A Intuição e o Método

Venus de Milo com Gavetas, de Salvador Dalí

Venus de Milo com Gavetas, de Salvador Dalí

Tenho pensado tanto sobre isso. Como cientista, o ‘método’ é o meu principal instrumento de trabalho. Isso não significa que eu seja metódico no que faço. Significa que eu recorro a evidência, a hipótese, a experimentação e a análise para tecer conclusões e tomar (ou questionar) decisões. Não há como ter dúvida do poder do método para alterar a nossa realidade. Mas ainda assim, grande parte dos desafios profissionais que eu encontro são sobre como convencer as pessoas, mesmo (principalmente) cientistas, a abraçar o método em áreas que não sejam o seu objeto de estudo.
Ainda que possamos nos apoiar na obra de Galileu, Bacon e Descartes para uma explicação do que é o ‘método’; explicar a intuição é muito mais complicado. E o fato de todos nós experimentarmos a intuição independente de compreende-la, torna ainda mais difícil explicá-la cientificamente, porque a explicação esbarra na nossa compreensão ‘intuitiva’ da intuição.
Mas e se quisermos entender o que é a intuição de forma não intuitiva?
Vamos ter que começar entendendo o que é a consciência. Uma tarefa nada fácil já que não existe um consenso científico sobre o que é a consciência. Mas tendo incluído ‘consciência’ no programa da minha disciplina de Biofísica para o curso de biologia da UFRJ, eu estudei bastante o assunto ao longo desse ano e vou arriscar uma explicação para vocês (para quem quiser mais informações eu sugiro fortemente o  documentário da BBC ‘O Eu secreto’).
De maneira bem resumida, quando o seu cérebro é requisitado a dar uma resposta, inicia-se  um processo mental onde são ativadas diferentes regiões do seu cérebro, dependendo de cada processo. A ativação dessas áreas gera sinais elétricos que se propagam por nervos, indo e vindo através dos troncos do tálamo, e disparando, ou ‘acendendo’, diferentes áreas do cortéx no caminho. Dessa atividade elétrica em diferentes áreas do seu cérebro, emerge uma ’sensação’ subjetiva: a auto-consciência. Quando bloqueamos o tráfego dos sinais impedindo a comunicação entre as diferentes regiões, seja pela administração de anestésicos ou naturalmente durante o sono, a nossa auto-consciência desaparece.
A idéia não poderia ser mais assustadora: em nenhum lugar do seu cérebro existe um repositório de quem é você. Não existe nenhuma ‘gaveta’ com a etiqueta ‘quem sou eu’. Ao contrário, a cada vez que o seu cérebro inconsciente decide que um evento é digno da sua atenção, o disparo coordenado de milhões de neurônios, bilhões na verdade, recreia, do zero, a noção de quem é você. 
Se tivesse descoberto que a cada momento eu era um novo ‘eu’, como descobriu Virginia Woolf no século XIV, assim como descrito no maravilhoso livro de Jonah Lehrer ‘Proust foi um neurocientista’, sem ter os instrumentos para compreender como isso era possível, talvez também tivesse me suicidado.
Curiosamente, ou contra-intuitivamente, é o nosso corpo físico, e não uma termodinamicamente improvável alma, que guarda a chave para o segredo da integridade da nossa auto-consciência. Com as nossas experiências anteriores armazenadas na nossa memória de longo prazo e com os limites físicos do nosso corpo identificados por neurônios na mesma posição, os disparos consecutivos que geram a auto-consciência são capazes de replicar com grande fidelidade o nosso ‘eu’.
Mas não com fidelidade total.
As áreas que acendem não são E-X-A-T-A-M-E-N-T-E as mesmas. Nunca!
Inquietante… para dizer o mínimo. Mesmo quando pensamos sobre a mesma coisa, mesmo se essa coisa for a nossa própria identidade, nunca pensamos sobre ela da mesma maneira.
E de fato é com essa assustadora, porém muito esclarecedora constatação que se inicia o livro de Daniel Willingham ‘Porque os alunos não gostam da escola’: Porque pensar é difícil e nós, ainda que sejamos capazes de pensar, não somos bons nisso.
Uma grande parte do nosso cérebro é dedicada ao processamento inconsciente de imagens visuais e, se tem alguma coisa na qual somos bons, é em ‘ver’. Já em pensar… como vocês podem bem imaginar pensando em grande parte das pessoas que conhecem… não é algo todos fazem da mesma maneira, com a mesma eficiência e na qual possamos todos dizer que somos… bons.
O mundo tem uma realidade complexa que procuramos recriar dentro do nosso cérebro para que possamos decidir como reagir a esse mundo real. Como nosso pensamento não é linear, não temos muito controle sobre quais memórias acessamos ou sobre quais áreas do cérebro serão ativadas pelos sinais iniciados com a atenção a um pensamento, não temos como repetir uma mesma análise da realidade duas vezes.
Para piorar a situação, como eu já descrevi aqui, as nossas decisões começam como uma resposta instintiva baseada em processamento ‘inconsciente’ do cérebro, só depois sendo reconsiderada em um processo consciente que, como vimos, é falho.
Por exemplo, no excelente livro ‘Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas’ de Michael Shermer, fica claro que as nossas escolhas, mesmo aquelas conscientes, não são fruto da nossa capacidade intelectual e sim dirigidas por 3 fatores principais: as alternativas oferecidas pelas circunstâncias, o medo e a expectativa da opinião dos nossos pares. Nossa… isso também explica tanta coisa!
A conclusão no poderia ser mais difícil de aceitar: por mais que você se considere um grande pensador, há um limite para o quanto você pode confiar nas suas idéias. Suas intuições… falham!
E é por isso que nós precisamos do método. Ele é a única maneira de escapar das armadilhas que nossos processos mentais nos impõe.
Mas se o método é o que pode nos salvar das nossas falhas mentais, porque será que, na minha experiência e em muitas outras ilustradas na história da psicologia, as pessoas resistem tanto ao uso do método?
Ainda não tenho uma resposta. Mas é possível que a insegurança gerada pela dificuldade de pensar conscientemente e a falsa segurança gerada pela natureza inconsciente da intuição estejam envolvidas nessa resistência.
Além da preguiça, é claro.

