Diário de um Biólogo – 6a feira 27/04/07

Acordei e fui pro curso de “poesia para físicos” na UFF. É impressionante como por mais que eu acorde com tempo suficiente para fazer tudo acabo saindo atrasado de casa. Quando a Sonia perguntou pra um dos alunos qual o cantor preferido dele, o cara respondeu Renato Russo; e quando ela perguntou o que ele menos gostava, foi a Ivete Sangalo. Tão previsível! Mas pelo visto mais e mais pessoas são fãs de “O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (a outra pergunta que ela fez foi “qual o seu filme preferido?”).
Conforme ela foi explicando a origem do modelo narrativo, chegou a 25 Séc. atrás com Aristóteles (mimese, verossimilhança, etc). Outro dia enquanto discutíamos a importância do modelo narrativo eu coloquei que o “modelo biológico” era ainda mais atigo, tinha milhões de anos! Na verdade era uma brincadeira pra mostrar que a seleção natural é muito mais eficiente em selecionar mecanismos viáveis a longo prazo do que a seleção artificial praticada pelos humanos. Na aula ela me perguntou novamente quanto o modelo biológico seria antigo e eu comecei a divagar sobre as coisas que tinha aprendido na faculdade: basicamente que o homem pode desenvolver seu aparelho vocal (e começar a falar) depois que assumiu a postura bípede, manipulando coisas com as mãos e liberando a boca para outras coisas. Isso pode ter acontecido há 2 milhões de anos atrás. Vou escrever um texto daqui a pouco sobre isso.

Depois de uma reunião complexa na UFF pra preparar a atividade final do curso da UAB o mundo resolveu desabar e tive que adiar a viagem pra Lumiar. Em compensação fui jantar com a Rê no Aprazível. A garrafa de Cabernet Sauvignon do vale do São Francisco foi uma péssima escolha (mas com os preços incalculáveis da carta de vinho, justificável), mas o medalhão com batata aprazível e o peixe grelhado com arroz de côco… A comida estava expetacular (com sotaque carioca).

Meu diário

O Blog vai ter uma semana ativa. No curso de leitura a professora pediu para escrevermos um diário. Então, até a próxima sexta-feira; 04/05, vou escrever um texto por dia com o acontecimento científico/educacional mais relevante da jornada. Não percam nenhum capítulo!

Falei pra vocês que estou aprendendo a ler?

Estou participando de um projeto de qualificação de leitura e estudo do modelo narrativo para escrever, pensar e pesquisar melhor. Parece que aprendemos a nos comunicar contando histórias (narrativas) e depois que entramos pra escola, a pasteurização faz com que a gente perca esse modelo de organizar as idéias. É impressionante como muitas vezes, quando lemos, nossa inteligência nos deixa mais burros. Olhar o que está por trás do texto, quando o texto mesmo já nos diz tanta coisa. E que está lá, não precisa ser deduzida. Essa é uma qualidade importantíssima para um cientista. Eu quero olhar para os meus dados, para a natureza, e ver o que está lá. Nem mais, nem menos. Isso quando eu olhar. Claro que quando estiver pensando a respeito, formulando hipóteses, discutindo cenários, quero ser criatívo, esperto e corajoso. Mas para que minha interpretação seja correta, tenho que ter uma premissa boa. Correta. E isso, é o que o texto me diz. Nem mais nem menos. Como eu ouvi hoje, antes é cedo e depois… depois é tarde! Se ouvir uma história pode ser divertido, contar história também pode virar um brinquedo, um jogo. Que ensina a escrever e que eu quero aprender a jogar.

PS: Essa é minha professora.

O que os brasileiros pensam da ciência?

Ontem foi um dia movimentado para a ciência no Brasil. Foram publicados o Relatório institucional do CNPq, referente à gestão de 2003 a 2006; e uma pesquisa encomendada pelo MCT (ministério da ciência e tecnologia) quanto a percepção da população em relação ao universo da C&T.
Não vou comentar o relatório todo (óbvio). Como vocês sabem (ou deveriam saber) eu sou luto pela causa dos jovens cientistas e pós-graduandos. Então vou comentar os pontos onde CNPq se destacou nessa área: o Primeiros Projetos (PPP), a Iniciação Científica Júnior (ICJr) e o Pós-doutorado Júnior. Depois de mais de 10 anos houve aumento no valor (e número) das bolsas de Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e Produtividade em Pesquisa.

