Falta pouco para o II EWCLiPo!

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Fechamos o programa do II EWCLiPo e ficaram prontos (e belíssimos) o folder e o cartaz do evento feitos pela designer Patrícia Kiss. Imprimam e divulguem em suas instituições! Os inscritos aumentam a cada dia e . Além do time de palestrantes de primeira categoria, teremos outras personalidades na platéia como o cientista pop das células tronco Stevens Rehen. O II EWCLiPo é uma iniciativa dos blogueiros de ciência reunidos no Anel de Blogs Científicos e tem apoio do Instituto de Biofísica da UFRJ, do IEAPM, com financiamento do CNPq e secretaria de divulgação científica do MCT. Não perca! Esperamos por você em Arraial do Cabo!

Blogs de ciência e Inclusão digital

Sonia Rodrigues e Mauro Rebelo na noite de autógrafos do livro dela 'Meu nome é Maria'Versão completa da entrevista a Sonia Rodrigues no Blog Inclusão Digital de O Globo.
Queria começar agradecendo à Sonia o convite para a entrevista. Ainda há muito preconceito no meio acadêmico quanto aos blogs, e acredito que haja 3 razões: primeiro o pânico dos acadêmicos em colocar seus dados em qualquer outra mídia que não sejam os tradicionais artigos científicos em revistas indexadas; segundo que apenas essas revistas contabilizam para o currículo do CNPq e outras agências; e terceiro, um preconceito maior ainda com novas ferramentas que são usadas na internet, principalmente, para entretenimento.
Sonia: Queria que você falasse um pouco sobre blogs científicos. O que é mesmo um blog científico?
Mauro: São blogs que falam de descobertas científicas (tanto as novas quanto as históricas), a vida e obra de cientistas, mas principalmente, sobre a ciência no cotidiano das pessoas. Está todo mundo ouvindo falar na TV de genoma, terapia celular, células tronco, clonagem, nanotecnologia, computadores quânticos, mas sem que haja uma verdadeira ‘tradução’ do que significam esses termos, e o que as tecnologias desenvolvidas a partir dessas descobertas científicas podem realmente trazer de benefícios para a sociedade. Os blogs científicos oferecem uma possibilidade do cidadão comum se informar ou se esclarecer sobre essas coisas, que é verdade, podem ser muito complicadas. O mais importante é que os blogueiros científicos possuem um compromisso com a ciência do que eles estão divulgando, mas que com a notícia. Nem sempre um jornal ou programa de TV pode valorizar isso. É claro que nesse processo os blogs acabam falando de outros assuntos ligados direta ou indiretamente a ciência como educação, política, tecnologia, saúde e religião. Houve, por exemplo, um grande esforço na comunidade de blogs científicos para explicar o que os cientistas realmente sabiam sobre a gripe H1 para tentar amenizar o sensacionalismo das notícias. Ainda são poucos, infelizmente, os blogs científicos especializados, que fazem o que chamamos ‘cadernos de protocolo’, onde cientistas divulgam os resultados de suas pesquisas para o publico diretamente do laboratório para a grande rede. Para quem quiser saber mais sobre o que é um blog científico, nos dias 25 a 27 de Setembro realizaremos o II encontro de blogs científicos em Arraial do Cabo (RJ).
Sonia: De que maneira esse movimento de blogs científicos se relaciona com inclusão digital?
Mauro: De diversas maneiras. Acredito que a melhor forma de desmistificar a tecnologia, é desmistificar a ciência por trás dela. A exclusão digital que observamos hoje é resultado da exclusão científica que vimos observando há muito tempo. Hoje tudo de importante que acontece aparece na televisão, no computador, no celular. Mas quando eu entro na sala de aula e pergunto quem foi Maxwell, o físico escocês que descobriu que campos elétricos variando rapidamente deveriam gerar ondas eletromagnéticas que se propagariam no espaço, o que é a base da tecnologia de todos esses aparelhos, todo mundo acha que ele é só o nome de uma marca de CDs. As equações de Maxwell são realmente difíceis, mas ninguém precisa aprender elas pra saber o que elas explicam. É verdade também que ninguém precisam saber o que elas explicam para poderem usar um celular, mas se soubessem, saberiam que um vídeo na internet que coloca um ovo sendo cozido entre dois celulares que se comunicam só pode ser uma montagem. Para mim, sem inclusão científica, não há inclusão digital. E os blogs de ciência ajudam na inclusão científica.
