Afundados em pilhas de artigos – PhD Movie

O título é a tradução livre do título do filme Piled Higher and Deeper (PhD movie), dos mesmos produtores das famosas(!) tirinhas sobre a vida dos alunos de pós-graduação.

Se você nunca leu, não pode perder. Se você já leu, deve ter ficado, como eu (que não tem tanto tempo assim era aluno de pós-graduação também) curiosíssimo sobre o PhD filme.

Eu assisti o trailer no cinema e quando resolvi procurar onde o filme passaria, qual não foi a minha surpresa ao descobrir que ele NÃO PASSARIA. Não nos cinemas. Alguém, em alguma universidade, deveria organizar uma projeção do filme. Até agora a única no Brasil (de acordo com o site deles) tinha sido na UNICAMP em Novembro. Bom… como eu disse, eu queria ver o filme, então resolvi organizar uma sessão.

Achei que isso poderia ser um processo lento e doloroso. Mesmo assim, resolvi escrever para o pessoal do site, que prontamente me responderam. Também consegui com a secretaria da pós-graduação da Biofísica a reserva do Auditório Rodolpho Paulo Rocco, o Quinhentão, pra fazer a exibição. O preço foi salgado, mas decidi fazer uma boa ação de final de ano e dar a exibição de presente para todos os alunos de PG da UFRJ. Na verdade, para todos que couberem dentro do auditório. Talvez para homenagear minhas lembranças dos meus bons tempos de bolsista. Talvez porque o mundo precise que as coisas legais da ciência sejam mostradas pra todo mundo e divulgadas ao máximo. Talvez porque quisesse eu escrever, produzir, dirigir e estrelar um filme desses, mas como não dá, pelo menos eu posso exibir!

O número de assentos é limitado, por isso, se você quiser assistir, se inscreva na página do evento no Facebook. Será dada preferência para os alunos de PG da UFRJ e se for necessário haverá distribuição de senhas antes do expetáculo (com sotaque carioca).

Divirtam-se!

A verdade sobre cães e gatos. E sobre homens e mulheres também.

O livro mais esperado do ano… vai ficar para o ano que vem.

Acho que vocês não tem idéia de como é difícil publicar um livro. Talvez seja como tudo na vida. Uma vez um professor de música me disse: “tocar violão um pouco é fácil. Tocar violão bem é muito, muito difícil”.

Tendo escrito teses e publicado alguns artigos em revistas científicas, eu já sabia que publicar poderia ser, para o autor, tão difícil quanto produzir a informação. Então eu sabia que não seria fácil, mas não imaginei que seria tão difícil quanto escrever o livro.

Os editores, acabei descobrindo, são como os investidores de risco. No Brasil não existe um investidor de risco sequer que tope correr risco algum. Só querem investir em projetos com lucro certo. A mesma coisa são os editores. Não querem editar o livro, só querem fazer a diagramação e ficar com 90% do preço de capa. Conversei com uma dezena deles e é uma vergonha.

Abre parênteses: É verdade que vergonha mesmo são as grandes livrarias, que ficam com 55% dos noventa. E nós… seduzidos pelo brownie e o café – que custam o dobro de qualquer outro lugar – acabamos para que eles nos vendam o livro, mais do que pagamos pelo livro! Mercado-negro… isso que elas deveriam ser chamar! Fecha parênteses.

Mas nem tudo são espinhos. Tive que correr atrás das ilustrações eu mesmo e com uma super dica da Ana Paula Abreu-Fialho cheguei no grande José Carlos Garcia da Pixelworks. Aqui vocês vêem algumas ilustrações de cordel que ele fez para o livro. E olha que essas não são as definitivas!

E com um pouco de sorte, porque há de se contar com a sorte também, eu cheguei até a Ana Maria Santeiro que será minha agente literária.

Me digam vocês, se não é muito chique ter um agente literário?! Porque eu, como diria Preta Gil: – “Acho chique!” E demais.

Mas o dinheiro não vai dar pra ter um assessor de imprensa. Então, contarei com vocês, meus caros amigos, leitores, amigos leitores e leitores amigos, para fazer a divulgação. Quero aproveitar Janeiro e Fevereiro para fazer muitas noites de cerveja e autógrafos. Com ou sem discurso. E se vocês acham que conseguem juntar mais de 20 amigos em torno de uma mesa de bar para ver um biólogo falar, me avisem que eu vou até a cidade fazer um lançamento. Tem que ser bar, porque as livrarias vão querer ficar com 50% do preço de capa dando só água pra gente beber.

