Ferraris e bicicletas
Thiago, Rodrigo e Lia, meus alunos que foram pro evento, estavam deslumbrados, mas o JP tinha que acordar cedo no dia seguinte pra ir colocar coletores nas serras catarinenses (em São Joaquim ou perto de lá, naqueles pontos onde neva no Brasil), e quando terminou a comida (pobre é foda) a gente foi pra pousada.
Durante todo o congresso vimos poucos trabalhos realmente novos. Uma aluna do Adalto Bianchini do sul mostrou um método autoradiográfico pra identificar acúmulo de metais pesados (radioativos) nas diferentes partes do corpo de copépodos. Thiaguinho mostrou que perspicácia e persistência são mais importantes do que um monte de dinheiro para fazer um bom trabalho e finalmente, um americano criativo calculou o “custo” (em ATP) do funcionamento das proteínas PgP, que bombeiam para fora da célula um monte de porcarias. Um tempo atrás escrevi um artigo sobre como essas proteínas poderiam ser a razão pela qual os moluscos bivalves não desenvolveram um sistema ativo de biotransformação. Fiz de novo essa pergunta para o John Stegeman quando ele apresentou um novo CYP “supérfluo” em peixes. A resposta foi tortuosa, como é o assunto. Evolução de CYPs é muito interessante.
Durante as sessões de painéis, regadas a vinho e a uma caipirinha forte demais, o Rodrigo parecia uma esponja, recolhendo todas as informações que podia de todo mundo. Lia, de uma simpatia que chamou a atenção e conquistou a todos (inclusive um francesinho), também aproveitou para tirar muitas dúvidas e agora tem um monte de trabalho pela frente.
No último dia, a sessão mais cheia foi a dos Noruegueses. Foi inevitável não ficar impressionadíssimo com todos aqueles geis de proteômica (e todas aquelas loiras apresentando os géis de proteômica), que identificavam padrões de expressão de Hidrocarbonetos Poliaromáticos em Salmões e outros bichos com CENTENAS de proteínas variando. Antes da sessão terminar perguntei pro Rodrigo, que trabalha apenas com uma proteína e com geis unidimensionais, o que ele estava achando. Com uma cara assombrada ele me responde: “Eles estão dirigindo uma Ferrari e a gente uma bicicleta”. Foi a definição do congresso.
Mas um exame um pouco menos impressionado sugere outra coisa também. As loiras não sabiam exatamente dirigir a “Ferrari”. Ou seja, não sabiam exatamente o que aquelas 148 proteínas, induzidas ou repressas, realmente querem dizer. Os géis são comprados e não feitos na hora como os nossos. O Rodrigo pode ter uma bicicleta, mas sabe dirigir ela muito bem. Modificou todo o protocolo proposto pelo papa da metalotioneína e apresentou o gel mais bonito do congresso.
Fica aquela idéia de que os requisitos para pilotar uma Ferrari são:
1) Ter o dinheiro pra comprar uma;
2) saber apertar os botões;
3) sóóóóóóóóó depois… vem o saber dirigir.
O congresso continuou no Rio já que muitos deles vieram pra cá. Levei o Francesco e o Viarengo para conhecer a universidade e a Fiocruz. Não esperava que eles ficassem tão impressionado com o meu modesto laboratório e nem que eles ficassem tão mais impressionados com a Fiocruz. Mas tenho que dizer que não esperava o show que o Richard deu com a proteômica e o Milton com a genômica. Quem tem amigos como esses…
Nosso laboratório está montado e pronto pra começar a produzir bem. Esse congresso serviu pra direcionar um pouco nossas idéias. Daqui a pouco poderemos comprar um Gol 1000. E enquanto as loiras aprendem a apertar todos os botões, a gente passa a frente dos gringos.
PS: Onde será que estava o pessoal do CENPES da Petrobras o congresso todo?
Discussão - 1 comentário
pois é: eu tinha ficado meio triste pelo o pessoal do vermelho neutro ñ esteve lá. mas pra q,alguns dias depois o francesco me dá o protocolo do NR explicadinho???