Esporte, Educação e Medicina
Soccer World by
~dleafy
Aos domingos sempre dou uma checada nos cadernos de cultura dos jornais, procurando assunto e, principalmente, alguma polêmica. Mas hoje, apesar de vários assuntos interessantes, a melhor frase foi de Tostão, no caderno de esportes da Folha de São Paulo:
“O esporte de competição, de alto rendimento, não é um bom lugar para aprender e desenvolver os valores éticos e morais”.
Confesso que me surpreendi. Não esperava ler isso no caderno de esporte. Sempre ouvimos falar que o esporte é um elemento educacional importante. O lugar comum das declarações é que ele ajuda a ensinar disciplina, ganhar e perder. Há tempos, venho repetindo, entretanto que do ponto de vista médico, o esporte de competição, seja olímpico ou profissional de qualquer tipo, é um crime contra as “razões do corpo”. A maratona, por exemplo, é desumana. O indivíduo com frequência, apresenta hemoglobinúria devido ao rompimento das células vermelhas do sangue devido a microtraumas na circulação periférica, liberando a hemoglobina que é eliminada na urina. Este ano, um jogador profissional de futebol (goleiro) apresentou o mesmo problema depois de um treino exaustivo e fui chamado a dar uma opinião. No caso do futebol, poucos esportes têm tantas lesões. Não há jogador aposentado que não tenha lesão nos joelhos. O Zico mal consegue andar sem mancar. Sem contar as mortes. A FIFA fez um congresso sobre isso esse ano no México tal a frequência. O boxe chegou a ser proibido pela sociedade americana de neurocirurgia.
A medicina recomenda esportes para combater o excesso de peso e o sedentarismo. São inúmeros os benefícios da prática esportiva. Podemos até discutir a definição de sedentarismo, mas o que a medicina recomenda é muito pouco comparado aos esportes de alta performance. Tenho visto competições infantis nas quais o contato e a exigência física são incabíveis para a idade. Ambiente nada sadio, nada ético. Está cada vez começando mais cedo.
Acrescentaria à frase de Tostão que o esporte de alta performance tampouco é adequado para o desenvolvimento físico e bem-estar do indivíduo. Muito pelo contrário. Parece até um tipo de doença…
Articles by Latin American Authors in Prestigious Journals Have Fewer Citations
Abstract
Background
The journal Impact factor (IF) is generally accepted to be a good measurement of the relevance/quality of articles that a journal publishes. In spite of an, apparently, homogenous peer-review process for a given journal, we hypothesize that the country affiliation of authors from developing Latin American (LA) countries affects the IF of a journal detrimentally.
Methodology/Principal Findings
Seven prestigious international journals, one multidisciplinary journal and six serving specific branches of science, were examined in terms of their IF in the Web of Science. Two subsets of each journal were then selected to evaluate the influence of author’s affiliation on the IF. They comprised contributions (i) with authorship from four Latin American (LA) countries (Argentina, Brazil, Chile and Mexico) and (ii) with authorship from five developed countries (England, France, Germany, Japan and USA). Both subsets were further subdivided into two groups: articles with authorship from one country only and collaborative articles with authorship from other countries. Articles from the five developed countries had IF close to the overall IF of the journals and the influence of collaboration on this value was minor. In the case of LA articles the effect of collaboration (virtually all with developed countries) was significant. The IFs for non-collaborative articles averaged 66% of the overall IF of the journals whereas the articles in collaboration raised the IFs to values close to the overall IF.
Conclusion/Significance
The study shows a significantly lower IF in the group of the subsets of non-collaborative LA articles and thus that country affiliation of authors from non-developed LA countries does affect the IF of a journal detrimentally. There are no data to indicate whether the lower IFs of LA articles were due to their inherent inferior quality/relevance or psycho-social trend towards under-citation of articles from these countries. However, further study is required since there are foreseeable consequences of this trend as it may stimulate strategies by editors to turn down articles that tend to be under-cited.
O link original está aqui.
Einstein Como Ícone
Interessante artigo de John Barrow sobre a idolatria da imagem de Einstein, publicado na Nature em 2005. Separo alguns trechos que julgo importantes para fomentar um pouco mais a discussão sobre os meandros das relações que governam o pensamento formal, bem como suas interferências pela inevitável natureza humana dos cientistas.
