Um bom ano

Almoço de final de ano do lab 2009
Sempre escrevo uma mensagem de final de ano com algum aspecto científico da virada.
Mas quando papai noel se antecipou um pouco, e ao invés de deixar o meu presente no dia 25 de manhã deixou no dia 23, eu percebi que esse foi um bom ano. Então resolvi fazer um balanço. (Também resolvi fazer um jantar de comemoração com os alunos do lab, que arrasaram 4,5 kg de tomates; 1kg de massa; 0,5 kg de parmeggiano e 3 garrafas de vinho – fora os cantuccini – e eu tive sorte de sobrarem os pratos e copos – acima).
O resultado da bolsa de produtividade fui um acalento e também o reconhecimento de um esforço que já dura muitos, muitos anos. Mas voltando a 2009, conseguimos comprar uma máquina de PCR quantititativo que certamente dará um salto na produtividade e na qualidade do trabalho do laboratório que, esse ano, também é nosso. Depois de um ano e meio de processo nos tornamos um laboratório independente, o Laboratório Intermediário de Biologia Molecular ambiental. Alunos entraram no mestrado, no doutorado e outros defenderam tese. Nos aventuramos de forma bem sucedida no mundo empresarial e agora temos uma empresa de biotecnologia que contribuirá para a que possamos aplicar ciência e criar inovação para a sociedade. Unificamos as disciplinas de Biofísica para a Biologia da UFRJ e no final do ano iniciamos novo projeto de educação a distância. O Bioletim está ganhando uma nova roupagem e o Você que é Biólogo… entrou pro Scienceblogs.
O trabalho não foi pouco, mas, mais uma vez, me levou a lugares incríveis, como um congresso em Bordeaux na França (PRIMO XV) e outro em Arraial do Cabo (II EWCLiPo), além de tantas outras cidades onde o mais importante são os amigos que tenho chance de rever.
Escrevo um blog, toco sax numa banda e aprendo francês. Claro que não dá pra fazer isso tudo com dedicação e afinco, mas aqui me permito um pouco de superficialidade, porque ela me relaxa. Se não fosse assim, não conseguiria ter lido o monte de livros que li e bebido todos os bons vinhos que bebi.
Quando penso nesse bom ano, vejo que ele é resultado de um esforço meu, mas que seria impensável, ou improdutivo, se não tivesse a rede de apoio que tenho. Começando pela minha família. Acredito que tenha sido um ano especialmente difícil, individualmente, para todos eles. Mas ainda assim conseguem manter o encontro e a alegria do encontro.
No nosso país, é muito difícil se tornar um cientista sozinho. Seja pelo investimento que requer, seja pela dedicação. Ainda me lembro da 4a feira, 11h da noite, quando o telefone (fixo) tocou e era a Flávia dizendo que ouvira que o resultado do vestibular da UFRJ tinha sido liberado e sairia no dia seguinte, mas meu pai levou a gente pra redação do Jornal dos Esportes, onde ficamos sabendo em primeira mão que tínhamos sido aprovados. Não sei se dá pra dizer que começou ali minha carreira de cientista, mas certamente foi um marco.
Apesar de eu ser provavelmente o único em casa que possa dizer que foi um bom ano, e que não teria sido um bom ano sem eles, tenho certeza que esse é mais um motivo de felicidade para essas pessoas maravilhosas e que me permitem fazer de tudo. Obrigado a vocês!
Bons anos fazem boas safras. Em 2010 espero poder fazer mais por eles e tenho certeza que continuaremos fazendo muita coisa juntos.
Um bom ano para todos!

Sangue do meu sangue

Na mesa do almoço de Domingo, com a extraordinária presença do meu primo Felipe, meu pai, que adora uma polêmica (e o Eurico Miranda), interveio criando grande dúvida: Afinal, primos de 2º grau são os filhos de dois primos irmãos (mesma geração) ou pais e os filhos de primos irmãos (duas gerações)? Confesso que na hora fiquei decidido a achar a informação e escrever um texto contando resolvendo a pendenga, mas como já escrevi aqui, é impressionante como uma idéia (ou um texto) toma vida, e sendo assim, resolvi mudar o enfoque.

Sorry Pap’s, a pendenga vai continuar em aberto.

As relações de parentes alcançam maior comoção em humanos do que em qualquer outro animal.