O Legado das Águas

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O maior pedaço de Mata Atlântica, contíguo, preservado, do Brasil, quem diria, é privado.

O Legado das Águas, a reserva da Votorantim, tem 31.000 ha de Mata Atlântica original preservados na região do Vale do Ribeira no Estado de São Paulo.

A preservação não foi altruística. Foi consciente: sem energia, não haveria como a Votorantim produzir alumínio. A energia tinha de vir de usinas hidrelétricas e, sem água, não haveria hidrelétricas. Então era preciso proteger a água. E para proteger a água, era preciso proteger a floresta.

O Rio de Janeiro já havia ensinado essa dolorosa lição. Quando durante o império colocaram a Mata Atlântica abaixo para plantar café no Maciço da Tijuca, o resultado foi um desastre ambiental: secaram as nascentes que abasteciam a cidade. D. Pedro II teve de mandar replantar tudo! E sob o comando do Marechal Archer, 5 escravos, Eleuthério, Leopoldo, Manoel, Matheus e Maria reflorestaram o que hoje é a a maior floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca.

Então, em prol do futuro sustentável do seu negócio, Antônio Ermírio de Moraes começou a comprar títulos de propriedade para a construção de usinas hidrelétricas e a criação da reserva ambiental, que determinava a manutenção das nascentes do Rio Juquiá.

Os xiitas dirão: como pode ser preservado sem tem 4 hidrelétricas lá dentro? E me levarão para a discussão semântica entre os termos preservação e conservação. Eu responderia com a obra de Antônio Diegues, ‘O Mito Moderno da Natureza Intocada’, livro espetacular que faço com que todos os meus alunos de Biodiversidade leiam, e que fala das razões pouco ortodoxas que levaram a construção do modelo de parques florestais e reservas naturais vigente hoje no mundo, e a sua ineficácia em fazer com que a natureza siga o seu rumo com todos os seus agentes, incluindo os seres humanos. Mas eu sou um cara prático, e quando durante o 1o encontro científico organizado pelo Legado o programa de monitoramento de grandes animais mostrou as fotografias de dezenas de mamíferos selvagens como onças pardas, cachorros do mato e Muriquis, os grandes símios de sociedade matriarca que resolvem suas pendengas sociais com abraços e sexo ao invés de violência física, eu não tive dúvida de que o lugar é uma jóia na coroa do nosso remanescente de Mata Atlântica.

Abre parênteses  Além disso, tenho que confessar, tenho uma queda por barragens. Quem me acompanha sabe disso. Acho incrível como esses pequenos macacos pelados que somos nós são capazes que driblar incríveis forças da natureza. Fecha parênteses.

Se ainda assim alguém duvidar, eu tenho um argumento matador: Água, muita, MUITA água. Quem vive em São Paulo ou no Rio de Janeiro hoje está sentindo (ou seria melhor dizer ‘não está sentindo) na pele a importância disso.

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Quando a Votorantim pensou em preservar a floresta para preservar seu negócio de Alumínio nos anos 40, não sabíamos o que eram os genes e não conhecíamos a estrutura do DNA. Quando descobríamos a biologia molecular e inventávamos a biotecnologia nos anos 70 (bom estou me incluindo aí apesar de ter nascido nos anos 70 porque eu sempre soube que queria ser cientista), eu duvido que eles pensassem em fazer outro uso dessa floresta que não a conservação de suas águas. Mas agora, em meados da segunda década do século 21, temos os instrumentos tecnológicos para criar riqueza a partir da biodiversidade sem alterar 1mm dessa paisagem exuberante, sem prejudicar os serviços insubstituíveis que esse ecossistema pode prover.

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Para mim, Antônio Ermírio atirou no que viu e acertou no que viu e no que não viu. Será que os detentores do seu legado verão?

To do Science is not enough, we have to bet

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In Trieste, Italy, in a recent international gathering of scientific diplomacy organized by the Academy of Sciences for the Developing Countries (TWAS, its acronym in English) and the American Association for the Advancement of Science (AAAS, its acronym in English), I saw former NASA astronaut (the U.S. space agency) David Hilmers talk about cooperation between scientists of different nationalities in space. I also saw Norm Neureiter, former scientific adviser to the Ministry of Foreign Relations of the United States, talking about collaboration on scientific projects with the Soviet Union during the Cold War.