Mas também há o oposto: não há como fazer inclusão científica hoje sem inclusão digital. Vivemos em um mundo saturado de informação (em boa parte produzida pela ciência) e precisamos muito da tecnologia para acessar essa informação científica. Alguém que quisesse se informar sobre ciência há 50 anos, ia a uma biblioteca, hoje tem que ir a internet. Se ela não sabe usar o computador… Isso também prejudica os futuros cientistas. Hoje, as metodologias da ciência são todas de alta tecnologia. Antigamente os estudantes precisavam aprender a misturar líquidos em frascos, usar uma balança, uma pipeta. Hoje tem de operar espectrômetros de massas, citômetros de fluxo, microscópios confocais e outros aparelhos, todos digitais, que são delicados e complexos. Tudo passa pelo computador.
Sonia: Você conhece a ferramenta “Google Wave” em teste? Poderia falar um pouco sobre isso?
Mauro:
Essa me parece uma nova ferramenta para uma velha idéia: colocar os cientistas para colaborar online. Antes mesmo da WEB 2.0 já existiam programas capazes de fazer isso. O próprio PUBLIQUE!, software nacional utilizado para gerenciar o conteúdo WEB de dezenas de empresas publicas e privadas, ficou famoso mais de 10 anos atrás justamente por ser colaborativo. É maravilhoso que um documento possa ser editado por diferentes autores e que o conteúdo não seja limitado ao texto. Imagina clicar no nome de uma proteína (e eu trabalho com uma que se chama metalotioneína) e ver não só a foto ao lado da sua estrutura molecular, mas também abrir uma janela para movimentar a sua estrutura em 3D? Mas eu vejo dois problemas: o primeiro, como diz a própria entrevista, é a dificuldade para usar essas ferramentas. O segundo, é que os cientistas realmente não estão pedindo por elas. Eles ainda não sentem a necessidade disso. Entre em um departamento de uma universidade e tente explicar a um professor sênior, que até 5 anos atrás mal usava e-mail, que ele agora tem que escrever os artigos dele online de forma colaborativa. Você vai ouvir todo o tipo de resistências. Mas ai é que entram os alunos. Eles estão gerando a demanda. Minhas alunas no laboratório mandam ‘presentes virtuais’ umas para as outras, da loja de ‘presentes para biólogos moleculares’ do facebook. Eles usam as comunidades virtuais e estão dominando as ferramentas de colaboração. Os professores e pesquisadores vão ter de acompanhar.
Sonia: Gostaria que você comentasse também como o software livre e as ferramentas colaborativas funcionam na produção ou extensão no campo da ciência.
Mauro:
Acredito que o conhecimento científico deve ser público e gratuito. Para isso o cientista passa pro 3 etapas: a produção do conhecimento, a sua verificação e a divulgação. O software livre tem participa de todas elas.
Para gerar conhecimento, a análises de muitos dados científicos são possíveis apenas através de programas de computador, por softwares muito específicos e utilizados por poucas pessoas. Esses programas geralmente foram subsidiados (direta ou indiretamente) e por isso são livres e de código aberto.
O principal mecanismo de correção da ciência é a discussão, a avaliação pelos pares. Essa verificação é feita principalmente no momento da publicação dos dados e por isso ambos se misturam. Ainda hoje o sistema de comunicação de dados científicos formal ainda são as revistas impressas. A discussão funciona, mas é muito, muito lenta. Os autores escrevem artigos, enviam para os editores, esses enviam para revisores, esses enviam de volta para o editor, que retorna para o autor. Quando publica, um leitor precisa escrever uma carta ao editor para poder fazer um comentário. Dá pra acreditar? Mas isso está mudando. Na revista científica especializada PLoS One o leitor pode dar nota e fazer comentários online em um artigo científico. No Brasil, a revista eletrônica Bioletim (www.bioletim.org), publica os estudantes de biologia em fase de revisão em um blog, para que possam ser revisados pelos colegas antes mesmo da publicação. O Bioletim é na verdade um portal de serviços pra comunidade acadêmica com muitas outras ferramentas colaborativas e foi todo construído com o software de código aberto DRUPAL (drupal.org). Ele é gratuito, modular, extremamente flexível e possui uma comunidade de desenvolvedores enorme, que produzem módulos para praticamente qualquer facilidade que você queira introduzir no seu portal. Hoje um cientista tem a sua disposição um grande arsenal de software livre para realizar qualquer uma das suas atividades e isso tem favorecido a divulgação da ciência e a inclusão científica.

Sonia: Gostaria que você sugerisse alguns links, se possível com uma linha de identificação de cada um.
Mauro:
A melhor dica para conhecer um blog de ciência é visitar o Roda de Ciência (http://rodadeciencia.blogspot.com) onde diversos blogueiros publicam sobre um tema diferente a cada mês. Cada um tem o seu blog e publica nele o texto sobre o tema do mês, e direciona os comentários para a roda. O Blogs de Ciência (http://divulgarciencia.com) é um site português que repete os artigos publicados em vários blogs de ciência em língua portuguesa cadastrados. Pra quem lê inglês uma boa dia é o Science Blogs (http://scienceblogs.com). E é claro, o Science Blogs Brasil, onde está o meu blog ‘Você que é biólogo…’ (http://scienceblogs.com.br/vqeb) na ilustre companhia de vários colegas blogueiros da maior qualidade.

A trajetória de um biólogo II – Homenagem ao dia do biólogo

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Bem na foto – Turma de 89/1 no laboratório de genética em 1990. Do alto à esquerda para baixo: Reo, Ana Paula Falcão, Marília, Vivi morena, Ricardo Barney e Helena. Ricardo Maiô, Rodrigo Magoo, Carla de Carli Silvia e Gisela. Deia, Mauro, Renato, Ronald, Betina e Marcos Vinícius (com a prof. Vera no estereoscópio).
(Continuação)
“Colei grau às 10h da manhã de uma terça-feira como biólogo marinho, e às 13h estava num ônibus para Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Tinha sido aprovado no mestrado em Oceanografia Biológica e passaria naquela fria e chuvosa cidade dois anos de grande crescimento pessoal e profissional.
Morar sozinho pela primeira vez foi um desafio. Ao meu lado tinha o benefício de ter a melhor bolsa de mestrado que esse país já viu. Eram os idos de 1994 e, com o Plano Real, R$ 800,00 equivaliam a U$ 800. Consegui até economizar um dinheirinho. Mas na Oceanografia as demandas que Química e Física alcançaram um novo patamar e tive que estudar muito para superar minhas deficiências em Matemática e Cálculo.
O mesmo aconteceu quando precisei aprender Estatística de verdade para poder fazer minha tese. Descobri com meu colega de laboratório José Monserrat o quão interessante, útil e poderosa é a Estatística e hoje tenho certeza que é ela, e não a Física, que explica o mundo. Minha tese foi com o efeito de amônio na osmorregulação do caranguejo Chasmagnathus granulata (ainda hoje me lembro o nome de cor) e tenho muito a agradecer pelo que aprendi com todas as pessoas do departamento de Ciências Fisiológicas da Furg.
De volta ao Rio, não entrei para o doutorado direto. O CNPq havia lançado um novo programa chamado Desenvolvimento Científico Regional (DCR) para estimular a ida de pesquisadores para o Nordeste. Assim escrevi um projeto para trabalhar com a Dra. Iracema Nascimento na UFBA. Mas o CNPq perdeu o projeto e caí no temido limbo entre mestrado e doutorado.
Em 1996, acontecia um evento que mudaria a cara da sociedade: a internet saiu das universidades e começou a ser oferecida a população por provedores comerciais. Além de biologia, eu só sabia mexer com computadores. Ainda que superqualificado, comecei a trabalhar como estagiário em um provedor de internet. Foi muito divertido e aprendi muito sobre computadores (como abrir, montar e desmontar) e sobre informática (a lógica da máquina, protocolos, algoritmos, etc.). Ambos os conhecimentos seriam de suma importância quando entrasse no doutorado, seis meses depois.
Sim, ainda que eu pudesse muito bem trabalhar com informática a vida toda, isso teria de ter acontecido em outra vida, onde eu não tivesse tido contato com a ciência. Entrar no doutorado não tem a ver com ser biólogo, mas com se tornar cientista. Muitas pessoas não veem essa distinção. Termine o mestrado e se a tese foi um sacrifício para você, vá trabalhar na Bayer. O doutorado é um forte treinamento em ciência, mas também o estabelecimento de uma relação mais íntima com o meio acadêmico que, cá entre nós, não é para qualquer um.
Entrei para o doutorado do Instituto de Biofísica da UFRJ. A primeira coisa que aprendi no doutorado foi que ele é um caminho para alguma coisa e não um fim. Isso significa que a tese é um projeto de pesquisa e não um projeto de vida. Entender isso com clareza ajuda a poupar um monte de frustrações.
Mas provavelmente a decisão que mais influenciou minha vida acadêmica foi participar de uma reunião dos estudantes de pós-graduação onde me elegeram, por total falta de outro candidato, representante dos alunos no conselho deliberativo do IBCCF. Logo nas primeiras reuniões com os representantes dos departamentos (chamados de programas lá) e com os professores titulares, percebi o que era a academia no seu dia-a-dia. Foi bom, porque eu pude escolher e me preparar para o que me esperava: política e egos, como em qualquer outra profissão ou repartição, ainda que menos nobre.
