As aventuras de um carbono viajante

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Tudo começou bilhões de anos atrás, no interior de uma estrela muito, muito quente mesmo, onde meu pai, um átomo de berílio e minhas três mães de hélio se juntaram para me formar. Os elementos são muito altruístas e para que um nasça, outros tem que morrer. Então nasci eu, Célio Carbono da Silva.
Eu vivia tranquilo em um berçário estelar até que o alarme de incêndio tocou e a professora disse que nossa estrela tinha se transformado em um a supernova e iria explodir. Fiquei assustadíssimo, mas se você acha que os fogos de artifício no Ano Novo em Copacabana são legais, não tem nem idéia do que pode ser a explosão de uma estrela. Fomos, eu e meus primos de hidrogênio, ferro, nitrogênio, todos lançados no espaço sideral no maior fogo de artifício de todos os tempos.
Quando a força da explosão foi diminuindo, nós decidimos passar umas férias nesse novo planeta que estava se formando, a Terra. Era uma pechincha comparado ao que as agências estavam cobrando para as viagens nas caudas de cometas. Além disso, essa coisa de ficar dando voltinhas em torno do sistema solar parecia mais coisa de parquinho de diversão. Coisa para crianças e eu já era um rapazinho, com mais de 5 bilhões de anos.
Eu estava super bronzeado depois de uma temporada no mar de magma. Mas ai chegou o inverno (ou pelo menos começou a esfriar) e as coisas foram engrossando. Se não fosse aquele vulcão, eu poderia ter ficado preso por toda a minha adolescência em alguma rocha basáltica. Achei que não sobreviveria ao grande dilúvio que se sucedeu, mas descobri que era um ótimo nadador e me transformei no primeiro carbono dissolvido da história.
Foi nessa época também que tive meu primeiro caso com uma hidrogênio. Eu era bonitão e elas me perseguiam em grupo. Acabei me juntando com 4 delas, uma era a mais bonita, outra a mais simpática, tinha também a mais inteligente e uma aproveitadora (que só queria meus elétrons). Juntos formávamos uma bela molécula: o metano. Mas sustentar essa mulherada não era fácil e precisei arrumar um emprego. Fui logo convocado para participar do ‘efeito estufa‘, um movimento que, prometiam, mudaria o mundo.
Mais, depois, não se sabe bem como, tudo mudou… de verdade. Um grupo de moléculas revolucionárias, mas muito bem organizadas, começou um movimento chamado ‘vida’. Eles começaram devagar, se reunindo em cristais de argila e depois começaram a se multiplicar. Eles fundaram uma empresa chamada Biotech, construíram o primeiro DNA e a partir dai, nada nunca mais seria o mesmo. Eram tempos muito empolgantes. Pela primeira vez a Gaia teve de reconhecer que não era a única a comandar as coisas no planeta. Os revolucionários da vida começaram devagar, mas já estavam conseguindo modificar algumas coisas. Eu estava saindo de uma festa em uma fonte termal quando fui assediado por membros do movimento. Eu queria sim ser parte de algo maior e acabei me unindo a eles. Os organismos vivos estavam agindo 3 principais frentes de mudança: a oxigenação dos oceanos, a remoção de CO2 da atmosfera e a formação de reservas de combustíveis fósseis.
Eu era jovem e estava na flor da idade quando tomei uma decisão que mudaria a minha vida para sempre: me separei das meninas para fazer parte de uma macromolécula biológica. Eu era bom em matemática e informática e me deixaram entrar em uma molécula de DNA. Eu era o carbono 4 da guanina e segurava as pontas com meu brother carbono 5. Era uma boa posição, mas não tão privilegiada, já que eram os meus chefes, os nitrogênios, que faziam todas as ligações com as hidrogênios.
Eu não reclamava porque de vez em quando, dávamos a sorte de cair em um gameta e experimentávamos a maior de todas as invenções desses seres vivos: a reprodução sexuada! Vivi em vários organismos e com eles aprendi muito. Posso dizer que hoje sou um ser evoluído!
Nessa época os seres vivos estavam terminando um projeto ambicioso: o primeiro ser vivo inteligente. Eu era parte de um genoma duplicado, que tinha acumulado bastante redundância e era capaz de produzir muitas proteínas. Mas ainda assim, era necessário mais gente pra trabalhar. Eu estava meio cansado de toda aquela atividade intelectual e decidi pegar um pouco no batente. Pedi para ser transferido para uma proteína e me mandaram para trabalhar no heme, com meu primo ferro. Fazia alguns bilhões de anos que a gente não se via e eu mal acreditei na coincidência. Afinal, grande parte do Ferro tinha sido enviado para o centro da Terra, para trabalhar no núcleo. Ninguém sabia se aquilo era uma honra ou um castigo, mas o primo estava feliz na sua hemoglobina. Nossa molécula, o heme, era bastante estável. Um grupo de bons camaradas. E como trabalhávamos bem juntos, nunca nos separavam completamente, ainda que nos mudassem de um organismo para outro, de uma proteína para outra. Vocês sabem né, quantas proteínas possuem o grupamento heme. Um dia fomos trabalhar para um tal de citocromo p450. Era um trabalho bastante especializado.