It’s a very different reality from that of the developing countries that were represented there. How to convince our politicians and governments to value science?

I asked this question to Ray Orbach, scientist responsible for negotiating the participation of the United States in thermonuclear experimental reactor to be built in France by a consortium of nine countries. There will be simulated in a controlled environment, temperatures as high as those found in the Sun, and that will make the nuclear fusion of hydrogen, producing helium gas and energy, lots of energy.

How to expect a country like Brazil, where the average citizen has little education – almost 70% of the population has not completed high school – and the government does not consider science, technology and innovation (ST & I) a priority – we have a fifth of the world’s average number of scientists by inhabitants – come participate in something so important for the future of humanity? This requires investments of frightening amounts of money, huge uncertainties, major conflicts of interest and too much risk. And what is worse, the results appear only in the long run: the operations of the reactor, for example, are referred to in 30 years.

Orbach had no answer. But in that moment, the president of TWAS, Romain Murenzi, a native of Rwanda, stood up and challenged me: “I was in Brazil and I can assure you, your country has a strong commitment to ST&I”. He mentioned the improvement of the position of Brazilian universities in international rankings and, as would be expected, the Science without Borders program.

The next day, when the representative of the Dominican Republic called for a stronger legislation to prevent the escape of academics from developing countries, Romain stood up again and said he was mistaken in thinking it was the lack of infrastructure that led scientists to escape their countries. In many of them, the political conditions were so unstable that researchers feared for his life, not by unavailability of equipment.

I understood later, talking privately with Romain that for him the fact of my country have invested in my education to the doctoral meant a deep commitment to ST & I. Of course if you compare Brazil with Rwanda will have to accept that our commitment to ST & I is strong. But if we compare with the U.S.? And what comparison is correct?

After seeing the two seconds video of the light touch of the leg of a paraplegic on the ball at the opening of the World Cup in Brazil, and the reaction of the scientific community on social networks, I found the answer.

The comparison did not matter. Only when we were willing to invest large sums of money on cutting-edge projects, risky and uncertain, we would unveil a big commitment to science.

Brazil has an enormous socioeconomic deficit that also inhibits its scientific development. It is virtually impossible not to be always one step behind our collaborators (and competitors). A strategy to escape this trap would be to walk an alternative path, where the long-term investment in basic education were accompanied by massive investments in fron
tier of sciences. Areas with potential for faster returns, but with greater financial contributions, as well as uncertainties and risks.

The answer was in that lawn. Brazil had committed! The result was not the expected. From the point of view of marketing – and it was a marketing event for the demonstration took place in the World Cup opening, not in a scientific congress – it was a failure. But scientifically the enterprise has not failed. It’s easy, retrospectively, to find the reasons why the venture failed. But cast the first stone who has never talked about an outcome before it was published. It will be up to the funding agencies to account for the invested resources and the scientific community to verify Nicolelis’ allegations. Which, incidentally, will be the only one to bear the embarrassment that was the difference between the promised and the delivered.

Scientific activity is risky and its results can never be predicted with accuracy. But it is part of the game. An expensive game, but precisely because of that, it requires a large commitment of the players. Four years ago, Nicolelis was the right bet. More than that, investing in science was the right decision for Brazil. Brazilian science can live without the 15 million USD that were allocated to Nicolelis’ research. What Brazil cannot, is to live without the fundamental commitment to risk in science.

MAURO F. REBELO, 42, PhD in biophysics, is professor at the Institute of Biophysics Carlos Chagas Filho, at Federal University of Rio de Janeiro

Free translation by the author from the article published in the Brazilian newspaper Folha de São Paulo on 21/06/2014

Science, Politics and Compromise

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As I get ready and pack for the Science Diplomacy workshop that I’m going to participate in Trieste, Italy next week, I try to control the enthusiasm. I am part of a very selected group of scientists and politicians from several parts of the world that are going to try establishing the common ground to address the challenges of the 21st century.

Under the sponsorship of the American Association for the Advancement of Science (AAAS) and The World Academy of Science (TWAS), we are going to discuss Mechanisms for Science diplomacy, Linking Science to Development, National Approaches to Science Diplomacy and Priorities, Large Scale Infrastructure, Transboundary Cooperation, The role of science education and exchanges to build international links and Regional Integration and Science Diplomacy.

I’m so excited! And afraid.

I am afraid that it may impossible for us to succeed, because there may be no such common language. No such middle ground.

Science is about the search for the truth based on evidence. Politics is about the search for consensus, not always (or not necessarily) based on evidence. Consensus is obtained by compromise. And in science, in the scientific activity, there is no room for compromise.

Open parenthesis: We want consensus in science too, and because we have evidence to set our disputes, consensus in science should be inevitable. But it turns out it is neither that simple, nor that easy. We, scientists, after all, are humans, and susceptible to conflict of interest, bias, partiality and other human motivational bad choices. Fortunately, eventually, evidence (or the truth) prevails and science moves forward in a consensus that Thomas Khun named “a new paradigm”. Close parenthesis

Politics are influenced by the opinion of the majority. Science could not care less about it. The reason is simple: the majority is not necessarily (actually, rarely is) smart. In lay terms, the Brazilian author Nelson Rodrigues said once: “all unanimity is stupid!”

