Diário de um Biólogo – Segunda 01/10/2007

Foto de divulgação disponível no site oficial do filme
14h – 5a aula do curso de narrativa:

“Prof. Mauro Rebelo, o senhor concorda que essa cadeira é uma cadeira?”

Respondo que sim. Resolvi não polemizar lembrando a palestra do Enio Candotti, onde ele dizia que a diferença entre os políticos e os cientistas é que, para os primeiros, as verdades eram ‘consensuais’. Se decidissem que a cadeira, para o bem de todos, não deveria existir, então, apesar de poder ser medida e pesada, a cadeira não existia.

“Prof. Mauro Rebelo, com base nos seus conhecimentos de biologia, eu posso dizer que essa cadeira é uma baleia?”

Respondo “Não” pra deixar ela concluir.

“Então Prof. Mauro Rebelo, da mesma forma, o senhor não pode inverter a ordem das perguntas do modelo narrativo, criado e testado há 25 séculos. Simplesmente porque, ainda que o senhor não perceba a diferença, estaria tão errado quanto dizer que uma cadeira é uma baleia”.

A Sonia, impressionada com a capacidade da turma de ‘resistir’ para manter suas convicções, pergunta se eu iria examinar cientificamente essa questão algum dia, porque deveria ser fruto de alguma ‘deformação morfológica’, e escrever a respeito no blog. Ainda antes da aula terminar lembro que já escrevi sobre isso aqui. A resistência ao novo é importante para dar uma sensação de ambiente estável aos organismos, mas interfere na percepção da incongruência legítima.

17h – Termina a aula. O Milton (coordenador da PG da Fiocruz) vem encontrar com a gente e começa um amplo debate, em frente ao prédio de Farmanguinhos, sobre resistência e criatividade, que debanda, inevitavelmente, para ‘estabelecidos e outsiders‘. Vejo que minha resistência com a professora é devido ao quanto ela pode ser tendenciosa em suas opiniões.

Vamos ao aeroporto buscar meu hóspede, um aluno de uma amiga pesquisadora do Ageu Magalhães, a Fiocruz de Recife, precisava de pousada por uns dias no Rio para apresentar seu trabalho na jornada de iniciação Científica e Pós-graduação.

No caminho para casa, a discussão já tinha passado por Paulo Lins e Ismael Beah na Flip e chegado em “Tropa de Elite”. Concordamos que só ‘pobreza de espírito’, aliada a pura babaquice, pode explicar alguns colunistas de ‘O Globo’ classificarem o filme de facista.

Acho que foi a única outra concordância do dia.

Diário de um Biólogo – Sábado 29/09/2007


“Você quer que eu vá com você?” A Rê perguntou enquanto tomavamos um café da manhã chic, comemorando que eu estava na lista dos “Jovens cientistas do nosso estado” divulgada pela FAPERJ no dia anterior.

“Não… porque você iria querer perder a sua tarde em museu de ciência decadente?”

Téééééééééééé!!!!!! Resposta errada!

Quando disse essa infelicidade, tinha em mente o museu montado em um galpão abandonado que restou das obras do metrô que revolveram nos anos 80 a Praça Saenz Pena, na Tijuca onde eu nasci e cresci.

Quando cheguei hoje no “Espaço Ciência Viva“, atrasado para a exposição dos resultados que meus alunos do curso “formação continuada para professores de 2o grau”, não poderia ter uma surpresa melhor. Um museu pequeno, simples, mas revigorado e bem arrumado. E o que é mais importante: cheio! E o que é mais importante ainda: cheio de crianças!

Todo último sábado do mês, o espaço organiza uma tarde temática, com um monte de professores, pesquisadores, alunos de pós-graduação, graduação, monitores e voluntários ensinavam uma orda de pessoas, de todas as idades, mas principalmente crianças, pelas diferentes opções de contato com a ciência do museu. Desde uma simples garrafa de Coca-cola cheia de água, com furos perto do gargalo, no meio e no fundo da garrafa, para explicar o efeito da pressão em grandes profundidades (ilustrada por fotos dos estranhos seres encontrados no fundo dos oceanos) até uma exposição sobre a visita de Einstein ao Brasil na década de 20, onde foram confirmadas as mais importantes previsões da sua teoria da relatividade espacial.

