Dicionário Etimológico do Karl – DEK
Vou começar a postar um dicionário etimológico de termos médicos que acho interessantes, pelo menos para mim. Vou dar preferência a palavras de uso corrente e que não têm seu significado conhecido. Para começar, ninguém melhor que a letra A. “A” de aspirina.

Aspirina. S.f. ácido acetil-salicílico (AAS), analgésico e antitérmico. XIX. — Do alemão, contração de Acetylirte Spirsäure ‘ácido acetilado spireico’. Spirsäure era o antigo nome do ácido salicílico na Alemanha. O radical spir vem do gênero spirácea da qual fazem parte os salgueiros e os chorões, família salix. as rosas, família rosaceae. Os salgueiros e chorões são da familia Salicaceae como o Jaime apontou nos comentários. Da casca de alguns salgueiros também é possível isolar o ácido salicílico, de onde provém o nome. (Algum biólogo pode dar pitaco, hehe).
A aspirina talvez tenha sido o medicamento mais prescrito e consumido da história da medicina.
Bibliografia
[1]T. F. HOAD. “aspirin.” The Concise Oxford Dictionary of English Etymology. 1996. Retrieved May 23, 2010 from Encyclopedia.com: http://www.encyclopedia.com/doc/1O27-aspirin.html (inglês)
[2]Wikipédia (inglês)
[3] http://www.medicine.mcgill.ca/mjm/v02n02/aspirin.html
[4] Uma resenha sobre o livro “History of Aspirin”.

Vacina Trivalente da Gripe A H1N1
Tenho recebido uma enxurrada de emails e comentários sobre a vacina da gripe H1N1. O governo está agora liberando, como anunciado, a trivalente, ou seja, uma vacina que imuniza contra 2 cepas da gripe sazonal mais a H1N1 [Influenza A / California / 7/2009 (H1N1); Influenza A / Perth / 16/2009 (H3N2); Influenza B / Brisbane / 60/2008]. As dúvidas são das pessoas que querem imunizar-se (aqui e aqui, por exemplo) pois tem sido difícil encontrar a vacina para gripe sazonal isolada, pelo menos em São Paulo!
Acho que o Ministério da Saúde (MS) “pisou na bola” nesse sentido. A boataria sobre a vacina não foi pequena! Deveria haver um esclarecimento maior sobre isso. Importante ressaltar que NÃO há contraindicações em se tomar uma nova dose da vacina contra H1N1 junto com as outras cepas da gripe sazonal. Abaixo, eu mostro porque vale a pena tomar a vacina, mesmo em dose dupla.
Os informes do MS estão interessantes. Aqui vão algumas conclusões selecionadas do último relatório que saiu em Abril.
“Segundo os dados do Sinan, a partir da base de dados exportada em 06 de abril de 2010, no período que compreende as semanas epidemiológicas 01 a 13 de 2010 (03/01 a 03/04/2010), foram notificados 2.509 casos. Deste total, 14,4% (361/2.509) foram confirmados para influenza pandêmica no Brasil(…)”
“Entre os óbitos confirmados para influenza pandêmica, a mediana de idade era de 25 anos (intervalo: 1 ano a 79 anos) e o sexo feminino foi o mais freqüente com 76% (38/50) dos óbitos confirmados, sendo que 73,7% (28/38) estavam em idade fértil (15 a 49 anos de idade), destes, 57% (16/28) era gestante. Do total de óbitos confirmados, 64% (32/50) apresentavam pelo menos uma condição de risco para gravidade, sendo que as gestantes representaram 32% do total de óbitos confirmados.”
Essa tabela mostra que durante as semanas epidemiológicas (SE) 1 a 13/2010 que cobrem o período de 03/01 a 03/04/10 morreram 50 pessoas de gripe suína no Brasil e há 45 em investigação para o diagnóstico. Desse total, continua o predomínio dos mais jovens e do sexo feminino com grande contribuição das gestantes.

Diapedese e Diálogo II
Imagine que você está num barco no meio de um rio cuja correnteza é meio fortinha. Para conseguir atracar o barco à margem, você antes tem que se agarrar em alguma coisa fixa que possa prendê-lo apesar da força da correnteza. Só assim você conseguirá parar o barco e sair dele, pisando em terra firme.