Eu estava orgulhoso de participar do trabalho que os humanos estavam fazendo. Não chegamos a trabalhar em Adão e Eva, mas pude viver em Cleópatra (por pura sorte saímos de lá antes dela ser mordida pela serpente), em Gengis khan (que bebia horrores), Michelangelo, Darwin e Andy Wahroll (que dava um monte de trabalho com todos os alucinógenos que tomava). Eu estava feliz e jamais havia sentido tristeza ou inveja na vida até que ouvi falar de um primo distante que havia encontrado emprego em uma prótese de silicone. Aquilo deveria ser maravilhoso!
Eu estava vivendo no pulmão de Fidel Castro quando nossa tranqüilidade acabou. Fomos atacados por uma mistura tóxica de um ‘puro’ (os charutos cubanos) que o comandante tinha decidido fumar. Não sei se era porque já tinha fumado tantos, ou se porque nós estávamos mesmo já exaustos. Fomos atacados por espécies reativas de oxigênio por todos os lados e após alguns dias na UTI, ‘El comandante’ tinha se recuperado mas nosso heme tinha sido destruído. E com uma escarrada revolucionária, eu estava na rua, sem direito a indenização mesmo depois de milhões de anos de serviços prestados a vida, sendo os últimos milhares dedicados a humanidade. Eu estava apavorado, mas aquilo ainda era pouco para o que me esperava. O mundo não era mais o mesmo.
Parece que a tal da inteligência que os seres vivos tinham dado aos humanos ainda não estava completa e começou a apresentar sérios problemas de fabricação. Isso que dá ficar soltando versão beta no mercado. A essa altura já estava tarde para fazer um recall e foi inevitável o aparecimento do primeiro sintoma do câncer: a poluição. As manchas negras estavam em todos os cantos. Os humanos tinham descoberto as reservas de petróleo, onde meus tios trabalharam milhões de anos atrás e, como se tivessem sido feitas para eles, decidiram que poderiam queimar tudo a seu bel prazer. Não havia mais um ar que pudesse ser respirado, uma água que estivesse limpa e uma terra pra plantar. Tudo estava contaminado.
Os tais dos humanos escravizaram vários elementos em compostos estranhos chamados apolares. Eram drogas sintéticas, pesticidas, plástico, tudo com um objetivo apenas: criar mais humanos. Eu estava vivendo em um coco de gaivota (ou guano) na costa do pacífico do Peru quando fui escravizado por uma industria de PCB. Tentei fugir mas antes que pudesse escapar fui preso pelos guardas da prisão de Ascarel e enviado para um transformador de energia, na esquina de duas ruas do subúrbio. Tomávamos choques elétricos continuamente até que fomos anistiados por uma lei que proibiu o uso de PCBs. Sem saber o que fazer com os ex-prisioneiros, simplesmente nos deixaram ali, vazando. Foi quando aconteceu algo estranhíssimo, mesmo para mim, um carbono tão viajado. Bateu uma corrente de ar mais quente e nosso composto… começou a voar. Mais que um vôo, era um salto, porque quando chegávamos no alto da atmosfera e a temperatura diminuía, descíamos novamente. Fomos assim, subindo e descendo, até o pólo norte.
Vi minha primeira aurora boreal no mesmo dia em que o peixe onde nosso composto persistente tinha bioacumulado foi comido por um urso polar. Era uma situação insólita. Eu vivia morrendo de frio e todo engordurado. O nosso hospedeiro sofria por causa do efeito do PCB e também com o degelo. Acontece que meu antigo empregador, o efeito estufa, continuava atuando, com novos incentivos dados pelo governo mundial, que vivia uma neurose chamada desenvolvimento econômico. Tudo estava derretendo.
Eu estava muito deprimido e achava que era o fim de tudo. Ai encontrei Gaia em uma geleira. Ela estava tirando umas férias pra esquiar um pouco. Queria aprender Snowboarding antes da próxima era glacial. Perguntei como ela podia estar tão tranqüila com toda aquela bagunça instalada na casa dela. Ela riu. Disse que eu estava ficando velho e perdendo a memória. A Terra já tinha passado por outros maus momentos e tinha sempre se recuperado (ou eu já tinha me esquecido do impacto daquele meteoro 65 milhões de anos atrás?). Enquanto ela dava uma relaxada, tinha pedido a sobrinha dela, evolução, para continuar trabalhando. Esses humanos não durariam muito mais tempo. Talvez mais uma centena de milhares de anos. Mas, afinal, o que era isso para ela, uma respeitável senhora de 4,5 bilhões de anos? O melhor era sentar e esperar essa moda de humano passar.
Ela me lembrou que eu tinha sorte de ser uma elemento ciclável. Mas a energia continuava fluindo e por isso, tudo, mais dia menos dia, passa.
Resolvi dar um tempo com ela ali no ártico. A previsão do tempo era de degelo e disseram que ia ser a maior onda. E eu nunca tinha surfado.
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Dawkins, uma desilusão.