Sai de lá meio emocionado. Sei do esforço que os professores responsáveis por recuperar o museu fizeram para que ele esteja agora de volta a árdua missão e divulgar ciência para um publico cada vez mais metralhado com consumismo e misticismo.

No próximo mês, sou eu que vou chamar ela para ir.

Diário de um Biólogo – 6a feira 03/08/07

Aula de Sax de manhã. Enquanto ia pro Fundão no meu carro novo toca o telefone: Sandrinha, a secretária da PG pergunta sobre as notas da prova de mestrado. Fico sem graça de dizer que a maior parte dos alunos que se candidataram não sabem nem formular uma hipótese científica, muito menos desenhar o experimento com controles positivo e negativo da questão 1.

Depois de almoçar 600g no quilo, fiquei terminando de corrigir as provas até a hora do evento do dia. A palestra do ministro da saúde José Gomes Temporão. A UFRJ ainda é um lugar onde coisas (um ministro vir falar) acontecem. Fico feliz de ser de lá. Sala cheia, presença do reitor (que não ficou pra palestra) e manifestação do sindicato.

O tema era Saúde, Cultura e Desenvolvimento. Ele mostrou um panorama da saúde, ou de como ele chama “complexo produtivo da saúde” muito claro, identificou os gargalos desse sistema, incluindo a dificuldade de produção de ciência e a transformação dessa ciência em tecnologia no país (o que todo mundo na universidade queria ouvir) e atacou os pontos que todos concordam com propostas também claras. Vindo do cara que, em menos de 5 meses de ministério (em um governo onde a média de permanência é de 9 meses), licenciou o Efavirenz, a gente tem definitivamente que dar um crédito pra ele. Terminou dizendo: “Não me importo de desagradar os outros porque não sou candidato a nada. Por mim estava dando aulas na Fiocruz, que é o que eu gosto de fazer. Mas se é pra ser ministro, é pra mudar alguma coisa”. Outro dia o Blog recebeu a indicação do Blog com tomates, sendo tomates, no português de portugal, sinônimo de culhões, que é sinônimo de coragem. Esse é um ministro com tomates!

De noite teve festa na Cris pelo aniversário da Ana. As conversas giraram em torno do habitual: diferenças entre homens e mulheres. Mas isso é pra ser discutido em outro texto.

Diário de um Biólogo – 6a feira 29/06/07

Tudo está atrasado!

Cheguei atrasado na aula de sax e por isso sai atrasado e cheguei atrasado no Fundão. Quando comecei a tentar colocar em ordem minha vida acadêmica (o que significa corrigir todas as provas que tenho pra corrigir, despachar todos os pareceres que tenho pra despachar, escrever pelo menos uma linha nos artigos que tenho que escrever, etc) fui chamado pra assistir uma tese. Como os aeroportos estão em situação caótica, uma das pessoas da banca demorou e a tese atrasou. Voltei pro lab e não dava pra fazer mais nada. Então, como ninguém é de ferro, voltei pra comemoração da tese pra tomar uma cervejinha. Voltei pra casa mas cheguei atrasado na locadora.

Quando tudo parecia perdido, a Cris me fala que tem uma festa, num estúdio no Cosme Velho. Uns amigos dela, músicos, fazem essa festa de 6 em 6 meses. Se reúnem pra tocar pros amigos. Bom, entre eles está o guitarrista do Biquini Cavadão e o baixista da Fernanda Abreu. Ela hesitou por que caras não gostam que levem homem, mas eu fui duplamente cara de pau. Fui com a desculpa de ser músico também e ainda toquei meu sax tenor totalmente amador. Foi minha primeira incursão com profissionais. Foi tudo gravado e assim que eu tiver acesso ao filminho coloco aqui.