Aguardem só mais um pouco. Você não vai poder dar o livro de presente de natal, mas vai poder dar de presente de carnaval.

"Sei mais Física"

Você não tem, ou tem, religião mas, e, gostaria, nesses tempos de natal, de exercer o seu altruísmo, só que ainda não sabe como? Eu tenho a solução: faça como eu e dê uma bolsa do projeto ‘Sei mais física’ para um estudante da rede pública desenvolver suas habilidades em exatas.

Quem lê o VQEB sabe que eu sou amigo e fã da Sonia Rodrigues. Aprendi e continuo aprendendo muito com ela. Dentre os vários projetos que ela coordena, no tempo entre publicações, um em especial tem chamado atenção: o ‘Sei mais física‘.

Premiado pela FAPERJ e pelo Banco Mundial, o ‘Sei mais Física’ e o ‘Almanaque da Rede’ são uma rede social de aprendizagem que ajudam seus participantes a desenvolverem atitudes de estudo e colaboração essenciais para o sucesso profissional e pessoal. O Almanaque da Rede existe desde 2009 e até hoje, 13.200 alunos já participaram do projeto. Você acha legal a Khan Accademy?! Então vai adorar o Sei mais Física e o Almanaque da Rede: a rede funciona com um sistema de desagios, tem mais de 200 vídeo aulas sobre Física, Matemática e Redação e um sistema de pontuação meritocrático. Os pontos são trocados por prêmios, como pen drives com as vídeo aulas, livros e netbooks.

Eu já tinha falado aqui sobre apagão da física, o que ajuda a entender porque o Almanaque e o ‘Sei mais física’ são tão importantes: hoje, no Brasil, uma carreira em física garante um emprego como professor de física! (além de garantir pontos com as meninas: afinal, os nerds do Big Bang Theory estão na moda 🙂

Mas você pode perguntar: com os salários dos professores no Brasil, quem quer ser professor de física na rede pública?

A Sonia tem muitas respostas pra essa pergunta, várias delas no Blog “Inclusão Digital” que ela mantém no Globo. A minha é: “Os milhões de jovens brasileiros entre 18 e 24 anos fora do mercado de trabalho formal que viram camelo, cobradores de van ou, pior, avião e fogueteiro do tráfico”.

Eu já contribui.

Viagens

Contemplativo. Linda essa palavra, não é?! No final de semana em que completei 40 anos, viajei pra serra. Enquanto caminhava pelas trilhas e rios, admirava a paisagem e, de vez em quando, parava em algum lugar mais bonito para observar. Quem me via de longe poderia pensar: “que rapaz contemplativo”

Mas que nada. Minha mente estava agitada. Do mesmo jeito que a bela imagem da queda d’água é construída pelo inexorável fluxo de moléculas de H2O coordenados pelas leis da física e regidos pelas leis do acaso geram a imagem da cachoeira, a passagem de ions de sódio e potássio através da membrana plasmática dos meus neurônios geravam a agitação intelectual que não podia ser percebida por quem me via ali… hipnotizado por uma cachoeira… da mesma forma que ficamos hipnotizados pelo fogo da fogueira.

Inexorável. Outra bela palavra, dessa vez pela sua força.

E o que deveria me acalmar, me angustiou. Simplesmente algumas moléculas de água vão pela direita na bifurcação, empurradas por uma massa de moléculas de água exatamente iguais a ela, sem que haja nenhuma chance dela mudar seu rumo. Outras moléculas… seguem tem o mesmo destino, mas pela esquerda. O destino dessas moléculas foi determinado metros atrás, quando (pelo menos) algumas delas poderiam estar lado a lado uma da outra. Mas para outras moléculas de água, o destino direita/esquerda é determinado apenas após o choque com a rocha. Um choque de uma fração de tempo infinitamente pequena. E que, em última instância, se dá entre átomos de um lado (água) e átomos do outro (rocha). Um número incontável de vezes. Talvez um número inimaginável de vezes.