“Einstein restored faith in the unintelligibility of science. Everyone knew that Einstein had done something important in 1905 (and again in 1915) but almost nobody could tell you exactly what it was. When Einstein was interviewed for a Dutch newspaper in 1921, he attributed his mass appeal to the mystery of his work for the ordinary person: “Does it make a silly impression on me, here and yonder, about my theories of which they cannot understand a word? I think it is funny and also interesting to observe. I am sure that it is the mystery of non-understanding that appeals to them…it impresses them, it has the colour and the appeal of the mysterious.”
“There are several things about Einstein’s delayed celebrity that are interesting. First, Einstein’s image in America contrasts sharply with that of the smart young man from Switzerland who made the acclaimed discoveries. The ubiquity of the older Einstein image meant that the concept of the scientific genius became associated with the image of an old fatherly figure.”
“Most amazing of all is that — despite the hullabaloo and the inevitable cynicism about celebrity in our age, especially in response to media-created icons — Einstein’s scientific legacy is greater than ever. His predictions about gravity have steadily been confirmed with just a few remaining beyond the reach of our experiments. His early scientific work was an unqualified success and his personal demeanour and response to fame an object lesson to all. This is why 2005 is the World Year of Physics — Einstein’s Year.”
Resenha – Como os Médicos Pensam
Recebi a incumbência de resenhar um livro de Jerome Groopman chamado “Como os médicos pensam“. O Igor do 42 também. Ele já fez sua lição e muito bem, o que só aumenta minha responsabilidade. Vou tentar não cair no óbvio e complementar sua excelente resenha, o que não será tarefa fácil.
Gostei do livro. É um livro escrito por um médico hematologista judeu, formado na Harvard. Isso pode parecer irrelevante, mas é importante para entender um capítulo onde uma mulher pertencente a sua sinagoga passa por uma experiência tenebrosa com sua filha vietnamita adotada. A abordagem religiosa que inevitavelmente permeia uma relação médico-paciente, é feita de forma elegante, não piegas, diria útil, para médicos com forte viés ateísta como eu. Esse é um aspecto que não pode ser ignorado.
O título do livro me pareceu ambicioso demais. O assunto prevalente são erros diagnósticos, como se médicos só pensassem no diagnóstico! Como o autor é um clínico, pouco sobre cirurgia, bastante mais sobre indicações cirúrgicas. o que teria muito a ver também com diagnósticos.
O autor desfia casos próprios e de médicos que entrevistou, tendo o cuidado de procurar entender onde houve falhas cognitivas para se atingir o diagnóstico correto. Há passagens de uma honestidade desconfortável para um leitor-médico. Esse é uma das razões pelas quais gostei do livro. Outras, em que fica bastante repetitivo.
Outro ponto positivo é o de colocar o paciente na outra ponta do processo. Ele também tem sua parcela de responsabilidade pela dificuldade diagnóstica e pode, claro(!), ajudar o médico nessa tarefa. Os exemplos citados são bastante reais e pude me identificar com alguns. Aqui, temos algumas diferenças culturais em relação aos pacientes de Groopman. Quando o médico não acerta na primeira, o paciente volta ao mesmo médico e tenta resolver. Pelo menos é isso que Groopman propõe. Diferente da praxe brasileiríssima de ficar pulando de médico em médico para ouvir segundas ou terceiras opiniões e acabar não fazendo nada do que lhe foi dito!
Achei o livro útil. Bem escrito e com boa tradução, torna a leitura e a explicação de termos técnicos bastante assimiláveis. Vou deixar o exemplar no consultório. Quem sabe ele não me dá uma mãozinha?
O Corpo de Copérnico
northern city of Frombork.
Acharam o corpo de Nicolau Copérnico em uma catedral (Frombork) na Polônia. Não ia escrever sobre isso, não é a especialidade do Ecce Medicus, mas não resisti.
A repercussão da notícia chama a atenção. Experimente googlar com os termos “copernicus skull”! Se estiver entre aspas mesmo, são 235 entradas com sites em árabe, japonês (acho, eu), russo, polonês.
