Diário de um Biólogo – Domingo 27/01/2008
Um mestrado profissionalizante tem suas particularidades. Metade da turma era de gestores. Como fazer pra falar pra essa turma sobre bioquímica, biologia molecular, meio ambiente? Mas mestrado é sempre mestrado. Quero dizer, é um treinamento em ciência, e o treinamento em ciência é o melhor treinamento em solução de problemas que se pode ter. Qualquer que seja o seu problema. Por isso não pode ter moleza. Mas eles foram bem, e acho que eu também, já que quando a aula terminou, me chamaram pra ir pro Pelourinho.
No carro, os alunos começam a contar sobre suas expectativas quanto ao mestrado. Principalmente um emprego melhor. Um deles é chefe de manutenção de uma petroquímica e comanda uma equipe de 6000 homens que trabalham em turno 24/24h. Ainda essa semana tinha sido convidado pra trabalhar em Macaé, mas só se fosse pra ganhar mais do que os R$ 8.000,00 que ganha hoje. Papo vai papo vem, descobri que o meu era o menor salário do carro. Chegamos no Pelô e pedi pra ir comer moqueca. Os outros encontraram com a gente e quando sentamos, descobrimos que o meu era o menor salário da mesa.
Veio a conta: R$ 40,00 a muqueca de camarão com dendê, R$ 60,00 a mariscada, R$ 10,00 a dose do Red Label e R$ 4,50 a Skol.
Sou professor de uma das maiores universidades federais do país, mestrado, doutorado e dois pós-doutorados. Um monte de artigos publicados. Falo 4 idiomas. Anos investidos em livros e cursos. Colaboro com grupos de pesquisa em todo o Brasil e no mundo. Sou convidado para dar um curso na Bahia e meus alunos não deixaram eu pagar a conta porque ficaram com pena do meu salário. Nessas horas que eu fico com pena dele também e vejo como somos desvalorizados.
Fui pro ensaio da Timbalada. Já que a gente ganha pouco, tem pelo menos que se divertir.