No mystery behind that. The skeptic Michael Shermer shows in his inteesting book ‘Why intelligent people believe in strange things’ that our choices are rarely result of an intleigente rational process. Most of the times it is result of circumstances, emotions (specially fear) and our concern about other people (specially our peers) opinions (and acceptance).

Open parenthesis: Although ‘intelligence and rational thinking are not our most used feature to make decisions, we use them a lot to justify whatever decision we have made. And we are very, very good at it. Close parenthesis.

The majority, as Isaias Pessotti mentioned in his marvelous book ‘The Mediavilla Manuscript’ is a measure of power, not intelligence. The majority is important to give mandates, not to make decisions. That is why we should give mandates to very intelligent people. In my particular opinion, as a scientist, I believe we should give mandates to very intelligent people that base their decisions in evidence. But, even though I’m not alone in this belief, we are far from being the majority.

Because politics have a mandate from the majority, they are worried about pleasing the (right or wrong) majority. Scientists… They don’t care about the majority (I could open another parenthesis here, for nowadays, many scientists are worried about the majority, or should I say, about showing up in the news). They care about being right (well, and publications, and grants, and prizes, and sometimes, they cara about money too).

“I don’t want to be right, I want to be happy” said the brazilian poet Ferreira Goulart. But for a scientist, to be right IS to be happy!

Scientists are full of defects. The are narcissist, egocentric, arrogant, jealous and envy (to list some). And the fact that they can, at least sometimes, go over all this to describe the reality in an unbiased way… is almost a miracle (ops, most scientists don’t believe in god or miracles either). To do that, we have to fight previous assumptions, preferences, intuitions, guesses, opinions. It is very hard. That is why is so obnoxious when journalists ask us to give contundent last minute statements about complex and complicated topics that we spend years studying, that are surrounded by uncertainty and to which, many times, we can only grasp a comprehension.

But we rarely put ourselves in anyone else’s shoes. People don’t understand and, most of the time, they don’t care about how things works. They want to be happy, they don’t want to be right. Politicians have to take that into account.

It was during a lecture from the physicist and ex-president of the Brazilian society for the advancement of science Enio Candotti, entitled ’Science, Politics and truth’ that I was introduced to this huge gap between the scientist’s objective perception of the reality and the politician’s subjective one.

Is there reconciliation between evidence and consensus? Objective and subjective? Right and Happy? I hope so, and I’m going to Trieste with an open mind and a lot of enthusiasm to look for it.

O beco sem saída

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O resultado do concurso para professor adjunto na minha instituição na semana passada deixou clara para mim uma coisa: o meu enorme desalinho com rumo que a universidade está tomando. Ou que tomou. Ou que sempre teve, não sei mais. De qualquer forma, fico me perguntando como não percebi isso antes. Não creio que tenha sido um estudante idealista pra ficar cego contra algumas obviedades, e muito menos um adulto idealista: como é que me escapou então?
Meu problema não foi, ou não tem sido, com os candidatos. Meu problema é com as bancas, que insistem em perpetuar um sistema que ultrapassado, que claramente não funciona mais, ainda que todo mundo faça o maior esforço pra fazer de conta que sim.
Mas eu não quero insistir, nesse texto, no ponto do concurso; quero insistir no desalinho. As vezes, muitas vezes, fico me perguntando se é possível que apenas eu veja que tudo está errado, que nossos professores estão desmotivados e despreparados; que nossos alunos estão além disso, desatentos; que nossas pesquisas não tem impacto…
Você não concorda comigo? Eu aprendi cedo na minha vida acadêmica que a única coisa, talvez capaz de convencer pessoas inteligentes a mudar de opinião, são argumentos técnicos. Afinal, como diz o canastrão  da série de televisão CSI – Miami, Horatio Caine: – “Pessoas mentem, evidências não”.
E nesse caso as evidências são sólidas, consistentes e aterrorizantes
– Alunos entram na universidade sem conhecimentos fundamentais de diversas disciplinas
– Na região norte do país, menos de 1% dos professores do ensino fundamental tem graduação. Qualquer graduação, em qualquer área.
– Apenas 14% dos jovens brasileiros entre 19 e 24 anos estão na universidade (menos que a Bolívia e muito, muito menos que Argentina e Venezuela)
– índices de evasão em cursos da UFRJ variam entre 50 e 90%
– A produção científica no país cresceu mas ela não tem impacto
– Os alunos do CsF voltam para casa por falta de proficiência em inglês
– Professores com doutorado ocupam 2 faixas da pista + o acostamento + as duas faixas da contramão na hora do rush na saída do campus do Fundão.
– 85% dos CEOs no Brasil dizem que sua maior preocupação para o crescimento é a disponibilidade de recursos humanos de qualidade.
Poderia continuar com mais argumentos.
Enquanto pesquisas e mais pesquisas em neurociência e psicologia evolutiva mostram, consistentemente, que as metodologias de ensino tradicionais são ineficientes e impossíveis de serem aplicadas em escala; eu gostaria de entender porque professores pesquisadores se recusam a aplicar em sala de aula as verdades científicas que outros cientistas produzem. Deve ter a ver com o que Dan Pink fala na excelente palestra TED sobre porque nos recusamos a aplicar verdades cientificamente comprovadas na gestão de recursos humanos nas empresas,
Na verdade, não preciso de Dan Pink, eu sei a resposta: porque vai dar trabalho, porque quem era o melhor professor antes não será mais o melhor professor, porque vai custar caro, porque não queremos aceitar que estacamos fazendo errado em primeiro lugar.
Enquanto isso, nossos alunos continuam passando em branco pela universidade, chegando despreparados no mercado de trabalho e achando que fizemos a nossa parte porque ganhamos uma avaliação positiva depois de uma aula (ou um curso) ou porque um ou dois alunos deram uma resposta excelente em uma prova.
Será que ninguém vê que assim não vamos conseguir educar os milhões de jovens que precisamos para começar, apenas começar a retirar o atraso do Brasil nesse setor? Será que ninguém vê que esse bonde  caminha em
 um beco sem saída? Não, ninguém vê.
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[A falta de] Impacto social, econômico e intelectual da ciência brasileira

