Oficina de Escrita Criativa em Ciência 2012

Vai rolar a primeira oficina de escrita criativa em ciência do ano. Aproveite! Veja o convite abaixo e inscreva-se.

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Afundados em pilhas de artigos – PhD Movie

O título é a tradução livre do título do filme Piled Higher and Deeper (PhD movie), dos mesmos produtores das famosas(!) tirinhas sobre a vida dos alunos de pós-graduação.

Se você nunca leu, não pode perder. Se você já leu, deve ter ficado, como eu (que não tem tanto tempo assim era aluno de pós-graduação também) curiosíssimo sobre o PhD filme.

Eu assisti o trailer no cinema e quando resolvi procurar onde o filme passaria, qual não foi a minha surpresa ao descobrir que ele NÃO PASSARIA. Não nos cinemas. Alguém, em alguma universidade, deveria organizar uma projeção do filme. Até agora a única no Brasil (de acordo com o site deles) tinha sido na UNICAMP em Novembro. Bom… como eu disse, eu queria ver o filme, então resolvi organizar uma sessão.

Achei que isso poderia ser um processo lento e doloroso. Mesmo assim, resolvi escrever para o pessoal do site, que prontamente me responderam. Também consegui com a secretaria da pós-graduação da Biofísica a reserva do Auditório Rodolpho Paulo Rocco, o Quinhentão, pra fazer a exibição. O preço foi salgado, mas decidi fazer uma boa ação de final de ano e dar a exibição de presente para todos os alunos de PG da UFRJ. Na verdade, para todos que couberem dentro do auditório. Talvez para homenagear minhas lembranças dos meus bons tempos de bolsista. Talvez porque o mundo precise que as coisas legais da ciência sejam mostradas pra todo mundo e divulgadas ao máximo. Talvez porque quisesse eu escrever, produzir, dirigir e estrelar um filme desses, mas como não dá, pelo menos eu posso exibir!

O número de assentos é limitado, por isso, se você quiser assistir, se inscreva na página do evento no Facebook. Será dada preferência para os alunos de PG da UFRJ e se for necessário haverá distribuição de senhas antes do expetáculo (com sotaque carioca).

Divirtam-se!

A verdade sobre cães e gatos. E sobre homens e mulheres também.

O livro mais esperado do ano… vai ficar para o ano que vem.

Acho que vocês não tem idéia de como é difícil publicar um livro. Talvez seja como tudo na vida. Uma vez um professor de música me disse: “tocar violão um pouco é fácil. Tocar violão bem é muito, muito difícil”.

Tendo escrito teses e publicado alguns artigos em revistas científicas, eu já sabia que publicar poderia ser, para o autor, tão difícil quanto produzir a informação. Então eu sabia que não seria fácil, mas não imaginei que seria tão difícil quanto escrever o livro.

Os editores, acabei descobrindo, são como os investidores de risco. No Brasil não existe um investidor de risco sequer que tope correr risco algum. Só querem investir em projetos com lucro certo. A mesma coisa são os editores. Não querem editar o livro, só querem fazer a diagramação e ficar com 90% do preço de capa. Conversei com uma dezena deles e é uma vergonha.

Abre parênteses: É verdade que vergonha mesmo são as grandes livrarias, que ficam com 55% dos noventa. E nós… seduzidos pelo brownie e o café – que custam o dobro de qualquer outro lugar – acabamos para que eles nos vendam o livro, mais do que pagamos pelo livro! Mercado-negro… isso que elas deveriam ser chamar! Fecha parênteses.

Mas nem tudo são espinhos. Tive que correr atrás das ilustrações eu mesmo e com uma super dica da Ana Paula Abreu-Fialho cheguei no grande José Carlos Garcia da Pixelworks. Aqui vocês vêem algumas ilustrações de cordel que ele fez para o livro. E olha que essas não são as definitivas!

E com um pouco de sorte, porque há de se contar com a sorte também, eu cheguei até a Ana Maria Santeiro que será minha agente literária.

Me digam vocês, se não é muito chique ter um agente literário?! Porque eu, como diria Preta Gil: – “Acho chique!” E demais.

