Recortes de "Uma palavra depois da outra – o processo da escrita"

DVD 10 anos da FLIP

“Quando eu dou aula, e dou aula frequentemente, digo aos meus alunos: – ‘Vocês tem que escrever todos os dias e escrever pelo menos duas horas por dia.’ Eu espero que eles nunca me perguntem, porque eu não consigo fazer isso. Eu entro em comas e passo meses sem escrever, e depois eu explodo e escrevo por 10h, 12h por dia. Mas isso não muda nada, se vocês quiserem ser escritores, tem que escrever todos os dias, 2h por dia” Dennis Lahane, EUA (2007).

“Eu devo dizer que, na parte que me toca, e quanto a estrutura propriamente dita, eu vou deixando que as coisas aconteçam. E quando digo isso, não faço nenhum apelo a espontaneidade. Quando digo que não faço estruturação prévia, não quer dizer que ela não seja feita. Ela é feita a um nível subliminar, mas que já implicou muito esforço. É como se da realidade que é captada envolta, das vivências, captadas também, minhas e dos outros, é como se houvesse uma decantação e tudo isso fosse parar a um laboratório oculto, interior, onde passa por retortas e crisóis, até ser transfigurado e refeito, aparecer de novo, eventualmente, em certa madrugada, já elaborado, essa elaboração não é por intervenção divina, tem a ver com muitas leituras e talvez, isto pode ser uma peculiaridade do escritor com algum poder de captação, ou roubo, de palavras, de textos, de imagens.” Mario de Carvalho, Portugal (2006).

“Na maior parte das vezes, a inspiração chega quando você  acaba de trabalhar. e então pensa, ‘ah… tenho aqui ainda está coisa… mas não vale a pena escrever agora… eu vou me lembrar amanhã…’ e ai você esqueceu. Como aquelas vezes em a gente está naquele estado crepuscular, entre o dormir e o acordar está meio dormindo. que de repente tem a sensação que compreendeu o mundo e compreendeu o segredo da vida e do mundo. Mas tem consciência que está dormindo e que quer acordar. e a medida que vai caminhando para a superfície vai perdendo tudo e quando chega cá acima, já não tem nada e então, o que eu pensava era, como é que eu posso conseguir um estado parecido com esse, de maneira as coisas fluírem mais facilmente e então percebi  que através do cansaço acontecia isso. As 2h-3h primeiras horas são perdidas, porque os seus mecanismos lógicos e a sua polícia política interior ainda estão funcionando.” Antônio Lobo Antunes, Portugal (2009).

“Eu lanço as minhas mãos na maquina, com a ambição que elas escrevam sozinhas. Eu procuro estar ausente dali. De preferência tomo dois whisks, ou não tomo, mas tento estar ausente dali, tentando me aproximar da escrita inconsciente. Depois eu pego aquele material e tento relacionar com tudo aquilo que eu sei.” Domingos de Oliveira, Brasil (2009).

“Eu uso a metáfora da escultura para indicar a necessidade de remover, mover e distruir parte da pedra para exibir a forma. Você realmente escreve por remoção. E o meu trabalho é o de apagar e não de escrever. Eu costumo dizer que qualquer um pode escrever. Que escrever é fácil. A arte está em apagar o que foi escrito”. Amós Oz, Israel (2007).

“O primeiro rascunho de um romance é sempre excitante. Mas depois… vira… matemática. Ah, acabo de descobrir que usei a mesma palavra, duas vezes na mesma frase… e ai vem… como faço pra não usar essa palavra duas vezes… e não parecer um amador… e pegar o ritmo das frases… então eu me divirto no primeiro rascunho, e ai tenho uma vida miserável durante o 2o, 3o, 4o, 5o, 6o… e lá pelo 7o… começo a me divertir de novo.” David Sedaris, EUA (2008).

“Você se lembra aquele poema que Cabral fez sobre Graciliano Ramos, aquela primeira quadra, eu acho que todo aspirante a escritor deveria ler, deveria ter essa quadra bem em frente. Que é mais ou menos assim. Escrevo somente com o que escrevo, com as mesmas 20 palavras, que giram ao redor do sol, que as limpam do que não é faca. Então você tem que começar a aprender a tirar tudo que não é gordura. porque há palavras que existem para não serem usadas. Advérbios, advérbios de modo… horríveis, né?! adjetivos. O Cortaz já dizia: os adjetivos, essas putas! E tentar escrever cada vez mais no osso e tirar tudo aquilo que não é faca, como diz o Cabral”. Antônio Lobo Antunes, Portugal (2009).