Ainda que a produção científica nacional tenha crescido significativamente nos últimos anos, o impacto das nossas publicações continua o mesmo: nenhum!

Ainda que a produção científica nacional tenha crescido significativamente nos últimos anos, o impacto das nossas publicações continua o mesmo: nenhum!

As vésperas do encontro anual da Academia Brasileira de Ciências, visitei um artigo publicado em fevereiro desse ano, onde o ex-presidente da FAPESP e ex-Reitor da Unicamp Henrique Britto-Cruz fala, embasado em amplas estatísticas, sobre a falta de impacto da nossa ciência.

A primeira vez que vi o Britto-Cruz falar foi em 1999, quando eu, junto com um grupo de alunos de doutorado preocupados com seu futuro como cientistas no Brasil, ajudei a organizar o simpósio ‘Cientistas do Próximo Milênio: O que se espera de um doutor em ciências no Brasil’. O evento foi incrível e contou com nomes importantes da ciência na época como Jorge Guimarães, Wanderley de Souza, Leopoldo de Meis, entre outros. A palestra de Britto-Cruz foi muito boa. Mas, se prestarmos atenção ao conteúdo, de 1999 pra cá, ele pouco mudou.

Já sabíamos que a produtividade científica do Brasil vinha aumentando pela decisão estratégica de investir os parcos recursos de C&T brasileiros em bolsas de pós-graduação ao longo da década de 1970, 80 e 90. Investimos maciçamente em um exercito de idealistas de pós-graduação dispostos a qualquer coisa pela ciência, mesmo a trabalhar nas péssimas condições oferecidas pelas universidades públicas, que estavam sendo sucateadas pela falta de recursos para infra-estrutura.

Mas aqueles não eram os únicos problemas. Como os jovens doutores que estavam sendo formados pelo sistema poderiam produzir ciência de alto impacto, como a que estavam fazendo em seus pós-doutorados no exterior, quando precisamos esperar meses pela liberação na alfândega de reagentes importados e pagamos até 3x mais pelo mesmo material que em outros países? Pois é, não dava.

Então, em 2003 um grupo de jovens pesquisadores brasileiros coloca dedo na ferida: altas taxas de importação e ágio estavam causando prejuízos financeiros aos laboratórios (e aos cofre públicos) e, junto com a demora na liberação de material importado para pesquisa, estavam minando a competitividade da ciência nacional. (veja em: ‘High prices of supplies drain cash from poorer nations’ labs’ – Nature 428, 453 (1 April 2004; doi:10.1038/428453a e ‘Scientific aid to Brazil is strangled by red tape’ – Nature 428, 601 (8 April 2004; doi:10.1038/428601a). Repetimos a companha em 2007 e o o presidente Lula, pressionado pela comunidade científica, em 20 de novembro assinou o decreto nº 6.262, dando 90 dias de prazo para quatro ministérios simplificarem o processo. Você acreditou que o problema estava resolvido? Eu acreditei, mas nada mudou. Sem grandes esperanças, repetiram a campanha em 2012 e o auxílio veio de onde menos se esperava:  o deputado federal Romário (PSB-RJ) propõe o projeto de Lei 4411/2012 que simplifica a importação de mercadorias destinadas à pesquisa científica será uma vitória, mas só quando virar lei. O texto, de autoria permite aos pesquisadores liberação automática de mercadorias, livres de taxas da Receita Federal e Anvisa. Ainda está longe da aprovação, mas deixou claro para mim uma coisa: o problema do impacto da ciência brasileira ainda não será resolvido por cientistas e não será resolvido na minha geração.

Entra ministro, sai ministro e… nada muda! Nossa classe científica dirigente se acomodou e não percebe que está ultrapassada. Não conseguem inovar para vencer os obstáculos do governo e libertar as amarras que impedem os 10.000 doutores que o Brasil produz por ano de ‘fazerem a diferença’.

Mas será que poderíamos esperar essa iniciativa dessa classe dirigente?