Outra coisa legal foi o aumento significativo na participação de mulheres na pesquisa: 52% das bolsas de mestrado e 50% das de doutorado foram concedidas a mulheres, que ainda propuseram 41% dos projetos submetidos à agência no período. A agência foi de uma transparência impar e inédita na sua prestação de contas.

Mas o mais interessante foram os dados da pesquisa da percepção da C&T, feita com mais de 2000 pessoas em todo Brasil no final de 2006 (veja na integra aqui ). A última pesquisa do gênero havia sido feita há mais de 20 anos atrás (veja aqui também). Foram entrevistadas 2.004 pessoas, de 16 Estados brasileiros. Do total, 854 pessoas da região Sudeste; 557 da região Nordeste; 293 do Sul; 155 da região Centro-Oeste; e 145 do Norte. Todos os jornais do país publicaram alguma coisa sobre ela e eu vou publicar também.

A pesquisa aponta que a televisão é o meio mais usado para conhecer a ciência: 15% dos entrevistados dizem ver com freqüência programas que tratam do assunto (esse número não é baixo?). Os jornais e as revistas vêm em seguida, com 12% cada. E o quarto meio, com 11%, vejam só, é a conversa entre amigos! A internet fica em quinto, com 9%. Pelo visto o meu blog não contribúi muito :-(.

Apenas 4% já foram alguma vez a um museu de ciência. A principal desculpa, dada por 35% dos participantes, é que não existe nenhum na região onde moram (31%, “não tem tempo para ir” e 22% “não está interessado”). A verdade é que nossos museus de ciência não são capazes de atrair nem quem nem quem nunca foi a um. Se você já tiver ido ao museu da ciência de Londres ou o de história natural de NY… aí fica ainda mais complicado. Ainda assim, apenas 28% visitaram o jardim zoológico, jardim botânico ou parque ambiental; 25%, uma biblioteca pública; 13%, feira de ciências ou olimpíadas de ciências ou de matemática; 12%, museu de arte.

Quando estimulados a responder sobre o nível de interesse que têm sobre ciência, 41% disseram ter “muito interesse”. Quando o assunto é política, esse número cai para 20%.
Parece que esse mesmo número, 41% dos consultados, acha que o país está numa posição intermediária nas pesquisas científicas em relação a outros paises. E que a ciência trás mais benefícios que malefícios à sociedade.

Quando perguntadas sobre os assuntos científicos de maior interesse, 36% responderam informática 35% adoram notícias de novas descobertas da ciência e 30% notícias sobre novas tecnologias. Isso me sugere que as pessoas continuam sem entender o que é ciência, mas adoram o principal fruto dela: tecnologia!

Entre uma lista de nove temas que ia de moda a religião, “medicina e saúde” alcançou a média mais alta sendo considerada muito interessante por 60% dos participantes. Em seguida meio ambiente. Ciência ficou em sexto lugar, na frente de arte, cultura e moda; mas atrás de religião (mas pau a pau com esporte). Política, hehehehe, veio em último lugar. O ministro, que vê a falta de espaço na mídia como um dos fatores para a pouca divulgação científica, deu uma alfinetada nos jornais, dizendo que eles “deveriam manter espaços diários sobre o assunto. Seriam muito mais lidos que as fofocas do Congresso.”

Mas as notícias não são tão boas quanto parecem. Mais da metade dos 2004 entrevistados disseram ter pouco ou com nenhum interesse em ciência e tecnologia. Deles, 37% responderam que a falta de interesse se dá pelo fato de não entenderem o assunto. Mas 24% dizem não ter tempo para isso. O ministro Sergio Rezende disse que “a sociedade brasileira não tem percepção de quanto a ciência é importante”. Continuou: “Espero que a criação da TV pública crie outras oportunidades além da programação das novelas. A TV pública terá importante papel educacional e na divulgação da ciência.” Mas como eu já havia dito aqui, o ministro completou que “o imprescindível é investir em educação científica nas escolas. O ensino de ciências é enfadonho!”


Outra razão deve ser essa: 27% dos entrevistados apontaram os jornalistas como fonte de informação científica mais confiável. Logo em seguida vêm os médicos com 24% e os cientistas que trabalham em universidades vêm só em terceiro lugar, com 17%. Acreditem, os religiosos alcançaram 13%. Os políticos… 1%. Aparentemente, nem na Europa, os jornalistas não detêm uma confiança tão grande da população. Como eu leio as seções científicas dos jornais e sei que eles se “enganam” muito, isso me preocupa.