Agora imagine um vaso sanguíneo contendo milhares de células, brancas, vermelhas e umas coisinhas pequeninhas chamadas plaquetas (ou trombócitos). O fluxo sanguíneo é rápido. Nas carótidas sem obstruções, a velocidade média do sangue medida pelo método do doppler, gira em torno dos 30 cm/s, que convertidos, fornecem o valor de 1,0 Km/h. Como o fluxo é pulsátil e muda com a posição do corpo e com o exercício, pode chegar a 300 cm/s, o que já dá é uma correntezazinha respeitável, vá! Os leucócitos são células de defesa e em muitas situações necessitam passar do interior do vaso para o tecido circunjacente. Como eles grudam na parede do vaso é que é interessante.
A imagem acima é um esboço da diapedese. A imagem abaixo é um esquema da Nature para explicá-la.
Como se pode ver pelo desenho, o leucócito é “capturado” pelo endotélio (capa de células que recobre o interior dos vasos), faz um “rolamento”, pára, gruda, rasteja e, na maior cara-de-pau, sai do interior do vaso (transmigra), seja entre as células (paracelular) ou por dentro de uma das células do endotélio (transcelular). Não se perde nem uma gotinha de sangue (nenhuma célula vermelha) nesse processo! Os retângulos acima com siglas “hieroglíficas” representam as moléculas inflamatórias que o leucócito utiliza para realizar a “ancoragem”. Veja quantas existem! Há medicações que bloqueiam ou estimulam a grande maioria delas e que podem atuar como anti-inflamatórios ou pró-inflamatórios dependendo do caso. O filme abaixo é muito didático e mostra como o leucócito para no fluxo de sangue de um vaso para quem não acreditou que isso de fato ocorresse.
Fiz uma associação no outro post entre diapedese (do leucócito) e o diálogo (com o paciente). Diapedese quer dizer “saltar através”. O radical dia em grego formou várias palavras médicas como diálise, diabetes, diafragma, diáfise, entre outras. Diálogo, bem isso já é bem mais complexo.

Diálogo e Diapedese
As células brancas do sangue desempenham um importante papel na defesa do organismo contra invasores. Outro dia, um paciente travou comigo o seguinte diálogo:
“Mas essas células não estão dentro do vaso sanguíneo?”
Estão.
“Então elas enfrentam apenas os inimigos que vão para dentro do vaso?”
Não. Elas lutam nos tecidos, fora dos vasos principalmente.
“Mas como elas sabem onde têm que sair?”
(mas que cara chato!) Elas não sabem. São atraídas ao local por substâncias chamadas de quimiotáticas.
“Mas por que não provocam uma hemorragia quando furam o vaso?!”
Bem (pô, nunca tinha pensado nisso!). Porque elas não furam o vaso. Passam através da parede dos vasos num processo chamado de diapedese.
“As células brancas saem dos vasos sem provocar sangramento exatamente no local onde está ocorrendo uma invasão?”
(tá duvidando de mim?) Sim.
“Então tá. Qual a velocidade do sangue?”
… (onde esse feladamãe quer chegar?)
“Sim, por que como uma bolinha, que é a célula, consegue grudar na parede de um tubo liso com o sangue correndo lá dentro?”
(miserável!) Incrível, não? Mas gruda.
“Ah, tá…”(cara de quem não acredita nem a paulada!)
Bom. O próximo post é dedicado a ele e também a quem não acredita nessa história que afinal, é mesmo um pouco inverossímil.

Sobre Epônimos
Os epônimos são muito utilizados em medicina. Todo mundo conhece epônimos e eles parecem inevitáveis. Aqui vão algumas reflexões que tive com um colega de plantão, madrugada adentro.
O que é um Epônimo?
A palavra, pra variar, vem do grego epónymos e quer dizer, literalmente, “sobre o nome”. Tem o mesmo radical epi de epitélio, epicárdio, epifenômeno. Segundo consta, a palavra era utilizada para descrever um personagem, real ou fictício, que emprestava o nome a um lugar, construção, dinastia ou até mesmo o ano corrente. Obviamente, a medicina se apropriou do artifício para nomear “lugares” no organismo humano e, com o tempo, doenças, síndromes ou sinais clínicos característicos, homenageando quem os descreveu primeiro (ver esse site sobre quem deu nome a o quê na medicina. Em português tem esse. Há também uma lei interessante chamada lei de Stigler que diz que “nenhuma descoberta científica leva o nome de quem a descobriu” ou que “uma descoberta sempre leva o nome do último que a descreveu”, o que é um exagero é claro, mas tem exemplos aos montes, inclusive uma citação na Science [para assinantes] e que também vale para a medicina).