No mesmo número da Nature de 2004 onde foi publicada a reportagem sobre os danos da burocracia de importação no Brasil, um comentário de Robert Insall da Universidade de Birminghamem em um outro artigo sobre a ‘Tendenciosidade dos editores de grandes revistas científicas’, me ajuda a responder:  “Seria mais fácil fazer frio no inferno que conseguir que cientistas mais velhos mudem alguma coisa, muito menos alguma coisa que beneficia muitos deles”.

Vamos torcer para o Romário ser tão bom na câmara quanto era na área.

Desapega!

@vcqebiologo: Assistindo a palestra do sensacional Paulo Saldiva na abertura do Toxi-Latin 2014.
@dbotaro: Ele é pop!

Fui convidado por Afonso Bainy para uma apresentar os dados do nosso laboratório sobre as consequências das altas taxas de polimorfismos dos invertebrados aquáticos para o uso de biomarcadores no Congresso latino americano de toxicologia clínica e ambiental. Eu não gosto especialmente de Porto Alegre, mas como fiz meu mestrado em Rio Grande (que eu tenho de confessar, não gosto nem um pouco) criei um vínculo com a cidade e com os gauchos, principalmente com minhas amigas Ada e Cris que sempre me acolheram tão bem. Por isso, ir a Porto Alegre significa rever amigos queridos, como José Monserrat, meu guru científico, que estava lá também.

Atualmente, ir a um congresso é sempre um desafio. Já escrevi aqui que gostaria que todos os congressos científicos dessem uma renovada no seu formato e fossem como a FLIP. Como eles não são… não consigo achar nenhum deles interessante. Ou pelo menos interessante o suficiente para justificar o quanto custam. Ainda assim, se você quiser fazer uma coisa legal pelo seu congresso, convide o médico patologista e professor da USP Paulo Saldiva pra falar. Ele vai conseguir fazer a poluição, principalmente a do ar, que é a que ele estuda com mais propriedade, mas também, talvez, a mais perigosa, já que a gente não vê mas respira o tempo todo; te tocar. Sério, mas despretensioso; objetivo, mas leve. Como poluição é a minha área de pesquisa há 20 anos, eu já havia ouvido o nome do prof Saldiva antes, mas virei fã depois de assistir a palestra dele no TEDxSP (que vocês podem assistir acima). Como disse Dani Botaro enquanto eu tuitava a palestra dele: ele é pop!

@vcqebiologo: as megacidades como causa de toxicidade. O primeiro sistema de saneamento básico em cidades apareceu em Roma e chamava ‘Maxima Cloaca’

Primeiro sistema de condução de esgotos do mundo (em vermelho)

Primeiro sistema de condução de esgotos do mundo (em vermelho)

@vcqebiologo: São Paulo: apenas o centro histórico tem IDH alto. Na mesma cidade temos Oslo e Maputo.
@vcqebiologo: O que vai nos matar no futuro? Em 2012, 7 milhões de pessoas morreram no mundo por causa da poluição. 
@vcqebiologo: O mapa da ineficiência energética no mundo e racismo ambiental: o uso seletivo d tecnologia limpa d acordo c o pais
@vcqebiologo: As cidades deixaram de produzir bens para vender serviços. Isso requer mobilidade e a consequência é que vivemos em chaminés.
@vcqebiologo: A relação entre o risco de ‘morrer no dia seguinte’ e ‘poluição’ é uma linha reta
@vcqebiologo: Entre os comportamentos listados por pacientes infartados antes do infarto está o tráfego!
@vcqebiologo: A poluição para as cidades, é como o cigarro para os indivíduos. E todo mundo sabe que tem da parar de fumar!

Mas o melhor estava por vir. Ao final do congresso, quando fui pegar o transfer de volta para o aeroporto, Paulo estava no mesmo carro. Ele foi conversando com o motorista que, quando soube que ele era médico, logo pediu conselhos sobre a sua hérnia de disco, sem se preocupar em saber a diferença entre um ortopedista e um patologista. Depois de responder atenciosamente todas as dúvidas do motorista, ele fala que está na hora de se aposentar:
– “Se eu ficar no meu instituto, vou atrapalhar todos os jovens que estão por lá”.

Opa, me meti na conversa:
– “Como assim professor?”

Ele explicou:
– “Eles nunca vão poder crescer. Veja, todos os artigos saem no meu nome, todos os projetos saem no meu nome, todos os financiamentos saem no meu nome. O INCT (sigla dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, os maiores projetos financiados pelo CNPq) está no meu nome… enquanto eu estiver lá, não haverá espaço para ninguém crescer.”

Abismado com a lucidez, sensibilidade, clareza e coragem do comentário, perguntei se ele se importaria de repetir tudo para eu poder gravar. Era uma brincadeira, mas com fundo de verdade.

– “No ano passado nós publicamos na Nature e na Lancet (a maior de todas as revistas científicas e a maior de todas as revistas médicas). Eu sei que não vou ganhar um Nobel, então eu já contribui tudo que poderia contribuir para o meu instituto. Agora, o que eu tenho que fazer é ir para uma faculdade de medicina, dessas que estão nascendo aos borbotões em cada esquina, e ajudar eles a fazer um bom trabalho.”