É por isso que tenho que assistir filmes do Steven Segal para relaxar. A contemplação é algo quase impossível para mim. Uma bela cachoeira me transporta para um mundo quântico onde a paz não existe. Mas que é o mesmo mundo do visível, onde a água inexorável e o rio se bifurca a cada nova rocha que encontra pela frente. Um rio que corre independente do mundo invisível, que somos nós: nossos pensamentos, de nossas angústias e de nossas vontades. E que agora mesmo, meses depois, continua lá: correndo contra o tempo e se chocando nas rochas.

Esses foram 15 minutos na vida do Mauro.

E depois me pergunto porque as pessoas não acreditam quando eu digo que não uso, nem nunca usei, drogas.

Diário de um biólogo – terça, 07/11/2011 – Post it

Um mês sem escrever uma linha no blog. Um monte de justificativas: trabalho, trabalho e trabalho. A questão é que não estou mais dando conta. Preciso de férias para colocar o trabalho em dia. Não vou ter. Não sei como vou fazer. Os livros a ler também estão se acumulando e tudo que eu me permito é desligar o cérebro 1h por dia em frente a um episódio das temporadas antigas de Dexter. Só um desabafo.

Qualquer gato vira-lata

Assisti ‘Qualquer Gato Vira-Lata (tem uma vida sexual mais saudável que a nossa)’. Uma graça o filme. Aqui, chegou a passar da marca de 1.000.000 de espectadores nos cinemas (a peça homônima de Juca de Oliveira já havia levado mais de 1.000.000 de pessoas aos teatros), mas eu achei que faltou aquele ‘burburinho’. Como o gerado por ‘Ele não está tão afim de você’ ou por ‘Big Bang Theory’. Sim, porque o filme é um tipo de ‘BBT’ da biologia.

Não, na verdade eu entendo porque não houve burburinho. Assistindo o filme parecia até que estava assistindo uma filmagem do VQEB. E como o tipo de coisa que eu escrevo aqui gera polêmica, porque o filme não haveria de gerar?

Polêmica?! Não sei se é a palavra correta. Descrença, talvez seja uma palavra melhor. Desconfiança, melhor ainda.

As pessoas resistem tanto, tanto, mas tanto mesmo, a aceitar a nossa natureza animal e a amoralidade da natureza. E as regras que ambos impõem.

“Não existem regras para o amor! É preciso respeito acima de tudo. As relações sempre vão ser únicas, porque cada pessoa tem uma bagagem diferente, costumes, valores diferentes. O interessante é tentar deixar de ser egoísta, ser mais parceiro, ser mais amigo. Mas o fato de que toda relação é única faz com que não existam regras” foram unânimes em afirmar os atores do elenco.

Não importa se nossos instintos de 1 milhão de anos digam outra coisa, não importa se nossas mudanças hormonais digam outra coisa, não importa se nossa anatomia diga outra coisa. As pessoas preferem negar essas influencias castradoras até a morte. Ou até o divórcio.

Sim, porque se não existem regras para o amor, certamente existem para o desamor. Ou é isso que as estatísticas mostram.

No Brasil, de 1940 até 1990, o percentual de pessoas divorciadas, na população em geral, aumentou 15 vezes (IBGE). O percentual de divórcios era de 1:9 em 1985, 1:4 em 1995 e se aproximou de 1:2 em 2005 (nos Estados Unidos o percentual é de 60% e na Inglaterra de 40%). Mais de 50% dos divórcios é causado por problemas financeiros (Instituto Gallup), 33% dos casais brigam com freqüência por dinheiro e 7,5% brigam sempre por esse motivo (H2R Pesquisas Avançadas). Além do dinheiro, a curiosidade e a fofoca também levam ao fim dos relacionamentos. Mais de 60% dos brasileiros checam o perfil do(a) namorado(a) em redes sociais (TNS Research), com o percentual subindo para 70% quando se trata do(a) ex. No fim de 2009, um em cada cinco processos da Divorce-Online trazia a palavra ‘Facebook’ nos autos.

Olha, eu não estou fazendo propaganda pró ou contra coisa nenhuma. Simplesmente me impressiona que, contra todas as evidências, biológicas e estatísticas, as pessoas continuam achando que o modelo de relacionamento inventado menos de 1 século atrás é o que deve ser. E que se não for, a culpa é nossa, como se dependesse da nossa vontade. Ou do amor. Quando se trata de relacionamento, há muito pouco livre arbítrio.

Queriamos ser bonzinhos, respeitadores, éticos, morais, altruistas, mas somos só humanos.

Isso também não significa que eu seja determinista, como meus amigos cientistas gostam de pensar que eu sou. Os posts do blog que tratam do assunto (veja por exemplo ‘A evolução da moda – parte I e parte II) quase sempre são motivados por conversas de bar entre cientistas, tem argumentação respaldada por diversas referências bibliográficas, divertem, mas são sempre rejeitados pelas mesmas pessoas que levantaram as hipóteses inicialmente.

Claro, cientistas estão acostumados a testas suas hipóteses com o rigor do método científico, e apresentam forte resistência a toda forma de ciência que não segue esse modelo. Mas em algumas situações, outras metodologias podem ser aceitas com quase tanta confiança. A epidemiologia não segue o método científico e auxilia enormemente na prevenção, tratamento e cura de doenças. A evolução por seleção natural não pode ser avaliada pelo método científico mas nem por isso existe qualquer dúvida quanto ao valor dela (bom, a não se entre os criacionistas). Estudar o comportamento humano do ponto de vista zoológico não é uma novidade e foi assunto de um livro incrível, publicado na década de 60 e que eu acabei de ler: ‘O macaco nu‘ de Desmond Morris.

Sexo, agressão, alimentação, colaboração, está tudo lá. Mas em uma das muitas passagens brilhantes do livro, Desmond sugere um pequeno conjunto de regras, que aplicamos em muitas situações. Veja:

“Assim, em qualquer dessas esferas – pintura, escultura, desenho, música, canto, dança, ginástica, jogos, esportes, escrita, discurso -, nos prosseguiremos, para nossa satisfação pessoa e ao longo de toda vida, complicadas e especializadas formas de exploração e de experimentação. Por meio de um treino elaborado, tanto os executantes quanto os assistentes somos capazes de sensibilizar a nossa capacidade de responder ao imenso potencial exploratório que nos é oferecido por tais atividades. Se pusermos de parte as funções secundárias dessas atividades (ganhar dinheiro, criar prestígio etc), elas representam biológicamente quer o prolongamento da na vida adulta das nossas brincadeiras infantis, quer a aplicação das ‘regras da brincadeira’, aos sistemas de informação-comunicação dos adultos.
Essas regras podem resumir-se assim:

  1. investigar o desconhecido até que este se torne conhecido;
  2. impor repetição rítmica daquilo que é conhecido;
  3. variar essa repetição de todas as maneiras possíveis e imagináveis;
  4. selecionar as variações mais satisfatórias para as desenvolver à custa dos outros;
  5. combinar essas variações entre si de todas as formas possíveis;
  6. fazer tudo isso pelo simples gosto de fazer, como fim, e não como meio.

Esses princípios aplicam-se de um extremo ao outro da escala, quer se treate de uma criança que brinca na areia, que de um compositor que trabalha numa sinfonia.”

Podem não ser regras bonitas, mas nos ajudaram a sobreviver por 1 milhão de anos. Achar que elas não servem para mais nada e não nos ajudam mais, é tão ingênuo quanto achar que elas são determinísticas e que vivemos apenas de acordo com elas, sem influência da nossa razão.

Vivemos em conflito. Vivemos tentando gerenciar o conflito. Viver isso é melhor do que viver fingindo que não é assim. Talvez você até se divirta mais.

"Bela demais para não ser verdadeira"

Estou lendo novamente ‘O Fim da Ciência’ de John Horgan. Como editor da Scientific American durante muitos anos, Horgan teve de entrevistar algumas das maiores mentes científicas do século XX. E a todas elas fez a pergunta: “Você acha que a ciência já acabou?”

Logo nas primeiras páginas, ele fala que foi entrevistar Roger Penrose. Penrose havia acabado de escrever ‘A mente nova do emperador’ um livro que ele próprio (Horgan) classificou como denso e difícil. Eu confesso que a primeira vez que vi o tijolo que é esse livro, fiquei assustado. Foi durante o mestrado, em Rio Grande, nas mãos do meu amigo André ‘Batata’ Barreto. O Batata, Nerd mais gente boa que já conheci, falou sobre o quão viajante, doido e difícil era o livro. E se o Batata tinha achado difícil… é porque realmente era.

Mas o que Horgan fala é que Penrose, desiludido com o que o panorama da ciência tinha a oferecer naquele momento para explicar o que ele definia como ‘a última fronteira do conhecimento’, a consciência, se permite criar toda uma teoria para explicar o pensamento, sem nenhuma evidência para suas especulações. Claro… ele simplesmente estava propondo uma maneira de realizar a tão sonhada unificação da mecânica quântica com a relatividade geral de Einstein (em cuja interface residiria a consciência).

A base científica dos argumentos é um dos principais critérios quando avalio uma tese ou quando um artigo meu é avaliado por um referee. Sem essa base, tudo vira especulação. Ou imaginação?

É que uma (especulação) tem conotação negativa enquanto a outra (imaginação) tem conotação positiva. Mas será que elas são diferentes? E de quanta especulação precisa a ciência para crescer?

Enquanto escrevo minha mente não para. “Será que na verdade a diferença está em ‘quem’ especula?”

Sim, porque, pensem comigo, quando um cientista desinformado especula por preguiça de ler, a chance dessa especulação ser criativa e trazer nova luz a problemas sem solução é muito pequena. A maior chance é que ele re-invente a roda. Já se um cientista como Penrose esgota as possibilidades de explicação com base nas evidências existentes e começa a especular sem base nas evidências, ai pode ser que algo de produtivo apareça.

Ainda assim, essa nova especulação deve ter algum tipo de critério. “Penrose é um platônico confesso” Diz Horgan, “Os cientistas não inventam a verdade, eles as descobrem. Das verdades genuínas emana uma beleza, uma correção, uma qualidade evidente por si mesma, que lhes dá o poder da revelação.” Para Penrose, a ‘beleza’ é o critério.

A beleza não é um critério totalmente subjetivo: simetria, ordem, padrão, são todos critérios de beleza que podem ser medidos e avaliados. Mas também há novidade e diversidade e esses… são critérios difíceis de serem avaliados, porque dependem de contexto.

Apesar da subjetividade, a beleza está presente no método científico. E de uma maneira muito… bonita. É a beleza (ou como quer que você queira determinar um critério estético) que vai determinar, entre duas perguntas similares, qual é aquela que o pesquisador vai escolher para estudar. Para aplicar o método científico. E a escolha… na minha opinião, é o que diferencia o cientista espetacular do cientista bom, ou muito bom.

“É bela demais para não ser verdadeira” disse Rosalin Franklin ao ver o esquema da estrutura da dupla hélice do DNA proposto por Watson e Crick, enquanto o modelo proposto por ela, responsável pelas imagens de difração de raios X de alta qualidade que os dois outros pesquisadores usaram para fazer sua descoberta, não se sustentava. A beleza não pode ser considerada uma evidência, mas parece que elas andam lado a lado. Uma evidência de qualidade é sempre bonita.

Agora, lendo essas colocações de Horgan e Penrose, penso que existe mais uma brecha no método científico onde a beleza se encaixa: na especulação da discussão. Mas com muito cuidado. A beleza só pode ser utilizada como argumento quando todas as outras evidências tiverem se esgotado. Mas quando podemos considerar que esgotamos todas as evidências e podemos começar a utilizar a beleza como argumento?

Quando você descobrir, vai conseguir diferenciar um cientista ruim de um bom.

O experimento Global

O MCT e a Sociedade Brasileira de química já distribuiram mais de 30.000 kits para fazer avaliação do pH das águas brasileiras. Professor, assista o vídeo e entre em informe-se no site www.quimica2011.org.br

Quatro apoios

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“Cada descoberta e cada invenção levam a transferência de poder e a mudança de hábitos, portanto a medo, desconfiança, resistência e atraso.” diz o sociólogo italiano Domenico de Masi.
O artigo Raízes do atraso brasileiro do professor Wanderley de Souza no jornal O Globo de ontem (15/08/2001) procura mostrar os obstáculos para se fazer inovação no Brasil, mas, na minha opinião, deixa de mencionar um problema fundamental, um conflito conhecido na vida de todas as pessoas, mas velado na ciência brasileira: o choque de gerações.
Apesar de velado, esse conflito é antigo.
“O principal papel do instituto (de Biofísica da UFRJ) foi o de mobilizar apoios, governamentais e não-govemamentais, vencer resistências internas e externas dentro do espaço em que deveria legitimar-se e sobretudo, por intermédio de seu fundador, o professor Carlos Chagas Filho, criar categorias que hoje constituem tradições da ciência brasileira, mas que nem sempre estiveram ali.”

Esse depoimento foi dado pelo professor Paulo Góes Filho na abertura da autobiografia do professor Carlos Chagas Filho, fundador do Instituto de Biofísica da UFRJ, a primeira instituição universitária a fazer pesquisa científica. O livro se chama Um aprendiz da ciência.
“(…) tendo sido Raul Leitão da Cunha nomeado ministro da Educação e Saúde, chamou-me ao seu gabinete para me perguntar o que eu achava que deveria ser feito por nossa universidade. Respondi-lhe que a primeira coisa seria o estabelecimento do tempo integral, particularmente para as cátedras fundamentais. A seguir, propus a ele que se organizassem institutos de ensino e pesquisa nas várias disciplinas básicas. Era este um assunto que eu havia discutido com professores da Universidade de São Paulo, sendo que, na ocasião, fui uma minoria esmagada. Leitão da Cunha perguntou-me quais os institutos que deviam ser criados imediatamente. Física, química e matemática seriam os primeiros, com a responsabilidade de neles se ministrar o ensino dessas matérias para todos os cursos da universidade. (…) [e depois] Criar o Instituto de Biofísica, que teria função de implantar a pesquisa na Faculdade de Medicina e trazer para o nosso meio os métodos físicos que despontaram nos centros maiores depois da Segunda Guerra Mundial, e o desenvolvimento dos métodos eletrônicos.Leitão da Cunha aquiesceu imediatamente”
O livro do professor Chagas é uma fonte de sabedoria. E muitas vezes, quando o presente é incerto, muitas vezes é bom voltar a fonte, aos princípios básicos das coisas, porque com passar dos anos, as histórias chegam a nós um pouco distorcidas.
O tempo entre a posse do professor Chagas Filho como catedrático de Física Biológica na faculdade de Medicina da então Universidade do Brasil em 23 de novembro de 1937 e a fundação do Instituto de Biofísica em 17 de dezembro de 1945 (oito anos depois) dão uma idéia da resistência encontrada para as idéias de Chagas Filho. Até mesmo pelo próprio Leitão da Cunha, que era o responsável pelo curso de anatomia patológica e foi o primeiro chefe de Carlos Chagas Filho na universidade, quando este dava aulas de hematologia 3 vezes por semana, em 1934.
“O jovem professor está consciente de que é o único voto contra?” perguntou Leitão da Cunha a Carlos Chagas Filho ao final de uma sessão da congregação quando todos os professores pleiteavam por benefícios. Chagas os intitulava de os “Barões da Faculdade de Medicina”.
“Evandro passou-me vários telegramas para Paris, onde eu me encontrava, só tendo desistido do seu intento de não entregar o meu pedido (de demissão de Manguinhos) depois de uma longa conversa telefônica em que eu lhe expus a minha firme decisão de assumir a cadeira na faculdade. Impeliam-me nesse sentido, entre outros, dois motivos principais: a possibilidade de discutir com alunos a matéria ao meu encargo e, principalmente, a intenção de implantar a pesquisa fundamental na universidade, segundo o modelo de atividade que aprendera no Instituto Oswaldo Cruz.”
Vejam que enquanto encontrava resistência para estabelecer a atividade científica na Faculdade de Medicina, encontrava também resistência para exercer a atividade didática vinda de Manguinhos, principalmente de seu irmão, Evandro Chagas:
“A razão principal dessa oposição é que não se poderia jamais pesquisar na universidade e que eu me esterilizaria no Simples exercício de atividades didáticas.”
Hoje, “Ensino, Pesquisa e extensão” são o tripé que sustenta a universidade como instituição, de forma que é quase inimaginável pensar que um dia já estiveram separadas.
Por isso a minha estranheza quando vejo o professor Wanderley de Souza, titular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, onde eu também tenho o privilégio de exercer a atividade de professor e pesquisador, protestar contra a realização da inovação na universidade.
“Em todos os países, a produção de patentes resulta da atividade de pesquisa, desenvolvimento e inovação praticada nas empresas. A título de exemplo, cabe mencionar que apenas 4% das patentes depositadas nos EUA são provenientes de suas universidades. (…) o Sistema Brasileiro de Ciência e Tecnologia foi montado ao longo de vários anos para dar apoio à pesquisa básica, e o fez com sucesso. Este sistema não foi e não se encontra preparado para lidar com o setor empresarial.”
Corretíssimo em suas duas afirmações, Wanderley discorda da política do governo, que através de movimentos como a ‘Lei do Bem’ e ‘Lei da Inovação’, estimulam a universidade a comandar, ou encabeçar, a inovação no país.
A questão,para nós, é que se nos EUA pode ser daquele jeito, aqui não. A política econômica dos últimos 20 anos, assim como a cultura trabalhista brasileira, nunca estimularam o empreendedorismo. Ainda hoje, um aluno de qualquer disciplina tem de procurar um MBA depois de se formar, porque são raríssimos os cursos (fora dos currículos de economia e administração) que ensinem a preparar um plano de negócios. O resultado é que não há como exigir de uma indústria intermediária inexistente que lidere a marcha pela inovação. A ‘inteligenzia‘ brasileira, aquela capaz de interpretar e aplicar o conhecimento científico produzido no Brasil e no mundo está na universidade. Foi criada e é mantida pela sociedade brasileira. E é por esses motivos, entre outros, que ela precisa liderar movimento pela inovação e empreendedorismo no país.
É claro que precisamos rever nossa lei de patentes. Assim como nossa política econômica de juros altos e nossa cultura social de funcionalismo público. Mas também deveríamos rever nosso modelo de ciência e tecnologia, baseado no paradigma da ciência básica e ciência aplicada do pós-guerra, para uma abordagem mais moderna que, curiosamente, remete a atividade de aplicação de ciência de Louis Paster no Séc XIX, onde a busca de soluções para problemas aplicados leva ao desenvolvimento de fundamentos da ciência. Uma história muito bem contada no livro ‘O Quadrante Pasteur‘.
Esta na hora da universidade evoluir e se apoiar em um quadripé de “ensino, pesquisa, extensão e inovação”. Mas não acredito que essa mudança convenha ou interesse aos ‘Barões da Ciência’ do Brasil de hoje.