Exemplos de epônimos são “doença de Parkinson”, “Doença de Alzheimer” (a imagem ao lado é de uma homenagem a Alois Alzheimer), “Tumor de Krukenberg”, todos nomes de médicos que, ou descreveram a doença, ou deram enorme contribuição para sua compreensão.
Caça aos Epônimos
Há um movimento, principalmente na anatomia, que visa eliminar (ou pelo menos diminuir) os epônimos da nomenclatura científica. De fato, a confusão era grande. Tanto pelo fato de que muitos autores descreveram várias estruturas e “emprestaram” seus nomes, como também pelo de que algumas estruturas de nomes semelhantes tinham epônimos que se confundiam. O exemplo mais pitoresco é o das trompas de Fallopio e Eustáquio. Uma (Fallopio) é a trompa uterina. A outra (Eustáquio) liga o ouvido médio à faringe e é por isso, conhecida como tuba faringotimpânica. Apesar de não serem nomes parecidos, as trompas eram frequentemente confundidas o que gerava uma fonte inesgotável de piadas: “Cuidado para não engravidar seu ouvido!” entre outras.
Esse movimento resultou em uma grande substituição da nomenclatura, a meu ver, para melhor. Entretanto, na medicina clínica, os epônimos teimam em resistir. E eu acho que isso se deve a uma característica dos epônimos que meu colega de plantão me fez enxergar.
A Diferença entre Conhecimento e Cultura
Quando digo pan-hipopituitarismo pós-parto me refiro especificamente a uma condição endocrinológica característica de insuficiência hipofisária. Quando digo Síndrome de Sheehan [1] – que é exatamente a mesma coisa -, me vem um nome e uma pergunta “quem foi esse tal de Sheehan? Teria a ver com o He-man (tô zuando!). A Síndrome de Sheehan é uma doença que era confundida com um tipo de caquexia (emagrecimento extremo) pós-parto. Glinski a descreveu primeiro, Simmonds depois. Sheehan a sistematizou. Será mais um caso da lei de Stigler (acima)? Todas essas questões envolvem um tipo de conhecimento digamos, inútil para se tratar e diagnosticar a doença. Mas seria inútil totalmente?
Seria o conhecimento desses pormenores que envolvem a história de uma doença, desprezíveis? Eu acho que não. O epônimo reveste o conhecimento da doença com uma certa cultura médica que a meu ver é muito salutar. Provém de um tipo de contato com a matéria que é algo mais que um conhecimento utilitarista. Um médico culto, sob esse aspecto, é um médico que se “diverte” com a medicina. E isso é muito bom, principalmente para seus pacientes.
[1] KOVACS, K. (2003). Sheehan syndrome The Lancet, 361 (9356), 520-522 DOI: 10.1016/S0140-6736(03)12490-7

Formação
Como se forma uma pessoa? Um cidadão? Um cientista? Podemos nos questionar sobre a formação de um indivíduo (literalmente, não-dividido) para entendermos algumas diferenças básicas entre as ciências naturais e ciências do espírito. Essa formação a qual nos referimos tem duas palavras em alemão: bildung e formation, esta última sendo mais recente. Bildung é composta por bild que quer dizer imagem. Compõe também as palavras nachbild e vorbild que significam cópia e modelo, respectivamente. Bildung ainda tem uma semelhança enorme com a inglesa building, e a analogia com uma construção, um edifício, parece inevitável.
Segundo Gadamer [Verdade e Método], uma análise preliminar da história da palavra formação já nos introduz no âmbito dos conceitos históricos das ciências do espírito. Seguindo Hegel, Gadamer reforça que o homem se caracteriza pela ruptura com o imediato e o natural – esses pertencem ao domínio dos animais. Assim, quando nasce, “ele não é ainda, o que deveria ser”, razão pela qual necessita de uma formação. E como se dá essa ruptura? Por meio de uma universalização do espírito – o homem vai criando conceitos cada vez mais universais, ampliando seus horizontes e sua capacidade de compreensão. Como se um conceito coubesse dentro de outro, como nas bonecas russas (foto daqui). A universalização do espírito humano permite ao homem entender conceitos cada vez mais abstratos, mantendo-o aberto ao diferente, a outros pontos de vista mais universais.