Uau! Chegamos ao aeroporto e a mega fila para deixar a bagagem me impediu de continuar a conversa. É lindo ver que a auto-confiança gerando desapego. Algo que eu procuro exercitar sempre, mas que acredito que apenas as mentes mais evoluídas podem alcançar.

Que não reste dúvida: ele se tornou o meu maior ídolo acadêmico vivo.

Terminei de ler: 'Uncertainty'

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Sim, fiquei um tempão sem escrever aqui. Mas não sem ler.

Entre os livros incríveis que já li esse ano, um chama atenção porque a história poderia ser um blockbuster de hollywood, poderia virar série do Netflix, poderia virar combate como o UFC. Só que um combate de cérebros! A história da descoberta da mecânica quântica e do princípio da incerteza de Heisenberg.

“Desde que Marie-Curie se perguntou sobre a espontaneidade do decaimento radioativo, desde que Rutherford perguntou a Bohr o que fazia o elétron pular de um lugar para outro nos átomos, cresceu o entendimento que eventos quânticos acontecem, em ultima instância, sem nenhuma razão.

O que nos leva a um impasse. A física clássica não pode dizer que o universo ‘aconteceu’, porque nada pode ter acontecido sem que um evento anterior tenha causado o acontecimento. A física quântica não pode dizer ‘porque’ o universo aconteceu, exceto dizer que ele simplesmente aconteceu, espontaneamente, como uma questão de probabilidade mais do que de certeza.

Em outras palavras, Einstein estava certo quando reclamava que a mecânica quântica não poderia dar uma visão do mundo físico que não fosse ‘incompleta’. Mas talvez Bohr estivesse ainda mais certo em dizer que essa ‘incompletude’ era não só inevitável, como talvez até necessária’. Chegamos então a um paradoxo que Bohr teria adorado: somente através de um ato inexplicável de incerteza da mecânica quântica que o nosso universo pode ter chegado a sua existência, disparando uma cadeia de eventos que levou ao nosso aparecimento em cena, nos perguntando que ‘ímpeto’ original nos trouxe a existência”

O que esse belíssimo trecho final do livro de David Lindley ‘Incerteza: Einstein, Heisenber, Bohr e a luta pela alma da ciência’ (que poderia muito bem dar origem a um roteiro de filme) não diz, é que o livro é um destruidor de mitos.

Quando li pela primeira vez que “Max Planck, ao passar em revista a sua carreira no seu Scientific Autobiography, observou tristemente que ‘uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus oponentes e fazendo com que vejam a luz, mas porque seus oponentes finalmente morrem [sic] e uma nova geração cresce familiarizada com ela’” (citado por Thomas S. Kuhn em ‘A Estrutura das Revoluções Científicas’, 1962) nunca poderia imaginar que ele estava falando… de si mesmo. E de Einstein e de Schrödinger. 

Como eu já sabia que Einstein tinha encrencado com o princípio da Incerteza, não veio como uma completa surpresa para mim a resistência que ele criou. Mas a intensidade da resistência e a dedicação a provar que Heisenberg estava errado, chegando a negar os próprios princípios da sua relatividade geral… me surpreenderam. Mas talvez a maior decepção tenha sido Schrödinger, que também não acreditava no que o mundo pudesse existir sem causa e consequência, ação e reação: qual não foi a minha surpresa ao descobrir que o famoso experimento teórico do gato ‘quântico’ que estaria 50% vivo, 50% morto dentro da caixa foi pensado (originalmente por Einstein) não para ajudar a explicar melhor a mecânica quântica, mas sim para provar que se um gato quântico é impossível (ridículo talvez fosse a palavra mais adequada), então o era toda a mecânica quântica. O cara que eu considerava o ‘pai’ da biofísica, era um bundão!

A triste verdade, é que a história (mesmo o presente) mostra que os cientistas, mesmo os mais honráveis e brilhantes cientistas, quando tem suas filosofias desafiadas, são capazes de dedicar todo o seu intelecto e grande parte do seu tempo a combater as idéias que desafiam suas descobertas ainda que elas contribuam para o avanço da ciência e para a explicação de fenômenos observados quotidianamente.

Michael Shermer no também interessantíssimo livro ‘Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas’ dá a explicação: “Não fazemos escolhas utilizando a inteligência; fazemos escolhas em função das circunstâncias, por medo, para ter aceitação dos pares. Fazemos escolhas até ao acaso. Mas depois de feita uma escolha, utilizamos todo o nosso intelecto, todo o nosso arsenal cognitivo e toda a nossa criatividade para justificá-las, por mais estranhas que elas pareçam”.

Dan Ariely, outro grande autor que conheci recentemente, chama atenção na sua palestra no TED para o ‘conflito de interesses’ que criamos, inevitavelmente, todas as vezes que falamos para defender uma posição. Lidar com esse conflito é um desafio para qualquer pessoa, em qualquer situação, mas acredito que é um desafio especialmente grande para os cientistas, que buscam a verdade real e não consensual.

Sorte do Heinsenberg que nunca precisou se preocupar com isso. A descoberta dele foi tão incrível e tão definitiva, que ele nunca precisou defender sua descoberta de si mesmo. Heisenberg seria ‘o’ cara se não tivesse se juntado aos nazistas para fazer a bomba atômica alemã.

