Você que é biólogo…


Sempre que ouvia essa frase sentia um arrepio. Alguma pergunta idiota estava por vir. Claro, nenhuma pergunta é idiota, dirão os pedagogicamente corretos. Mas é um fato científico, algumas perguntas são idiotas! O tempo passa e sempre, SEMPRE, alguém inicia a fatídica frase: Você que é biólogo… e, talvez por que eu esteja sendo mais complacente, ou por que tenho novos amigos, ou por que meus amigos estão ficando mais interessados (e interessantes) as perguntas não são mais idiotas. Tanto que me animaram a voltar a escrever no blog simplesmente para respondê-las. Um outro motivo é eu adorar falar, especialmente pros outros, meus amigos, e amigos deles, sobre ciência. Um tipo de catequese. No último final de semana, em São Paulo, onde fui assistir a duas rodas de samba especiais, respondi perguntas sobre as marés de sizígia, com direito a explicações sobre a natureza da gravidade, e o efeito Doppler. Vejam bem que, nem sempre, ou quase nunca, as perguntas são sobre biologia, o que aumenta em muito a minha capacidade de divagar sobre o assunto, e impressionar meus amigos parecendo que efetivamente entendo de tudo. E a maior prova de que não entendo, é uma pergunta bastante pertinente, feita há mais ou menos cinco anos, quando escrevi um artigo sobre o artigo de um outro amigo, que é a chance nacional de ganhar um prêmio Nobel, sobre os mosaicos do número de cromossomos no cérebro humano. A pergunta era sobre os efeitos do álcool nos nossos neurônios. Talvez por que quisesse dar uma resposta completa e adequada ao curioso, seguramente um bêbado, acabei deixando o cara na mão. Hoje, anos depois, ainda sem uma resposta completa, vou tentar me virar pra não deixar o curioso ainda mais ansioso. Ou seja: vou fazer um misto do pouco que sei sobre o assunto com um monte de divagações e torcer pra tentar impressionar! Existem diversos estudos que mostram que o álcool causa danos diretos no sistema nervoso. Ou seja, causa a MORTE dos nossos neurônios. Por sorte, nós temos bilhões deles e podemos nos dar ao luxo de perder alguns de vez em quando por uma causa tão nobre. Muitos dos efeitos são causados pela produção de radicais livres. O álcool é metabolizado em organelas celulares chamadas peroxissomos, que entre outras coisas, ajudam a célula a se livrar do peróxido de hidrogênio, que a maior parte de nós conhece como água oxigenada. Que deixa os pelos loiros, mas dentro da célula, produz radicas hidroxila, destruindo a membrana plasmática, os lisossomos, o DNA, proteínas diversas… e por aí vai. Essa é a mais provável razão da morte celular direta (necrose) e também da indução de morte celular programada (cujo nome chique é apoptose), que é um mecanismo para evitar que células com o DNA danificado se reproduzam formando, por exemplo, tumores. Como então o vinho, consumido em quantidades moderadas, parece ter um efeito benéfico a saúde? Por que apesar do álcool, o vinho é rico em substâncias antioxidantes. Que combatem os radicais livres. Não só os produzidos pelo efeito do álcool, mas aqueles outros produzidos no corpo diariamente. Está comprovado que pessoas que vivem em regiões (sul da Europa) que tradicionalmente consomem mais vinho, tem menos derrames e doenças do coração. Por outro lado, uma série de experimentos com camundongos demonstram, claramente, que o álcool afeta o equilíbrio e, principalmente, a memória de curto prazo. Nos famosos experimentos com labirintos, onde os camundongos mostram sua capacidade de “decorar” o caminho, os bichinhos que consomem álcool se enrolam todos pra chegar do outro lado. Nada que a gente precise de cientistas em laboratório pra já ter descoberto! E nem adianta comprar Ginkgo Biloba pra compensar. Os camundongos que tomaram o remédio não melhoraram em nada a sua performance no labirinto. Ou seja: é placebo! Quer um consolo: cigarro faz muuuuuito mais mal que o álcool. Quer uma solução? Sexo! O coquetel de hormônios produzidos pela excitação sexual e pelos orgasmos contribuem, entre outras coisas, pra aumentar nossas defesas imunológicas e antioxidantes. Mas se você beber até cair…

Curiosidades da Itália

Fazer ciência não é só ficar trancado no laboratório. Ao desenvolover nossa capacidade crítica de observar a natureza e questionar o que encontramos, também acabamos por examinar essa parte mais peculiar da natureza que são os seres humanos.

Por circunstâncias diversas, vim parar nesse país famoso por suas obras de arte e importância histórica. Uma benção para alguns, mas nem tanto para aqueles cujo objetivo de vida é correr na avenida da praia fechada para o transito de domingo e depois ir para a Roda de Samba do Estephanio’s… Enfim, sou compelido a contar para vocês algumas curiosidades daqui.

Quis o destino, e o fato de um dos pesquisador mais renomado na minha área trabalhar aqui, que eu viesse parar em Alessandria, principal cidade da província de Alessandria, nomeada assim em homenagem ao papa Alessandro não sei das quantas. Please, não tem nada a ver com a histórica Alexandria, que fica no Egito.

Ao se chegar de trem já percebemos a peculiaridade. Mais ou menos 5km antes da cidade entramos em um nevoeiro que me faz sentir em Avalon, am referência a ilha mágica do conto de Marion Zimmer Bradley. Assim como no conto 5 km depois da cidade o nevoeiro desaparece. Nada a ver com magia, apenas uma inversão térmica que retêm vapor d’água e poluentes na camada mais inferior da atmosfera e que os ventos fracos (ou deboli como se diria em italiano) não conseguem dissipar. Quis o destino que esse fenômeno acontecesse com maior intensidade justamente na cidade onde esse Carioca da gema veio parar.