Obviamente não pude levar minha mãe na rodoviária as 7 da manhã do dia seguinte. Mas mãe entende!

O Físico visita o Xamã

“O circulo é o universo. O ponto no centro do círculo representa o ser humano, a convergência de toda a energia do universo…”


É certo que existem muitas verdades, mas qual delas é a mais verdadeira? Eu continuo gostando das verdades baseadas em evidências, mais do que aquelas baseadas na fé. Não existe nenhuma evidência científica da lógica por detrás de um mapa astral. Absolutamente tudo é questionável.

“Mas qual premissa você questiona?”, perguntou o Xamã.
“De que o homem é o centro do universo, por exemplo!”, respondeu o Físico.
O Xamã faz uma cara de espanto e pergunta: “Mas… que outro ser existe?
O Físico pensa se espanta um pouco com a obviedade da resposta que está para dar, mas hesita por um brevíssimo momento: “Uhum… as bactérias?!?”

A longa gargalhada que se seguiu estabeleceu um consenso amigável entre duas realidades tão distintas. Estabelecemos ali os limites do nosso universo possível. O universo onde o físico e o xamã podem se encontrar.

Parênteses: Tenho pensado muito, muito nisso: como os limites, que dão idéia de restrição, podem funcionar para efetivamente te libertar. Uma vez que estabelecemos os limites que não podemos ultrapassar, tudo dentro daquele limite se torna possível. É assim em tantas, tantas coisas na vida. Um não abre uma gama imensa de possibilidades de sims. Fecha Parênteses.

Por que o cientista iria visitar o esotérico? Por que o físico iria visitar o metafísico? Por que o doutor iria visitar o Xamã? Porque abrir a mente é importante. E manter a mente aberta é fundamental. Um físico que vêm de uma família de bruxos precisa se exercitar constantemente para se manter físico. Mas, como em todo exercício, a gente corre risco de atrofiar o músculo. E eu não quero um cérebro atrofiado.

Pode ser que exista verdade por trás da astrologia. Mas se há, não é com a lógica que ela se apresenta que vamos conseguir aproveitá-la. Houve uma época em que pensava que se a lua podia mexer com os oceanos, outros astros também podiam influenciar na nossa vida. Não é só o fato de ser uma astronomia anterior a Copérnico. Toda essa coisa das 12 casas, etapas da vida… gente… tudo isso foi inventado pelo homem! A astrologia é uma grande epidemologia do ser humano. E é por isso que a astronomia se separou dela ao longo dos séculos. A primeira não sobrevivia ao exame da segunda. É o problema da epidemiologia: nem sempre (aliás, dificilmente) se consegue estabelecer a causa olhando a conseqüência.

Uma vez li sobre um experimento onde pediram a um astrólogo para fazer o mapa astral de 3 pessoas. Depois esses 3 mapas foram mostrados, juntamente com as 3 pessoas, a 100 (ou muitos) outros astrólogos, pedindo que eles identificassem a quem pertencia qual mapa. O índice de acerto foi de 30%. Ou seja… chute! Claro, o primeiro astrólogo pode ter sido o charlatão, o que prejudicaria o trabalho dos outros. Por isso seria importante fazer um segundo exame, que é: quantas vezes um mesmo astrólogo acerta? Não sei , mas algo me diz que é em torno de 50%. Chute novamente.

Não digo esse número por acaso. Uma amiga médica homeopata me pediu uma vez ajuda para fazer uma estatística da eficiência de seus tratamentos com crianças. Não cheguei nem mesmo a examinar os dados, porque só uma conversa inicial mostrava que a amostragem era tendenciosa. Se o paciente voltasse, queria dizer que o tratamento havia funcionado. Se ele não voltasse, não tínhamos como saber. Bom, isso criou um índice era de 50%, que como eu disse pra ela, a gente não tinha como avaliar. A homeopatia é outra pseudo ciência que também não consegue se apoiar em evidências científicas.