Ildeu de Castro Moreira, responsável pela pesquisa, concluiu que “o ensino de ciências precisa melhorar bastante e temos de aumentar a qualidade da divulgação científica na mídia e em outros meios, como museus. Claro que ninguém tem obrigação de gostar de ciência, mas tenho certeza de que esses números vão melhorar quando o ensino ficar mais atraente”.

PS: Para quem quiser saber mais sobre o assunto, dia 2 de maio, às 14h, no Auditório do Museu da Vida na Fundação Oswaldo Cruz haverá uma mesa redonda com a presença do organizador da pesquisa apresentando seus resultado.

Eureka!

Com autorização do site www.autoria.com.br estou disponibilizando pra vocês a resenha que eu escrevi sobre esse livro que é muito legal. Eureka! (Rupert Lee, Nova Fronteira, 270pp)

“Se olharmos a nossa volta, tudo que vemos foi a ciência que nos deu. Do refrigerante ao refrigerador, da televisão ao avião. Mas o mais impressionante é que muitas dessas maravilhas da tecnologia foram descobertas apenas no intervalo de cem anos do século que passou. E quais dessas descobertas foram as mais importantes? Esse é o fio condutor de “Eureka! As 100 grandes descobertas do século XX”. O livro começa com uma discussão interessante sobre o que é descoberta (ciência) e o que é invenção (tecnologia) para poder partir à difícil tarefa de eleger as 100 descobertas mais significativas do século XX. Da descoberta casual da Pinicilina por Alexander Flaming (1929) à ovelha Dolly de Ian Wilmut (1997). Da relatividade geral de Einstein (1915) aos supercondutores de altas temperaturas de Muller e Bednorz (1986). Todas as grandes descobertas estão lá. Claro que como são muitas, não dá pra ser extenso, mas o autor, Rupert Lee, um zoólogo com doutorado em Oxford, encontrou uma formula muito interessante: TODOS os textos têm exatamente duas páginas. Alem disso, TODOS são baseados em um artigo científico publicado em revista especializada que pode ser encontrada na biblioteca britânica British library, onde Rupert trabalha como pesquisador. Independente do método, o autor demonstra amplo conhecimento de todas as histórias (personagens, fatos e causos) que conta. “Eureka!” é um livro gostoso de ler para quem quer ser cientista, para quem já é, ou para quem simplesmente se deleita com todas as coisas que podemos descobrir na natureza. Então não deixe de ler e de torcer para que o autor decida escrever sobre as 100 maiores invenções do século XX.”

A arte da imprecisão da conversa


Quando minha querida amiga Cris comenta um texto, eu vou correndo ver. Segundo uma outra leitora assídua, os comentários da Cris são melhores que os textos do Mauro.E os comentários dela dão sempre margem a outros comentários meus. E isso rende na mesa de bar, ainda que nem sempre a gente concorde!
Bom, mas no comentário dela sobre a “Navalha de Occam” eu fiquei com a sensação, de apesar dela ter discordado de mim, que nós estavamos falando da mesma coisa.
Isso me levou a colocar esse texto, que estava na minha mente há alguns dias. Tem uns livros que eu adoro (o que eu mais adoro é “A insustentável leveza do ser”) e por isso leio eles mais de uma vez (a “insustentável” eu li 3). Eu agora estou relendo descuidadosamente “Quando Nietzsche chorou”. Descuidadosamente porque não estou seguindo o texto. Abro aleatóriamente e me encaixo em um dos sensacionais diálogos fictícios entre Breuer e Nietzsche.
Transcrevo um pedaço do diálogo que me chamou atenção. Breuer e Nietzsche caminham por um cemitério e comentam sobre um ensaio de Montaigne sobre a morte e discutindo um sonho constante de Breuer, onde enquanto ele procura por sua amante Bertha, o chão se liquefaz deixando-o afundar na terra, e depois de cair exatamente 40 m ele para em uma laje de mármore.
– Genial! – Nietzsche diminuiu o passo e bateu palmas. – Não são metros, mas anos! Agora o enigma do sonho começa a se esclarecer! Ao atingir seus quarenta anos, você se imagina afundando na terra e parando em uma laje de mármore. Mas a laje é o final? É a morte? Ou significa, de algum modo, uma interrupção da queda? Um salvamento?- Sem esperar por uma resposta, Nietzsche seguiu apressado. – E eis outra pergunta: A Bertha que você procurava
quando o solo começou a se liquefazer… de que Bertha se tratava? A jovem Bertha, que oferece a ilusão de proteção? ou a mãe, que outrora oferecia segurança real e cujo nome está escrito na laje? ou uma fusão das duas Berthas? Afinal, de certa forma, suas idades estão próximas, pois sua mãe morreu com uma idade não muito superior à de Bertha!
– Que Bertha? – Breuer abanou a cabeça. – Como poderei responder essa pergunta? E pensar que poucos minutos atrás, eu imaginei que a terapia através da conversa pudesse culminar em uma ciência precisa! Mas como ser preciso sobre tais questões?(…)
– Pergunto-me – ponderou Nietzsche – se nossos sonhos estão mais próximos de quem nós somos do que a racionalidade ou os sentimentos.