Eu adoro minha família, mas nossos laços são mais do que de sangue. Quando morei na Itália, os primos do meu tio, marido da irmã da minha mãe (ou seja, um tio não consangüíneo), me trataram em Florença mais que como um sobrinho distante. Maria Luiza, Patrizia, Graziano e Mario cuidaram de mim como se cuida de um filho. Riccardo e Raffaella como um fratello. E se eu estivesse em Roma, Humberto e Giulia, cujo vínculo comigo era minha amizade com sua filha Margheritta, me recebiam aos domingos para o almoço de família, com direito a irmãos, irmãs, sobrinhos, sobrinhas, cunhados, cunhadas. Além do risoto da Margheritta, aquilo diminuía a ‘saudade’ palavra que só existe no português e que só a gente parece saber exatamente o que quer dizer.


Biologicamente, será que faz algum sentido? Jared Diammond conta em “Armas, germes e aço” que na Nova Guiné, dois estranhos que se encontram na rua, ficam discutindo horas até encontrarem algum parentesco em comum, o que é a única desculpa para não se matarem. Qualquer um que nõ é um parente é um competido e deve ser eliminado. Essa é a lógica.

Nos anos 70, Richard Dawkins desenvolveu a teoria do ‘gene egoísta’. De acordo com ela, nos somos apenas máquinas altamente especializadas a serviço da propagação dos nossos genes. Mas importante do que cada um de nós como indivíduos, é a individualidade dos genes que carregamos.

Se vocês se lembram um pouquinho da genética, cada um de nós possui (ou pelo menos deveria possuir, leia aqui) 23 pares de cromossomos (46 no total). Herdamos metade de nosso pai e metade de nossa mãe, e doamos metade dos nossos para nossos filhos.

Com uma matemática relativamente simples, podemos entender porque a palavra em inglês para parentes ‘relatives’ é mais adequada do que a em português. Nossa relação com os outros pode ser medida pelo número de genes que temos em comum. Esse não é o critério apenas dos Papua da Nova Guiné, mas de todo o reino animal.

Pais e filhos, irmãos e irmãs tem o maior número de genes em comum: 50%. Avôs e netos, tios e sobrinhos vêm em segundo com 25%. Os primos irmãos e bisnetos vêm a seguir com 12,5% e já para o final na árvore genealógica estão os primos de segundo grau, que aqui diferem de uma geração, com 3,12%. Parentes distantes como primos de terceiro grau tem tanta probabilidade de ter genes em comum com você do que com um estranho qualquer: 0,78%. Agora vejam, os gêmeos idênticos tem 100% dos genes iguais. Do ponto de vista genético, a vida do seu irmão gêmeo vale tanto quanto a sua própria. E a do seu irmão tanto quanto a do seu filho. Mas você escolheria o seu irmão ao seu filho? Pergunta difícil não é? Apesar dos números igualarem as prioridades, a resposta mais comum seria a escolha do filho. Por que?

Porque para os genes, o tempo restante de vida é importante, já que aumenta as chances de reprodução de mais uma geração e de perpetuação desses genes. Em uma escolha como essa, a vida de quem tem mais chances de passar os genes adiante deve ser privilegiada, mesmo que em detrimento da sua própria.

Esse cálculo de probabilidades pode ficar complicado, e outros animais não têm como fazê-lo antes de decidirem se defendem ou atacam outro indivíduo com base no parentesco. Por isso, usam outros artifícios. A distância física por exemplo. Territorialismo e outros tipos de comportamentos animais acabam favorecendo, ainda que indiretamente, o reconhecimento do grupo familiar e, conseqüentemente, por quem vale a pena lutar e por quem vale a pena morrer. Tente entrar em um grupo de babuínos, ou no seletíssimo grupo das meninas da biologia da UFRJ turma de 89/1 e você vai ver do que estou falando: vai levar uma corrida!

Apesar disso, os humanos são extremamente permissíveis a indivíduos externos ao grupo familiar e a explicação mais plausível para isso é o altruísmo recíproco (veja aqui). Raffaella e Manoele me hospedaram e me levaram pra tomar gelatto em San Gimminiano quando eu estive em Florença, e eu hospedei e levei eles pra tomar caipirinha no Rio Scenarium quando estiveram no Rio. Não é justificativa mais do que suficiente?

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