Mas o dinheiro não vai dar pra ter um assessor de imprensa. Então, contarei com vocês, meus caros amigos, leitores, amigos leitores e leitores amigos, para fazer a divulgação. Quero aproveitar Janeiro e Fevereiro para fazer muitas noites de cerveja e autógrafos. Com ou sem discurso. E se vocês acham que conseguem juntar mais de 20 amigos em torno de uma mesa de bar para ver um biólogo falar, me avisem que eu vou até a cidade fazer um lançamento. Tem que ser bar, porque as livrarias vão querer ficar com 50% do preço de capa dando só água pra gente beber.

Aguardem só mais um pouco. Você não vai poder dar o livro de presente de natal, mas vai poder dar de presente de carnaval.

O experimento Global

O MCT e a Sociedade Brasileira de química já distribuiram mais de 30.000 kits para fazer avaliação do pH das águas brasileiras. Professor, assista o vídeo e entre em informe-se no site www.quimica2011.org.br

Quem me dera todos os congressos de ciências fossem assim

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Voltei da Feira de Literatura Internacional de Parati, a FLIP, desse ano, com uma certeza: o modelo de congresso de ciências está falido. Ninguém mais tem paciência para longos corredores com uma infinidade de posters, mal preparados as vésperas sem que os orientadores tenham sequer visto os arquivos, com resumos copiados e gráficos com letras minúsculas. Ninguém tem mais paciência para palestrantes que começam suas falas com longas introduções que repetem o óbvio, o domínio público, e deixam a análise dos seus dados, quando muito, para os últimos 2 minutos, invariavelmente ultrapassando o tempo, atrasando a sessão e esgotando a nossa paciência. Ninguém aguenta mais pagar as altas taxas de inscrição para beber o vinho de baixa qualidade e aprender uma ou duas coisas novas.
O TED e a FLIP são modelos mujo mais eficientes de transmissão da informação.
No TED, o evento que acontece anualmente na California (pelo menos em princípio, mas que agora já contagiou o mundo), as palestras são para audiências inteligentes mas variádas. O conteúdo tem que ser transmitido em até 18 min, mas algumas palestras, mesmo de um vencedor do Nobel com Kary Mullis, tem apenas 5 min. É o conteúdo e o tempo disponível da audiência, e não a vaidade do apresentador, que determinam o tempo da apresentação. Todas as apresentações são revisadas por uma equipe de produção e todas as são gravadas em video e disponibilizadas na internet, onde um exército de pessoas bem intencionadas coloca legendas no texto em dezenas de idiomas.
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Na FLIP, autores renomados conversam entre si com ou sem a mediação de um jornalista ou outro escritor. A conversa é sobre trechos de livros ou sobre a tarefa, ou as vezes arte, de escrever. Como ambos escritores são importantes, assim como o mediador, os egos estão sob controle e um extrai o melhor do outro. Quase sempre pelo menos (as vezes não há muito o que extrair, por timidez ou loucura mesmo).
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O mais interessante, e impressionante, talvez, é que as pessoas pagam e fazem fila para ver os autores falarem. Mesmo aqueles que não conhecem, mesmo que o tema não seja de seu interesse especial. Porque?
O que mais diferencia esse novo modelo de congresso dos anteriores é o critério de seleção. Não o critério e a seleção em si, mas o fato que haja um e que haja uma. Os comitês científicos dos congressos não tem feito o seu dever de casa e encontramos uma infinidade de coisas chatas e desimportantes. Em um mundo saturado de informação, a primeira coisa que devemos ensinar a nossos estudantes é a ter critério de seleção.
O comitê de seleção desses eventos é rigoroso e gera um senso de credenciamento que contagia a platéia: “Se esse cara escreveu um livro e foi selecionado para estar aqui, então deve valer a pena escutar o que ele tem a dizer”. Como eu disse, há exceções, mas que só servem pra confirmar a regra.
Não é a preparação de um poster para um congresso internacional, ou uma aula chata de um Nobel brilhante, que vão iniciar nossos estudantes na vida acadêmica e científica. Isso no máximo inicia eles na arte de ‘participar de congressos chatos’. O que eles precisam é aprender a ter critério. E o primeiro critério que tem que aprender é que boas idéias só são boas se funcionarem. Que boas idéias não podem renegar os fundamentos básicos das coisas. Para isso nossos congressos precisam retomar o conceito de ‘feira de ciências’. Mais importante do que montar um poster chato sobre um assunto específico é montar algo, um experimento, que funcione, mostrar pros outros como montou e mostrar funcionar. É ter chance de ver como flui o papo entre dois Nobeis ou entre dois grandes pesquisadores da sua área.
A academia tem tradição em resistir a mudanças. Mas eu sei que ainda vou participar de muitos congressos na minha vida e espero que essa mudança não demore muito.

Formando curadores

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Depois de escrever sobre a importância do critério na inovação no texto anterior, não parei de pensar sobre a importância das estratégias evolutivamente estáveis (EEE) e sobre a importância de ter a habilidade (ou a flexibilidade) para poder optar por uma ou outra estratégia em função do contexto.
Ando obcecado por critério, porque é ele que permite a você decidir quando mudar de estratégia, é ele que te permite ver a importância que a tomada de decisão pode ter na sua vida, que te estimulará a buscar opções e a desenvolver os seus critérios.
Ao longo da nossa vida, vamos testando limites e estabelecendo critérios. Ao longo da evolução, em nível de espécie e população, vamos adquirindo variabilidade gênica e adaptações que nos permitem nos adequarmos a diferentes ambientes e situações.
Critério é tudo para a vida. E critério é tudo na vida.
Atualmente, as escolas nos ensinam mais a imitar (“Como passar no vestibular em 12 lições”), mas as empresas e os empregadores querem pessoas com critério, porque só elas são capazes de inovar. Porque isso, o ‘cérebro eletrônico’ ainda não pode fazer.
Ai em cima vocês vem meus alunos da “Oficina de Escrita Criativa em Ciência” que terminou na 6a feira, fazendo um dos muitos exercícios sobre seleção de informação e redação.
Cada vez mais tomo consciência que a escrita não é uma questão de inspiração, mas sim de prática. E o que mais se pratica, quando se escreve, é o critério.
Acredito que a escrita é um poderoso instrumento para adquirir e exercitar critério. Para “formar curadores” como disse o Luli Radfher. Por isso temos que colocar todo mundo pra escrever e transformar todos em ‘autores’.
Sem critério, pode ser que você se torne deputado.

Oficina de Escrita Criativa em Ciência

Diário de um biólogo – Terça, 17/05/2011 – PRIMO's Next

Em Outubro vamos organizar novamente a Escola Internacional de Pós-graduação em Meio Ambiente e Saúde. A expectativa é que esse ano tenhamos uma adesão ainda maior, principalmente depois da apresentação que eu no congresso internacional de efeitos de poluentes em organismos marinhos. Para se inscrever, basta ir na página da escola em www.bioletim.org/primosnext.

Abaixo você pode ver a apresentação da escola no congresso internacional. O vídeo é de baixa qualidade, mas o som está muito bom e você pode acompanhar a apresentação preparada com o PREZI.
Comente e divulgue.

Em busca dos 7 lugares de pensamento

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Na semana que vem começam meus cursos na pós-graduação, além do curso de formação de professores a distância da UAB que estou ajudando a ministrar, e como uso cada vez mais a escrita na avaliação dos alunos, quis pesquisar sobre a principal ferramenta que uso para e escrever e ensinar meus alunos a escrever: os 7 lugares do pensamento, representados pelas perguntas ‘O que’, ‘Quem’, ‘Quando’, ‘Como’, ‘Onde’, ‘Por que’ e ‘Para que’. Eu aprendi sobre eles com a Sonia Rodrigues quando estava reaprendendo a ler e a escrever.
Só que separar o Joio do trigo em busca da informação acurada no Google pode ser uma saga, como eu já descrevi aqui. Dessa vez foi outra epopéia, que eu contarei aqui, junto com o que eu descobri. Vou contar ela do início. O meu início. A minha ‘trilha’ do texto (que eu agora, depois do texto terminado, admito que ficou longa, quase um artigo. Certamente mais do que um post deve ser. Por isso, resolvi avisar aqui, pra se o tempo encurtar, você não ir embora sem ler os dois últimos parágrafos).
A primeira vez que vi as 7 perguntas fora das aulas da Sonia, foi no livro ‘O Anjo Pornográfico’ do Ruy Castro, uma biografia do jornalista Nelson Rodrigues. A história começa no Recife com seu pai, o jornalista Mário Rodrigues, do ‘Jornal da República’. A história de Nelson, nesse ponto, se confunde com a história da evolução do jornalismo no Brasil. Foi lá que aprendi que as perguntas eram o ‘Lead’, uma técnica de redação, do qual eu já vou falar.
“No Brasil, durante muito tempo, jornalismo e literatura se confundiam e até a segunda metade do século XX, era considerado um subproduto das belas artes. (…) Não tinham uma técnica própria de contar história, (…) um paradigma, um modelo a seguir e os jornalistas se espelhavam na literatura, seguindo uma gama variada de estilos. (…) Além de literatos, havia no jornalismo uma certa tradição associada aos bacharéis de Direito, o que fazia do jornalismo também herdeiro de uma certa retórica ’empolada’. Logo, “os periódico brasileiros seguiam então o modelo francês de jornalismo, cuja técnica da escrita era bastante próxima da literária. Os gêneros mais valorizados eram aqueles mais livres, como a crônica e o artigo polêmico”
Essa introdução do artigo de Lígia Guimarães[1] sobre o processo de produção jornalística no Maranhão da uma boa idéia do jornalismo naquela época, do qual um dos ícones era o ‘Nariz de Cera‘:
“O ‘nariz de cera’ era o texto introdutório, longo e rebuscado, normalmente opinativo, que antecedia a narrativa dos acontecimentos e que visava ambientar ao leitor sobre os fatos que seriam narrados a seguir. Usava uma linguagem prolixa, cheia de preciosismos e pouco objetiva. Outra marca visível do padrão francês no jornalismo brasileiro era o excesso de títulos e uma ausência de lógica na hierarquia do material.”
Isso dava muita liberdade aos redatores para ‘criar’ a notícia, como relata o Ruy Castro:
“Quando chegavam antes da polícia, repórter e fotógrafo julgavam-se no direito de vasculhar as gavetas da família, surrupiar fotos cartas íntimas e róis de roupas do falecido. Os vizinhos eram ouvidos. Fofocas abundavam no quarteirão, o que permitia ao repórter abanar-se com um vasto leque de suposições. (…) De volta à redação, o repórter despejava o material na mesa do redator e este esfregava as mãos antes de exercer sobre ele os seus pendores de ficcionista.(…) Nas suas mãos [de Nelson Rodrigues], o atropelamento de uma velhinha na rua São Francisco Xávier, no bairro do Maracanã, toprnava-se uma saga digna do merlho sub-Anatole France
Era ótimo para ficção e nos deu, anos depois, “A Vida como ela é” de Nelson Rodrigues . Mas para a verdade do fato… não era tão bom assim.
Tudo isso mudou na metade do século com a introdução do ‘Lead‘. O ‘Lead‘ palavra inglesa que significa ‘guiar, conduzir‘, é o primeiro parágrafo da notícia, a abertura que deve apresentar aos leitores os principais fatos, seguindo a lógica da ‘pirâmide invertida’ (o mais importante vem primeiro).
Aqui a dificuldade da busca por informações precisas se mistura com o próprio objeto da busca: será que se as pessoas se ativessem ao fato na hora de escrever seria mais fácil encontrar a informação? Acho que sim.
Pra começar tentaram, ainda que sem muito sucesso, abrasileirar o termo para ‘lide‘, o que já te manda para algumas páginas completamente fora do escopo. Mas o grande problema mesmo é a disputa pela paternidade do ‘Lead‘ (ou lide se você preferir), como vocês podem ver nesse trecho do artigo ‘Jornalismo Narrativo’ de Felipe Gomes[2]:
“No Brasil, o ‘Lead’ foi implantado pela primeira vez na redação do jornal ‘Diário Carioca’ em 1951, e muito se acredita que pelas mãos do chefe de redação, Pompeu de Souza, considerado o ‘pai do moderno jornalismo brasileiro’. Mas, segundo Nelson Werneck Sodré, a reforma foi devida a Luís Paulistano, chefe da reportagem.”
Outros autores ainda tentam atribuir a mudança ao Jornal do Brasil, mas o texto do Ruy Castro confirma a introdução do Lead no Brasil pelo ‘Diário Carioca’:
“O Diário Carioca (…) em sua casa nova, iria promover uma revolução na imprensa brasileira, adotando a técnica americana de uniformizar os textos e implantando a novidade do ‘copy-desk’ – o redator encarregado de escoimar as matérias de verbos como, por exemplo, escoimar. Ninguém mais podia ser literato na redação, a não ser em textos assinados, e olhe lá. As reportagens do ‘Diário Carioca’ tinham de ser objetivas e, logo nas primeiras linhas, dizer quem, quando, onde, porque e como o homem mordera o cachorro. Se fosse o contrário (mesmo que atendendo as exigências das 6 perguntas) não interessava. Isso se chamava ‘Lead’ – no fundo, um simples qui, quae, quod com Ph.D em Chicago”.
O Lead não foi bem aceito por todo mundo. Ainda hoje, se peço aos meus alunos, principalmente àqueles que são professores para serem mais sucintos… os animos se inflamam e sou acusado de tudo que vocês possam imaginar.
“Na década de 50, a modernização do jornalismo brasileiro causava fortes discussões, acalentadas pela percepção de que a própria sociedade rompia com antigos padrões de cultura, política e comportamento. (…) A idéia da objetividade, que vinha agregada aos conceitos do Lead, chegava em detrimento do jornalismo em profundidade (que então crescia no Brasil). (…) A modernização do jornalismo se adequava aos processos industriais e atribuía ao passado a escrita tida como literária e desregrada, enquanto o jornalismo que se instalava procurava apresentar-se mais técnico, isento e regrado. Fortalecia a distinção entre informação e opinião.”
[2]
Mas a minha pesquisa não era sobre o ‘Lead‘ no Brasil. Não era nem mesmo sobre o Lead, mas sim sobre as 6 perguntas (que eu acredito que sejam melhor como 7, como aprendi com a Sônia, e como já discuti aqui). Ninguém sabe direito também quem inventou o ‘Lead‘ e as páginas na internet apontam em muitas direções. Um wikipedia da vida atribui ao jornalista americano Walter Lippmann na decadá de 1920-30, mas se ele foi alguma coisa, foi apenas o principal divulgador da ferramenta, já que era um árduo combatente do ‘tendenciosismo’ no jornalismo.
“O início do mito da imparcialidade, intrinsecamente arraigada ao modelo do ‘Lead’, teria raízes ainda mais distantes (…) a divisão entre informação e opinião teve início no dia 11 de maio de 1702, com o jornal inglês ‘The Daily Courant’. A primeira notícia redigida com a técnica da ‘Pirâmide Invertida’ teria aparecido no ‘The New York Times’, em abril de 1861″ diz um artigo do professor Luiz Costa Pereira Junior[3], que segue:
“o surgimento do atual modelo que impera no jornalismo impresso ocorreu durante a Guerra Civil dos Estados (1861-1865), como uma tentativa dos militares de superarem a falta de tecnologia da época. Com as dificuldades nas transmissões de dados via telégrafos, tanto entre meios de comunicação quanto nos próprios serviços militares, consolidou-se o artifício de inserir as principais informações da forma mais objetiva possível logo no topo da notícia. Naquela época, o telégrafo era a tecnologia mais utilizada para enviar informações para regiões mais distantes, mas, ainda assim, com falhas: comumente as informações chegavam incompletas ao destinatário. Nesse contexto, surgiu o paradigma da ‘Pirâmide Invertida’ e do ‘Lead’, cuja paternidade é reivindicada por norte-americanos e ingleses.”
Eu estava quase perdendo as esperanças quando encontrei a minha resposta. E não podia ser melhor. Resolvi replicar o artigo do professor Francisco Karam no Bioletim por que não achei os sites por onde encontrei o artigo dele muito confiáveis (até porque ele publicou em mais de um veículo), mas a maior parte das vezes a referência apontava para a revista mexicana Prensa. Ele diz que a origem do ‘Lead’ remonta a Roma antiga, quando Cícero, no seu livro ‘de Inventione‘ retoma idéias de retórica e oratória dos antigos gregos. Eu vou reproduzir alguns trechos aqui para encerrar a minha trilha, mas vale a pena ler o artigo completo.
“A origem do ‘Lead’ (…) não é responsabilidade exclusiva do jornalismo norte-americano ou inglês. Não surge do acaso ou por um simples arbítrio na articulação do discurso. (…) Em Roma, filósofos retomam a tradição grega da Retórica, entre eles o exímio orador Marco Túlio Cícero. Os retores, entre os quais Platão, Aristóteles e Protágoras (cerca de 400 anos antes da era cristã), na Grécia Antiga, já haviam consolidado a idéia de que o discurso deveria ser bem articulado e acessível às massas. Para que a exposição fosse completa exigia-se, no entanto, alguns elementos essenciais. Para o famoso orador romano, era preciso responder as perguntas quem? (quis/persona) o quê? (quid/factum) onde? ubi/locus) como? (quemadmodum/modus) quando?(quando/tempus) com que meios ou instrumentos (quibus adminiculis/facultas) e por quê (cur/causa). As proposições de Cícero, originadas na Retórica da Antigüidade Grega, foram paradigma da exposição de acontecimentos nos dois milênios seguintes. Em diversos momentos, ao longo de tal período, as circunstâncias do fato tiveram grande relevância na constituição de uma ética da palavra, sendo exemplarmente utilizada no discurso jurídico e na argumentação filosófica. (…) lembra que a retórica envolve o docere (transmissão de noções intelectuais), o movere (atingir os sentimentos) e o delectare (manter viva a atenção do auditório, sem se deixar dominar pelo aborrecimento, pela indiferença e pela distração). Por isso, a linguagem deve ter um caráter claramente acessível, já que se dirige não a mentes superiores, a espíritos puros, mas a homens de carne e osso, sujeitos portanto ao cansaço e ao tédio, vulneráveis a raciocínios demasiado difíceis“.
É isso, a ética da palavra. Que termo lindo! Ser ético na palavra é falar para ser compreendido, é assumir que parte importante da responsabilidade da compreensão da informação está em quem transmite a informação! É saber para quem está falando, ou então, falar para todo mundo! E para falar pra todo mundo, você tem que falar simples, falar conciso, falar objetivo. Por que? Porque assim todo mundo te entende! E ninguém desmaia de chatice.
P.S. Na minha busca, nenhum dos endereços WEB fornecidos nos documentos que encontrei funcionaram. Tive que usar o nome dos autores e trechos dos artigos para prosseguir com a busca e chegar aos originais. Por isso não coloquei os links, mas aqui vão os títulos e autores. Antes que alguém reclame, não são artigos científicos, por isso não sigo o padrão acadêmico de citação. Boa sorte na busca!
[1] Processo de Produção jornalística: do nariz de cera ao lead nos jornais de São
Luis. Lígia Guimarães, Pâmela Pinto, Reuben da Cunha Rocha Junior, Sarita Bastos Costa e Yane Botelho.
[2]Jornalismo Narrativo. Eficiência e viabilidade na mídia impressa. Felipe Sáles Gomes, Klenio Veiga da Costa e Renata Lourenço Batista.
[3] A crise e a historia da pirâmide invertida. Luiz Costa Pereira Junior.