A imprecisão da conversa, dos sonhos e, como não, dos nossos sentidos; impedem que a gente possa aplicar a ciência e o método científico aos sentimentos.
Mas deixam tudo mais divertido!

As cartomantes de bar e a exclusão científica


Abrindo alguns arquivos li a frase que separei do livro “Ciclo do tempo, Seta do tempo” do biólogo evolucionista Stephen G Gould:

“Dê-nos financiamento de deixem-nos trabalhar em paz, por que de qualquer forma vocês não entenderiam o que nós estamos fazendo”.

Não era uma apologia ao ostracionismo, mas sim uma crítica a postura de muitos cientistas modernos de não se preocuparem em traduzir os conceitos que estudam profundamente para o público em geral.

Em um país de tantos excluídos, podemos incluir a “Exclusão Científica” como uma das mais graves. Lembro do seminário que assisti em 1999 e que uma professora da USP falava de uma pesquisa patrocinada pela FeSBE que mostrava a disposição da população em pagar um imposto de R$1,00 para que a ciência no Brasil se desenvolve-se mais. No ano passado, a editora da seção de ciência do Globo me falou que “Ciência” era o assunto que mais interessa a faixa etária jovem (não me perguntem o que ela entende por, nem me peçam pra definir, jovem ;-). Mas as pessoas estão ouvindo falar de genoma, vacina gênica, transgênicos, mutantes, clones, células tronco… sem ter noção de como avaliar o quanto as informações que chegam até elas são verdadeiras.

Foi-se o tempo em que precisavamos apenas aprender a ler para sermos alfabetizados. Hoje precisamos entender de um monte de outras coisas. E a ciência, como filosofia e metodologia, é muito mais intuitiva do que, por exemplo, a informática (ou você acha fácil entender como sequencias de 0010001010100100101011101010110 – zeros e uns – se transformam nos seus jogos de computador preferidos?). Precisamos urgente de uma educação científica para facilitar a compreensão de todas as outras ferramentas que a sociedade tecnológica nos impõe.

Uma vez dei uma palestra para um grupo de ribeirinhos na Amazônia. Eu fiquei muuuuuito tempo pensando em como me comunicar com aquelas pessoas que tinham uma realidade de vida tão diferente da minha. Acabou que a ciência, ela mesma, era o vínculo perfeito pra conectar esses dois mundos (o da “internet via satélite” e o da “sem energia elétrica”):
“Todos somos cientístas” eu comecei falando (bonito, não?!).

E era verdade… Foi através de observação que eles determinaram e melhor época para colher. Era através da experimentação que eles sabiam que culturas mesclar. E da seleção artificial que determinavam as melhores sementes para plantar.

Projeto Lago Puruzinho. Foto de Márlon Fonseca
Hoje, quando li no “Buteco do Edu” que uns bares “mauricinhos” da cidade estão colocando cartomantes a disposição dos clientes para dar as “previsões” para o ano novo, vejo que apesar da ciência ter dado nos últimos 500 anos TUDO que a filosofia e a religião prometeram sem cumprir nos últimos 5000, as pessoas continuam precisando do sobrenatural para explicar nossas existências frustradas de explicações.

Me deu vontade de colocar em cada mesa do Estephanio’s um bloco para os boêmios questionarem o Biólogo sobre as abobrinhas metafísicas que inundam as mesas de bar depois do 3o chope, e que tem, todas elas, fundo científico.