“Nem todos são capazes de escrever. De contar uma história. Alguns são capazes de fazer isso oralmente e uns outros poucos por escrito.” James Salter, EUA (2009).
“O meu trabalho como poeta é sempre uma descoberta. Eu, naturalmente, adquiri alguma habilidade, pela fato de muito escrever” Ferreira Goulart, Brasil (2006)
“Todos são capazes de contar uma história. E se você pedir a qualquer pessoa em uma sala que se levante e conte uma história da sua vida, ele provavelmente fará você arrepiar seus cabelos! Contar histórias é uma função humana natural, assim como o desejo de falar é uma função humana natural. É claro que que toma tempo organizar todas as palavras na página na ordem correta e todas essas coisas. E é claro que você tem que fazer isso. Mas pra que exagerar a dificuldade em fazer isso?! É uma função natural e espontânea, como falar, cantar, comer.” Hanfi Kureishi, Inglaterra (2003).
“É muito bom chegar num momento em que a gente conhece o ofício da gente. que a gente sabe o que a gente faz. É chegar na prancheta e não ter medo do tema, do que te encomendaram.” Angeli, Brasil (2004).

O Mapa da Mina

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Eu descobri o CMAPs quase por acaso. Nesse mundo saturado de informação, a gente tem que dar um pouco de sorte de estar no lugar certo, na hora certa, quando alguém fala alguma coisa nova e interessante que você ainda não sabe.

No meu caso isso foi uma reunião no MEC sobre O MOODLE, há muitos anos, quando uma professora da Federal de Santa Catarina, Roseli Zen, falou dos mapas conceituais e do CMAP. Além de tudo, Rose é uma simpatia.

Um tempo depois, coordenando um curso de formação de professores a distância, foi a vez de entrar em contato com outra rosa, Rosita Edler, psicóloga que sabe tudo de educação e me ensinou tanta coisa. Ela e suas meninas escreveram um capítulo espetacular (Como eles aprendem, como podemos ensinar) no livro que lançaremos (algum dia) sobre EAD, falando de mapas conceituais.

A beleza dos mapas é, como quase sempre, sua simplicidade. Conceitos são organizados hierarquicamente e interconectados por ações e relações. Simples, não é? O problema está em identificar corretamente o que é um conceito, para poder identificar quais conceitos você quer utilizar e depois quais são as relações entre eles. É ai que nós, professores experientes, descobrimos que, na verdade, fazemos uma aula centrada em nós, em como nós aprendemos, e não no contéudo e na melhor forma de passar ele para os alunos.

Tem muita, muita, muita literatura sobre mapas conceituais. Mas eu ainda não encontrei um conjunto tão bom quanto o disponível no site do Institute for Human and Machine Cognition que tem um artigo espetacular sobre o que são mapas conceituais e um software também incrível para criá-los. É esse o kit básico que todo aluno que quer trabalhar comigo em atividades didáticas deve acessar e ler.

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Mapas conceituais são uma tremenda ferramenta para dar mais consistência a qualquer disciplina que você queira ensinar. E como tudo, para que fique bom, precisa de energia. Dá trabalho. Mas o tesouro nunca tá na superfície, tem que escavar. Só é mais fácil com o mapa.

Projeto eBook de Biofísica

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Ninguém aprende nada, muito menos pensamento crítico, sem conteúdo. Pensamento crítico pode ser o mais importante, mas primeiro, tem que vir conteúdo. Sim, temos a internet, mas precisamos de conteúdo de confiança, porque nossos alunos ainda não tem o critério aperfeiçoado para definir o que é e o que não é bom na internet.
Sim, temos livros e mais livros, mas eles tem um problema… os alunos acham os livros didáticos chatos. E sou obrigado a concordar com eles.
O projeto do eBook de Biofísica é uma iniciativa inovadora, que pretende montar um material didático multimídia para ser usado (não somente) no curso de Biofísica para Biologia da UFRJ.
A idéia é disponibilizar o conteúdo da disciplina em vídeos de curta duração, que serão organizados em um eBook multimidia que será distribuído gratuitamente para os alunos, permitindo que as ‘aulas’ sejam assistidas online e o tempo em sala de aula seja melhor aproveitado para discussões e resolução de problemas. Se tiver interesse e conhecer mais essa estratégia, assista o video do Salman Khan da Khan Accademy no TED.
Sim, o Khan é sensacional, mas nós vamos fazer melhor ainda. Vamos começar com os 18 temas de aulas do programa de Biofísica (agora já são 21). Para cada aula, será construído um mapa conceitual. Mapas conceituais em si são uma estratégia pedagógica que mereceria um curso inteiro, mas como não temos todo esse tempo, sugiro ‘apenas’ estudar o conceito dos mapas em http://cmap.ihmc.us. Sim, o Institute for Human Machine Cognition também tem um software super legar para montar os mapas, mas não, não adianta instalar o software e sair usando: tem que estudar o conceito! E se você nem achar onde está o documento no site…
Vamos dar ainda uma guaribada no conceito dos mapas conceituais colocando um pouco mais de neurociência neles. Uns conceitos de memória de trabalho e memória de longo prazo. É complicado de explicar e por isso eu vou deixar para outro post, mas é simples de fazer.
Depois que os mapas estiverem prontos, teremos uma lista de ‘conceitos’ que deverão ser explicados em vídeos de no máximo 5 min.
Como eu sou um só, conto com uma trupe de alunos interessados em aprender mais sobre como dar aulas melhores e que preparam tudo: desde a concepção do mapa conceitual até o roteiro para esses videos, incluindo o material para os slides (imagens livres de direitos autorais e esquemas), a explicação conceitual por escrito dos conceitos e os slides que serão depois incorporados nos vídeos. A partir daí o professor (90% das vezes eu, mas podemos ter alguns convidados) gravam as aulas.
Eu já dava essas aulas antes, no estilo ‘antigo’ e por isso já tem um belo caminho andado pra quem quiser trabalhar no projeto.
O resultado final que espero é parecido com isso:

Como vocês viram, o video é caseiro (ou, de laboratório) e a edição é amadora: o importante é o conteúdo!
Temos até verba da FAPERJ para remunerar os alunos que trabalham no projeto. Não, não é muito e não, não paga a trabalheira toda que vai dar. Por isso, você tem que acreditar que essa é uma oportunidade única de participar de um movimento realmente inovador para mudar o marasmo na sala de aula e aprender o que é necessário para que, em breve, quando vocês forem os professores, saberem o que fazer.
Você quer participar? Entra em contato com a gente!

Confesso que… aprendi.

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Como eu disse, há duas razões para trocarmos as provas por desafios (quizzes) de múltipla escolha. A segunda razão também é simples: Além de funcionar melhor, o quizz permite mais justiça na avaliação! Separar de verdade quem sabe de quem não sabe ou quem acertou por acaso.

A questão é simples de entender mas difícil de explicar (pelo menos para mim), já que envolve alguma estatística. É que apenas tentando muitas vezes, você vai conseguir escapar da sorte, de ter acertado ‘por acaso’, para saber se realmente aprendeu ou não.

O que eu vou falar agora é em grande parte baseado no que aprendi sobre A ‘lei dos grande números’ de Bernoulli (no livro ‘O andar do bebado’). Os estatísticos de plantão fiquem a vontade para me corrigir se eu estiver errado.

“Em certas situações de ignorância, nas quais as probabilidades dos diversos resultados poderiam ser inferinidas em princípio mas na prática eram desconhecidas, […] seria insano imaginar que poderíamos ter uma espécie de ‘conhecimento prévio’ ou a priori sobre as probabilidades. Deveríamos dicerní-las por meio da observação: dado que observamos um certo número de eventos, com que precisão podemos determinar as probabilidades subjascentes e com que nível de confiança?”

Essa é a forma como ele imaginou que o jovem Bernoulli teria imaginado um dos problemas que a teoria das probabilidades vigente (que tinha sido toda criada em torno de jogos de azar) não podia explicar. Outros estudiosos já haviam abordado essa questão anteriormente, e previsto que a precisão com que  probabilidades subjacentes refletiriam os resultados reais deveria aumentar com o número de observações, em função das freqüências mais observadas. Até ai, tudo bem, até eu. O que Bernoulli conseguiu fazer e que ninguém antes tinha feito, foi colocar tudo isso em um teorema. O teorema dos  grandes números de Bernoulli explica quantas observações são necessárias para que possamos estimar, com alta confiança, a probabilidade subjacente de um evento acontecer no futuro dado que aconteceu no passado.

É nesse método que se baseiam, por exemplo, as pesquisas de opinião para políticos. Dado que 60% da população prefere um candidato, qual o número de pessoas que deveríamos amostrar para estimar que o resultado da eleição (representará o conjunto real) que indicará a vitória desse candidato com 60% dos votos? De acordo com a primeira lei de Bernoulli, esse número é possível de ser calculado. E se nossa necessidade de segurança for baixa, digamos, permitirmos 5% de erro, esse número é até baixo (comparado com o tamanho de toda a população).