Agora me digam: Qual é a real importância de acharmos o crânio de Copérnico? Convenhamos, parece que achamos a tumba de um apóstolo ou do próprio JC!! O que as autoridades vão fazer com o crânio do homem? Um altar? Organizar excursões e cobrar ingresso para vê-lo? Quem gostaria de ver um espetáculo assim? Cientistas, historiadores da ciência e quem mais?
Qual a real importância de acharmos o crânio de Copérnico? O que há por trás dessa incômoda pergunta?
PS. Agradeço ao Luiz Bento o envio da notícia.
Minha Guitarra e Você
Segundo alguns, há várias formas de capturar verdades quintessenciais de um objeto. A metafísica, a ciência, a arte estariam entre elas. É interessante ver como uma das formas ao produzir um discurso sobre um objeto normalmente abordado por outra, produz naturalmente uma crítica. Pelo simples fato de ver diferente. É o caso da poesia e da ciência ao falar do violão de Jorge Drexler.
“La máquina la hace el hombre,
y es lo que el hombre hace con ella.”
É só um lembrete para os tecno-médicos de plantão.
Michael Crichton
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Vacina para Gripe
Time Trends in Influenza Vaccine Coverage and Influenza-Related Mortality in People 65 Years and Older in the US, Based on Two Death Categories(A) All-cause mortality. (B) Pneumonia and influenza mortality. The black curve illustrates observed monthly mortality rates, the purple curve represents a monthly model baseline above which mortality is attributed to influenza [1], and the green curve represents trends in seasonal vaccine coverage in people 65 years and older. Red shaded areas represent seasonal estimates of excess mortality attributed to influenza (observed over baseline), while blue areas represent non-influenza mortality. Red stars indicate epidemic seasons dominated by the more severe A/H3N2 influenza viruses [10]. Grey arrows indicate the two periods used in Kwong et al.’s comparative study to evaluate the benefits of universal immunization in Ontario, Canada (1997–2000 and 2000–2004) [9]. Note the less frequent circulation of severe A/H3N2 viruses in the second part of Kwong et al.’s study period, 2000–2004. Trends in influenza burden estimates for these periods are provided for the US and Ontario in Table 1.
Dona Lourdes tem 80 anos e um metro e meio. Ativa, sobe na maca e dá um tapa carinhoso na minha mão que se extende para auxiliá-la. Sentada, com os olhos vivos, obedece prontamente a todas as solicitações que faço. Desce e dispara: “Dr, estou bem! Não disse?!” De volta à mesa, começo a escrever e a falar: “Final de Março, começo de Abril, então esse ano vamos tomar vacina para gripe?” Ela inverte as sobrancelhas em reprovação e sempre dá a mesma resposta todo ano: “Essa vacina não serve para nada. Minhas amigas que tomaram, tiveram gripe. A Irene teve pneumonia, imagine! Deus me livre. Eu não tomo, nem de graça!” A racionalidade do meu discurso é ineficaz. Números e porcentagens não a emocionam. Vencido, entrego a renovação da receita e peço para marcar o retorno.
Passam alguns meses e sai um artigo na Plos: estudos recentes mostram que, apesar da cobertura vacinal ter aumentado nos últimos anos, a morbidade e a mortalidade da influenza continua alta. No caso de pacientes maiores que 65 anos, vejamos o que diz:
“Seniors suffer about 90% of the influenza seasonal mortality burden, and rates of hospitalization and death are increasing as the population ages [1]. Studies of national trends in the United States and Italy showed that even after adjusting for population aging and pathogenicity of circulating influenza viruses, vaccine uptake in seniors was not associated with a decline in influenza-related mortality ([2,3]; Figure 1). These disappointing experiences can be explained by the phenomenon of immune senescence, whereby immune response to vaccines declines in the last decades of life [4]. These results—along with a growing understanding that the expected effectiveness of vaccination had been greatly overestimated in seniors [5,6]—have fueled debate over the best strategy to protect high-risk populations [1,7].”
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil utiliza a vacina contra influenza desde 1999 quando foi realizada a primeira campanha de vacinação contra gripe, inicialmente na população acima de 65 anos e a partir de 2000 na população de 60 anos ou mais. Uma redução no número de hospitalizações por complicações decorrentes já foi observado em avaliações preliminares.
Não contei nada para Dona Lourdes ainda. A próxima consulta é mês que vem.
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