Os mortos-vivos


Winston Churchill disse que a “A democracia é o pior sistema de governo existente, excluídos todos os demais”
O problema da democracia, além do favorecimento da corrupção, é que as pessoas criam a ilusão de que todos têm oportunidade e força. De que todos têm direito a opinião e a ser ouvido. Não é assim nem quando todos tem direito a voto. Imagina então quando não tem.
Pela enésima vez, porque venho ouvindo isso desde que sou estudante de pós-graduação, ouço um professor estabelecido me dizer que a falta de representatividade da massa de professores (e profissionais e alunos) em uma instituição (na nossa instituição) não é culpa do sistema de governo (um híbrido de conselho tribal com reunião de condomínio) e sim da apatia das pessoas.
“Existe um monte de vagas para representantes em diferentes instâncias da universidade. Quantas pessoas se candidatam ou preenchem essas vagas?”
A apatia é uma justificativa para a falta de participação, é verdade. No entanto, quando essa justificativa parte daqueles que se beneficiam, ainda que inconscientemente, da falta de participação das pessoas nos processos decisórios, ela perde a validade como argumento.
Tá na lei: “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. O ônus da informação está em quem a demanda. Mas a informação tem de ser transparente para que aja democracia. Se já é difícil se informar quando a informação está publicada, imagine quando ela não existe, a não ser na cabeça dos chefes tribais?
Em situações particulares, com nas relações de consumo onde há uma reconhecida vulnerabilidade do consumidor, o princípio legal do ‘ônus da prova’ (aquele que diz que a prova deve ser fornecida por quem faz a acusação) é invertido.
Mas será que dá pra colocar o ‘ônus da apatia’ em quem é apático? Enquanto eu voltava pra casa num tremendo congestionamento, uma palestra do TED me deu a resposta: NÃO! Quando eu vi o título ‘Como combater a Apatia’ eu achei que pudesse ser alguma coisa de auto-ajuda. Mas não. Na palestra, Dave Meslin diz que “a apatia, como nos a concebemos, não existe realmente. Ao contrário, as pessoas se importam, mas nós vivemos em um mundo que ativamente desencoraja a participação das pessoas, por colocar obstáculos e barreiras constantemente no nosso caminho”.
Se você é um lider e quer uma participação efetiva dos membros da sua equipe, cabe a você fazer com que os mecanismos de informação sejam transparentes e velozes.

A apatia atrapalha a participação. Mas é a falta de transparência que gera a apatia
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