A diferenciação entre “formar” e “informar” é de uso corrente entre nós. Como se forma um cientista? Outro dia, o Discutindo Ecologia soltou um post muito interessante com a pergunta: “Em que momento matamos os pequenos cientistas?” Vale a pena a leitura da reflexão.
Qual seria a formação ideal para um médico? Mais para o lado científico ou mais para o lado das ciências do espírito? O médico-cientista é melhor que o médico-praticante? Seria uma formação científica sólida (leia-se mestrado/doutorado, papers, exposições em congressos, etc) essencial para um médico?

A Mesquinhez de um Sonho
Cartola, semi-analfabeto, lavador de carros, fez uma letra de música assim: “Preste atenção, querida, muita atenção, o mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos tão mesquinho. Vai reduzir as ilusões à pó.” Confira no vídeo abaixo.
O problema aqui é o “vai triturar teus sonhos tão mesquinho“. Sim, porque Cazuza, garoto esperto da zona sul do Rio, gravou Cartola lindamente e cantou “vai triturar teus sonhos tão mesquinhoS”, no plural, como pode ser ouvido aqui.
No singular, mesquinho concorda com mundo e rima com moinho. No plural, concorda com sonhos (e não deixa de rimar, vá). Um adjunto adnominal tem que concordar com o nome ao qual está vinculado. Tanto em uma como na outra interpretação, a gramática está correta, penso eu; e a beleza preservada. Muitos poderão achar estranha a construção “cartoliana”, mas ao pensar melhor, logo percebem que também ela é perfeita. Qual seria a certa, então? A chave é a interpretação das duas locuções possíveis, a saber “mundo mesquinho” e “sonhos mesquinhos”. Se mesquinho quer dizer
1. Que não tem o indispensável em quantidade suficiente.
então, todos esses adjetivos podem ser atribuídos a “mundo”. Mas que dizer de “sonhos mesquinhos”? Um sonho pode ser sovina, infeliz ou mesmo pobre? É possível que em um sonho, alguém “economize energia onírica” e sonhe mesquinhamente? De minha parte, acho que Cartola está certo. Assim, como Nei Matogrosso (em sua interpretação um pouco kitsch): sonhos não são mesquinhos jamais. O mundo é que é.
(via Amigo de Montaigne)

Prêmio Bê Neviani
O Twitter tem se tornado uma ferramenta importante para blogueiros, tanto na comunicação ágil, como na divulgação de posts e notícias. Dentro desse contexto, há pessoas que ajudam a divulgar e nós do Scienceblogs Brasil e, eu particularmente, gostaria de agradecê-las. Por isso, o Ecce Medicus aderiu à campanha do Prêmio Bê Neviani conforme o “release” da idealizadora @sibelefausto. Obrigado pelos RTs, obrigado pela força. Participem!
Prêmio Bê Neviani
Porque não basta divulgar, tem que dispersar!Depois do recente anúncio feito pela vetusta Biblioteca do Congresso (Library of Congress), comunicando que arquivará todas as mensagens públicas postadas no Twitter desde o início do serviço de microblog, não restam dúvidas de que esta mídia social veio para ficar.
Segundo os cofundadores Bizz Stone e Evan Williams, hoje o Twitter tem 105 milhões de usuários registrados, e 300 mil novos usuários ingressam no serviço a cada dia. Seu crescimento médio foi de 1.500% por ano, desde a fundação da “Twitter Inc” em março de 2006. O serviço atende a 19 bilhões de buscas por mês. Apenas comparando, o Google atende a 90 bilhões no mesmo período.
Não se pode negar – o Twitter é uma ferramenta 2.0 por excelência: seu conteúdo é gerado e compartilhado pelos próprios usuários. A dinâmica do microblog funda-se primordialmente na atuação dos tuiteiros, que seguindo e sendo seguidos, dispersam conteúdos virtuais.
A ação de tuiteiros que dispersam conteúdos relevantes no universo tuitiano merece destaque e deve ser aplaudida. Foi essa premissa que inspirou a criação do Prêmio Bê Neviani, reconhecendo a incrível capacidade de dispersão de tuítes com conteúdo diversificado, como cultura, ciência, tecnologia, notícias e muito mais, do perfil @Be_neviani.
Hoje, dia 22 de abril de 2010, estamos lançando o Prêmio Bê Neviani: porque não basta divulgar, tem que dispersarRegulamento:
– O Prêmio Bê Neviani é aberto a todos os tuiteiros que tenham blogues de conteúdo informativo: ciências, cultura (literatura, cinema, artes, fotografia, música, etc), filosofia, notícias, dicas e assemelhados.
– Os blogues participantes da campanha tuitarão, no período de 23 de abril de 2010 a 23 de maio de 2010 links para seus posts, publicados em qualquer data e com qualquer temática, obrigatoriamente usando a hashtag #PremioBeNeviani e o encurtador de links Bit.ly.
– No período de vigência da campanha, os retuítes (RTs) que os links desses posts receberem serão computados para a apuração de dois ganhadores, um em cada uma das duas seguintes categorias:
Categoria 1: blogueiros – o vencedor será o blogueiro cujo post recebeu mais RTs. O prêmio dessa categoria será o livro “Criação Imperfeita”, de Marcelo Gleiser.
Categoria 2: tuiteiros – o vencedor será o tuiteiro que deu RTs em qualquer dos tuítes postados durante a vigência da campanha. Essa categoria terá sua apuração por sorteio. O prêmio para essa categoria será o livro “Além de Darwin”, de Reinaldo José Lopes.
O anúncio do prêmio será em 30 de maio de 2010, pelo Twitter.
Para participar, envie um tuíte para as administradoras @sibelefausto ou @dra_luluzita, ou então comente aqui, que entraremos em contato.
Abaixo, segue a relação dos blogues e tuiteiros participantes. À medida que mais blogueiros aderirem a essa campanha, essa listagem será atualizada.
Blog – Blogueiro-tuiteiro
100nexos @kenmori
Amiga Jane @lacybarca
Blog Bastos @bastoslab
CeticismoAberto @kenmori
Chapéu, Chicote e Carbono 14 @reinaldojlopes
Ciência na Mídia @ciencianamidia
Discutindo Ecologia @brenoalves e @luizbento
Dicas Caseiras para quem mora só @uoleo
Ecce Medicus @Karl_Ecce_Med
Efeito Azaron @efeitoazaron
Ideias de Fora @IdeiasdeFora
Joey Salgado… mas bem temperado @joeysalgado
Karapanã @alesscar
Maquiagem Baratinha @aninhaarantes
Meio de Cultura @samir_elian
Minha Literatura Agora @jamespenido
O Amigo de Wigner @LFelipeB
O divã de Einsten @aninhaarantes
O que todo mundo quer @desireelaa
Química Viva @quiprona
Quiprona @quiprona
Rabiscos @skrol
Tage des Glücks @nataliadorr
Tateando Amarras @eltonvalente
Terreno Baldio @lacybarca
Twiterrorismo @aninhaarantes
Uma Malla pelo Mundo @luciamalla
Uôleo @uoleo

Quer Pegar Gripe? Veja Como
Mais um sensacional vídeo garimpado pela Industrial Mori & Magic a quem agradecemos novamente. Muita gente gostaria de saber como um vírus se reproduz dentro do organismo humano e os médicos, biólogos e pesquisadores da área, apesar de saberem, vão ter seus sonhos realizados com esse vídeo extremamente didático.
Um vírus, por não possuir a maquinaria genética das células (as dos mamíferos, por exemplo, que têm núcleo e organelas que fabricam proteínas e outras coisas importantes para vida celular), necessita “emprestá-la” de outros seres vivos. Para isso acontecer, vários passos têm que ser dados e o vírus, muito frágil, tadinho, pode sucumbir facilmente em qualquer um deles. Mas, por meio de uma série de truques dignos de filmes de ficção científica (ou de zumbis), o vírus “coloniza” um ser vivo milhares de vezes maior que ele e o faz trabalhar para si, tal como um escravo ou zumbi.
É isso que o filme mostra. Deixa claro também, que toda essa “esperteza” do vírus é combatida com nosso sistema imunológico. Esse sim, ninja na arte de sobreviver aos mais variados ataques. O que o filme não fala e que eu não posso deixar de comentar é que podemos ajudar nosso sistema imunológico bastante. Como? Fazendo-o “enxergar” os vírus. As células de defesa obviamente NÃO têm olhos. Como então, elas podem “comer” (dizemos, fagocitar) um vírus como o filme mostra? É uma reação do tipo chave-fechadura como foi explicado, ou então, por meio da produção de substâncias que “atraem” as células de defesa para o alvo. Para isso ocorrer, normalmente uma nutrição adequada e boa saúde garantem nosso sucesso. Haja vista a quantidade atual de seres humanos nesse pobre planetinha perdido no universo. O problema é que a tal “chave-fechadura” é muito menos eficaz quando o organismo não “conhece” o invasor. Ele tem que usar um tipo de “chave-mestra” digamos, para encontrar e fagocitar o agente infeccioso. Isso demora mais do que se tivéssemos a chave específica correta. Mas como “conhecer” um invasor antes que ele nos invada? Isso é impossível!