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A morte de um ídolo comove seus fãs. Mesmo que o ídolo seja Michael Jackson. Como cientista, meus ídolos não são tão conhecidos, mas nem por isso a morte de um deles me comove menos. Foi o caso da morte de Stephen Jay Gould, o grande biólogo evolucionista, em 2002.
Por isso, quando a programação da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) desse ano trouxe o nome de Richard Dawkins, sabia que não podia perder a chance de ver de perto um dos meus ídolos vivos.
Dawkins é o autor de “O gene egoísta” que foi um um livro determinante para mim quando o li pela primeira vez em 1990, então estudante dos primeiros anos de Biologia na UFRJ. Com riqueza de exemplos e grande criatividade, Dawkins sugere uma razão, na verdade uma justificativa, para a evolução das espécies (o egoísmo dos nossos genes, que nos usam como máquinas de procriação) usando nada mais que a seleção natural proposta por Darwin 150 anos atrás.
Nessa mesma época, eu tinha meus primeiros sérios embates com a religião. Eu fui criado em um ambiente politeísta, estudava em um colégio católico mas frequentava também a Umbanda com minha mãe, que sempre gostou de ‘bater tambor’. Eu já não acreditava mais em um ‘Deus tradicional’, mas ainda tinha dificuldade de abandonar a idéia do “sentido da vida”. O livro de Dawkins me ajudou a ver a beleza de uma ‘vida sem sentido’.
O livro ainda foi importante para me ajudar em outro embate (o primeiro de muitos que se seguiriam), dessa vez com um rapaz evangélico que estagiava comigo na carcinocultura (cultivo de camarões) da Fazenda Santa Helena. O rapaz (que o nome eu sinceramente não me lembro) era um abastado estudante de uma escola agropecuária e, como não tinha formação científica, nós debatíamos questões técnicas e pessoais, armados com nossos livros de cabeceira: eu com o ‘Gene egoísta’ e ele com a ‘Bíblia sagrada’. A fé do garoto era de uma irracionalidade tão forte, que ajudou a fortalecer a minha razão.
Talvez por isso, quando Dawkins lançou o livro “Deus, um delírio”, não me interessou. Sabia que o livro não era para mim, que já havia me convertido ao ateísmo com o “gene egoísta”. Sabia que o livro era para os não cientistas que, como eu, precisavam de uma boa argumentação para encontrar a beleza na vida sem razão de ser.
Mas ainda assim, como ateu, cientista, leitor e fã (não necessariamente nessa ordem), eu não poderia perder a palestra de Dawkins na FLIP. E, provavelmente, pelas mesmas razões, fiquei tão desiludido com ela.
Mesmo com o Edu avisando dos perígos da FLIP, eu tinha convicção que seria um evento imperdível. A mediação do respeitado jornalista Silio Boccanera, correspondente internacional da Globo por mais de 30 anos, parecia perfeita para introduzir a personalidade internacional ao público e a FLIP o evento mais aproximar um cientista ao público leigo.
Mas não foi.
Dawkins parecia ter pressa. Começaram a entrevista avisando que ele apenas ‘assinaria o nome’ nos livros durante a sessão de autógrafos que se seguiria (nenhuma outra fila da FLIP andou tão rápido). Assim como parecia temeroso da reação da plateia, provavelmente tão católica quanto o resto do nosso país, que é reconhecidamente um dos países mais católicos do mundo (tanto que estava circulando por Paraty com guarda-costas!). Mal sabia ele que o público de ‘descolados’ da FLIP aplaude, entusiasticamente, qualquer coisa que seus autores falem.
Silio foi conivente com esse Dawkins apressado e apreensivo. Colaborou para que ele pudesse se expressar superficialmente, no que mais parecia um FAQ (aquela lista de ‘perguntas mais frequentes’) das críticas mais comuns a ciência, ao ateísmo e as suas idéias. Só que era uma FAQ para um público de radicais de Oklahoma e ele mostrou um total desconhecimento do público brasileiro. Um daqueles ‘bonecos do posto’ faria uma mediação tão boa quanto Silio, que pra completar, resumiu e distorceu minha pergunta que, como vocês podem ver abaixo, era sobre o fim da seleção natural e não da evolução.
Abre parenteses: A pergunta, que por escrito era “A medicina cura deficiências genéticas ou causadas pelo ambiente, humanos em posições hierárquicas mais altas na sociedade estão reproduzindo menos que aqueles em posições mais baixas, porque têm menos tempo. Será o fim da seleção natural do mais adaptado como Darwin concebeu?” foi resumida como “Será que ainda estamos evoluindo?”. Essa resposta eu mesmo já sabia. Fecha parenteses.
Os aplausos entusiasmados da platéia ao final não me comoveram, nem me consolaram (eu cheguei a comentar a ba-ta-lha que foi para conseguir o ingresso?).
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Para mim, Dawkins continua sendo um gênio, mas a serviço da divulgação científica, não chega aos pés de Carl Sagan. E a serviço do mercado editorial internacional, não é mais digno da cátedra de “Compreensão Pública da Ciência”, criada para ele em Oxford em 1995 e que ele deixou em 2008.
Da próxima vez que ver o nome dele em uma palestra, seguirei o conselho do próprio Dawkins na dedicatório do livro “A grande história da evolução” (que eu comprei para depois ele acabar autografando com um rabisco) ao grande biólogo John Maynard-Smith (veja abaixo), e se o velho Maynard-Smith não estiver na platéia (o que é infelizmente impossível desde 2004) nem me disporei a assisti-la.
Se você não acredita em mim, ouça você mesmo como foi.