Por que o chope tem de vir com espuma? Por que depois de um tempo ele fica com gosto amargo? Como um ovo deve cozinhar para que a gema fique exatamente no centro?

Duvído que a Cartomante responda!

Por que o nariz do cachorro é frio?

A pergunta foi feita por uma borboleta para a tia Dani, que não sabia responder mas disse que tinha um tio biólogo que saberia. Então, inaugurando o VQEB das crianças, vamos a resposta.

Quem já não teve febre? E sentiu o corpo quase pegando fogo?

A temperatura ideal do corpo é em torno de 36 oC. Mas e quando a temperatura lá fora está em 15oC (fazendo frio) ou então em 42oC (fazendo o maior calorão)? Vocês já repararam que o nosso corpo matem mesma temperatura?

Boa parte da nossa energia é gasta sem que a gente precise correr ou brincar. Apenas, para manter a temperatura do corpo em 36 oC. E pra isso, a gente precisa então ter uma maneira de economizar calor quando está frio lá fora, ou de liberar calor quando está muito quente no corpo da gente.

Para o coração bater, o sangue circular, o pulmão respirar, e até para o cérebro pensar, você gasta energia. Essa energia, é o calor que esquenta o corpo. Quando está muito frio, essa energia não é suficiente pra esquentar a gente, então, temos duas escolhas, fazer mais exercícios, ou proteger a péle com uma conerta ou um casaco, pro calor não ir embora.

Mas porque a péle? Por que no corpo dos humanos, a pele é o principal órgão para equilibrar a temperatura. Quando sobra calor no corpo, ele vai, devagarzinho, saindo pela péle. Você nunca encostou a mão em uma pessoa e viu como ela é mais quente que uma madeira, ou uma barra de ferro? É o que a gente chama de “calor humano”?

Quando o corpo está muito muito quente, o calor sai mais rápido pela pele, e leva água junto com ele: é o suor! Por isso que a gente sua quando corre muito, para mandar calor embora e continuar com noss temperatura de 36 oC

A outra forma de perder água e calor é pela respiração. Quando a gente está com febre, o ar que sai do nariz está mais quente.

Mas vamos lá… e o cachorro? A péle do cachorro é toda recoberta de pêlos. Isso impede que ele possa trocar calor pela péle, que nem a gente faz. Ele manda calor para fora do corpo principalmente pelo ar que ele respira. E quando o ar vai embora, levando calor junto com ele, deixa o nariz do cachorro meio molhado (da água do ar que ele respira) e mais gelado (porque o calor está indo embora junto com o ar). Pela mesma razão o bico dos passaros é o único lugar onde eles “sentem frio”. Vocês nunca repararam nos pássaros que pra se proteger escondem o bico debaixo da asa?

O outro lugar de troca de calor é, blarght!, pela baba. Respirando pela boca e soltando muita baba, que funciona como o nosso suor!

Segundo os especialistas, O nariz gelado é um sinal de saúde. O nariz quente e seco é sinal de febre no cão e você deve levar ele logo a um veterinário.

Por que acreditar no óbvio?


Existe um livro legal chamado “Penso, logo me engano” que retrata as grandes trapalhadas científicas dos grandes nomes da ciência, como Newton (a natureza corpuscular da luz) e Einstein (a constante universal). Mas alguém duvida do Cálculo de Newton ou da Relatividade de Einstein?

Errar é humano, e mesmo os grandes cientistas erraram.

A problema do erro é quando ele passa a afetar a credibilidade. E para definir isso, o momento do erro é crucial. Erre no início e você está ferrado. Erre no meio e tem uma chance. Erre no final e ninguém vai ligar. É injusto? Não sei, mas é assim.

A primeira lição que tive de credibilidade na ciência, foi de um professor do mestrado, pelo qual hoje não tenho nenhum respeito científico (o que não quer dizer que não tenha aprendido nada com ele). Ele falou: “Minha metodologia tem que ser correta, para que ninguém questione meus resultados”. Foi uma lição que aprendi. Hoje no laboratório, você pode questionar minha interpretação, mas nunca o meu resultado (ou dos meus meninos).

Outras lições se seguiram com o tempo. Quando eu era representante dos alunos de PG, eu aprendi, nas longas reuniões com os cabeças-coroadas, a ouvir muito e falar pouco, e saber quando falar: basicamente quando eu tiver alguma coisa pra dizer. Isso porque argumentos emocionais não quebram paradigmas e que não basta você estar certo, se não tiver os argumentos certos. Então, falar demais, de menos, ou na hora errada pode afetar em muito a sua credibilidade.

