. Apesar disso, tivemos a chance de viver um dia que mudou de semana, ano, século e milênio, sem que nossas vidas tenham mudado em função disso.

Vocês podem pensar que resolvi comemorar o acesso mil escrevendo um texto chato, mas acho que essas são questões que revelam muito sobre a natureza humana. O que nós somos. Angustiados e massacrados pela indiferença da natureza ao nosso redor! Mas pra comemorar minha natureza humana, vou fazer umas mudanças no visual do Blog pra deixar ele mais agradável pra vocês. Obrigado!

A que a ciência se propõe?

Outro dia, ouvi uma amiga falar que acredita mais na arte e na magia que nas explicações científicas e racionais, porque pelo menos elas não têm a pretensão da verdade, apesar de ficarem mudando constantemente. E pensei na pergunta que coloco como título do texto. A ciência têm a pretensão de verdade? A ciência promete ser imutável? O que é a ciência?

De acordo com alguns autores, temos 3 esferas de conhecimento: o religioso, o filosófico e o científico. Sim, nessa ordem de importância.

O conhecimento nasce, de forma inerente, da observação da natureza. O principal método para o aprendizado da natureza, por milhares de anos, foi a observação direta dos eventos. Como a observação não era metódica, pouco conhecimento podiam extrair delas. Os fenômenos pareciam inexplicáveis e eram atribuídos a entes superiores: deuses. A religião nasce como uma forma de compreender e se comunicar com esses deuses. Cultos para agradar os diferentes deuses, aplacar sua íra etc…
O conhecimento religioso não necessita de muito para ser comprovado, apenas de fé. Um conhecimento que necessita apenas de fé não pode nunca ser testado. Não precisa mudar nunca.

Os filósofos foram grandes observadores. E queriam encontrar formas de explicar a natureza que não envolvessem, pelo menos diretamente, os Deuses (apesar de mesmo filósofos como Kant sempre encontrarem uma forma de colocar Deus por uma porta dos fundos pra não desagradarem a Igreja). Desenvolveram uma ferramenta muito interessante para testar esse conhecimento: a lógica. Infelizmente, a lógica se mostrou limitada para a busca da verdade. A lógica não pode ser testada. E se uma teoria não pode ser testada… então não é uma teoria!

A busca da verdade ganhou força com o modo científico de pensar. Os primeiros cientistas, que também eram um pouco filósofos e um pouco magos, usavam alem da crença e da lógica, uma outra ferramenta para testar suas observações da natureza: a experimentação. A tentativa e erro foi a forma original e mais simples de experimentação. E Galileu Galilei foi o maestro dessa obra.

Com o tempo, houve a necessidade de sistematizar a observação dos fatos, a experimentação e a comprovação das observações. E Descartes nos presenteou com o método científico.

Com o desenvolvimento do método e a sistematização da produção de conhecimento, o mundo adentrou uma era de desenvolvimento científico e tecnológico que resulta no tipo de vida que levamos hoje.

No início do século XX, uma ampla discussão envolvendo o pai da psicanálise Sigmund Freud e o filósofo da ciência Karl Popper, levou o segundo a formular o conceito (que podemos discutir melhor outra vez) de que uma teoria somente é científica se puder ser REFUTADA. A comprovação de uma teoria não é suficiente para que ela possa ser aceita como tal. Essa discussão tirou quase todas as ciências humanas do campo das ciências propriamente ditas (eu sei… é controverso. Podemos discutir isso). Ou seja, para uma verdade ser científica, ela NÃO pode ser absoluta! E essa é sua beleza.

Até mesmo arte, filosofia e religião são influenciadas pelas ciências, muito mais do que a influenciam. Lembrem como a fotografia mudou radicalmente o cenário da pintura nos séculos XVIII e XIX e continua mudando até hoje com a multimídia. E como tantas religiões tentam se adaptar a fatos científicos que são irrefutáveis, mesmo com a crença em Deus. O próprio “Inteligente design” é uma tentativa (absurda) de conciliar a ciência moderna com a religião.

A ciência têm sim a pretensão de descobrir a verdade, a mesma pretensão da religião e da filosofia, mas não de ser imutável. Ela quer justamente mudar e se aperfeiçoar. A verdade de hoje é uma verdade melhor que a de ontem. E a de amanhã… quem sabe?! Assim que ela cresce!

E enquanto a filosofia e a religião estão há mais de 5000 anos prometendo o que não podem dar, em 5 séculos a ciência nos deu TUDO que temos.

Você pode não gostar, ou não se interessar pelo que temos, mas isso não é culpa da ciência, e sim do uso que os homens fizeram com o conhecimento que ela produziu. Ou do quanto de verdade você pode suportar.

E ai, com a licença de Nietzsche (citado pela mesma amiga), “Que a arte permita que a verdade não nos destrua”.

Amém!

PS: Se você se interessa pelo assunto, leia: Mundo Assombrado Pelos Demônios, O. Carl Sagan. 2002. 1a edição, Companhia das Letras, 448 páginas.

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