Que bichinho é esse? Que plantinha é essa? E como dizer isso pros outros?

Na viagens que fazia com amigos durante a faculdade, era inevitável a presença de zoólogos ou botânicos que paravam a cada passo para admirar, identificar ou coletar alguma coisa. Os amigos dos amigos, estudantes de direito, economia ou administração, começaram logo a implicar: “Que bichinho é esse?” ou “Que plantinha é essa?” Apesar da implicância, essa curiosidade pelo mundo que nos cerca não é exclusiva dos biólogos, e nem dos cientistas. Ela está dentro de cada um de nós.

Em outro momento, já depois de formado, ouvia com enorme freqüência a seguinte pergunta: “Mauro, você que é biólogo, me explica…” e o que se seguia eram as dúvidas mais estapafúrdias, nem sempre pertinentes, de pessoas leigas e sinceramente intrigadas com a natureza que as cercava. As vezes, devo confessar, fui mau, e criava uma resposta fantasiosa tão estapafúrdia quanto a pergunta. Era divertido. Como quando num dos muitos finais de semana que passei em São Paulo na casa do meu tio, indo do Rio de Janeiro para Rio Grande onde cursei o mestrado, sentados na varanda, ele me perguntou: “Mauro, você que é biólogo, tem um passarinho que sempre vinha aqui na minha varanda. Ele chegava a tarde e depois ia embora. Porque agora ele não vem mais?”

Respondi que a culpa era da poluição e que ele devia fumar menos por isso também. Ou algo desse tipo. Como eu poderia falar que a pergunta estava mal formulada, pedir o número de observações que ele fez da frequência de visitas do pássaro, se ele usou algum método de foto-identificação para saber se era sempre o mesmo pássaro, se havia mudado as plantas do jardim, e outras tantas variáveis que seriam pertinentes se aquele fosse um experimento ou trabalho de campo. Todos somos cientistas, mas trabalhar com o método científico é para poucos. Dá trabalho e exige muita dedicação e atenção. Além de uma fé quase religiosa nos seus procedimentos. Mas como explicar isso para os outros? O que escrever? Para quem? Como?

Essas são perguntas que chegam a atormentar um cientista todos os dias, e foi sobre elas que eu escolhi falar para os alunos da UNICAMP que gentilmente me convidaram para uma palestra sobre divulgação científica no seu IX CAEB – Congresso Aberto aos Estudantes de Biologia em Julho/2009. Tenham certeza que estarei lá.

Discussão - 5 comentários

  1. IX CAEB - Marilia disse:

    Olá Professor, Gostaria de agradecer por aceitar ministrar uma plaestra no IX CAEB e pelo texto. Aproveito para dizer que o IX CAEB é aberto para todos os interessados, não só para os alunos da UNICAMP. O IX CAEB será de 27 a 31 de Julho de 2009. As incriçoes devem ser abertas em breve pelo site www.caeb.com.br. Obrigada,Marilia JustinoOrganização do IX CAEB

  2. Eliane, a Lia disse:

    É, eu também passo por isso, especialmente aqui em casa. Exceto para o meu irmão (com quem eu treino a minha habilidade de simplificar as coisas), minha resposta geral é "não sei, já dei isso há muito tempo na faculdade" - cola que é uma beleza, especialmente porque já me formei há...1 semana :DFé quase religiosa nos procedimentos. Acho que isto me falta um pouco em meu âmago científico. Sempre fico me perguntando "e se não estiver certo, e se não estiver certo, e se não estiver certo..." dezenas de vezes. Mais uma vez o medo... Mas se realmente não estiver certo, a gente faz de novo, ora bolas! Afinal, fé religiosa não significa fé hermética e cega.Bon voyage!

  3. PensarFalar disse:

    De fato...muita gente acha que é fácil levar para o senso comum o que levamos na universidade um longo tempo para aprender a fazer (método científico)...sem querer, para sair da situação, precisamos recorrer a uma redução simplória de algo que é extremamente complexo para satisfazer aquela perguntinha que eu diria que é meio perversa 🙂

  4. felipe mansoldo disse:

    Olá,Sei que não deveria usar este espaço para isso, mas queria entrar em contato com você, mandei um email para tagomago_rj@hotmail.com, fiz certo ?meu email: felipe@hotelfacil.net Muito obrigado,

  5. Fabricio disse:

    De fato, essa pergunta é sempre feita! As pessoas não fazem idéia da dificultade de identificar um ser vivo, principalmente à nível abaixo de família. E, geralmente, as pessoas querem saber a espécie!!!Pior é quando nos perguntam sobre o resultado do exame de sangue, tomografia etc...Não sei se considero ser necessário fé nos procedimentos. É claro que existem inúmeras variáveis, que tentamos minimizá-las ao máximo e que o resultado é válido para aquela situação experimental. Mas isso não significa que o método seja algo subjetivo; na verdade, acho-o bastante racional e válido, contanto que as suas limitações não sejam esquecidas!

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