Entretanto, há quase 2,5 séculos, a ciência médica descobriu um jeito de “apresentar” ao sistema imunológico um invasor, mesmo antes de que ele nos cause doenças. Alguém é capaz de adivinhar como?
Traduzido e Legendado por Kentaro Mori.
Uma versão mais completa, porém em inglês pode ser encontrada aqui. (Cortesia do Átila)

Quando os Especialistas Falham
Segundo Edgard Morin: “O especialista torna-se ignorante de tudo aquilo que não concerne a sua disciplina.” O buraco aumenta quando o “não-especialista renuncia prematuramente a toda possibilidade de refletir sobre o mundo, a vida, a sociedade, deixando esse cuidado aos cientistas, que não têm nem tempo, nem meios conceituais para tanto.”
Têm sido muito frequentes, citações de médicos contra a vacinação da gripe A/H1N1, sendo o médico por si só, já um especialista em saúde. Pelo que tenho visto, os títulos de especialista, PhDs, doutorados ou quaisquer que sejam, configuram-se exatamente na definição moriniana de “especialista”. Por “tornar-se ignorante de tudo aquilo que não concerne a sua (sub)disciplina”, quando emite uma opinião sobre assuntos diversos de sua área especificíssima, ele o faz como qualquer outro leigo. Isso pode não ter maiores consequências desde que ocorra numa esfera privada.
Na nossa sociedade entretanto, reina uma “cultura dos especialistas”. Quando um especialista fala, ele fala por nós, que “renunciamos a toda possibilidade de refletir sobre o mundo” ou os fatos que nos cercam. Numa esfera pública, portanto, a fala de um especialista tem um peso bastante diferente, mesmo que ele emita apenas uma opinião pessoal.
Mas e quando esse “especialista” fala uma bobagem?
Ao confundir o público com o privado, ao não avaliar adequadamente o peso de sua opinião pessoal sobre um assunto sobre o qual não tem todos os dados para raciocinar, o “especialista” se torna então, um refém de seu discurso. Sequestrado pelas forças políticas e sociais nas quais está inserido, sua fala se encaixará perfeitamente no discurso ideologizado de quem tem interesses outros ou simplesmente é vítima de um devaneio ignóbil conspiratório qualquer.
É exatamente isso que está acontecendo com os médicos que se posicionaram contra a vacinação da gripe A/H1N1. Uma importante sociedade médica publicou um editorial de um de seus colunistas médicos questionando a vacinação para diabéticos, contrariando recomendações do próprio ministério da saúde. (Esse texto foi retirado do ar como editorial e colocado como opinião pessoal. Menos mal. Diminui a confusão do público com o privado.) Como essa manifestação, muitas outras são citadas por pessoas que se posicionaram contra a vacinação. Entretanto, a decisão de ser contra a vacinação não é uma decisão racional. É uma decisão baseada em “medos”, desinformação, opiniões preconceituosas, “conversas de comadre”, emails falsos ou com verdades parciais e outras tantas maneiras altamente eficazes de transmitir mensagens que manipulam “mitos”. Cansei de escrever que a ciência não matou os mitos do homem (aqui, aqui e aqui, para citar alguns). Muitas vezes, meus colegas de condomínio (sciblings) mal me compreendem por repetir esse bordão, entretanto, aqui está uma prova viva de que “argumentos racionais” muitas vezes não são mecanismos geradores de certezas eficientes no ser humano.
Gostaria de concluir dizendo que, antes de mais nada, a vacinação é opcional, no caso específico da gripe suína. Quem não quiser se vacinar, ora, que não se vacine! A epidemia esse ano será bem mais branda, eu aposto. A mortalidade da nova gripe é ainda um mistério e cada país parece estar calculando a sua, o que faz mais sentido, tendo em vista as condições climáticas, sanitárias e populacionais de cada um. A doença é diferente da gripe sazonal. Seu público-alvo é diferente. Eu é que não vou experimentar. O que devia ser feito, foi. Agora é esperar o inverno.