Então todos os astrólogos são picaretas? A ciência tem sido muito eficiente em rechaçar todas as tentativas de logro em massa inventadas ao longo da história. Mais ultimamente, as abduções e outros tipos de contatos com extraterrestres. É claro que a ciência erra (é feita por humanos), mas a ciência, como instituição, é muito honesta ao admitir o erro, e principalmente, a não se aventurar muito pelo desconhecido sem evidências.

Mas então como lidar com o inexplicável? Não aquilo que todo mundo acha que é inexplicável. Estou falando do que é REALMENTE inexplicável? Em um livro que li mais ou menos recentemente (Um adivinho me disse; Tiziano Terzani), um jornalista italiano viaja todo o sudeste da Asia e em cada cidade por onde passa com o seu trabalho de correspondente, visita o mais brilhante adivinho da região. Homens que lêem o futuro em cinzas de ossos, borra de café, na palma da mão. Chineses que prevêem que você ficará rico, muçulmanos que dizem que você terá muitas esposas. Um monte de charlatões, ainda que fossem charlatões que aceitassem visa, com fila de espera e consultados pelo altos escalões dos governos asiáticos. Mas ao se consultar com o astrólogo de um traficante de heroína na Birmania, ele se depara com um verdadeiro xamã. Ele dá seu nome, mas a data e hora do nascimento do traficante. O astrólogo faz uma perfeita leitura… do traficante, sem conseguir encaixar o que vê no mapa astral com a pessoa a sua frente. Parece que algumas pessoas realmente, lendo mapas ou cinzas, mãos ou datas de nascimento, conseguem algum tipo de conexão com outras pessoas.

No seu livro “O mundo assombrado pelos demônios” Carl Sagan dizia que a telepatia, em algum nível, era algo que a ciência eventualmente iria explicar. Aparentemente, existe um corpo de evidências grandes o suficiente para indicar algo nesse sentido. Nessa mesma direção, no livro “As ilusões da vida. A estranha ciência do extremamente comum”, Jay Ingran relata a série de experimentos que mostram que algumas pessoas, realmente possuem a capacidade de dizerem, a distância, se estão sendo observadas por outrem.

“Os olhos não vêem, quem vê é o cérebro”. Já ouvi essa afirmação muitas vezes e ela é completamente verdadeira (mas também já ouvi de neurocientistas a explicação de como nossa visão do mundo se organiza dentro de nossas mentes e garanto pra vocês que pode ser mais fantástico do que um jogo de Tarot). Está tudo na nossa capacidade de perceber o mundo. E essa capacidade é limitada por nossos cinco sentidos. Cinco?

É verdade que eu não conheço nenhum outro, mas durante muito tempo eu também tive dificuldade para entender como os físicos conseguiam pensar em 10, 11 dimensões (depois de muito tempo e muito esforço, comecei a conseguir entender a 4ª dimensão: o tempo). Hoje em dia consigo pelo menos assistir a um documentário da BBC sobre a Teoria das Membranas, a mais nova sensação entre os físicos para explicar o universo, e entender quase tudo. De qualquer forma não acho sadio acreditar que nossos sentidos são suficientes para percebermos o mundo como ele deve realmente ser. Alguns animais conseguem, por exemplo, enxergar comprimentos de luz no ultravioleta. Com ajuda de equipamentos especiais nós também podemos ver fenômenos de fluorescência de UV. Imagina como seria uma imagem do mundo se pudéssemos ver o UV emitido e refletido pelos objetos? Qual seri
a a ima
gem que teríamos do mundo se tivéssemos outros sentidos para captar outros tipos de energia que estão pairando pelo universo?

Um cientista não pode ser permitir fechar os olhos, ou os outros poucos sentidos que têm, para perceber a coisas que não pode explicar no. Corre o risco de perder o NOVO. Aceitar o novo pode ser difícil, mas é inevitável. E talvez por isso, é brilhante! Mas o que é esse novo que estou me dispondo aceitar?

“Há mais entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã sabedoria” disse Shakespeare. É pouco provável que você encontre um bom xamã. No seu livro “A imortalidade” Kundera discorre sobre a limitação física do corpo humano e usa um aceno de mão como partida para mostrar que nossos gestos se repetirão inevitavelmente em outras pessoas, por uma simples limitação biológica. O lugar comum entre os humanos é mais comum do que imaginamos. Chico Buarque deveria ser o maior Xamã de todos, afinal, quem não se identificou, tantas vezes, com o que ele diz em suas canções? Chico Buarque também é um grande epidemiologista da humanidade!

Assim como encontramos médicos que são melhores ou piores epidemiologistas, você pode encontrar xamãs que sejam melhores ou piores epidemiologistas. Deixe ele desenhar o circulo dele, mas desenhe você o seu. Mas dependendo de quão bom epidemiologista você é para com você mesmo, esses caras podem realmente ser de muito pouca ajuda.

Mas, digamos que você cruze com um xamã de verdade no seu caminho. Alguém que, como o inseto que eu falei, vê com outros sensores o que nós não conseguimos ver. Nesse momento, se o coração e a mente estiverem abertos, pode ser que a gente aprenda a ver um pouco mais também, dentro do círculo de possibilidades infinitas.

Diário de um Biólogo – 5a feira 03/05/07


A Rê pediu pra eu levar ela até Far(away)manguinhos. O carro dela ainda não está pronto e lá fomos nós. Paramos pra tomar café na loja do posto, o que já está virando mania. Veja que não é qualquer posto e está é a mania. Acho que vou ficar cheio de manias quando ficar velho. Depois seguimos pela linha amarela enquanto apreciávamos o congestionamento que eu ia pegar pra voltar. O amor é lindo!

Chegando no fundão eu gastei uma grana em um drive externo para o computador do lab. Cansei de apurrinhação com os backups. Pelo menos em disco eu não vou mais ter problema de espaço. Depois passei o resto do dia preparando e corrigindo poster. Lembrei do tempo em que, depois de terminar o mestrado e antes de entrar no doutorado (e até mesmo um pouco depois) fazia um extra diagramando posters que meu pai imprimia na TecImagem. Eu era bom! Queria ter mais coisas para contar nesse último dia de diário, mas o dia passou e quando eu ví, já era hora de ir embora e nem tinha começado a fazer a aula de ecologia.

Fui tomar um chopp no Belmonte com alguns amigos da Rê mas não fiquei até tarde porque 100 páginas de “Dinâmica de Populações” me esperavam antes da aula as 8 da manhã do dia seguinte.

Preciso me organizar melhor. Preciso realmente voltar a fazer exercícios.

Diário de um Biólogo – 4a feira 02/05/07

Odeio acordar cedo!

Chego no Fundão pra dar aula de Fisiologia Cárdio-Vascular pro curso de Odontologia. Meia duzia de gatos pingados na sala. Poderia dizer que ainda não tinham voltado do feriado, mas na semana anterior tinha sido a mesma coisa. Pior pra eles! Todo mundo se salva em fisiologia porque tiram nota boa em Cárdio. Não tem mistério. Eu e Célio não somos médicos mas sabemos fisiologia, por isso a gente ensina fisiologia e não clínica. Sabemos o que ensinamos e sabemos o que queremos avaliar se eles aprenderam. A prova não tem pegadinha. Sabe-sabe, não sabe-não tem muito como enrolar, a gente percebe na 2a linha. Depois do intervalo tem ainda menos gente na turma. Uma, duas piadinhas… ninguém nem ri. Falo da vazão do coração… ninguém se impressiona. Depois do intervalo tem menos gente ainda. Uma tristeza.