Como falei, o livro é um destruidor de mitos.

O Fim da Camisinha?

Não sou de comentar notícias, mas essa aqui eu não posso deixar passar. Já escrevi sobre ela aqui e aqui, mas parece que os dias da camisinha estão contados.
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A Bill & Melina Gates Foundation lançou os tópicos para o Grand Challanges in Global Health desse ano e um deles é ‘um novo modelo para a camisinha‘.
“Fundação de Gates financiará projetos para mudar design e características. Ideia é manter benefícios e proteção, mas ter preservativo mais ‘atraente’.” diz a notícia no G1.
Eu, particularmente, adoraria algo em uma linha completamente diferente, como o novo e espetacular ‘NeverWet’, o spray super hidrofóbico que deixa tudo completamente a prova d’água.

Onde estão os alunos? Para onde vão os alunos?

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Assim estava a minha sala de aula ontem, mais de 30 minutos depois do horário do início dos trabalhos.

Me senti como Dan Ariely no video abaixo (não precisa assistir o video todo – propaganda do curso dele no coursera – que é sensacional, diga-se de passagem – so o início já ilustra o meu ponto). A diferença é que… no meu caso… eles nem online estavam. O semestre vai terminar e ainda tenho alunos reclamando que não conseguiram se inscrever no site da disciplina. Se fosse o facebook…

Essa foto não é uma exceção… ao longo de todo o semestre, já há alguns anos, os alunos em sala de aula vão diminuindo. Eu já falei sobre o porquê em diversos textos no blog (veja “De muitos para muitos”).

Mas estou dessa vez não fiquei só irritado. Fiquei preocupado mesmo. Tinha acabado de voltar do evento ‘Educação Científica – Um desafio para a sociedade’, onde assisti uma palestra incrível de Jonathan Osborne, professor da Universidade de Stanford, que mostrou dados alarmantes sobre a diferença entre ‘o que’ e ‘como’ os alunos querem aprender, e ‘o que’ e ‘como’ os professores estão ensinando.

Mas é sinistro! NADA é capaz de mobilizar esses jovens. Tá bom… nada é exagero… Não temos recursos espetaculares (só tenho internet na sala de aula se levar meu cabo de rede e se for no subsolo… nem pensar), mas o problema vai além disso. Depois de anos e anos e anos de ensino equivocado (tudo bem, a gente não sabia o quanto equivocado era o ensino, mas já tem alguns anos que sabemos), agora temos uma geração que, mesmo se dermos as oportunidades, novas formas de ensino… eles não conseguem abandonar a indiferença com relação a formação deles.

Algo do tipo “já que eu não vou aprender nada mesmo… então não vou nem tentar mais”. 

Ouvi dizer que há uns anos, jovens americanos estavam com essa atitude com relação a AIDS. “Há, se todo mundo diz que um dia a gente vai ter mesmo, então um dia a mais ou a menos não vai fazer diferença e vou transar agora sem camisinha”. É por isso que eu não gosto de abordagens alarmistas para combater desinformação e descompromisso: você arrisca criar indiferença.

Os alunos aceitaram o pacto pela mediocridade que reina na universidade, na educação brasileira, hoje. Professores completamente desmotivados ‘acham’ que ensinam enquanto os estudantes desmotivados e indiferentes fingem que aprendem. Uma catástrofe que marcará o nosso país por gerações!

Vejam esse vídeo (agora sim, até o final, juro que vale a pena), que é muito bem chamado de ‘Ignorância Plural’. Os alunos ouvem por vários minutos, sem saber, um texto produzido pelo computador para soar corretamente mas NÃO fazer SENTIDO ALGUM. E ninguém, ninguém se manifesta.

 

Não me contive, dei um esporro.

“O transito…”, “O bandejão cheio…”, “minha mãe tá doente…” todos tinham uma justificativa. Mas quando for o dia da entrevista para entrar na pós-graduação, ou para seleção de uma vaga de emprego, nenhuma dessas explicações servirá de explicação.

Enquanto explicava que a principal diferença entre nós e os outros animais é que conseguíamos pensar não apenas em recompensas imediatas, com os cães que farejam qualquer coisa por um biscoito e os golfinhos que fazem piruetas por sardinhas, mas conseguíamos ludibriar, com muita abstração, os nossos instintos primários de recompensas imediatas (jogar videogame, ficar no telefone brincando no FB, bater papo) com o valor das recompensas a longo prazo (ser incluído sócio-economicamente na sociedade).

Mas parece que a única coisa que eles aprenderam foi o conselho de David Dobel, personagem de Woody Allen no Filme ‘Anything Else’: “Ao longo da sua vida Falk, não faltarão pessoas pra te dizer como viver. Elas terão todas as respostas, o que você deve fazer, o que você não deve fazer. Não discuta com elas. Diga ‘Sim, brilhante, brilhante idéia”, e, em seguida, faça o que você quiser.”

E eles não querem fazer nada!

Sim, as aulas podem ser melhores, os cursos podem ser melhores. Mas como ouvi a psicóloga Rosely Sayão falar: sem disciplina, foco e trabalho, não há aprendizagem!

É triste, mas estes já estão perdidos. Como é que vamos salvar a próxima geração?

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