Sangue do meu sangue

Na mesa do almoço de Domingo, com a extraordinária presença do meu primo Felipe, meu pai, que adora uma polêmica (e o Eurico Miranda), interveio criando grande dúvida: Afinal, primos de 2º grau são os filhos de dois primos irmãos (mesma geração) ou pais e os filhos de primos irmãos (duas gerações)? Confesso que na hora fiquei decidido a achar a informação e escrever um texto contando resolvendo a pendenga, mas como já escrevi aqui, é impressionante como uma idéia (ou um texto) toma vida, e sendo assim, resolvi mudar o enfoque.

Sorry Pap’s, a pendenga vai continuar em aberto.

As relações de parentes alcançam maior comoção em humanos do que em qualquer outro animal.

Eu adoro minha família, mas nossos laços são mais do que de sangue. Quando morei na Itália, os primos do meu tio, marido da irmã da minha mãe (ou seja, um tio não consangüíneo), me trataram em Florença mais que como um sobrinho distante. Maria Luiza, Patrizia, Graziano e Mario cuidaram de mim como se cuida de um filho. Riccardo e Raffaella como um fratello. E se eu estivesse em Roma, Humberto e Giulia, cujo vínculo comigo era minha amizade com sua filha Margheritta, me recebiam aos domingos para o almoço de família, com direito a irmãos, irmãs, sobrinhos, sobrinhas, cunhados, cunhadas. Além do risoto da Margheritta, aquilo diminuía a ‘saudade’ palavra que só existe no português e que só a gente parece saber exatamente o que quer dizer.


Biologicamente, será que faz algum sentido? Jared Diammond conta em “Armas, germes e aço” que na Nova Guiné, dois estranhos que se encontram na rua, ficam discutindo horas até encontrarem algum parentesco em comum, o que é a única desculpa para não se matarem. Qualquer um que nõ é um parente é um competido e deve ser eliminado. Essa é a lógica.

Nos anos 70, Richard Dawkins desenvolveu a teoria do ‘gene egoísta’. De acordo com ela, nos somos apenas máquinas altamente especializadas a serviço da propagação dos nossos genes. Mas importante do que cada um de nós como indivíduos, é a individualidade dos genes que carregamos.

Se vocês se lembram um pouquinho da genética, cada um de nós possui (ou pelo menos deveria possuir, leia aqui) 23 pares de cromossomos (46 no total). Herdamos metade de nosso pai e metade de nossa mãe, e doamos metade dos nossos para nossos filhos.

Com uma matemática relativamente simples, podemos entender porque a palavra em inglês para parentes ‘relatives’ é mais adequada do que a em português. Nossa relação com os outros pode ser medida pelo número de genes que temos em comum. Esse não é o critério apenas dos Papua da Nova Guiné, mas de todo o reino animal.

Pais e filhos, irmãos e irmãs tem o maior número de genes em comum: 50%. Avôs e netos, tios e sobrinhos vêm em segundo com 25%. Os primos irmãos e bisnetos vêm a seguir com 12,5% e já para o final na árvore genealógica estão os primos de segundo grau, que aqui diferem de uma geração, com 3,12%. Parentes distantes como primos de terceiro grau tem tanta probabilidade de ter genes em comum com você do que com um estranho qualquer: 0,78%. Agora vejam, os gêmeos idênticos tem 100% dos genes iguais. Do ponto de vista genético, a vida do seu irmão gêmeo vale tanto quanto a sua própria. E a do seu irmão tanto quanto a do seu filho. Mas você escolheria o seu irmão ao seu filho? Pergunta difícil não é? Apesar dos números igualarem as prioridades, a resposta mais comum seria a escolha do filho. Por que?

Porque para os genes, o tempo restante de vida é importante, já que aumenta as chances de reprodução de mais uma geração e de perpetuação desses genes. Em uma escolha como essa, a vida de quem tem mais chances de passar os genes adiante deve ser privilegiada, mesmo que em detrimento da sua própria.

Esse cálculo de probabilidades pode ficar complicado, e outros animais não têm como fazê-lo antes de decidirem se defendem ou atacam outro indivíduo com base no parentesco. Por isso, usam outros artifícios. A distância física por exemplo. Territorialismo e outros tipos de comportamentos animais acabam favorecendo, ainda que indiretamente, o reconhecimento do grupo familiar e, conseqüentemente, por quem vale a pena lutar e por quem vale a pena morrer. Tente entrar em um grupo de babuínos, ou no seletíssimo grupo das meninas da biologia da UFRJ turma de 89/1 e você vai ver do que estou falando: vai levar uma corrida!

Apesar disso, os humanos são extremamente permissíveis a indivíduos externos ao grupo familiar e a explicação mais plausível para isso é o altruísmo recíproco (veja aqui). Raffaella e Manoele me hospedaram e me levaram pra tomar gelatto em San Gimminiano quando eu estive em Florença, e eu hospedei e levei eles pra tomar caipirinha no Rio Scenarium quando estiveram no Rio. Não é justificativa mais do que suficiente?