Volto pra minha sala e a quantidade de papel na minha mesa me assusta. Acendo a tela do computador e pipocam vários Post-it eletrônicos com milhares de coisas pra fazer. Fico mais assustado ainda. As coisas estão se acumulando: textos pra ler, artigos pra escrever, coisas pra fazer. Não consigo fazer tudo que eu quero. Eu sei que todo mundo tem esse problema, mas eu gosto de planejar o que eu consigo fazer e FAZER! então pra mim esse é um problema maior que para os outros.

A Silvia veio apresentar uma palestra sobre o trabalho dela na UENF. O títluo parecia chato mas a palestra foi interessante. Vários dinoflagelados (algas que causam a mará vermelha) tóxicos estão presentes ao longo de toda costa do Rio de Janeiro (e do Brasil). Fico pensando se os bichos (eu sei, algas não são bichos) vieram por água de lastro, como espécies invasoras, mas a Silvia acha que eles sempre estiveram aqui, só que ninguém procurou antes. Ainda penso na questão da biotransformação das toxinas pelos peixes, diminuindo a toxicidade (tenho que escrever sobre os P450 um dia). Isso é relativamente inédito e eu gostaria de saber como funciona nos moluscos bivalves.

Volto pra minha sala pra passar o resto da tarde perdido entre os papeis. Consigo discutir um pouco do poster do Rodrigo e, sem saber por onde começar, paro e vou almoçar. Encontro a Silvia e a Gisela almoçando. Fico pensando se faço picuinha por causa da Sala de aquários na Biomar mas deixo pra lá. Algumas fofocas sobre o povo de Rio Grande depois vamos pagar e voltar para o sub-solo. Os representantes da Labiocenter aparecem pra tentar resolver a questão da centrifuga. O fabricante colocou o chip errado e ela funciona no mássimo por 300 s. Fala sério, ninguém merece ter que ficar resolvendo essas porras. Preciso de uma secretária!!!

Decido mexer no artigo para o congresso. Procuro no diretório onde ele deveria estar mas não está. Quando procurei em casa jurava que estava no computador aqui do lab. Agora que estou no lab vejo que realmente está no computador de casa. Um dia ainda vão inventar uma rede como diretórios virtuais acessíveis fácil e rapidamente de qualquer lugar. Olho no relógio doido para ir embora, mas ainda tem análise hoje.

Fui pra Sara e depois peguei a Rê na Estácio em copa. Comemos em um Japa em Botafogo mas sem nenhum atrativo especial. nem mesmo o preço. Precisamos comer mais em casa.

Chego em casa e não consigo produzir direito também. Pelo menos a casa está limpa. A Denise (minha nova faxineira) foi um achado! Preciso liberar espaço no computador mas o gravador de DVD não funciona. Passo horas procurando na Internet o motivo e descubro, totalmente por sorte, que depois de intalar o iTunes o Windows XP para de reconhecer o gravador de DVD como tal, reconhecendo apenas como gravado de CD.

Ah, não!!!! Entro no site do curso a distância da UAB e tem um motim estabelecido. Corto cabeças pra lá e pra cá. Estou esgotado. Duplamente, porque produzi muito pouco. Melhor ir dormir. Amanhã tem que acordar cedo. E eu ODEIO acordar cedo!

Diário de um Biólogo – 3a feira 01/05/07


Acordei com dor nas costas e preguiça de ir a praia. A Rê foi e eu fiquei em casa escrevendo um monte de textos pro blog. Terminei de ler a tese do Rodrigo e comecei a ler aulas novas do curso da UAB. São tantas coisas que tenho de preparar até o dia do congresso (Domingo) que não sei como vou fazer. Mas sei que eu sempre faço!

É dia do trabalho e vai ter show de graça na praia. Nada mais carioca do que show de graça em Copacabana. Quando voltei pro Brasil ia em todos eles, qualquer que fosse, só pra injetar carioquice na veia.

Almoçamos um monte de salada com a truta defumada que compramos ontem e cerveja Original que eu encontrei no supermercado e fomos pro show da Daniela Mercury. Eu sempre a achei melhor que a Ivete, ainda que eu ADORE a Ivete. Mas o show, como os últimos dela que eu vi, foi chatinho. Valeu pela Margareth Menezes.

Voltamos de metrô. Lar-Doce-L… Apagamos antes de terminar a frase.

Diário de um Biólogo – 2a feira 30/04/07


Adoro a tecnologia! Quando já estava me desesperando por ter de ir até Friburgo pra sacar dinheiro e voltar a Lumiar para pagar a pousada que não aceitava cartão, descobri que podia fazer uma transferência entre contas pelo celular no site WAP do BB. Adoro a tecnologia!

No caminho de volta (dessa vez o caminho certo) fomos obrigados a parar em um lugar que anunciava: Orgasmos degustativos! Degustação de orgasmos seria melhor, mas a parada valeu a pena e compramos truta e um monte de outras coisas defumadas.

Chegando no Rio, fizemos compras na Cobal de Botafogo e almoçamos no Zé. A preguiça de Lumiar não largou a gente e deve ter sido duro pra Rê ter de ir dar aula a noite. Eu mal dei conta de desarrumar a mala, mas preparei Pesto Genovês que comemos com uma garrafa de Porca de Murça. Ainda dei uma olhada no curso de capacitação da UAB antes de dormir, mas parece que o povo todo estava de preguiça no feriado: “Nenhuma atividade desde o seu último login“.

Fomos dormir sem lareira, mas com o coração aquecido.

Diário de um Biólogo – Domingo 29/04/07

Quando acordamos a lenha da lareira tinha queimado toda. Enquanto tomava café terminei de dar uma lida na tese do Rodrigo. Está bem escrita, mas tem algumas informações demais e outras de menos. Não cita nenhum trabalho do Viarengo ou do Dondero, fala de um monte de metalotioneínas de outros bichos que interessam menos e pouco das ostras, nosso objeto de estudo. Alem disso se ateve aos efeitos toxicológicos e esqueceu completamente a geoquímica, que é o curso dele. Vai ter que reescrever muita coisa. Eu sou muito crítico com a escrita dos outros, mas sou muito crítico com a minha também.

Fomos caminha pelo Rio Macaé até o Poço do Giannini. O lugar é muito legal, uma piscina natural enorme, mais bonito que o Rio Preto em Mauá. Duas cenas aconteceram: primeiro um casal apaixonado discutiam a relação abraçados, em cima de uma pedra, no meio do rio, onde certamente cabia apenas um deles. Na outra, bizarra, outro casal a margem do rio se assustou com o barulho que fizemos na picada e sairam correndo pelados para se esconderem atrás das árvores. Pareciam dois ETs, daqueles com braços e pernas desproporcionalmente maiores que o tronco, correndo por cima das pedras; brancos e totalmente desengonçados.

Almoçamos porcarias enquanto o Botafogo da Rê concedia o empate ao Flamengo e depois subimos pra ver a festa em Bocaína. No caminho paramos pra tomar um café em São Pedro da Serra, que é certamente mais bonitinha que Lumiar. Como o mundo é do tamanho de um Ovo Kinder, na mesa ao lado encontrei meu chefe (Olaf Malm) com a família. Algumas lojinhas e ateliês depois seguimos estrada e chegamos na festa. Não tinham mais que 3 barraquinhas de cachorro quente e um disco de forró tocando enquanto as pessoas esperavam pelo Bingo (cujo prêmio principal era um liquidificador). Mas o forró era pé-de-serra e paramos a pista dançando juntinho. Quanto tempo que a gente não dançava. Na volta paramos de novo em São Pedro da Serra pra tomar caldo de Truta.

Assistimos “As idades de Lulu” do Bigas Lunas enquanto a lareira esquentava o quarto. A lenha ia queimar de novo antes do dia seguinte chegar.

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