O professor do século XXI

Professor do meu tempo

Em entrevista a revista ISTOÉ de Junho de 2007 (n. 1964: ) o senador Cristovam Buarque disse: 

“O professor do meu tempo, vai desaparecer. Ele não ficará mais sozinho. Três pessoas irão elaborar a aula: aquele que chamamos de professor, alguém que enteda de programação para colocar no computador o que o educador quer ensinar, e um terceiro, da área de telecomunicações, para espalhar isso no mundo.”

Com alguma intimidade com computadores, os outros dois são até despensáveis, já que vários programas ajudam não só o professor, mas qualquer um, a colocar o que quiser no computador e depois espalhar na internet. Ainda assim, ele está correto: o papel do professor nunca mais será o mesmo:

“O menino que navegou a noite na internet chega na aula, de manhã, sabendo de coisas que o professor desconhece [e ai, por medo, proibimos computadores e celulares na sala de aula]. O ator principal não é mais o professor. São o professor, o aluno e a mídia. Ele não é mais dono do saber nem da informação.”

E continua

“Ele tem de estar ciente que não sabe a ‘última’ coisa. O que ele aprendeu na universidade valeu até aquele dia e dai tem de aprender de novo. E tem que entender que o aluno pode estar fazendo coisas que ele não domina.”

Acredito que os professores são capazes de dar muitas razões para justificar a presença deles em sala de aula com o aluno. Mas, do ponto de vista do aluno, poucas dessas razões se sustentam. Ao contrário. Vejam o comentário dessa aluna em uma rede social:

“Eu hoje me dei conta que os cursos online estão me deixando mal acostumada. Porque eu não preciso atravessar meia cidade para estar em uma sala de aula as 8 da manhã, para esperar no corredor abafado, em pé, por 40 minutos, um professor atrasado. E que ainda se permite ficar falando superficialidades para passar o tempo.”
Um bom aluno, hoje, é assim. O blá-blá-blá não convence mais ele. Afinal, o Coursera está ai, e ele pode ter uma aula melhor do que a sua, online, com um professor de Stanford. Mas ainda temos muitos outros alunos, não tão bons, que vão ficar na sua sala de aula mesmo com o seu blá-blá-blá. Mas vão dormir, vão chegar atrasados, vão sair antes. Mas o mais importante é: não vão aprender nada!

“O professor que ‘prefere’ não usar um computador, é como um médico que ‘prefere’ não usar uma tomografia computadorizada” Disse ainda Buarque. Você aceitaria que um médico fizesse um diagnóstico do seu filho sem usar a melhor tecnologia disponível para isso? Então porque aceitar que uma  probabilidade menor de melhor formar um aluno?

Salma Khan, que está revolucionando o ensino com seus vídeos educativos super simples disse:

“Meu vídeotape tem duas vantagens sob mim ao vivo: A primeira é que os alunos podem parar e voltar quantas vezes quiserem. Podem assistir novamente quantas vezes quiserem. Podem assistir no momento que querem/precisam. E a segunda, é que não são interrompidos [oprimidos?] figura do professor perguntando ‘Entenderam? Preciso explicar de novo?'”

Para mim, o professor não está pronto para abrir mão do poder que tem em sala de aula e muito menos para dar (parte desse poder) mais autonomia ao aluno. E depois ninguém sabe porque nossos alunos de pós-graduação e recém contratados nas empresas são incapazes de tomar uma unica decisão.

Vejam bem, esse texto não é um choramingo. Não é dor de cotovelo. Eu sou um excelente professor. Sou comunicativo, consigo estabelecer vinculo com os alunos, tenho um bom tom de voz e algum carísma, sei do que estou falando… Feliz de quem tiver aula comigo. Ou com um dos muitos outros professores excelentes que existem por ai. Mas… e os outros? Que outros?! Primeiro os outros alunos que estão na universidade mas tem que ter aula com um professor ruim; e depois os outros 86% dos jovens brasileiros entre 19 e 24 anos que estão fora do ensino universitário no Brasil.

Um professor competente sempre poderá fazer a diferença, mas cada vez mais para um número menor de alunos. E vamos fazer o que? Vamos esperar que construam novas universidades para mudarmos esse quadro (que não mudou nos últimos 20 anos em que eu estou na universidade) e perder mais uma (varias) geração(ões) até isso acontecer? Ou vamos fazer alguma coisa agora?

Vamos fazer vídeos que ensinem os alunos o conteúdo base para que eles possam dicernir depois o que encontrarem no Google (e artigos científicos porcarias que estão por ai), vamos colocar nossos cursos em plataformas online que possam permitir teste por quizzes em massa, vamos deixar os alunos criarem seus próprios videos e exercícios para exercitar suas habilidades comunicativas, ajudarem a treinar a si próprios e seus colegas (minimizando a hierarquia em sala de aula)?

Bom, eu vou.

istoE200607EAD_cristovam_buarque

Discussão - 1 comentário

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