Quem tem medo da Física?

study_584466_37280787.jpg

No excelente texto ‘O apagão vem ai‘ de Sonia Rodrigues no Blog Inclusão Digital, ela mostra a sua preocupação com a falta de formandos de Física para suprirem a imensa carência de professores dessa disciplina no ensino médio.
Segundo os dados do INEP que ela cita, são necessários 23,5 mil professores de Física, só para o Ensino Médio, e as todas as faculdades do país formaram, nos últimos 12 anos, apenas 7,2 mil licenciados.
Para ela, essa é a explicação para tantos professores de Biologia dando aulas de ciências no ensino fundamental e de Física no ensino médio. Criou-se um ciclo vicioso: se formam mais biólogos, que se tornam mais numerosos entre os professores de ciências, que puxam a brasa para a sua sardinha nas aulas de ciências, inspirando mais alunos a se tornarem biólogos, que se tornarão também professores de ciências.
O problema é que esse raciocínio cria uma tautologia: quem veio primeiro? O aluno inspirado que vira professor ou o professor que inspira o aluno?
Comentei no texto dela em minha opinião o problema é outro: as pessoas, e os alunos, tem mais medo da física do que da biologia, independente do professor. E como vocês sabem que cientista detesta não ter elementos para apoiar suas conclusões, resolvi fazer aqui uma pesquisa. Então:

De qual materia voce tinha (tem) mais medo na escola?
Historia
Fisica
Quimica
Biologia
Matematica
Portugues
Geografia
  
pollcode.com free polls

Já anuncio o meu voto: matemática!
Acontece que quando a gente entra na faculdade descobre que a Biologia não é mais fácil do que nada: quero ver encarar Bioquímica I no 3o período ou Biologia Molecular no 6o!
E como diz a piadinha: “Quando a gente entra na faculdade descobre que Psicologia é, na verdade, Biologia; que Biologia é, na verdade Química; que Química é, na verdade Física; e que Física é na verdade Matemática (e que mesmo depois de estudar anos, você não vai entender bem nada).”
Por isso acho que existe outro motivo: a Biologia se aproximou mais das pessoas nos últimos 50 anos, enquanto a Física se distanciou. A Ecologia, a Biodiversidade e até o Genoma estão muito mais próximos do homem do que a teoria das Supercordas, os buracos negros e os universos paralelos. Mesmo com todo o charme (?) de Sheldon e do Marcelo Gleiser, os físicos estão perdendo!
Porém, meu comentário suscitou uma outra questão, que eu sei que arrepia a Sonia. Eu não vejo um movimento nas universidades públicas para valorizar as carreiras de base (que formam os professores para as disciplinas do ensino fundamental e médio). Ao contrário, o REUNI exigiu que as universidades criassem novos cursos. E elas criaram cursos voltados para o futuro. Ainda que seja o futuro delas.
Na UFRJ, os exemplos são os cursos de graduação em Biofísica, Nanotecnologia, Metrologia, Bioinformática e Biologia Forense.
São cursos interdisciplinares, antenados com a modernidade de um país que quer investir em inovação e recuperar o tempo perdido no desenvolvimento de tecnologia. Precisamos de profissionais preparados para navegar em diferentes mares e para muitas cabeças pensantes, esses cursos interdisciplinares são a solução. É importante ter em mente que no nosso país, assim como em todo o mundo, o desenvolvimento de tecnologia está ligado a universidade pública (a diferença é que aqui está ligado principalmente e quase exclusivamente a universidade pública – sim, eu sei que EMBRAPA e institutos de pesquisa do CNPq são fundamentais, mas me permitam esse raciocínio). A maior universidade do país (em número de alunos) não poderia se furtar a esse compromisso!
Mas e as disciplinas de base? O número de vagas vem aumentando ao longo dos anos, como por exemplo a criação da licenciatura em Biologia no período noturno (também na UFRJ).
Abre Parênteses: Na teoria é lindo, mas na prática não funciona. Os ‘cursos modernos’ de modernos tem apenas o nome. É mais fácil pronunciar interdisciplinaridade do que praticá-la. O resultado são currículos multidisciplinares, onde as diferentes disciplinas se misturam, mas caminhando paralelas e não convergentes. Não há uma só disciplina de gestão empresarial e de recursos humanos, criatividade, estética, cultura e idiomas. Os conselhos profissionais tem resistência a registrar esses novos profissionais que podem permanecer um bom tempo no limbo. E por outro lado, meus alunos do curso noturno não conseguem chegar pontuais nas aulas porque podem levar até 3h de ônibus para chegar na Ilha do Fundão vindos de São Gonçalo ou Maricá na hora do rush. Fecha Parênteses.
A Universidade Aberta do Brasil é uma tremenda iniciativa para recuperar o déficit de jovens fora da universidade e produzir os licenciados necessários para reverter as estatísticas infames que mostram, por exemplo, que apenas 1% dos professores do ensino fundamental na região norte tem ensino superior.
Não há dúvida que precisamos trabalhar para aumentar o número de licenciandos em física e garantir que haja professores qualificados e motivados ensinando ciências para nossas crianças e adolescentes, mas sem que se comprometa a formação interdisciplinar de pessoas para as profissões do futuro, aquelas que ainda nem sabemos quais são.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM