A trajetória de um biólogo II – Homenagem ao dia do biólogo
Bem na foto – Turma de 89/1 no laboratório de genética em 1990. Do alto à esquerda para baixo: Reo, Ana Paula Falcão, Marília, Vivi morena, Ricardo Barney e Helena. Ricardo Maiô, Rodrigo Magoo, Carla de Carli Silvia e Gisela. Deia, Mauro, Renato, Ronald, Betina e Marcos Vinícius (com a prof. Vera no estereoscópio).
(Continuação)
“Colei grau às 10h da manhã de uma terça-feira como biólogo marinho, e às 13h estava num ônibus para Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Tinha sido aprovado no mestrado em Oceanografia Biológica e passaria naquela fria e chuvosa cidade dois anos de grande crescimento pessoal e profissional.
Morar sozinho pela primeira vez foi um desafio. Ao meu lado tinha o benefício de ter a melhor bolsa de mestrado que esse país já viu. Eram os idos de 1994 e, com o Plano Real, R$ 800,00 equivaliam a U$ 800. Consegui até economizar um dinheirinho. Mas na Oceanografia as demandas que Química e Física alcançaram um novo patamar e tive que estudar muito para superar minhas deficiências em Matemática e Cálculo.
O mesmo aconteceu quando precisei aprender Estatística de verdade para poder fazer minha tese. Descobri com meu colega de laboratório José Monserrat o quão interessante, útil e poderosa é a Estatística e hoje tenho certeza que é ela, e não a Física, que explica o mundo. Minha tese foi com o efeito de amônio na osmorregulação do caranguejo Chasmagnathus granulata (ainda hoje me lembro o nome de cor) e tenho muito a agradecer pelo que aprendi com todas as pessoas do departamento de Ciências Fisiológicas da Furg.
De volta ao Rio, não entrei para o doutorado direto. O CNPq havia lançado um novo programa chamado Desenvolvimento Científico Regional (DCR) para estimular a ida de pesquisadores para o Nordeste. Assim escrevi um projeto para trabalhar com a Dra. Iracema Nascimento na UFBA. Mas o CNPq perdeu o projeto e caí no temido limbo entre mestrado e doutorado.
Em 1996, acontecia um evento que mudaria a cara da sociedade: a internet saiu das universidades e começou a ser oferecida a população por provedores comerciais. Além de biologia, eu só sabia mexer com computadores. Ainda que superqualificado, comecei a trabalhar como estagiário em um provedor de internet. Foi muito divertido e aprendi muito sobre computadores (como abrir, montar e desmontar) e sobre informática (a lógica da máquina, protocolos, algoritmos, etc.). Ambos os conhecimentos seriam de suma importância quando entrasse no doutorado, seis meses depois.
Sim, ainda que eu pudesse muito bem trabalhar com informática a vida toda, isso teria de ter acontecido em outra vida, onde eu não tivesse tido contato com a ciência. Entrar no doutorado não tem a ver com ser biólogo, mas com se tornar cientista. Muitas pessoas não veem essa distinção. Termine o mestrado e se a tese foi um sacrifício para você, vá trabalhar na Bayer. O doutorado é um forte treinamento em ciência, mas também o estabelecimento de uma relação mais íntima com o meio acadêmico que, cá entre nós, não é para qualquer um.
Entrei para o doutorado do Instituto de Biofísica da UFRJ. A primeira coisa que aprendi no doutorado foi que ele é um caminho para alguma coisa e não um fim. Isso significa que a tese é um projeto de pesquisa e não um projeto de vida. Entender isso com clareza ajuda a poupar um monte de frustrações.
Mas provavelmente a decisão que mais influenciou minha vida acadêmica foi participar de uma reunião dos estudantes de pós-graduação onde me elegeram, por total falta de outro candidato, representante dos alunos no conselho deliberativo do IBCCF. Logo nas primeiras reuniões com os representantes dos departamentos (chamados de programas lá) e com os professores titulares, percebi o que era a academia no seu dia-a-dia. Foi bom, porque eu pude escolher e me preparar para o que me esperava: política e egos, como em qualquer outra profissão ou repartição, ainda que menos nobre.
Ainda no primeiro ano, a Capes e CNPq fizeram uma séria de visitas para avaliar os programas de pós-graduação, algumas vezes com comissões externas. Em uma dessas visitas, participei de uma reunião que ajudou a determinar minha relação com a academia. Eu, como muitos outros alunos de PG, já estava cansado de viver de bolsa por tantos anos e ansiava pelos concursos para professor assim que terminasse o doutorado. Mas o CNPq disse que não, que não queriam perder a nossa fase mais produtiva e por isso estimulariam a saída do país para o pós-doc logo após o doutorado, adiando ainda mais o nosso ‘projeto de vida’. Aprender a se resignar com o que você não pode mudar é uma coisa muito importante se você deseja ser uma pessoa produtiva.
Durante o doutorado, além da tese, preparei meu currículo, cuidando com muito carinho de publicações, cursos e congressos. Criei laços com professores e laboratórios, aprendi outras línguas e busquei um pós-doutorado. Mais uma vez as discussões com meus amigos eram, senão o principal , o mais constante desafio intelectual que eu participava. Meus amigos cientistas são parte da razão pela qual eu sou cientista.
Em 2002, fui para a Itália viver outro desafio: trabalhar em um laboratório moderno, com todos os recursos que precisava para fazer ciência de alta qualidade e competitividade. País, língua, cultura, comida e costumes diferentes, ainda tendo que fazer ciência no meio: será que eu ia dar conta? Dei. E quando voltei para o Brasil, em 2004, tinha muito mais do que alguns trabalhos na bagagem. Eu era um cientista.
Quando passei no concurso para professor no IBCCF naquele mesmo ano, realizei o sonho da criança que catava os peixes com baldinhos na lagoa. Era biólogo e cientista e meu projeto de vida estava só no começo. Hoje, os desafios são outros, mas de certa forma são os mesmos: aprender a reconhecer o que podemos mudar e o que não podemos e coragem para fazer o que tem de ser feito.
Coordeno o laboratório intermediário de biologia molecular ambiental, onde pesquisamos o efeito e o mecanismo de toxicidade de substâncias poluentes em organismos aquáticos. Você sabia que ostras têm câncer? Que camarões têm intoxicação alimentar e param de crescer? E que o ditado ‘a água não está pra peixe’ é justamente porque quando ela está suja eles fogem? Nós pesquisamos tudo isso.
Mas além da pesquisa, eu, como discípulo de Carlos Chagas Filho, acredito mais do que nunca no seu lema: ‘na universidade se ensina porque se pesquisa’. Minhas atividades didáticas cresceram e continuam crescendo, dentro e fora da universidade. Dentro tenho duas disciplinas na pós-graduação e coordeno as disciplinas de Biofísica para a Biologia, um curso moderno e dinâmico, com um ambiente virtual próprio e um programa renovado. Fora, estou envolvido com a capacitação de docentes em EAD para a Universidade Aberta do Brasil.
Completando o tripé da universidade, coordeno um ambicioso projeto de extensão que envolve divulgação científica e treinamento de jovens cientistas. O portal Bioletim (www.bioletim.org) foi montado para recuperar a revista de divulgação científica homônima que nasceu no âmago da nossa turma (DRE: 891), quando éramos todos alunos de graduação do Instituto de Biologia da UFRJ, em 1993. Além da proposta inicial, hoje o portal é um poderoso gestor de conteúdos, com uma plataforma de EAD que atende atualmente a 10 disciplinas e com uma estrutura de rede social que já lhe valeu o carinhoso apelido de Orkut científico. Mas a menina dos olhos do projeto é o roteiro que ajuda os autores novatos a organizarem as informações para a construção online, em poucas horas, de um artigo que pode ser submetido a revistas.
Mas essa experiência não veio do berço. Escrever é treino e prática. Noventa e nove por cento transpiração e um por cento inspiração. Por isso tenho um blog com quase 200 textos científicos para leigos e amantes da ciência: o ‘Você que é biólogo…’ (scienceblogs.com.br/vqeb ).
Para quem está começando agora a sua trajetória na biologia e na ciência, eu diria que a fórmula do sucesso na academia está na regra do 80:10:10, inventada por uma americana que preferiu não citar o seu nome. A regra diz que 80% do seu tempo você deve trabalhar da melhor forma possível, 10% do seu tempo deve investir em desenvolvimento pessoal e nos conhecimentos que serão importantes nos próximos 5-10 anos e 10% do seu tempo você passa dizendo para o maior número possível (e importante) de pessoas o quanto você trabalha bem e é competente. E é claro, é bom contar com um pouco de sorte.”
A trajetória de um biólogo I – Homenagem ao dia do biólogo
E que esse ano ainda é mais especial para mim, porque esse mês serei homenageado pelo Conselho Regional de Biologia no XVIII ENBio (Encontro Nacional de Biólogos) pelas contribuições a profissão.
Fiquei pensando nas minhas ‘contribuições a profissão’. Pensei que a indicação pode ser porque vou com a mesma disposição falar para doutores em um congresso internacional, professores de 2o grau em um curso de reciclagem, um auditório lotado de alunos de uma universidade privilegiada, ou uma sala incompleta de alunos de uma faculdade menos favorecida. Mas talvez não seja porque eu faço isso, mas sim o porquê eu faço isso: porque nenhuma das minhas contribuições é maior que o amor que tenho pela biologia e por ser biólogo. Torço para que tenha sido essa, ainda que seja um variável pouco analítica, a razão da indicação.
Lembrei de um texto que escrevi para a revista do Instituto de Ciências Biológicas da UFRJ a convite da minha querida amiga Marília Zaluar, sobre o que é ser biólogo. O texto se chamou ‘A trajetória de um biólogo’ e eu coloco ele aqui pra vocês.
Feliz 3 de setembro!
“Comecei a ser biólogo como os antigos naturalistas: catando bichinhos por aí. Também tem aqueles que começaram catando plantinhas, mas dessas eu nunca gostei muito. No meu caso específico, eram os peixes da Lagoa de Araruama, em São Pedro da Aldeia. Pegava-os nadando de bobeira pela margem e colocava no meu baldinho. Às vezes tentava levar para casa achando que poderia guardá-los até ficarem grandes, para descobrir sempre no dia seguinte que eles não sobreviviam à água da bica.
Ganhei meu primeiro aquário com 8 anos, que foi também meu primeiro laboratório. Aprendi sobre as necessidades especiais de cada peixe, sobre a temperatura, pH e oxigênio da forma tradicional: tentativa e erro. Infelizmente sacrifiquei muitos peixinhos e também toda a minha mesada nessa empreitada.
Quando chegou o fatídico momento de marcar a cruzinha na quadricula de ‘opção de carreira’ do vestibular, eu não tinha dúvida, queria ser biólogo.
Mas o que é ser biólogo? Naquela época eu certamente não sabia. Na verdade, para o que eu achava que era, aquariofilista estava muito bem. Tanto que quando meu pai me perguntou: “Mas como você vai ganhar a vida como biólogo, meu filho?” Eu respondi que ia trabalhar com criação comercial de peixes e camarões, que significava, trocando em miúdos, trabalhar em um grande aquário. Mas vá lá, a única referência que eu tinha, e que qualquer um durante muito tempo sempre tem de biólogo, eram os professores de biologia, e não era exatamente isso que eu queria ser.
É bem verdade que nos idos de 1988, a engenharia genética já estava dando o que falar. Começavam a aparecer as primeiras ratazanas que produziam leite de vaca e coisas desse tipo. Muito impressionantes para um adolescente que achava até então que ser biólogo era ser como o seu professor do 2º grau.
Na faculdade, a visão romântica do biólogo que fica o tempo todo coletando bichinhos e plantinhas desmoronou. No primeiro período, tínhamos Cálculo, Química e Física. Depois, Bioquímica e Biofísica. O curso da UFRJ tem uma sólida formação em História Natural, herança do tempo em que esse era o nome da faculdade, com quatro zoologias e quatro botânicas, mas que significa estudar animais e plantas que você nunca encontrará pela frente, pelo resto da vida.
Com toda a importância que eu reconheço hoje na Taxonomia, não posso deixar de concordar que a sistemática é um desafio para o aprendiz de biólogo, e motivo suficiente para um sem número de desistências. A biologia não era para qualquer um (que o digam as meninas na aula de dissecção de baratas). E tinha que estudar. Tinha que estudar muito!
Aí entra outro fator, que eu não acredito que possa ser generalizado, mas que vale a pena comentar. Minha turma era uma turma especial. Só tinha crânio. Eram de diferentes idades, cidades e classes sociais, mas todos eram muito inteligentes. Eu percebi nas primeiras festinhas que se bobeasse ficaria para trás. Os papos eram sobre livros que eu nunca tinha lido e filmes que nunca tinha assistido. Descobri que, como eu não gostava do colégio onde estudava, nunca gostei de estudar. Nunca tinha sido um aluno aplicado e isso agora estava fazendo falta. Mas a minha decisão foi firme: recuperaria o tempo perdido! Passei a ler mais e descobri que tinha a habilidade de prestar atenção no que os outros diziam e a aprender com isso. Servia para aulas, palestras, mas também para histórias. Aprendi muito ouvindo as histórias dos meus amigos.
Bom, e havia as festas. Uso ‘festas’ como um termo genérico que além do sentido estrito, inclui encontros estudantis e congressos científicos. Eu fui a todos as festas, excursões, acampamentos, ENEBs, EREBs, Interbios, etc. Fiz amigos biólogos em todo o Brasil e várias dessas amizades, cultivadas anos a fio com cartas escritas a mão, antes do e-mail, permanecem até hoje. Fui Dj, campeão de truco, delegado de comitiva, chefe de torcida e até ganhei uma medalha no Interbio de 1990 correndo 5000 m (não tinha mais ninguém que quisesse participar da prova), já que nunca fui uma maravilha nos esportes coletivos. E sim, namorei bastante também.
Meu primeiro estágio foi realmente em uma fazenda de cultivo de camarão. Fiquei lá tempo suficiente para aprender que ganhava dinheiro quem comprava e vendia camarão, mas não quem criava. E que esses cultivos de moda (rãs, avestruzes, minhocas…) só servem para dar dinheiro a quem dá curso e escreve livro.
Despido da minha fantasia de biólogo infantil, tive que arranjar uma outra. Enquanto todos os meus amigos tinham estágios em laboratórios na universidade, eu respondi a um anuncio que dizia ‘estágio com bolsa’ na Bayer do Brasil. Descobri que havia um mercado de trabalho para biólogos que era grande e crescente. Ser biólogo não era só ser professor afinal, nem ser o cara das plantinhas e dos bichinhos. O trabalho consistia em avaliar a toxicidade de efluentes industriais e produtos químicos comerciais. Trabalhar com poluição era instigante, mas trabalhar em uma indústria não. Depois de quatro meses, não tinha mais nada para aprender e o trabalho virou um eterno repetir. Eu, que nunca tinha gostado muito de estudar, estava sentindo falta de teoria, de estudo e de descobertas. Descobri que meu lugar não era ali, eu era da academia. E se eu queria seguir a carreira acadêmica não havia tempo a perder.” (continua)
Você conhece aquela do português?
Um dos motivos pelo qual fiquei sem escrever tanto tempo é o excesso de trabalho. Parte desse excesso de trabalho foi devido a duas teses de mestrado de alunos meus que tiveram, ou estão tendo, muita dificuldade de escrever.
Já falei aqui da minha descoberta da importância da leitura atenta e da escrita criativa para o suecesso da atividade científica. Saber contar uma história, a história de um trabalho científico, é tão importante quanto realização do trabalho científico em si.
Uma parte importante desse trabalho, é compreender o problema que está sendo investigado. Sem essa compreensão, a relação entre hipótese, objetivos, métodos, resultados e conclusões; o cerne do método científico; se torna impossível de analisar. Sem análise, não conseguimos transformar dados em informação.
Outro dia, tentando explicar isso para um aluno, me veio em mente uma piada de português. O pesquisador Manoel executa um experimento onde remove, uma a uma, todas as patas de uma aranha. Antes da remoção de cada excerto, ele executa um comando verbal para a aranha se locomover.
“Anda aranha, anda” e a aranha andava.
O aracnídeo consegue realizar movimento até que a sua última perna é removida.
“Anda aranha, anda”, e a aranha não se movia. “Anda aranha, anda”, e a aranha ainda não se movia.
Manoel conclui então que após a remoção das 8 patas, a aranha fica surda.
Eu sei, estou parecendo a Turma do Casseta & Planeta no “Piada em debate”, mas vejam, o erro do Manoel, que é fatal para o sucesso da atividade científica, é mais comum do que imaginamos, e é cometido por muitos, muitos alunos no início das suas carreiras acadêmicas: concluir apenas com base nos resultados, e não em todas as etapas do método.
No método científico, cada etapa depende da anterior, e o que mantém a integridade de um trabalho de pesquisa é a coerência entre elas: Se a segunda etapa segue a primeira, e a terceira segue a segunda, então, obrigatoriamente, a terceira segue a primeira. Parece obvio, e é, mas nem sempre é assim. Se a terceira etapa pode existir independentemente da primeira ou da segunda, então o processo está comprometido. Assim como as conclusões. Corremos o risco então de concluir que depois de arrancar as patas da aranha ela não consegue andar porque fica surda.
Acho que a parte mais difícil do trabalho do cientista é a análise dos dados, para retirar toda a informação contida neles. Nem mais, nem menos do que os dados podem fornecer.
Abre parênteses: Vocês já ouviram aquela outra: torturem seus dados e eles te dirão o que você quiser”? Pois é, esse é outro erro comum. Concluir com base em nossos preconceitos, aquilo que gostaríamos que fosse verdade, ou que acreditamos a priori que é verdade, e não nas evidências apresentadas pelos resultados. fecha parênteses.
Mas identificar o problema de pesquisa corretamente é a parte mais crucial do trabalho científico. Aquela que pode comprometer todo o processo. Sem o problema identificado corretamente podemos proceder a uma coleta de dados que resultará inutil (e o que é pior, irreversível ou irrecuperável) enquanto uma análise superfícial (ou abusiva) dos dados produz danos parciais e, geralmente, reversíveis.
Identificar o problema corretamente pode ser uma habilidade inata, mas também pode ser uma habilidade desenvolvida com treino e trabalho. O que o cientista não pode é prescindir dela.
Aprender o quê?
“O que aconteceu (…) faz parte de um grande fracasso geral. No tempo de meu pai, quem fracassava era o indivíduo. Agora é a disciplina. Ler os clássicos é muito difícil, por isso a culpa é dos clássicos. Hoje o aluno afirma a sua incapacidade como um privilégio. Eu não consigo aprender essa matéria, então essa matéria deve ter algum problema. E deve ter algum problema o professor que resolve ensiná-la. Não há mais critérios, senhor Zuckerman, só opiniões”
O trecho transcrito do livro A Marca Humana de Philip Roth verbalizou o que tenho pensado ultimamente quanto aos meus alunos. Em geral!
A aceitação do fracasso está virando a regra. Quem quer ser mais, se esforça mais, consegue mais está “inflacionando” o mercado. Admiram os colegas mais esforçados e dizem… ‘Se eu fosse inteligente como ele…’
O problema é que é tudo mentira. Uma falsa humildade disfarça a arrogância escondida por debaixo da pele. Como um lobo coberto de cordeiro, pra se dar bem com as ovelhas e se esconder dos outros lobos. Lobo que é lobo veste a pele!
De nada adianta inventar novos cursos. As evasões são altíssimas! Os alunos duvidam do professor. Questionam a própria necessidade do ensinar, já que existem tantas fontes de saber. Querem criticar o conteúdo, a forma, a avaliação, mas todo seu embasamento foi conseguido em meia hora de pesquisa no Google. E se não está lá, no ‘oráculo’, então não existe! Que fracasso. Que fracassados!
O problema está na falta de vontade de aprender e não no aprender o quê.
Falta água, falta luz, falta verba, falta bolsa, falta material, falta computador, falta mesa, falta espaço. Falta, é verdade. Mas tudo isso se torna desculpa para justificar a dificuldade e o fracasso. Falta tempo, falta interesse, falta tesão, falta coragem, falta orgulho, falta amor.
Não, tem um fracasso pior do que não querer aprender, é achar que ninguém tem nada à aprender!