Uma vez, discutindo um caso de ética na ciência. A dúvida era o que fazer com um experimento onde um tubo havia perdido a etiqueta. Se o tubo fosse colocado no grupo experimental o resultado seria significativo, mas se fosse colocado no grupo controle ou descartado, ou resultado significava que todo o experimento teria de ser repetido. Sem hesitar, a professora que estava discutindo conosco falou: Repete tudo! A ciência tem que ser sempre confiável! Ela estava certa.

Fui me tornando autodidata e a outra lição eu aprendi dentro do laboratório, sozinho. As vezes você quer economizar tempo e avançar uma etapa sem se certificar do resultado do estágio anterior. Pular uns dois estágios talvez. Muito, muito poucas vezes isso funciona. E na maioria das vezes, para economizar duas horas de trabalho, você perde 2 dias para repetir tudo. E depois de perder vários dias pra rê-extrair RNA só por preguiça de esterilizar a cuba antes de correr o gel, aprendi que “Só se deve avançar para o próximo passo depois de estar certo do resultado do passo anterior.”

Voltando para o Brasil, pensei em abrir uma ONG para conseguir financiamento fora dos meios acadêmicos tradicionais. Fui conversar com um advogado daqueles de gente rica, que sabe das coisas. Expliquei a minha idéia e ele me perguntou: “Quem é você?”
Primeiro eu estranhei… afinal, eu já tinha consertado o computador dele tantas vezes que era óbvio que ele sabia quem eu era. Depois (muito depois 😉 percebi que era uma perguntar retórica. E tomei um soco no estomago quando realizei a resposta: Eu não era ninguém! Quem ia dar dinheiro ou investir em um projeto da minha ONG sem saber quem eu era? Pra quem eu trabalhava? O que eu já tinha feito? Quem me conhecia? Quem me garantia? Vi que eu ainda tinha um longo caminho a trilhar.

Como tantas vezes na minha vida, me vi terminando uma era de inocência e iniciando um novo caminho no mundo real. Alguns semanas depois abriu uma vaga para professor do melhor instituto de pesquisa da UFRJ e eu não hesitei. Professor da UFRJ era, entre outras coisas, uma injeção de credibilidade no meu nome.

Mas ainda assim eu tinha que investir no “Quem me conhecia? Quem me garantia?” Nesse momento, decidi que não recusaria nenhum convite para palestra, nenhuma colaboração, nenhuma aula, nenhuma análise estatística de resultado, nenhuma solicitação de aluno. E nos últimos 2 anos eu rodei grande parte do Brasil dando palestras e contando histórias. As pessoas estão começando a me conhecer.

No ano passado, colhi o primeiro grande fruto dessa grande jornada de autoconhecimento. O coordenador de uma rede de pesquisa da qual eu faço parte, tentando me acalmar antes de uma apresentação importante, pelo fato de eu ser jovem e rebelde, falou: “Mauro, você pode ser jovem e ter cabelo comprido e usar brinco, mas quando você fala, todo mundo ouve. Você sabe do que está falando e transmite muita segurança de que é capaz de fazer o que está dizendo. Você tem credibilidade!”

E eu finalmente tinha credibilidade!

Sem credibilidade, não adianta nada saber das coisas. Não basta você saber o que está falando e acreditar no que está falando (ainda que ajude muuuuito). Os outros tem que acreditar. O curioso é que a credibilidade é mais importante quando se trata do inusitado. Quanto mais improvável for o seu resultado, ou a interpretação que você faz dele, maior deverá ser o seu esforço para que ele seja aceito. Você vai precisar de muita credibilidade antes de propor algo improvável. Mas se os seus resultados apenas confirmam algo que já foi dito e redito, ai não precisa muita não. Mesmo que o dito e redito no futuro se descubram errados. A credibilidade não é necessária para dizer o óbvio. Mas que cientista quer o óbvio?


Para o cientista, a falta de credibilidade é péssima, mas para o público o ruim é a credulidade. Acreditar pode ser um risco, justamente porque é mais fácil acreditar no óbvio. É preciso coragem para acreditar no improvável, para acreditar no que não é óbvio. Se o erro é menos importante no final do que no início, então o importante é o tempo e não o erro. E assim, também o acerto é menos importante.