Dawkins na FLIP 2009. Início (25 min)
Dawkins na FLIP 2009. Meio (25 min)
Dawkins na FLIP 2009. Fim (21 min)
PS; Dawkins escreve na dedicatória: “Não ligue para as conferências e seminários, deixe para lá as excursões guiadas aos pontos turísticos, esqueça os recursos audiovisuais sofisticados, os radiomicrofones. A única coisa quer realmente importa em uma conferência é que John Maynard Smith esteja presente e que haja um bar espaçoso e acolhedor. Se ele não puder comparecer nas datas que você tem em mente, trate de remarcar a conferência […]. Ele vai cativar e divertir os jovens pesquisadores, ouvir as histórias deles, inspirá-los, reacender entusiasmos que talvez estejam arrefecendo e os mandará animados e revigorados de volta a seus laboratórios ou lamacentos campos de pesquisa, ansiosos para experimentar as novas idéias que ele generosamente compartilhou”.

Oficina de Escrita Criativa em Ciência

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Dias 08 e 09 de Agosto de 2009 (e por mais 4 semanas on line) realizaremos mais uma edição da “Oficina de Escrita Criativa em Ciência” pela coordenação de atividades de extensão do Instituto de Biofísica da UFRJ.
O curso tem cargo horária de 16h presenciais e 72h a distância, sob responsabilidade dos professores Mauro Rebelo e Cláudia Nobre. Entre na página do curso para ver todos os detalhes.
As inscrições custam R$160,00 e podem ser feitas no site do CATE-IBCCF pelo e-mail cate@biof.ufrj.br ou pelo tel: 21 2562 6722.

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Quem pode falar de política científica?