Ao entrar no supermercado algumas coisas chamam atenção. A menor seção de todas é a de desodorantes, acompanhada logo pela de sabonetes, shampoos e pela de refrigerantes. Isso explica de cara por que é insuportável o cheiro de CC no laboratório onde trabalho. Quanto mais perto das 5 da tarde, maior o cheiro de CC. O banho relaxante em banheiras dos romanos e japoneses é milenar, mas o banho como conhecemos hoje tem menos de um século. Foi Paster que sugeriu o banho com água corrente para limpar o corpo dos microorganimos que causavam doenças de grande importância na saúde publica do início do século XX. Claro, quis o destino que fosse um francês a inventar a chuveirada, mas certamente não pra evitar aquele “Cheiro de Corpo” como explicava o comercial dos anos 50 e que se tornou o popular CC. Não é a toa que os Franceses e italianos tem perfumes maravilhosos.

Nunca vi a TV russa ou Afegã, mas quando forem 4 da tarde de sábado e você quiser ver um programa legal, mas não tem NADA na TV brasileira, lembre-se que na Itália a TV sempre parece sábado a tarde e a qualquer momento estará sempre passando um programa pior aqui do que ai. Eles usam e abusam de programas de auditório, com pegadinhas etc. Imaginem 382 variações diferentes do Domingão do Faustão, Show do Bolinha, programa Raul Gil espalhadas em todos os canais e em todos os horários. Não é a toa que eles elegeram o Berlusconi presidente.

Ao contrário do que todo mundo comenta sobre as maravilhas de se viajar de trem pela Europa, não é bem assim. Viajar de trem é caríssimo. Muito mais caro do que viajar de ônibus e muitas vezes do que de avião. O conforto também não é o forte, já que a maior parte dos trens são antigos e lentos, muito lentos. Se você quiser o trem confortável e rápido, prepare seu bolso. Custa em média 5 euros por hora de viagem nos trens convencionais e 10 euros por hora de viagem nos trens Eurostar. Quer um conselho: Pegue um ônibus, como a gente faz no Brasil.

Tá, Tá, Tá, nem tudo é ruim. Aqui a gente não paga remédio. Isso mesmo, aqueles 200 reais por mês básicos que qualquer um de nós gasta na farmácia não seriam gastos aqui. Na maior parte dos casos, você vai ao médico e junto com a receita do medicamento necessário você recebe um ticket que troca na farmácia pelo remédio. Ainda não precisei ir ao médico, mas vai ser muito legal quando eu for e não tiver que pagar nem médico nem remédio e nem plano de saúde.

Todo o café é expresso. Peça um lungo que vem em maior quantidade e não tão forte (como a gente está acostumado). Todo Capuccino é gostoso. Mesmo que tradicionalmente eles não venham com chocolate como a gente esta acostumado no Brasil. É um café com leite e espuminha. Meu primo italiano deu a dica pra simular um expresso. Pegue a primeira água do café que sai do filtro de café, só um pouco, coloque na xícara com um pouco de açúcar bata com a colherzinha até espumar. Depois coloque café a gosto. Não é a mesma coisa, mas como nosso café é mais gostoso, a gente fica na média.

Italianos e italianas são um caso a parte. Na média, a ilusão que temos de um povo caliente é totalmente equivocada. Ninguém puxa papo com ninguém na rua. Ninguém nem olha pra sua cara. Os italianos tratam mal suas mulheres. São super machistas e elas, por sua vez, um tanto submissas (já que continuam com esses caras). Um exemplo exagerado que não pode ser considerado regra é de uma amiga que foi colocada dentro da lixeira, em um bar lotado, pelo namorado, que saiu rindo junto com os amigos. Eles se vestem de forma engraçada. Apesar de ser um dos paises da moda, existe muita liberdade pra se vestir. Coloque qualquer coisa, seja uma calça jeans com olhos pintados enormes, com uma echarpe rosa de pelúcia e óculos amarelos e ninguém vai te achar um ET. Talvez seja por que os preços de tudo são altíssimos, talvez seja porque eles são assim mesmo. Por via das duvidas (e por impossibilidades financeiras) continuarei comprando roupas quando for ao Brasil.

Se você gosta de bundas em geral (tanto faz a que sexo você se refere) esqueça. Italianos não tem bunda, e por isso não malham perna, e conseqüentemente, da cintura pra baixo não tem nada de bonito pra olhar.

A massa. 1o quesito em que os italianos são totalmente imbatíveis. Foi Marco Pólo quem trouxe o macarrão da China, e em Nápoles eles tiveram a grande sacação de colocar o molho feito com tomates vindos da América em cima. Foi uma das descobertas mais geniais de todos os tempos. Mesmo assim, prove o Pesto, o Aglio e Oglio, o Quattro formaggi, o com fungi, ou só com manteiga. São todos sensacionais. Alias, tudo é cozido com óleo de oliva extra-virgem. E quase todo mundo conhece alguém, que conhece alguém que tem uma oliveira em casa e espreme seu próprio óleo. Azeite doméstico é imbatível. Quanto a ao molho de manteiga, cuidado apenas com uma pegadinha da língua italiana em relação ao português. Manteiga em italiano quer dizer Burro em português (mesmo que não seja muito usado). Já Burro em italiano, é a palavra pra Manteiga em português.

Vamos ao segundo ponto em que eles são imbatíveis. Todo sorvete é SE-MA-SA-CI-O-NAL. Alguns são realmente imbatíveis. Prove o sabor Bacio (que quer dizer beijo), uma mistura de chocolate com avelã deliciosa. E você ainda pode fazer uma gracinha pra garçonete pedindo um bacio.

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