Ainda no primeiro ano, a Capes e CNPq fizeram uma séria de visitas para avaliar os programas de pós-graduação, algumas vezes com comissões externas. Em uma dessas visitas, participei de uma reunião que ajudou a determinar minha relação com a academia. Eu, como muitos outros alunos de PG, já estava cansado de viver de bolsa por tantos anos e ansiava pelos concursos para professor assim que terminasse o doutorado. Mas o CNPq disse que não, que não queriam perder a nossa fase mais produtiva e por isso estimulariam a saída do país para o pós-doc logo após o doutorado, adiando ainda mais o nosso ‘projeto de vida’. Aprender a se resignar com o que você não pode mudar é uma coisa muito importante se você deseja ser uma pessoa produtiva.
Durante o doutorado, além da tese, preparei meu currículo, cuidando com muito carinho de publicações, cursos e congressos. Criei laços com professores e laboratórios, aprendi outras línguas e busquei um pós-doutorado. Mais uma vez as discussões com meus amigos eram, senão o principal , o mais constante desafio intelectual que eu participava. Meus amigos cientistas são parte da razão pela qual eu sou cientista.
Em 2002, fui para a Itália viver outro desafio: trabalhar em um laboratório moderno, com todos os recursos que precisava para fazer ciência de alta qualidade e competitividade. País, língua, cultura, comida e costumes diferentes, ainda tendo que fazer ciência no meio: será que eu ia dar conta? Dei. E quando voltei para o Brasil, em 2004, tinha muito mais do que alguns trabalhos na bagagem. Eu era um cientista.
Quando passei no concurso para professor no IBCCF naquele mesmo ano, realizei o sonho da criança que catava os peixes com baldinhos na lagoa. Era biólogo e cientista e meu projeto de vida estava só no começo. Hoje, os desafios são outros, mas de certa forma são os mesmos: aprender a reconhecer o que podemos mudar e o que não podemos e coragem para fazer o que tem de ser feito.
Coordeno o laboratório intermediário de biologia molecular ambiental, onde pesquisamos o efeito e o mecanismo de toxicidade de substâncias poluentes em organismos aquáticos. Você sabia que ostras têm câncer? Que camarões têm intoxicação alimentar e param de crescer? E que o ditado ‘a água não está pra peixe’ é justamente porque quando ela está suja eles fogem? Nós pesquisamos tudo isso.
Mas além da pesquisa, eu, como discípulo de Carlos Chagas Filho, acredito mais do que nunca no seu lema: ‘na universidade se ensina porque se pesquisa’. Minhas atividades didáticas cresceram e continuam crescendo, dentro e fora da universidade. Dentro tenho duas disciplinas na pós-graduação e coordeno as disciplinas de Biofísica para a Biologia, um curso moderno e dinâmico, com um ambiente virtual próprio e um programa renovado. Fora, estou envolvido com a capacitação de docentes em EAD para a Universidade Aberta do Brasil.
Completando o tripé da universidade, coordeno um ambicioso projeto de extensão que envolve divulgação científica e treinamento de jovens cientistas. O portal Bioletim (www.bioletim.org) foi montado para recuperar a revista de divulgação científica homônima que nasceu no âmago da nossa turma (DRE: 891), quando éramos todos alunos de graduação do Instituto de Biologia da UFRJ, em 1993. Além da proposta inicial, hoje o portal é um poderoso gestor de conteúdos, com uma plataforma de EAD que atende atualmente a 10 disciplinas e com uma estrutura de rede social que já lhe valeu o carinhoso apelido de Orkut científico. Mas a menina dos olhos do projeto é o roteiro que ajuda os autores novatos a organizarem as informações para a construção online, em poucas horas, de um artigo que pode ser submetido a revistas.
Mas essa experiência não veio do berço. Escrever é treino e prática. Noventa e nove por cento transpiração e um por cento inspiração. Por isso tenho um blog com quase 200 textos científicos para leigos e amantes da ciência: o ‘Você que é biólogo…’ (scienceblogs.com.br/vqeb ).
Para quem está começando agora a sua trajetória na biologia e na ciência, eu diria que a fórmula do sucesso na academia está na regra do 80:10:10, inventada por uma americana que preferiu não citar o seu nome. A regra diz que 80% do seu tempo você deve trabalhar da melhor forma possível, 10% do seu tempo deve investir em desenvolvimento pessoal e nos conhecimentos que serão importantes nos próximos 5-10 anos e 10% do seu tempo você passa dizendo para o maior número possível (e importante) de pessoas o quanto você trabalha bem e é competente. E é claro, é bom contar com um pouco de sorte.”

A trajetória de um biólogo I – Homenagem ao dia do biólogo

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Hoje é dia do Biólogo. E apesar dos vários textos que estão inacabados, esperando que eu me debruce sobre eles para, o que segundo Lobo Antunes e outros grandes autores te torna um escritor – reescrever, eu hoje não posso deixar de falar desse dia especial.
E que esse ano ainda é mais especial para mim, porque esse mês serei homenageado pelo Conselho Regional de Biologia no XVIII ENBio (Encontro Nacional de Biólogos) pelas contribuições a profissão.
Fiquei pensando nas minhas ‘contribuições a profissão’. Pensei que a indicação pode ser porque vou com a mesma disposição falar para doutores em um congresso internacional, professores de 2o grau em um curso de reciclagem, um auditório lotado de alunos de uma universidade privilegiada, ou uma sala incompleta de alunos de uma faculdade menos favorecida. Mas talvez não seja porque eu faço isso, mas sim o porquê eu faço isso: porque nenhuma das minhas contribuições é maior que o amor que tenho pela biologia e por ser biólogo. Torço para que tenha sido essa, ainda que seja um variável pouco analítica, a razão da indicação.
Lembrei de um texto que escrevi para a revista do Instituto de Ciências Biológicas da UFRJ a convite da minha querida amiga Marília Zaluar, sobre o que é ser biólogo. O texto se chamou ‘A trajetória de um biólogo’ e eu coloco ele aqui pra vocês.
Feliz 3 de setembro!
“Comecei a ser biólogo como os antigos naturalistas: catando bichinhos por aí. Também tem aqueles que começaram catando plantinhas, mas dessas eu nunca gostei muito. No meu caso específico, eram os peixes da Lagoa de Araruama, em São Pedro da Aldeia. Pegava-os nadando de bobeira pela margem e colocava no meu baldinho. Às vezes tentava levar para casa achando que poderia guardá-los até ficarem grandes, para descobrir sempre no dia seguinte que eles não sobreviviam à água da bica.
Ganhei meu primeiro aquário com 8 anos, que foi também meu primeiro laboratório. Aprendi sobre as necessidades especiais de cada peixe, sobre a temperatura, pH e oxigênio da forma tradicional: tentativa e erro. Infelizmente sacrifiquei muitos peixinhos e também toda a minha mesada nessa empreitada.
Quando chegou o fatídico momento de marcar a cruzinha na quadricula de ‘opção de carreira’ do vestibular, eu não tinha dúvida, queria ser biólogo.
Mas o que é ser biólogo? Naquela época eu certamente não sabia. Na verdade, para o que eu achava que era, aquariofilista estava muito bem. Tanto que quando meu pai me perguntou: “Mas como você vai ganhar a vida como biólogo, meu filho?” Eu respondi que ia trabalhar com criação comercial de peixes e camarões, que significava, trocando em miúdos, trabalhar em um grande aquário. Mas vá lá, a única referência que eu tinha, e que qualquer um durante muito tempo sempre tem de biólogo, eram os professores de biologia, e não era exatamente isso que eu queria ser.
É bem verdade que nos idos de 1988, a engenharia genética já estava dando o que falar. Começavam a aparecer as primeiras ratazanas que produziam leite de vaca e coisas desse tipo. Muito impressionantes para um adolescente que achava até então que ser biólogo era ser como o seu professor do 2º grau.
Na faculdade, a visão romântica do biólogo que fica o tempo todo coletando bichinhos e plantinhas desmoronou. No primeiro período, tínhamos Cálculo, Química e Física. Depois, Bioquímica e Biofísica. O curso da UFRJ tem uma sólida formação em História Natural, herança do tempo em que esse era o nome da faculdade, com quatro zoologias e quatro botânicas, mas que significa estudar animais e plantas que você nunca encontrará pela frente, pelo resto da vida.
Com toda a importância que eu reconheço hoje na Taxonomia, não posso deixar de concordar que a sistemática é um desafio para o aprendiz de biólogo, e motivo suficiente para um sem número de desistências. A biologia não era para qualquer um (que o digam as meninas na aula de dissecção de baratas). E tinha que estudar. Tinha que estudar muito!
Aí entra outro fator, que eu não acredito que possa ser generalizado, mas que vale a pena comentar. Minha turma era uma turma especial. Só tinha crânio. Eram de diferentes idades, cidades e classes sociais, mas todos eram muito inteligentes. Eu percebi nas primeiras festinhas que se bobeasse ficaria para trás. Os papos eram sobre livros que eu nunca tinha lido e filmes que nunca tinha assistido. Descobri que, como eu não gostava do colégio onde estudava, nunca gostei de estudar. Nunca tinha sido um aluno aplicado e isso agora estava fazendo falta. Mas a minha decisão foi firme: recuperaria o tempo perdido! Passei a ler mais e descobri que tinha a habilidade de prestar atenção no que os outros diziam e a aprender com isso. Servia para aulas, palestras, mas também para histórias. Aprendi muito ouvindo as histórias dos meus amigos.
Bom, e havia as festas. Uso ‘festas’ como um termo genérico que além do sentido estrito, inclui encontros estudantis e congressos científicos. Eu fui a todos as festas, excursões, acampamentos, ENEBs, EREBs, Interbios, etc. Fiz amigos biólogos em todo o Brasil e várias dessas amizades, cultivadas anos a fio com cartas escritas a mão, antes do e-mail, permanecem até hoje. Fui Dj, campeão de truco, delegado de comitiva, chefe de torcida e até ganhei uma medalha no Interbio de 1990 correndo 5000 m (não tinha mais ninguém que quisesse participar da prova), já que nunca fui uma maravilha nos esportes coletivos. E sim, namorei bastante também.
Meu primeiro estágio foi realmente em uma fazenda de cultivo de camarão. Fiquei lá tempo suficiente para aprender que ganhava dinheiro quem comprava e vendia camarão, mas não quem criava. E que esses cultivos de moda (rãs, avestruzes, minhocas…) só servem para dar dinheiro a quem dá curso e escreve livro.
Despido da minha fantasia de biólogo infantil, tive que arranjar uma outra. Enquanto todos os meus amigos tinham estágios em laboratórios na universidade, eu respondi a um anuncio que dizia ‘estágio com bolsa’ na Bayer do Brasil. Descobri que havia um mercado de trabalho para biólogos que era grande e crescente. Ser biólogo não era só ser professor afinal, nem ser o cara das plantinhas e dos bichinhos. O trabalho consistia em avaliar a toxicidade de efluentes industriais e produtos químicos comerciais. Trabalhar com poluição era instigante, mas trabalhar em uma indústria não. Depois de quatro meses, não tinha mais nada para aprender e o trabalho virou um eterno repetir. Eu, que nunca tinha gostado muito de estudar, estava sentindo falta de teoria, de estudo e de descobertas. Descobri que meu lugar não era ali, eu era da academia. E se eu queria seguir a carreira acadêmica não havia tempo a perder.”
(continua)

"Senhoras e senhores, eu podia estar robâno, eu podia estar matâno…"

… mas há dias que não faço outra coisa a não ser escrever pedidos de financiamento para todas as agências de fomento a pesquisa do Brasil. Sem contar as prestações de contas para poder pedir novos financiamentos. Foram 4 até agora no mês de agosto, e a previsão de mais 4 até o final de setembro. Isso porque escolhi alguns editais apenas. Certo, vocês podem dizer que isso é um bom sinal, de que há dinheiro para financiar pesquisa. Mas quase todos são ‘pequenos dinheiros’, em curtos, que não são suficientes para realizar um trabalho científico de qualidade. Ai temos que ficar custurando recursos e resultados, o que dá mais trabalho e toma mais tempo do que a pesquisa em si. E é claro, não sobra tempo para ir pra bancada no laboratório.

A muda

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Os cordados, animais que possuem coluna vertebral, apresentam um crescimento contínuo. Que pode ser mais lento ou mais rápido, mas por se contínuo é difícil de perceber.
Os artrópodes por sua vez não possuem um esqueleto interno. Seu esqueleto é externo e denominado exoesqueleto. Imagine um cavaleiro medieval: sua armadura é um exemplo perfeito de exoesqueleto!
Mas voltando aos artrópodes. Entre eles estão vários bichos nojentos, mas alguns bichos bonitinhos também. A Joaninha é um artrópode. Por causa do esqueleto externo, os artrópodes não podem ter um crescimento contínuo. Esse crescimento descontínuo acontece de tempos em tempos. Por que todos precisamos crescer, mesmo os camarões.
O momento de crescimento desses animais é, tão apropriadamente, chamado de muda. Por que eles efetivamente mudam seu exoesqueleto. Alem de permitir o ponto de suporte para os músculo, que possibilita que esses animais se movimentem, ele também funciona como um casca, um escudo, proteção. E novamente a armadura do cavaleiro medieval se presta a comparação.
Mas como acontece essa mudança? O animal se solta dela. Deixa ela ir.
Só que diferente do cavaleiro medieval, todos os músculos do animal estão ligados a sua casca. E pra se soltar… dói! Mas mesmo assim ele se solta. Por que todos precisamos crescer, mesmo os tatuís.
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É nesse momento, no momento da muda, que o animal fica mais vulnerável. Sem a sua armadura ele está desprotegido e é uma presa fácil. Para não ficar a mercê dos predadores, em geral os animais se escondem durante esse período. Podem também sofrer da Síndrome de coração apertado. Parece com os ataques cardíacos humanos, mas não matam. O coração cresce rápido demais e fica apertado ainda dentro do peito antigo. A dor é tão grande que vai até o estomago (é melhor deixar o bicho quieto nessa hora!) A muda é um processo arriscado. Mas mesmo assim ele muda. Por que todos precisamos crescer, mesmo as libélulas.
Mas a muda também é um processo lindo. Um enxurrada de hormônios (que estavam dentro do animal mas ele nem sabia) tomam conta do pedaço, sinalizando que é hora de mudar. E os hormônios, a gente sabe, ninguém pode com eles. Depois de se soltar de sua casca, o animal cresce, muda. A nova casca é produzida vagarosamente. Muitas vezes é possível usar coisas da outra casca (Proteínas importantes, nutrientes e algumas boas recordações) deixa outras coisas que naquele momento parecem menos importantes (basicamente restos metabólicos e outras amarguras), mas ela nunca mais será suficiente. E é por isso que todos precisamos crescer, mesmo as cigarras.
Você pode pensar por que o animal não constrói sua nova armadura antes de se desfazer da primeira? É que ele nunca sabe quão grande vai ser a mudança. Nunca sabe o quanto vai crescer. Depende do clima, da disponibilidade de alimento, depende do DNA e… depende dos hormônios (e como a gente sabe, tudo que depende dor hormônios é imprevisível). Mas ele corre o risco. Por que vale a pena. Por que todos precisamos crescer, mesmo as centopéias.
A muda pode fazer coisas incríveis. Se algum membro se perdeu no exoesqueleto antigo, ele volta no exoesqueleto novo. Na verdade ele cresce novamente, no período em que acontece o crescimento. Uma nova casca pode apagar o danos de batalhas anteriores. Mudar é arriscado, mas por muitas razões vale a pena. Principalmente, por que todos precisamos crescer, mesmo as borboletas.
Algumas vezes, por um descontrole hormonal (malditos hormônios) o animal pode ficar longos períodos sem mudar. Ou pode ainda tentar crescer sem mudar. Isso causa fissuras no exoesqueleto que são mais doloridas que a muda em si. E ai ele vê que de um jeito ou de outro, tem que mudar. Não dá pra enganar os hormônios. Todos precisamos crescer, mesmo os Louva-Deus.
Mas isso quer dizer que o bicho (só sendo bicho mesmo) tem todo o trabalho de construir uma casca, que protege ele, do tamanho perfeito pra ele, ligar todos os seus músculos a ela, ficar ali, quentinho, quietinho e protegido pra… depois mudar? E ainda correr o risco de ser comido no processo? Parece estranho que alguém queira fazer isso. Mas quem pode saber que se passa na cabeça de uma mariposa? Talvez seja bom ter uma casa maior, talvez o brilho do exoesqueleto novinho seja sedutor… como saber?
O que podemos dizer é que todos temos que crescer. E todos temos que mudar, pra poder crescer. Até nós mesmos!

Todo mundo no mesmo barco

Não, não sou eu no barco. Como (quase) todas as outras fotos no blog, essa veio do site SXCNa última 6a feira meu 3o aluno de mestrado defendeu sua dissertação. Foi um parto.
A experiência de orientador é provavelmente a mais enriquecedora da vida acadêmica. Uma orientação nunca é igual a outra, provavelmente porque um aluno nunca é igual a outro. A minha ilusão inicial é que o trabalho nós colocasse a todos, alunos e professores, no mesmo barco, um barco onde eu levava o leme. Ledo engano.
Tem aqueles que enquanto você está no leme, levantam e baixam a vela no momento certo, tiram água quando esta entra e verificam se as amarras estão seguras quando a gente chega no porto. Mas tem também de tudo: aqueles que querem seu próprio barco, aqueles que tem medo do barco andando rápido demais e pulam na água, aqueles que não tem idéia do que fazer no barco e você tem de dizer tudo o que ele tem que fazer (Camba! Caça a vela! Não deixa emborcar). Ah, e tem os motineiros. Aqueles que querem tomar o barco de você.
Oxalá um dia incluam uma disciplina de RH no curriculo dos biólogos, mas eu tive mesmo que aprender escovando assoalho e tomando com a vela na cabeça. Não fosse o cinto de segurança (e a ginga de capoeira) tinha caído pra fora nos primeiros escorregões e o barco estaria a deriva.
O que eu tenho muita dificuldade de convencer novos alunos é de uma particularidade importante da ciência. A ciência é muito, muitíssimo, extremamente, democrática. A ciência, como já disse aqui é para todos. Está aberta para todos. Mas a ciência não é uma democracia. Aqui não vale o que fala a maioria, mas sim o que está certo (e que cada vez menos são a mesma coisa).
A ciência não faz, e nem deve fazer, concessões. Nenhuma!
Aqueles resistem, questionando a validade dessa essa exigência, ou evocando um ‘lado humano’ na ciência (que permitiria a ela abrir exceções ou fazer concessões), eu digo que são ingênuos.
Mas nosso barco é grande e pode fazer muitas coisas. E apesar de seguir uma trajetória bem definida, passa por muitos lugares. Quem quiser se juntar a nós pode ter muitas experiências diferentes nele, pode nos acompanhar na nossa longa caminhada, ou apenas percorrer o trajeto até o próximo porto. Minha exigência para um aluno é que ele aceite que a ciência não faz concessões, e no que tange esse aspecto, tampouco eu. Mas conselho é que ele invista em escolher que tipo de passeio quer e está disposto a fazer.
Ou, mudando a metáfora mas mantendo o sentido, como perguntam diriam os motoristas de Buggy das dunas do nordeste:
“Vai ser com o sem emoção?”

Como saber quando alguma coisa se quebrou?

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Algumas coisas são fáceis de determinar. Um copo, um vaso, uma cadeira, um relógio… quando essas coisas quebram ninguém fica na dúvida. Não precisamos nem ‘definir’ o que seria quebra para entender que elas tiveram sua estrutura alterada de modo a perder a sua função.
Já com relações é mais difícil. Como podemos determinar que um vinculo, uma relação se quebrou? Qual o ponto onde sua estrutura é modificada a ponto de perder a sua função?
Acho que a dificuldade para definir o ponto de quebra é que relações não são estáticas. Parecem mais com organismos vivos do que com copos. Um copo, depois de formado e até que se quebre, é, e continuará sendo sempre, um copo. Relações são mais complexas.
Complexas, essa é uma ótima palavra e provavelmente a mais adequada.
Do ponto de vista biológico, complexidade significa 3 coisas: Mecanismos de retroalimentação, redundância e diversidade. Mecanismos de retroalimentação permitem que nos adaptemos a situações. Principalmente as novas situações. Redundância gera alternativas e diversidade gera informação. Mais, gera conhecimento. Fico numa grande dúvida pra dizer qual dos 3 é o mais importante, mas vou arriscar que para as relações, são os mecanismos de retroalimentação.
Imagino que quanto mais diversas nossas relações, melhor é cada relação individualmente. Também imagino que se temos redundância nas nossas relações, como dois melhores amigos, temos menos risco de ficar na mão. Mas sem retroalimentação, vivemos isolados. A gente faz o que quer, achando que está fazendo o que o outro quer. Sem retroalimentação, a relação é de mão única.
A complexidade permite a evolução. A própria relação entre complexidade e evolução tem um aspecto curioso: a estabilidade. Ela é ao mesmo tempo causa e conseqüência da evolução. Sem estabilidade, um sistema não pode evoluir. E ainda que não seja uma determinação, evolução tende a gerar estabilidade.
Por que isso tudo é importante? Vejam, estávamos falando de quebra. Uma relação jovem, como todo sistema jovem, possui muita energia e pouca diversidade. Sem estabilidade, um evento aleatório (pra não dizer ‘qualquer coisa’ ou ‘sei lá’, vamos supor ‘o dia amanhecer chuvoso no dia que você combina de ir a praia’ ou ‘chegada da sogra para o final de semana’) pode desencadear mudanças bruscas no fluxo de energia do sistema. Como os papéis dos personagens não estão totalmente definidos em uma relação jovem, é difícil essa energia se dissipar por diferentes canais e fácil, muito fácil, gerar agressão. E ruptura.
Claro, nem sempre agressão leva a ruptura. Mas e quando leva? É ai que se quebra? É.
Mas felizmente uma relação não é um copo e tem uma outra característica dos sistemas complexos que eu quase ia esquecendo de mencionar: resiliência.
A capacidade de se recuperar rapidamente depois que o sistema é desequilibrado por uma perturbação é fundamental para que os sistemas possam evoluir, simplesmente porque o sistema SERÁ perturbado e PERDERÁ seu equilíbrio. As coisas mudam no mundo e isso é imutável. E por isso a perturbação e o desequilíbrio são inevitáveis.
A resiliência é possível por duas razões, que ao mesmo tempo são duas condições sin ne qua non: O princípio da incerteza diz que nada volta exatamente para o mesmo lugar. Então depois que um sistema é abalado, ele não pode voltar também para o mesmo lugar. A resiliência é possível porque todo sistema possui, na verdade, mais de um equilíbrio possível. Talvez você não saiba, mas que tem, tem. A outra causa e condição é a conservação de informação. Um sistema pode ser reduzido a sua menor parte que possua todo o conhecimento para recuperar o sistema por completo. No fim das contas, se é inevitável que seu copo se quebre, não esqueça como se faz um novo.
Todos buscamos a estabilidade. O objetivo da mais simples das células, desde o início dos tempos, é manter estabilidade do seu meio interno independente das variações do meio externo, na tentativa de manter intactas as valiosas informações que possui. Mas também queremos mais informações. Queremos NOVAS informações. O dilema entre o novo e o estável é apenas um dos muitos com os quais temos de conviver, encontrando um ponto de equilíbrio.
O que melhora com o tempo, com a evolução, é que acabamos por descobrir nossos múltiplos pontos de equilíbrio e a resiliência. E ai perdemos o medo.

II EWCLiPo – Encontro de Weblogs Científicos em Língua Portuguesa

Praia do Forno em Arraial do Cabo (RJ)

O segundo encontro de blogueiros de ciência acontecerá em Arraial do Cabo (RJ) de 25 a 27 de Setembro de 2009, com financiamento do CNPq e apoio da UFRJ e do IEAPM. E você não vai ficar fora dessa, não é mesmo?!
Mas por que fazer um encontro de blogs científicos?
A WEB 2.0 mudou a forma de fazer jornalismo, negócios e política, e está ganhando agora a academia. A redução das redações de ciência nos grande jornais e o aumento dos escritórios de relações públicas em instituições científicas é o cenário onde emergem os próprios cientistas se comunicando diretamente com o grande público através de blogs e se firmando como uma importante fonte de informação científica confiável para a população, com conseqüências diretas no ensino e na aprendizagem de ciências e não só. O encontro promete, em sua reedição, discutir essas temáticas e oferecer aos participantes opções de caminhos para a blogsfera científica em língua portuguesa.
O site BlogPulse que monitora a dinâmica e o conteúdo de blogs na internet recorda 106,612,056 blogs monitorados; tendo sido 55,010 novos blogs nas últimas 24 h com 265.000 novos posts nas últimas 24 h. E a ciência é uma tema mais postado que outros concorrentes de peso como política e religião. Segundo o levantamento do “Anel de Blogs Científicos” da USP de Ribeirão Preto, existem em torno de 120 blogs de ciência no Brasil. A Revista ciência hoje publicou reportagem recentemente sobre o crescimento dos blogs científicos no Brasil.
E ainda há muito espaço para crescer. A Recente pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT – mostra que ainda é incipiente a comunicação de ciência pela Internet. A população se informa mais sobre ciência primeiro pela televisão, com jornais e revistas em segundo, e conversas com amigos em terceiro. A Internet vem apenas em 4º lugar. Além disso, 77% dos entrevistados nunca leram nada na Internet. A tendência é que esses números se revertam nos próximos anos, com a inclusão digital, o avanço da educação à distância e a disponibilização de Internet em banda larga para a população.
Um artigo publicado na revista Nature (vol 458, Março de 2009) mostra que muitos jornais estão fechando suas seções de ciência enquanto jornalistas científicos ficam sobrecarregados e cada vez mais dependentes dos press releases de RPs. Ao mesmo tempo, os cientistas estão partindo diretamente para o grande público através da internet, não só para publicar seus trabalhos, mas também para ‘traduzir’ os temas científicos para o público leigo. Em um país de tantos excluídos, essa ‘Exclusão Científica'” é uma das mais graves, mas as pessoas estão ouvindo falar de genoma, vacina gênica, transgênicos, mutantes, clones, células tronco… sem ter noção de como avaliar o quanto as informações que chegam até elas são verdadeiras. Os blogueiros se consideram uma fonte de informação científica confiável para o grande público.
Mas escrever nesse meio não é trivial. Vivemos em um mundo saturado de informação e precisamos aprender a selecionar melhor a informação. A Internet facilita o armazenamento, acesso e divulgação do conteúdo, mas não a seleção do que deve ser publicado. Os conteúdos são ‘depositados’ ao invés de ‘publicados’. O presidente da Apple, Steve Jobs, diz que na internet “a maioria de nós continua apenas consumidores, ao invés de autores”. Um dos principais desafios para o aumento da qualidade dos conteúdos é a seleção da informação.
Aprender a selecionar o que divulgar é também aprender a selecionar o que investigar e o que produzir! Uma divulgação científica de melhor qualidade leva a uma melhor produção científica e acadêmica, que leva a uma divulgação científica ainda melhor, para combater a exclusão científica, digital e social.
Mais informações sobre o(s) encontro(s) na página do II EWCLiPo.

O cientista Pop das células tronco

Você consegue encontrar o Mauro e o Bitty nessa foto?

No mês que vem fazem 10 anos de um evento marcante para a ciência do estado do Rio de Janeiro: o simpósio “O cientista do próximo milênio. O que se espera de um doutor em ciências no Brasil?”, que aconteceu em agosto de 1999.
Foram 3 dias com a participação de grandes personalidades da ciência como a presidente da FeSBE, Dora Fix Ventura; o presidente da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz; o diretor do instituto de Biofísica, Antônio Carlos Campos de Carvalho; o prof emérito, Darcy Fontoura de Almeida; e ainda Roberto Lent, Leopoldo de Meis entre outros. O então governador do Rio Anthony Garotinho faltou na última hora, mas na presença do secretário de ciência e tecnologia Wanderley de Souza, os organizadores sugeriram idéias que hoje são programas consolidados da FAPERJ como o “Jovens cientistas do nosso estado” e o “Bolsa nota 10”.
Hoje todos aqueles jovens estudantes são professores entusiasmados e batalhadores. Eu, Marcelo Einicker e Jennifer Lowe no Instituto de Biofísica da UFRJ; Marília Zaluar Guimarães no ICB/UFRJ, Milton Moraes no IOC/Fiocruz e Rodrigo Bisaggio no CEFET/RJ.
Mas a idéia do simpósio partiu daquele que é hoje o cientista mais badalado do país. Stevens Rehen, o Bitty (ele não conseguia pronunciar o próprio nome quando era pequeno e inventou o próprio apelido), professor do ICB/UFRJ e chefe do Laboratório Nacional de Células Tronco do Ministério da Saúde. Foi o grupo dele o primeiro no país a conseguir transformar células tronco não embrionárias em pluripotentes (aquelas que podem se transformar em qualquer outro tipo de célula).
Mas para quem já conhece ele de longa data (estudamos juntos no São José – apesar de que naquela época eles não gostavam de mim) sabe que os seus sucessos científicos são consequência inevitável da sua inteligência e trabalho duro. Mas os outros sucessos que a gente não contava é que eu quero falar aqui.
O Bitty sempre defendeu a desqualificação da imagem formal do cientista, taciturno, autista. Hoje ele é um simbolo pop. Tá toda hora nos jornais (ainda que meio desequilibrado em cima do skate – que ele não deve andar já tem uns 10 anos) e no ano passado, no auge do debate das células tronco (devido a pendenga no STF), foi convidado para o Debate MTV, mediado pelo Lobão, onde apareceu usando uma camiseta da banda de reggae do seu irmão (Ponto de Equilíbrio). Gente… um cientista na MTV! O máximo.
Ele é um exemplo a ser seguido. E quando penso nisso, me faz rir ver alguns cientistas seniores, os Sarneys da ciência, os Coronéis do saber, bradarem em reuniões de departamento que são a ‘Vanguarda’ de suas instituições.
Minha única crítica ao Bitty é que ele está trabalhando demais e não tem ido nos ensaios da própria banda onde toca percussão. Mas pelo menos agora ele entrou no Twitter a podemos sempre saber os passos dele.

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