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Um dos primeiros textos que escrevi, em 2002, foi sobre a conversa dos presidenciáveis com cientistas. Ou melhor, o monólogo, já que apenas um dos presidenciáveis havia comparecido ao evento. No ano que vem teremos eleições novamente, então acho que posso voltar a esse assunto.
O que os candidatos a presidente poderiam falar sobre ciência aos cientistas? Tudo! A política científica se tornou parte importante da realização de ciência e deveria ser parte fundamental da vida dos cientistas. De TODOS os cientistas. Sim, porque para muitos, apenas cientistas seniores (o que no Brasil significa pesquisador nível 1 do CNPq) estariam aptos a opinar sobre política científica. Principalmente para os próprios cientistas seniores, em uma endogamia de idéias que muitas vezes atravanca o desenvolvimento da ciência.
Vejam, a política científica de um país interfere com a vida dos cientistas desse país através das agências de fomento. No Brasil essas agências são principalmente o CNPq e a FINEP (vinculados ao MCT), a CAPES (vinculada ao MEC) e as FAP (fundações de amparo a pesquisa dos governos estaduais). São elas que criam os programas de fomento a pesquisa, que determinam os valores e prazos de financiamentos, além dos critérios e regras dos editais.
Essas agências tem a difícil tarefa de avaliar os cientistas para decidir quais devem receber financiamento, bolsas e outros tipos de incentivos para a pesquisa. Porém, essa não é, de forma alguma, uma decisão tomada de forma científica: os critérios se aproximam mais da numerologia e do sobrenatural: número de artigos publicados, número de artigos publicados nos últimos 3, 5 ou 10 anos; número de artigos publicados como primeiro/último autor, número de citações, fator de impacto da revista, Qualis da revista, índice de impacto do pesquisador, índice H…
Claro que precisamos de um sistema de avaliação. No seu vídeo ‘A explosão do saber’, Leopoldo de Meis mostra que com a institucionalização da ciência, o número de cientistas no mundo que era de 150 no sec XVII (passou para 4500 em 1900 e) hoje esta estimado em mais de 30 milhões. Os recursos para a ciência não acompanharam esse número um a determinação de um ranque é inevitável.
Mas será que a os fatores de impacto são a melhor ferramenta? Não poderia dizer que a avaliação da ciência por índices é o pior sistema possível, mas definitivamente é um sistema ruim o suficiente para ser extinto. O próprio Eugene Garfield, que inventou o fator de impacto em 1961, disse que ele não era apropriado para avaliar indivíduos. Há uma infinidade de artigos, publicados exatamente nas revistas com os mais altos fatores de impacto (veja “The politics of publication” por Lawrence PA, na Nature 422: 259-261), questionando com argumentos fortíssimos a ‘cienciometria’ vigente.
“Nós chegamos ao ponto de considerar a revista onde um artigo é publicado mais importante do que a mensagem científica que ele traz” faz uma mea culpa um dos principais editores da Nature (Lawrence no mesmo artigo citado acima).
Mas porque nada, nada consegue livrar o sistema desse vício?
A resposta é simples: porque ele convém as pessoas que mais se beneficiam do sistema, que são as mesmas que criam as políticas científicas. E esses são os cientistas seniores. Os índices, quaisquer que sejam, beneficiam quem está fazendo ciência há mais tempo. Em países como o Brasil, onde a verba para ciência é escarça, vale o dito popular: “Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é tolo ou não tem arte”.
Em outro comentário na Nature (423:585), Robert Insall da Universidade de Birmingham (Inglaterra) diz que “Seria mais fácil fazer frio no inferno que conseguir que cientistas mais velhos mudem alguma coisa, muito menos alguma coisa que beneficia muitos deles”.
A forte endogamia na ciência dificulta a objetividade na avaliação da produtividade científica. Cientistas seniores convidam uns aos outros para participarem de comités e conferencias, distribuem prêmios uns aos outros e apoiam publicações mutuamente. Olhem os comités das agências de fomento (ok, não olhei todos, mas posso apostar a bolsa de produtividade científica que eu ainda não tenho): não há 1 (um), nenhum, cientista com menos de 40 anos.
Ei, mas vejam bem, esse texto não é um lamento tendencioso de um cientista com (um pouco) menos de 40 anos para com seus pares seniores. O sistema é sim pernicioso e a razão é simples: é mais fácil criar bons indicadores do que fazer boa ciência!. E é por isso que deveria ser modificado.
Cientistas, mesmo os não tão bons, não são bobos (uma das poucas coisas que podem se gabar). Mesmo os jovens já perceberam que o importante não é mais fazer boa ciência e sim fazer bons ‘indicadores de ciência’ (já que na maioria das vezes não é a mesma coisa). No máximo, fazer boa ciência enquanto faz bons indicadores de ciência.
A única saída é colocar ‘sangue novo’ nas agências de fomento. É definitivamente mais fácil mudar a composição dos conselhos deliberativos das agências que nominei no início desse artigo, do que a cabeça dos cientistas seniores que participam desses mesmos conselhos. Enquanto não houver cientistas jovens participando das instâncias decisórias da ciência no Brasil, vamos continuar sofrendo dessa endogenia. Até lá, as agências de fomento, assim como as revistas científicas, poderiam pelo menos solicitar aos cientistas que declarassem algum tipo de conflito de interesse em suas propostas de projetos: Você de alguma forma está se beneficiando de contribuições que tenha feito na preparação desse edital?
O interessante seria um ‘índice conflito’ com base na resposta dessa pergunta.

"Esse relâmpago fantasmagórico"

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Você provavelmente sabe que Roentgen descobriu os raio-X por acaso. E que eles levam esse nome justamente porque ele não tinha a menor idéia do que se tratavam aqueles prováveis raios, invisíveis, emitidos por uma engenhoca chamada ‘tubo de Crookes’ e que faziam brilhar, com um brilho amarelo-esverdeado, a distância, placas cobertas com platinocianeto de bário que estavam em um canto.
Vamos combinar, quem é que tem placas cobertas com isso em cima de uma cadeira em casa? Roentgen tinha. Mas vamos dar um desconto porque a casa também era o laboratório dele e essa era, já naquela época, uma conhecida substância fosforescente (e esse um fenômeno ainda longe de ser explicado).
Além do fato de Roentgen ter sido o primeiro contemplado do recém instituído premio Nobel de física em 1905, a sua descoberta traz outras curiosidades. Essa foi a tecnologia com menor tempo entre a sua descoberta e utilização prática. Isso mesmo considerando que esses raios eram tão misteriosos que raramente a primeira pessoa a observar um fenômeno foi aquela que visualizou a aplicação para o fenômeno.
A fluorescência a distância indicativa da emissão dos raios já havia sido observada pelo menos duas vezes antes de Toentgen. Primeiro pelo inventor dos próprios tubos catódicos, o brilhante físico inglês William Crookes e depois pelo também física Phillip Lenard, mas ambos desconsideraram o efeito como relevante e não dedicaram tempo a sua explicação.
Roentgen começou a testar o que os raios X NÃO podiam atravessar e segurando um cachimbo de chumbo contra uma chapa fotográfica durante a produção dos raios catódicos, descobriu que esse era um metal que bloqueava os raios X. Mas essa não foi a unica revelação. Como Roentgen estava segurando o cachimbo com os dedos, ao revelar a chapa fotográfica encontrou, além da sombra produzida pelo cachimbo, a silueta dos ossos de seus dois dedos.
“O que estou vendo não é um fenômeno científico, é do outro mundo, é definitivamente místico. O que meus colegas irão pensar desses raios X que, ao contrário da luz ou do ultravioleta ou mesmo das ondas Hertzianas, são capazes de revelar as partes mais escondidas do corpo humano, os ossos?”
Roentgen ficou tão assustado que não percebeu a enorme potencialidade de sua descoberta para a medicina.
Para ter certeza que os Raios X não eram uma alucinação, ele convidou sua mulher Bertha um dia depois do jantar para descer ao laboratório, colocou sua mão esquerda em cima de uma chapa fotográfica virgem e ligou seu tubo de Crookes. Em seguida, mostrou a Bertha a primeira radiografia jamais tirada (veja no detalhe. A mancha na imagem é a aliança de casamento de Bertha).
“Ah, meu Deus, estou vendo meus ossos. Dá impressão de que estou olhando minha própria morte”. Bertha também ficou horrorizada, e nem ela percebeu o que tinha em mãos.
Roentgen tinha consciência de ter feito uma grande descoberta científica e se trabalhou dia e noite, em completo segredo, durante as semanas que antecederam a reunião da sociedade físico-médica de Würzburg era porque queria evitar que algum dos muitos cientistas da Europa trabalhando com ‘Tubos de Crookes’ em seus laboratórios publicassem primeiro que ele os raios X.
Já o editor da revista teve uma percepção diferente do relatório apresentado por Roentgen, principalmente depois de ver a chapa da mão de Bertha e esse se tornou o artigo publicado mais rapidamente em toda a história da ciência: menos de uma semana.
Como se tratava de uma revista pequena, Roentgen mandou fazer separatas do artigo, acompanhadas das radiografias da mão de berta e dos pesos de chumbo e mandou para os físicos mais eminentes da Europa. Em menos de uma semana de novo, a foto era manchete de jornais como o Die Presse Alemão e o London Chronicles Inglês. A razão da publicidade era a incrível ferramenta diagnóstica para a Medicina, que o próprio autor não havia realizado totalmente, apesar de já ter percebido o potencial para estudar fraturas ou danos ósseos. Ainda no mesmo ano, um juiz norte-americano passou a aceitar as radiografias como prova na corte e abriu um outro filão de aplicação dos raios X.
Roentgen ainda publicou mais 3 artigos sobre os raios X, onde detalhava as propriedades desses raios e variáveis que afetavam essas propriedades. Nenhuma palavra sobre os usos médicos da sua incrível descoberta.
Até a descoberta dos raios X, os médicos podiam usar apenas os 5 sentidos para diagnosticar uma doença. Os raios X foram como um sexto sentido, uma visão além do alcance, e é difícil imaginar uma descoberta, ainda hoje, que tenha sido tão produtiva para médicos ou pacientes. Com o tempo, primeiro a absorção dos raios por sais de bário, e depois por outros compostos mais inofensivos, permitiu visualizar uma série de estruturas moles do corpo, como estomago e intestino. Era a radiografia de contraste. E em 1972, 50 anos depois de sua morte, um engenheiro de computação e um neurorradiologista ingleses criaram uma forma de bombardear raios X de múltiplos ângulos, focalizados em dinas seções do corpo. Essas laminas eram então integradas em um computador e conseguiam mostrar, pela primeira vez, de forma incrivelmente precisa, as partes internas do cérebro. Em menos de um século, a ciência transformara um papel brilhando no canto de uma sala nos escaner da Tomografia computadorizada.
Leitura complementar: O poder do Raio X – Revista Veja
Referências: Friedman M e Friedland GW. 1999. Wilhen Roentgen e os raios X. As 10 maiores descobertas da medicina. Capítulo 6. Companhia das Letras. 363pp.

Razão e sensibilidade

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Não costumo a publicar citações, mas essa do Dobzhansky continua atual e tem tudo a ver com a causa dos blogueiros de ciência, o combate ao avanço da pseudociências e a exclusão científica.
“Nos gostaríamos de acreditar que se conseguíssemos adequar com segurança dados em relação a qualquer problema científico, então qualquer pessoa com uma inteligência normal, que se da ao trabalho de tomar conhecimento desses dados, deveria necessariamente chegar a mesma conclusão sobre o problema em questão. Nos gostamos de falar de conclusões demonstradas, estabelecidas, provadas e aprovadas. Parece, no entanto, que nenhuma evidencia cientifica é forte o suficiente para forçar a aceitação de uma conclusão que é emocionalmente não aprazível”
Se não aprendermos a tocar o emocional das pessoas com a ciência, nos servirá de muito pouco a razão.

Quando é legítimo uma descoberta científica ser divulgada publicamente?

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Quando recebi um e-mail ontem convidando para o evento acima, fiquei entusiasmado. O tema de grande importância e o time é de feras.
Isso me lembrou de parte do texto que escrevi na proposta para solicitar fundos para o II EWCLiPo (o encontro de blogueiros de ciência em português). É sobre a diferença no enfoque da ciência pelo cientista e pelo jornalista.
Um artigo publicado na revista Nature (vol 458, Março de 2009) mostra que muitos jornais estão fechando suas seções de ciência enquanto jornalistas científicos ficam sobrecarregados e cada vez mais dependentes dos press releases de RPs. Isso tem acontecido nos estados unidos, Europa e também no Brasil.
Apesar das queixas dos jornalistas de ciência, as redações dos jornais mostram duas coisas: primeiro que as seções de ciência não dão lucro (e por isso estão fechando). O público tem uma grande afinidade com a ciência, mas não busca ciência todos os dias (uma tendência medida nos sites dos grande jornais do mundo). A segunda, e bem mais triste, é que os jornais perceberam que podem capturar audiência com ciência de má qualidade e sensacionalismo. Na maior parte dos casos, seria melhor não ter ciência alguma.
Hoje grande parte do jornalismo científico é feito com base em press releases e existem algumas agências de notícias que se especializaram até mesmo em publicar citações de cientistas famosos, para que os jornalistas possam ‘referenciar’ os press releases. Para que se dar ao trabalho de perguntar ao cientista se uma agencia já coloca na sua mão o que ele disse?
O artigo da nature continua dizendo que a ciência, como toda empreitada humana, está sujeita a (e cheia de) falhas, preconceitos e egos inflados; e precisamos muito de jornalistas para filtrar esse tipo de coisas. Mas o diálogo entre pesquisador e jornalista é muito difícil. Enquanto o jornalista quer a contundência, o cientista não abre mão da incerteza; enquanto o jornalista tem pressa, o cientista tem cautela. Os jornalistas querem que os cientistas reconheçam suas necessidades, mas não querem reconhecer as necessidades dos cientistas.
O resultado é que quem escreve os press release tem grande influência sobre o que o público vai ler sobre ciência, e por isso as instituições de pesquisa estão contratando os jornalistas científicos e montando assessorias de imprensa e escritórios de relações públicas científicas. Para escapar desse tiroteio, os cientistas estão mirando no grande público através da internet. Não só para publicar/divulgar seus trabalhos, mas também para ‘traduzirem’ os temas científicos para o público leigo, principalmente através de blogs (como esse!).
Os (nós) blogueiros se consideram uma fonte de informação científica confiável para o grande público. E são! Atualmente, mais que os jornalistas.
Mas vejam, os blogueiros não querem substituir (e nem poderiam) os jornalistas. Principalmente porque querem ter compromisso apenas com eles mesmos e publicarem o que quiserem. E por mais essa razão, sempre será necessário ter jornalistas profissionais sendo pagos para escreverem sobre o que está sendo publicado em um determinado momento.
De qualquer forma, em um país de tantos excluídos, a “exclusão científica” da população é uma das mais graves, porque as pessoas estão ouvindo falar de genoma, vacina gênica, transgênicos, mutantes, clones, células tronco… sem ter noção de como avaliar o quanto as informações que chegam até elas são verdadeiras.
Acredito que a descoberta científica é um processo e que esse processo possui marcos e que é legítimo que o cientista divulgue o processo e os marcos, mesmo antes da descoberta. Para aumentar ainda mais a credibilidade, seria importante que esses marcos fossem determinados a priori, no momento em que se estabelece o desenho de um experimento ou de um projeto, evitando rompantes de exibicionismo. Mas não deve haver a menor dúvida da importância de se divulgar essas descobertas, tanto para prestar contas a sociedade (que é a grande financiadora da atividade científica) quanto para mostrar a sociedade a importância do pesquisador.
Espero que esses assuntos sejam discutidos amanhã, e estarei lá pra ver.

PRIMO XV

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A cada dois anos acontece uma edição do congresso de “Pollutant Responses in Marine Organisms” ou PRIMO, como ficou carinhosamente conhecido.
A edição de 2007 foi em Florianópolis e esse ano, em Bordeaux, na França. Nosso laboratório não podia deixar de participar e estivemos presentes em peso: Lia saindo pela primeira vez do Brasil com seu trabalho sobre culturas primárias de hemócitos de ostras; Thiago com seu ‘Estranho caso do Hippostomus sp‘, o peixe que quebra o paradigma do P450 em peixes; João Paulo trazendo um pedaço da Amazônia e eu pela primeira vez como Chairman de uma sessão (Young researchers).

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Muitos antigos amigos e muitos novos amigos. Mas esse ano, feliz ou infelizmente, o melhor do PRIMO foi o vinho de Bordeaux.

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Museu a céu aberto

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Passear por Florença é passear por um museu a céu aberto.
Jardins, igrejas, palácios, Michelangelo, Da Vinci, Botticelli, Caravaggio, todo mundo passou por lá. E nem precisa entrar nos museus… você dobra uma esquina e pode dar de cara com ‘O rapto das Sabinas’, escultura lindíssima de Gianbologna, contemporâneo de Michelangelo, exposta na ‘loja’ na ‘Piazza Signorina’. Com sua forma espiralada, foi uma quebra de paradigma na época, já que todas as esculturas, inclusive o David, tinham ‘frente e verso’. Um lado ‘certo’ para ver. Sendo em espiral, cada lado é sempre certo e ao mesmo tempo, um novo angulo e uma nova mesma escultura. A submissão do velho etrusco pelo jovem romano também pode ter muitas interpretações.
Mas além de uma viagem pela história e história da arte, uma passeio por Florença também é um passeio pela história da ciência. A começar pelo próprio ‘Museo di Storia della Scienza’.


Os planos inclinados que Galileu usou para estudar o movimento, os primeiros astrolábios, lentes, telescópios e microscópios, dínamos… O museu é pequeno mas muito, muito charmoso.
E por sorte, no Palazzo Strozzi estava acontecendo a exposicao O ceu de Galileo: da antiguidade ao telescopio. Essa uma exposicao riquissima, com muitos instrumentos mas tambem obras de arte como o ‘Atlas’ (que carrega o mundo nas costas) de Barbieri e o ‘Saturno’ (que devora um de seus filhos) de Goya.


O tema não poderia ser mais bem escolhido, porque nada representa melhor a história da ciência que a evolução do conhecimento do firmamento acima de nós. Mostra como observações mais cuidadosas, instrumentos mais avançados e cálculos mais precisos levaram o homem de um céu estático com as estrelas do starfix que eu colava no teto do meu quarto quando era criança, até as sondas espaciais que temos hoje.
Mais que a história, é a vitória da ciência.
Nada poderá tirar meu prazer de caminhar por Florença.

Porque é difícil inovar?

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Meu pai diz que na próxima encarnação quer vir biólogo. Isso porque eles viajam bem mais que os engenheiros eletrônicos. Minha tia diz que tem um sobrinho muito inteligente, porque vive viajando.
Eu não posso reclamar, porque minha profissão sempre me permitiu conhecer lugares e pessoas interessantes. Me permitiu, por exemplo, ir assistir ontem a mostra dos modelos reconstruídos (de acordo com os originais) das maquinas inventadas por Leonardo da Vinci, descritos no Código Atlantico, no Palazzo della Cancelleria, em Roma. Não é o máximo?!
A exposição mostra o grande espírito inventivo e inovador de Da Vinci, o que me levou a lembrar da minha experiência com inovação nos últimos meses.
Há um tempo atrás, um professor me disse “É professor Rebelo… os grandes dinheiros para pesquisa, agora estão na FINEP”. Só fui entender o que ele quis dizer agora, dois anos depois. A Financiadora de estudos e projetos é um orgão do governo federal para estimular inovação científica e tecnológica. Enquanto os recursos no CNPq e nas FAPs ficam cada vez mais escaços, na FINEP eles ainda são abundantes (e muitas vezes, mal empregados – seguindo critérios políticos e não técnicos).
Minha percepção é que em pouco tempo, todo cientista que quiser ter acesso a recursos para fazer ciência de ponta (ou seja, recursos abundantes) terá que se envolver com inovação. Teremos todos de ser um pouco Da Vinci.
O problema é que essa mudança não está se dando progressivamente, mas sim de uma hora para outra. Agora nos deparamos com o dever de inovar, sem termos nunca sido preparados para isso.
Na época de Da Vinci inovar era bem mais fácil.
Ele tinha uma idéia e colocava ela no papel. O que já significava que a idéia era dele e estava publicada (ainda que não fosse). Não precisava provar que ela funcionava (como a bicicleta que só anda em linha reta). A patente era automática também.
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Mais que Da Vinci, temos que ser Pasteur. Por que esse sim, fez coisas que funcionavam. Resolveu os problemas da fermentação do vinho (Graças a Deus!) e depois com o que aprendeu sobre microorganismos inventou a vacina. Pasteur era inventivo e inovador porque não acreditava apenas na ciência básica e nem na ciência aplicada. Acreditava que uma movia a outra. A aplicação da ciência movia a descoberta do conhecimento, que depois gerava a aplicação da ciência.
Para ser criativo, e para inovar, Domenico de Masi diz também que é importante ter um grande senso estético. A busca da beleza é inovadora.
Mas além da inventividade, hoje temos de saber e fazer muitas outras coisas. Hoje temos que abrir uma empresa, o que já significa um monte de gastos e uma burocracia enorme. Pesquisa de nome, junta comercial, CNPJ… Se você coloca a palavra produto no objetivo da empresa então paga ICMS, mas se tira, não precisa. E se coloca ‘licenciamento’ no objetivo, ai fica tudo mais fácil, porque você cai em um limbo fiscal e nem estado, nem município, sabem como tributar essa atividade que não é produto nem serviço.
Mas quem é que ensina isso pra gente na faculdade? Ninguém. Nem agora, que quase todas as oportunidades de financiamento de pesquisa passam por inovação, continuam ensinando. Ninguém fala sobre isso na faculdade de Biologia (ou outra faculdade de ciência que eu conheça). Plano de negócio?! Nem pensar.
Mas nisso eu sou um pouco Da Vinci. Vamos colocar no papel e depois a gente da um jeito de fazer funcionar. Depois de superados os entraves burocráticos, Está aberta a Bio Bureau, empresa que se propõe a construir organismos geneticamente modificados para remover poluentes de efluentes industriais. FINEP, ai vamos nós. Da Vinci que se cuide!

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