Discussão - 15 comentários

  1. Anonymous disse:

    este blog é bastante interessante...gostaria também de recomendar este:http://designinteligente.blogspot.com/abraços

  2. Mauro Rebelo disse:

    Caro anônimo,Tenho que confessar que qualquer coisa que começa com 'Design Inteligênte' já perde o meu interesse. Mesmo assim fui dar uma olhada no site que vc recomendou. Não tive surpresas. O maior problema dos crédulos do Designe é a 'seleção de observações'. Se prendem ao que o registro fóssil não encontrou ao invés de todas as outras evidências que ele encontrou. Esquecem que a ontogênia (o desenvolvimento dos organismos de jovem a adulto) repete a filogênia (a evolução histórica das espécies). Vêem o que querem ver. Isso é fé, não é ciência. Um abraço, M

  3. O Digitador! disse:

    Eu concordo.. mas nos homens fugimos ainda mais a regra do gene egoista rs... pq se sua mulher estivesse gravida e na hora do parto ocorresse um problema e nos homens tivessemos que escolher entra nossa mulher e a criança... todos nos homens escolheriamos nossas mulheres... já as mulheres numa situação parecida... todas escolhem a vida dos filhos... pq isso ocorre? pq nos homens somos seres apaixoanados, sinceros... e romanticos... e queremos viver eternamente ao lado de nossas parceiras... ja as mulheres só querem transmitir seus genes rssss....

    • Wesley Martins de Aquino Viégas. disse:

      Entendo a individualidade dos genes e entendo que primos irmãos ou seja os primos em 1° grau considerados pela lei parentes de 4° grau tem mais consanguinidade que primos de segundo e terceiro grau que não são considerados pela lei brasileira. Mas a individualidade dos genes se contradiz porque primos de segundo grau partilham os mesmos bisavós e os mesmos tataravós então há consanguinidade e os primos de 6° grau partilham também os mesmos trisavós e nós herdamos genes dos trisavós então há uma vinculação, se essa qualidade de parente não ter consanguinidade isso não impede o parentesco pois os indivíduos estão coligados há uma mesma família a uma origem comum então são parentes entre si, eu conheço parentes de grau distantes que são filhas da minha prima de terceiro grau e que se parece comigo se parece mesmo bastante isso porque minha bisavó que era a trisavó dela era morena como eu e ela.

  4. Mauro Rebelo disse:

    Digitador,EXCELENTE colocação! Eu estou de férias no Nordeste por apenas 5 dias, mas quando voltar prometo que vou pensar numa resposta. Um abraço,

    • Entendo a individualidade dos genes e entendo que primos irmãos ou seja os primos em 1° grau considerados pela lei parentes de 4° grau tem mais consanguinidade que primos de segundo e terceiro grau que não são considerados pela lei brasileira. Mas a individualidade dos genes se contradiz porque primos de segundo grau partilham os mesmos bisavós e os mesmos tataravós então há consanguinidade e os primos de 6° grau partilham também os mesmos trisavós e nós herdamos genes dos trisavós então há uma vinculação, se essa qualidade de parente não ter consanguinidade isso não impede o parentesco pois os indivíduos estão coligados há uma mesma família a uma origem comum então são parentes entre si, eu conheço parentes de grau distantes que são filhas da minha prima de terceiro grau e que se parece comigo se parece mesmo bastante isso porque minha bisavó que era a trisavó dela era morena como eu e ela.
      A MINHA PERGUNTA É A SEGUINTE EU TENHO CONSANGUINIDADE COM MEUS PRIMOS DE 3° GRAU EMBORA A LEI NÃO CONSIDERE NÉ VERDADE?

  5. Críssia disse:

    Interessante tema! Descobri seu blog a partir do http://scienceblogs.com.br/vqeb/2010/07/a_logica_da_raiva.php e acabei lendo sequencialmente 3 de seus posts. Muito sagaz sua forma científica de mostrar o lado das relações humanas. Parabéns!

  6. Mauro Rebelo disse:

    Seja bem vinda Críssia e divirta-se.

  7. Que maravilha de família reunida na paz, e aconchego familiar.E com proteção de Deus***

  8. Que maravilha de família reunida na paz, e aconchego familiar.E com proteção de Deus***

  9. Que maravilha de família reunida na paz, e aconchego familiar.E com proteção de Deus***

  10. Somos uma família imensa em um dos municípios Pernambucanos, gostaríamos de saber se os primos de 2° grau que contém a consanguinidade de 3,12% são os filhos de dois primos irmãos? ou são os filhos de um primo irmão? responda-me por favor gostei muito desta teoria e deste site. aguardo sua resposta e gostaria que você liga-se para mim o historiador da família Aquino meu número é 55+ 08791422914 é claro ligue-me e poste por favor a resposta no site abraços até mais.

  11. Neto disse:

    é muito interessante saber sobre os antepassados
    de cada um de nossos tetravós nós temos 3,12% dos genes de cada um deles sim. e dá para herdar tudo deles sim.

  12. Neto disse:

    na verdade existe um menino loiro dos olhos verdes que tinha uma tetravó que era loira dos olhos verdes assim como ele é, e o restante são dos olhos castanhos escuros e cabelos castanhos. e se uma pessoa faz uma pergunta sobre a característica desse menino de quem ele havia herdado, isso foi de alguém que tinha os mesmos traços, isso tudo vem do sangue que ele tem da tetravó.

  13. Rivadávia Fonseca Neto disse:

    os genes que nós temos de nossos antepassados.
    2 pais - 50%
    4 avós- 25%
    8 bisavós - 12,50%
    16 trisavós - 6,25
    32 tetravós - 3,12%
    64 quinto avós - 1,56%
    128 sexto avós - 0,78%
    esses são as porcentagens exatas

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