Ti-ti-ti! A fofoca como instrumento de ensino

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Quando fomos para a África capacitar professores para a produção de material didático para o ensino a distância em Moçambique, vimos que o desafio seria grande. Tirando as questões relacionadas com infraestrutura, finanças e tempo, que estavam além do nosso controle, esbarrávamos na dificuldade relacionada a(s) língua(s), que eu já relatei aqui, e com a extrema formalidade dos docentes no trato conosco, com eles próprios e com os alunos. Com aquela formalidade toda, não se faz educação a distância. Mas e como convencer eles disso?
As boas aulas que demos com a nossa informalidade, não foram suficientes e vi que precisaria de mais argumentos, científicos, para convencê-los. Então montei uma apresentação, curta, mas embasada no ótimo livro “The Red Queen“, sobre o qual eu já falei aqui. O livro fala de evolução e quando eu o li, já tinha pensado que deveria organizar algumas idéias ali em um artigo, pra que pudessem ser aplicadas na educação.
Funcionou! Eu consegui que os professores rissem contando algumas fofocas sobre o meu companheiro de quarto, que não estava presente na aula, e depois de muita discussão conseguimos que eles escrevessem com um pouco mais de informalidade.
E agora, seis meses depois, o artigo está pronto e publicado no Bioletim. Não deixem de ler, tenho certeza que vão gostar e usar o que aprenderem em sala de aula. Ou em qualquer outra situação que queiram chamar a atenção de alguém.

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