E foi ai que eu me toquei: é assim que poderíamos também avaliar nossos alunos! Na verdade, foi um pouco depois.

Modlinow ainda disse que, “na vida real, não costumamos observar o desempenho de alguém, ou de alguma coisa, ao longo de milhares de provas. Assim, enquanto Bernoulli exigia um padrão de certeza excessivamente estrito, nas situações da vida real, costumamos cometer o erro oposto: presumimos que uma amostra ou série de provas é representativa da situação subjacente, quando na verdade, a série é pequena demais para ser confiável.”

Isso se parece com alguma coisa que você conhece? Sim, justamente, com a avaliação através de provas bimestrais (ou prova final, ou qualquer variação dessas).

O problema é complicado e eu mesmo tenho que ler e reler sempre com muita atenção para, por um breve instante, compreender o que ele está dizendo (para dizer a verdade, só agora que estou escrevendo sobre isso, depois de ler várias vezes esse mesmo trecho, entendo um pouco mais).

O texto de Modlinow ajuda: “A concepção ou intuição equivocada de que uma amostra pequena reflete precisamente as probabilidades subjacentes é tão disseminada que Kahneman e Tversky lhe deram um nome: a lei dos pequenos números: um nome sarcástico para a tentativa de aplicar a lei dos grandes números a amostras pequenas.[…] Como em ações humanas nunca poderemos avaliar mais do que uns poucos eventos (ou anos) de sucesso ou fracasso de uma pessoa, jamais poderemos aplicar a lógica do teorema de Bernoulli, sob pena de incorrermos no erro dos pequenos números. Segundou Bernoulli, não deveríamos avaliar as ações humanos com base nos resultados”. É mais confiável julgarmos as pessoas analisando suas habilidades em vez de apenas o placar dos seus acertos e erros.”

A conclusão para mim é muito clara: jamais teremos tempo hábil para avaliar de maneira justa e eficiente a aprendizagem do aluno.

Pronto Mauro? É isso? Mais nada? Nenhuma proposta?

Na verdade tenho sim: não vamos mais avaliar o quanto o aluno aprendeu, mas vamos usar o que a neurociência tem mostrado que funciona: pequenos testes que ajudam o aluno a aprender enquanto estuda! A melhor coisa que podemos fazer é aumentar as oportunidades de auto-avaliação, ajudar o aluno a pensar sobre o conteúdo e desenvolver critério.

E quantas oportunidades temos que dar? Quantos exercícios temos que fazer?

Um monte! Quanto mais, melhor! Afinal, uns vão preferir um tipo de exercício, outros… outro.

Só que nao dá pra passar o dia todo preparando e corrigindo exercício não é? E ao mesmo tempo não dá pra deixar aluno sem resposta de exercício. Então nós TEMOS que passar para um método automatizado de correção. Que não tem problema nenhum!!!! Não é porque é multipla escolha e não discursivo, que é ruim. (aliás, é até bom que não seja, como você verá no próximo post). No final das contas, o discursivo não tem funcionado mesmo, porque nossos alunos estão tão ruim de conteúdo, e tão desacostumados com relatar e descrever coisas (e professores também), que, novamente, as provas discursivas são uma tortura para alunos e professores. Sem contar que, não se aprende NADA com a correção. E para ter um número grande de exercícios, precisaríamos ter uma equipe de assistentes. mas… nào temos, ai? E ai?! E porque não utilizar os próprios alunos?

Isso! O que era tarefa agora é estudo, e o que é a nova tarefa, é o que antes era estudar. É só transformar a concepção do exercício na tarefa. O principio é simples: ensinar é a atividade que mais te faz aprender! Transformar todos os alunos em professores é a melhor forma de fazê-los aprender! Cada um que viu o conteúdo, pode ter prestado atenção mais em uma coisa do que outra. Se interessado mais por uma coisa do que outra, ter ficado curioso mais sobre uma coisa do que outra. Isso leva cada um a preparar um exercício diferente. Mas na hora de testar o que aprendeu do vídeo, você tem uma ampla gama diversificada de exercícios para fazer. Só que pode voltar ao video, a aula, quantas vezes quiser. Pode tentar resolver o exercício também quantas vezes quiser. Seus pontos são acumulados de acordo com o seu desempenho, mas são tantos exercícios, tantas oportunidades de aprender, que qualquer nota ‘baixa’ é diluida. É uma grande saída!

 

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