Só quem tem credibilidade pode te trair.

O Ignóbel


Desde 1901 a Fundação Nobel e a Real Academia Sueca de Ciências premiam as grandes realizações nos campos da física, química, fisiologia ou medicina, literatura e paz. O Nobel. O prêmio foi instituído por Alfred Nobel (o bonitão da foto), um sueco nascido em Stockholm em 1833. A família do cara morava em São Petersburgo e quando o negócio de seu pai faliu após a guerra da Crimea (entre os Impérios Russo e Otomano, no Mar Negro) ele ficou rico inventando a nitroglicerina. Mesmo tendo perdido um irmão e mais de um laboratório em explosões no manuseio da, ainda descontrolava, nitroglicerina, ele continuou suas pesquisas e ficou ainda mais rico inventando a dinamite. Mas além de inventor e cientista, Nobel também era autor, interprete e um pacifista. O prmio foi possível quando ele fez seu último testamento em 1895, deixando a maior parte a sua riqueza para a instituição do Nobel, antes de morrer na Itália em 1896. As áreas de premiação refletem os interesses de Nobel em diferentes áreas do saber.

Pra vocês terem uma idéia do calibre dos laureados com o prêmio, o primeiro Nobel em física foi para Wilhelm Conrad Röntgen. O cara descobriu os esranhos raios que tinham a capacidade de atravessarem a matéria e marcar um filme fotográfico do outro lado. Aqueles raios invisíveis que posteriormente foram apelidados de Raios X.

Na semana passada o prêmio foi anunciado e entre os ganhadores estavam Andrew Fire e Craig Mello por terem descoberto o silenciamento de genes através da interferência por RNA de dupla fita. Parece complicado? E é, mas é muito mais simples que fazer um transgênico e muito mais promissor como técnica de tratamento gênico. Mandando uma fita complementar de um RNA mensageiro pra dentro da célula, você pode formar um RNA fita dupla e impedir que ele seja traduzido em proteína. Sem proteína… sem função!

Muito bem, essa introdução toda foi pra falar de um outro prêmio, que ao invés de premiar as descobertas mais interessantes ou impressionantes, premia os trabalhos mais esdrúxulos. Sejam pela inutilidade quanto pela excentricidade dos temas.


O IgNobel foi instituído há 16 anos pela universidade de Harvard e a cada ano tem coisas mais impagáveis. Muitas vezes os laureados não aparecem, mas aqueles que aparecem, levam a coisa na esportiva. Então, apesar da minha tendência a não reproduzir reportagens de jornal, não posso deixar de colocar a lista dos premiados desse ano pra vocês tirarem suas próprias conclusões. Os destaques especiais podem ser acompanhados na foto da matéria.

  • Ornitologia: Ivan R. Schwab (EUA). Explicou por que pica-paus não sentem dor de cabeça
  • Nutrição: Wasmia Al-Houty e Faten Al-Mussalam (Kuwait). Mostraram que besouros “rola-bosta” têm um gosto refinado. Eles escolhem as fezes que vão comer
  • Literatura: Daniel Oppenheimer (EUA), pelo artigo “Conseqüências do amplo uso da erudição vernacular: problemas com o uso de longas palavras sem necessidade”
  • Paz: Howard Staleton (País de Gales). Inventou um dispositivo sonoro repelente de adolescentes.
  • Acústica : Lynn Halpern, Ranolph Blake e James Hillenbrand (EUA). Explicaram por que som de unhas arranhando lousa irrita.
  • Matemática: Nic Svenson e Piers Barne (Austrália). Calcularam quantas fotos são necessárias para que ninguém no grupo saia com olhos fechados.
  • Medicina: Francis M. Fesmire (EUA). Tratou soluços com “massagem digital no reto”.
  • Física: Basile Audoly e Sebastien Neukirch (França). Descobriram por que espaguete seco ao ser dobrado se quebra normalmente em mais de dois pedaços.
  • Química: Antonio Mulet, José Javier Benedito, José Bon e Carmen Rosselló (Espanha). Estudaram a velocidade ultra-sônica em queijo cheddar.
  • Biologia: Bart Knols e Ruurd de Jong (Holanda). Mostraram que a fêmea do mosquito da malária é igualmente atraída por cheiro de queijo limburger e por chulé.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM