A prática que leva a perfeição

Marcador de texto

É praticando (e não sublinhando) que a gente aprende.

A primeira razão para trocar a prova bimestral por quizzes é simples: o quizz funciona, a prova, não. A prova tenta medir, com grande ineficiência e injustiça, o que você aprendeu estudando de outras maneiras. O quizz é a melhor forma de você estudar (leia-se é a melhor forma de aprender)!

 “Você se lembra daquilo que você pensa a respeito” Essa frase é o título e o argumento central do texto do psicólogo Daniel T. Willingham sobre o assunto. Eu sei… você adora estudar lendo e marcando o que mais gostou no texto, ou aquela definição que parece perfeita para aquele conceito. E te parece o método perfeito para estudar. Mas… se você leu o texto de Willingham… viu que na verdade não funciona da maneira intuitva. A melhor forma de aprender, é praticando! Testando os seus conhecimentos com pequenos testes, os quizzes, a medida que você estuda.

Essa primeira razão e também é o primeiro grande desafio: convencer as pessoas que a intuição delas (‘o marcador de texto ajuda’) esta errada. O segundo desafio é convencer o professor a abrir mão da prova como instrumento de pressão e cobrança. A terceira é convencer que questões de múltipla escolha são uma ótima forma de testar a aprendizagem do conteúdo (claro que elas tem que ser bem feitas, sem pegadinhas, sem textos quilométricos que tiram o foco do que importa, sem opções negativas).

A questão aqui é usar os quizzes de múltipla escolha também como instrumento de aprendizagem e não apenas para avaliar a aprendizagem. Assistindo ao conteúdo, você pode querer testar seu conhecimento. E é aqui que entra a exposição do conteúdo em vídeo, e não ao vivo, para o aluno poder parar e praticar quando quiser. Mas vou deixar isso pra outro texto.

O professor do século XXI

Professor do meu tempo

Em entrevista a revista ISTOÉ de Junho de 2007 (n. 1964: ) o senador Cristovam Buarque disse: 

“O professor do meu tempo, vai desaparecer. Ele não ficará mais sozinho. Três pessoas irão elaborar a aula: aquele que chamamos de professor, alguém que enteda de programação para colocar no computador o que o educador quer ensinar, e um terceiro, da área de telecomunicações, para espalhar isso no mundo.”

Com alguma intimidade com computadores, os outros dois são até despensáveis, já que vários programas ajudam não só o professor, mas qualquer um, a colocar o que quiser no computador e depois espalhar na internet. Ainda assim, ele está correto: o papel do professor nunca mais será o mesmo:

“O menino que navegou a noite na internet chega na aula, de manhã, sabendo de coisas que o professor desconhece [e ai, por medo, proibimos computadores e celulares na sala de aula]. O ator principal não é mais o professor. São o professor, o aluno e a mídia. Ele não é mais dono do saber nem da informação.”

E continua

“Ele tem de estar ciente que não sabe a ‘última’ coisa. O que ele aprendeu na universidade valeu até aquele dia e dai tem de aprender de novo. E tem que entender que o aluno pode estar fazendo coisas que ele não domina.”

Acredito que os professores são capazes de dar muitas razões para justificar a presença deles em sala de aula com o aluno. Mas, do ponto de vista do aluno, poucas dessas razões se sustentam. Ao contrário. Vejam o comentário dessa aluna em uma rede social:

“Eu hoje me dei conta que os cursos online estão me deixando mal acostumada. Porque eu não preciso atravessar meia cidade para estar em uma sala de aula as 8 da manhã, para esperar no corredor abafado, em pé, por 40 minutos, um professor atrasado. E que ainda se permite ficar falando superficialidades para passar o tempo.”
Um bom aluno, hoje, é assim. O blá-blá-blá não convence mais ele. Afinal, o Coursera está ai, e ele pode ter uma aula melhor do que a sua, online, com um professor de Stanford. Mas ainda temos muitos outros alunos, não tão bons, que vão ficar na sua sala de aula mesmo com o seu blá-blá-blá. Mas vão dormir, vão chegar atrasados, vão sair antes. Mas o mais importante é: não vão aprender nada!

“O professor que ‘prefere’ não usar um computador, é como um médico que ‘prefere’ não usar uma tomografia computadorizada” Disse ainda Buarque. Você aceitaria que um médico fizesse um diagnóstico do seu filho sem usar a melhor tecnologia disponível para isso? Então porque aceitar que uma  probabilidade menor de melhor formar um aluno?

Salma Khan, que está revolucionando o ensino com seus vídeos educativos super simples disse:

“Meu vídeotape tem duas vantagens sob mim ao vivo: A primeira é que os alunos podem parar e voltar quantas vezes quiserem. Podem assistir novamente quantas vezes quiserem. Podem assistir no momento que querem/precisam. E a segunda, é que não são interrompidos [oprimidos?] figura do professor perguntando ‘Entenderam? Preciso explicar de novo?'”

Para mim, o professor não está pronto para abrir mão do poder que tem em sala de aula e muito menos para dar (parte desse poder) mais autonomia ao aluno. E depois ninguém sabe porque nossos alunos de pós-graduação e recém contratados nas empresas são incapazes de tomar uma unica decisão.

Vejam bem, esse texto não é um choramingo. Não é dor de cotovelo. Eu sou um excelente professor. Sou comunicativo, consigo estabelecer vinculo com os alunos, tenho um bom tom de voz e algum carísma, sei do que estou falando… Feliz de quem tiver aula comigo. Ou com um dos muitos outros professores excelentes que existem por ai. Mas… e os outros? Que outros?! Primeiro os outros alunos que estão na universidade mas tem que ter aula com um professor ruim; e depois os outros 86% dos jovens brasileiros entre 19 e 24 anos que estão fora do ensino universitário no Brasil.

Um professor competente sempre poderá fazer a diferença, mas cada vez mais para um número menor de alunos. E vamos fazer o que? Vamos esperar que construam novas universidades para mudarmos esse quadro (que não mudou nos últimos 20 anos em que eu estou na universidade) e perder mais uma (varias) geração(ões) até isso acontecer? Ou vamos fazer alguma coisa agora?

Vamos fazer vídeos que ensinem os alunos o conteúdo base para que eles possam dicernir depois o que encontrarem no Google (e artigos científicos porcarias que estão por ai), vamos colocar nossos cursos em plataformas online que possam permitir teste por quizzes em massa, vamos deixar os alunos criarem seus próprios videos e exercícios para exercitar suas habilidades comunicativas, ajudarem a treinar a si próprios e seus colegas (minimizando a hierarquia em sala de aula)?

Bom, eu vou.

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Aprendendo critério com os próprios erros

O grande orador romano Horacio Flacco dizia que “um escritor tinha que trabalhar 10h por dia: 2h escrevendo e 8h reescrevendo.”

O que funciona e o que não

Tenho muitas outras citações de muitos outros escritores famosos que sugerem a mesma coisa:

“Escrever é sobretudo corrigir e reescrever” (Antônio Lobo Antunes, Portugal)

“Eu uso a metáfora da escultura para explicar a necessidade de mover e remover e destruir partes da pedra para exibir a forma. Você realmente escreve por subtração. E meu trabalho não é tanto escrever, mas sim apagar. Eu costumo a dizer que qualquer um pode escrever. É fácil escrever. A arte está no apagar e não no escrever. E algumas vezes eu acho que apago mais do que escrevo.” (Amoz Oz, Israel)

Bom, você deve estar se perguntando, e daí?

Me permita usar uma outra citação tentar explicar.

No livro ‘O Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas’ de de Robert Pirsig, o personagem principal, um professor de redação, debate com seus alunos a dificuldade que tem em escrever.

“As escolas nos ensinam a imitar. Se a gente não imita o que o professor quer, ganha nota baixa. Na faculdade o processo é mais sofisticado; é necessário imitar o professor de modo a convencê-lo de que não se está fazendo imitação, mas sim assimilando a essência dos conhecimentos transmitidos e aplicando-os na elaboração de pensamentos individuais. Assim, ganha-se o conceito ‘A’. A originalidade, por outro lado, pode garantir qualquer nota, desde A até F. […] Espera-se que [os alunos] leiam artigos ou contos, que se debatam como o escritor fez determinadas ‘coisinhas’ para obter certos ‘efeitozinhos’, e, depois, que os alunos escrevam um artigo ou conto parecido, para ver se conseguem fazer aquelas mesmas ‘coisinhas’.”

Só que não funcionava.

“Grafia, pontuação, gramática… É impossível lembrar essas bobagens todas e ao mesmo tempo concentrar-se no tema sobre o qual se está tentando escrever.”

O professor teve então um momento de epifânia

“A regra [que os escritores famosos usam para escrever] era descoberta no texto depois do texto pronto. Era uma regra post hoc. Todos os escritores que os alunos eram estimulados a imitar escreviam sem a ajuda de ‘regras’, colocando no papel o que lhes parecesse correto; depois é que voltavam para ver se aquilo ainda lhes parecia bom, e corrigiam o que não agradava.”

Essa passagem é fundamental não só na vida de um escritor, mas na vida de qualquer pessoa! O que faz a diferença não e apenas saber a regra. É, principalmente, saber aplicar a regra. E para ser criativo, você não precisa criar com a regra, precisa saber aplicar a regra a sua criação. Precisa saber avaliar, ratificar e retificar. Corrigir, melhorar e evoluir. Basicamente, ser criativo dá um trabalhão!

Não foi a primeira vez que eu tinha ouvido isso. A Sonia Rodrigues defende a mesma ideia quando diz que “ninguém escreve com o dicionário aberto, senão não escreve”.

Olhem esse depoimento do escrito americano David Sedaris, dado na FLIP de 2008: “O primeiro rascunho de um romance é sempre excitante. Mas depois… vira… matemática. Ah, acabo de descobrir que usei a mesma palavra, duas vezes na mesma frase… e ai vem… como faço pra não usar essa palavra duas vezes… e não parecer um amador… e pegar o ritmo das frases… então eu me divirto no primeiro rascunho, e ai tenho uma vida miserável durante o 2o, 3o, 4o, 5o, 6o… e lá pelo 7o… começo a me divertir de novo.” .

Tá, então a aplicação da regra, a posteriori é importante, porque ele pode aplicar a regra e aplicar e aplicar até… até que se dê por satisfeito. Até que o texto esteja de acordo com o seu padrão de qualidade. O que ele só poderá fazer se tiver estabelecido um critério. Se tiver, criado um.

Uma vez perguntei na FLIP a um grupo de jovens autores como eles sabiam que um texto estava bom: “não tem critéiro, eu lei, e corrijo, leio e corrijo, leio e corrijo até achar que está bom”. Bem, ele pode não saber enunciar o critério, mas que ele existe, isso existe! E é um pouco isso que o nosso método tenta incutir nos nossos alunos: critério.

Abre parênteses: Já escrevi um texto sobre a importância, até, de esperar um tempo entre escrever e reescrever. Mas é importante que esteja escrito! Não dá pra avaliar mentalmente o que você quer escrever, pra escrever já da maneira correta. Quem escreve assim… bem, não escreve. “Não posso avaliar o que está na sua cabeça. Só posso avaliar o que você colocou no papel” eu digo pros meus alunos. Nem eu, nem eles próprios. Fecha parênteses.

Conforme ele tenta mais e mais vezes, vai descobrindo qual é o limite que define a qualidade e a quantidade de esforço para alcançá-la. E nesse momento, o professor fez o que Luli Radfaher diz que é o trabalho do professor em um mundo saturado de informação: Ensinou (deixou seus alunos aprenderem) a desenvolver critério!

Tá, mas do que exatamente eu estou falando? O que é que os alunos vão escrever e reescrever? É um ensaio? Um estudo dirigido? Uma resposta de prova? Não… seria praticamente impossível obrigar um aluno a escrever várias vezes uma coisa que servisse apenas para eles próprios (uma resposta de qualquer coisa). Por isso, eles tem que ‘preparar a prova’! Bom, não exatamente uma prova, mas exercícios de multipla escolha, que testem o conhecimento de conceitos e relações entre conceitos.

Os exercícios são criados com auxílio do formulário da plataforma que controla o curso, o MOODLE, e tem que seguir algumas premissas básicas: todos os enunciados tem que explicitar um conceito claramente e as opções tem que testar relações com esses conceitos. E todas as opções, mesmo as corretas, tem que apresentar um gabarito assertivo, que explique a opção. É uma maneira excelente de ensinar, mas é uma maneira melhor ainda de aprender!

Parece difícil?! Trabalhoso, talvez. Como se faz isso? Garanto que não é de primeira. Pro exercício ficar bacana, você tem que escolher bem as palavras, tem que estudar os conceitos, etc. Se você vai ‘responder’ uma pergunta, pode acertar no chute. Mas se tem que preparar uma… não tem como chutar. Você VAI TER QUE aprender!

Recortes de "Uma palavra depois da outra – o processo da escrita"

DVD 10 anos da FLIP

“Quando eu dou aula, e dou aula frequentemente, digo aos meus alunos: – ‘Vocês tem que escrever todos os dias e escrever pelo menos duas horas por dia.’ Eu espero que eles nunca me perguntem, porque eu não consigo fazer isso. Eu entro em comas e passo meses sem escrever, e depois eu explodo e escrevo por 10h, 12h por dia. Mas isso não muda nada, se vocês quiserem ser escritores, tem que escrever todos os dias, 2h por dia” Dennis Lahane, EUA (2007).

“Eu devo dizer que, na parte que me toca, e quanto a estrutura propriamente dita, eu vou deixando que as coisas aconteçam. E quando digo isso, não faço nenhum apelo a espontaneidade. Quando digo que não faço estruturação prévia, não quer dizer que ela não seja feita. Ela é feita a um nível subliminar, mas que já implicou muito esforço. É como se da realidade que é captada envolta, das vivências, captadas também, minhas e dos outros, é como se houvesse uma decantação e tudo isso fosse parar a um laboratório oculto, interior, onde passa por retortas e crisóis, até ser transfigurado e refeito, aparecer de novo, eventualmente, em certa madrugada, já elaborado, essa elaboração não é por intervenção divina, tem a ver com muitas leituras e talvez, isto pode ser uma peculiaridade do escritor com algum poder de captação, ou roubo, de palavras, de textos, de imagens.” Mario de Carvalho, Portugal (2006).

“Na maior parte das vezes, a inspiração chega quando você  acaba de trabalhar. e então pensa, ‘ah… tenho aqui ainda está coisa… mas não vale a pena escrever agora… eu vou me lembrar amanhã…’ e ai você esqueceu. Como aquelas vezes em a gente está naquele estado crepuscular, entre o dormir e o acordar está meio dormindo. que de repente tem a sensação que compreendeu o mundo e compreendeu o segredo da vida e do mundo. Mas tem consciência que está dormindo e que quer acordar. e a medida que vai caminhando para a superfície vai perdendo tudo e quando chega cá acima, já não tem nada e então, o que eu pensava era, como é que eu posso conseguir um estado parecido com esse, de maneira as coisas fluírem mais facilmente e então percebi  que através do cansaço acontecia isso. As 2h-3h primeiras horas são perdidas, porque os seus mecanismos lógicos e a sua polícia política interior ainda estão funcionando.” Antônio Lobo Antunes, Portugal (2009).

“Eu lanço as minhas mãos na maquina, com a ambição que elas escrevam sozinhas. Eu procuro estar ausente dali. De preferência tomo dois whisks, ou não tomo, mas tento estar ausente dali, tentando me aproximar da escrita inconsciente. Depois eu pego aquele material e tento relacionar com tudo aquilo que eu sei.” Domingos de Oliveira, Brasil (2009).

“Eu uso a metáfora da escultura para indicar a necessidade de remover, mover e distruir parte da pedra para exibir a forma. Você realmente escreve por remoção. E o meu trabalho é o de apagar e não de escrever. Eu costumo dizer que qualquer um pode escrever. Que escrever é fácil. A arte está em apagar o que foi escrito”. Amós Oz, Israel (2007).

“O primeiro rascunho de um romance é sempre excitante. Mas depois… vira… matemática. Ah, acabo de descobrir que usei a mesma palavra, duas vezes na mesma frase… e ai vem… como faço pra não usar essa palavra duas vezes… e não parecer um amador… e pegar o ritmo das frases… então eu me divirto no primeiro rascunho, e ai tenho uma vida miserável durante o 2o, 3o, 4o, 5o, 6o… e lá pelo 7o… começo a me divertir de novo.” David Sedaris, EUA (2008).

“Você se lembra aquele poema que Cabral fez sobre Graciliano Ramos, aquela primeira quadra, eu acho que todo aspirante a escritor deveria ler, deveria ter essa quadra bem em frente. Que é mais ou menos assim. Escrevo somente com o que escrevo, com as mesmas 20 palavras, que giram ao redor do sol, que as limpam do que não é faca. Então você tem que começar a aprender a tirar tudo que não é gordura. porque há palavras que existem para não serem usadas. Advérbios, advérbios de modo… horríveis, né?! adjetivos. O Cortaz já dizia: os adjetivos, essas putas! E tentar escrever cada vez mais no osso e tirar tudo aquilo que não é faca, como diz o Cabral”. Antônio Lobo Antunes, Portugal (2009).

“Nem todos são capazes de escrever. De contar uma história. Alguns são capazes de fazer isso oralmente e uns outros poucos por escrito.” James Salter, EUA (2009).
“O meu trabalho como poeta é sempre uma descoberta. Eu, naturalmente, adquiri alguma habilidade, pela fato de muito escrever” Ferreira Goulart, Brasil (2006)
“Todos são capazes de contar uma história. E se você pedir a qualquer pessoa em uma sala que se levante e conte uma história da sua vida, ele provavelmente fará você arrepiar seus cabelos! Contar histórias é uma função humana natural, assim como o desejo de falar é uma função humana natural. É claro que que toma tempo organizar todas as palavras na página na ordem correta e todas essas coisas. E é claro que você tem que fazer isso. Mas pra que exagerar a dificuldade em fazer isso?! É uma função natural e espontânea, como falar, cantar, comer.” Hanfi Kureishi, Inglaterra (2003).
“É muito bom chegar num momento em que a gente conhece o ofício da gente. que a gente sabe o que a gente faz. É chegar na prancheta e não ter medo do tema, do que te encomendaram.” Angeli, Brasil (2004).

O Mapa da Mina

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Eu descobri o CMAPs quase por acaso. Nesse mundo saturado de informação, a gente tem que dar um pouco de sorte de estar no lugar certo, na hora certa, quando alguém fala alguma coisa nova e interessante que você ainda não sabe.

No meu caso isso foi uma reunião no MEC sobre O MOODLE, há muitos anos, quando uma professora da Federal de Santa Catarina, Roseli Zen, falou dos mapas conceituais e do CMAP. Além de tudo, Rose é uma simpatia.

Um tempo depois, coordenando um curso de formação de professores a distância, foi a vez de entrar em contato com outra rosa, Rosita Edler, psicóloga que sabe tudo de educação e me ensinou tanta coisa. Ela e suas meninas escreveram um capítulo espetacular (Como eles aprendem, como podemos ensinar) no livro que lançaremos (algum dia) sobre EAD, falando de mapas conceituais.

A beleza dos mapas é, como quase sempre, sua simplicidade. Conceitos são organizados hierarquicamente e interconectados por ações e relações. Simples, não é? O problema está em identificar corretamente o que é um conceito, para poder identificar quais conceitos você quer utilizar e depois quais são as relações entre eles. É ai que nós, professores experientes, descobrimos que, na verdade, fazemos uma aula centrada em nós, em como nós aprendemos, e não no contéudo e na melhor forma de passar ele para os alunos.

Tem muita, muita, muita literatura sobre mapas conceituais. Mas eu ainda não encontrei um conjunto tão bom quanto o disponível no site do Institute for Human and Machine Cognition que tem um artigo espetacular sobre o que são mapas conceituais e um software também incrível para criá-los. É esse o kit básico que todo aluno que quer trabalhar comigo em atividades didáticas deve acessar e ler.

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Mapas conceituais são uma tremenda ferramenta para dar mais consistência a qualquer disciplina que você queira ensinar. E como tudo, para que fique bom, precisa de energia. Dá trabalho. Mas o tesouro nunca tá na superfície, tem que escavar. Só é mais fácil com o mapa.

Projeto eBook de Biofísica

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Ninguém aprende nada, muito menos pensamento crítico, sem conteúdo. Pensamento crítico pode ser o mais importante, mas primeiro, tem que vir conteúdo. Sim, temos a internet, mas precisamos de conteúdo de confiança, porque nossos alunos ainda não tem o critério aperfeiçoado para definir o que é e o que não é bom na internet.
Sim, temos livros e mais livros, mas eles tem um problema… os alunos acham os livros didáticos chatos. E sou obrigado a concordar com eles.
O projeto do eBook de Biofísica é uma iniciativa inovadora, que pretende montar um material didático multimídia para ser usado (não somente) no curso de Biofísica para Biologia da UFRJ.
A idéia é disponibilizar o conteúdo da disciplina em vídeos de curta duração, que serão organizados em um eBook multimidia que será distribuído gratuitamente para os alunos, permitindo que as ‘aulas’ sejam assistidas online e o tempo em sala de aula seja melhor aproveitado para discussões e resolução de problemas. Se tiver interesse e conhecer mais essa estratégia, assista o video do Salman Khan da Khan Accademy no TED.
Sim, o Khan é sensacional, mas nós vamos fazer melhor ainda. Vamos começar com os 18 temas de aulas do programa de Biofísica (agora já são 21). Para cada aula, será construído um mapa conceitual. Mapas conceituais em si são uma estratégia pedagógica que mereceria um curso inteiro, mas como não temos todo esse tempo, sugiro ‘apenas’ estudar o conceito dos mapas em http://cmap.ihmc.us. Sim, o Institute for Human Machine Cognition também tem um software super legar para montar os mapas, mas não, não adianta instalar o software e sair usando: tem que estudar o conceito! E se você nem achar onde está o documento no site…
Vamos dar ainda uma guaribada no conceito dos mapas conceituais colocando um pouco mais de neurociência neles. Uns conceitos de memória de trabalho e memória de longo prazo. É complicado de explicar e por isso eu vou deixar para outro post, mas é simples de fazer.
Depois que os mapas estiverem prontos, teremos uma lista de ‘conceitos’ que deverão ser explicados em vídeos de no máximo 5 min.
Como eu sou um só, conto com uma trupe de alunos interessados em aprender mais sobre como dar aulas melhores e que preparam tudo: desde a concepção do mapa conceitual até o roteiro para esses videos, incluindo o material para os slides (imagens livres de direitos autorais e esquemas), a explicação conceitual por escrito dos conceitos e os slides que serão depois incorporados nos vídeos. A partir daí o professor (90% das vezes eu, mas podemos ter alguns convidados) gravam as aulas.
Eu já dava essas aulas antes, no estilo ‘antigo’ e por isso já tem um belo caminho andado pra quem quiser trabalhar no projeto.
O resultado final que espero é parecido com isso:

Como vocês viram, o video é caseiro (ou, de laboratório) e a edição é amadora: o importante é o conteúdo!
Temos até verba da FAPERJ para remunerar os alunos que trabalham no projeto. Não, não é muito e não, não paga a trabalheira toda que vai dar. Por isso, você tem que acreditar que essa é uma oportunidade única de participar de um movimento realmente inovador para mudar o marasmo na sala de aula e aprender o que é necessário para que, em breve, quando vocês forem os professores, saberem o que fazer.
Você quer participar? Entra em contato com a gente!

Confesso que… aprendi.

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Como eu disse, há duas razões para trocarmos as provas por desafios (quizzes) de múltipla escolha. A segunda razão também é simples: Além de funcionar melhor, o quizz permite mais justiça na avaliação! Separar de verdade quem sabe de quem não sabe ou quem acertou por acaso.

A questão é simples de entender mas difícil de explicar (pelo menos para mim), já que envolve alguma estatística. É que apenas tentando muitas vezes, você vai conseguir escapar da sorte, de ter acertado ‘por acaso’, para saber se realmente aprendeu ou não.

O que eu vou falar agora é em grande parte baseado no que aprendi sobre A ‘lei dos grande números’ de Bernoulli (no livro ‘O andar do bebado’). Os estatísticos de plantão fiquem a vontade para me corrigir se eu estiver errado.

“Em certas situações de ignorância, nas quais as probabilidades dos diversos resultados poderiam ser inferinidas em princípio mas na prática eram desconhecidas, […] seria insano imaginar que poderíamos ter uma espécie de ‘conhecimento prévio’ ou a priori sobre as probabilidades. Deveríamos dicerní-las por meio da observação: dado que observamos um certo número de eventos, com que precisão podemos determinar as probabilidades subjascentes e com que nível de confiança?”

Essa é a forma como ele imaginou que o jovem Bernoulli teria imaginado um dos problemas que a teoria das probabilidades vigente (que tinha sido toda criada em torno de jogos de azar) não podia explicar. Outros estudiosos já haviam abordado essa questão anteriormente, e previsto que a precisão com que  probabilidades subjacentes refletiriam os resultados reais deveria aumentar com o número de observações, em função das freqüências mais observadas. Até ai, tudo bem, até eu. O que Bernoulli conseguiu fazer e que ninguém antes tinha feito, foi colocar tudo isso em um teorema. O teorema dos  grandes números de Bernoulli explica quantas observações são necessárias para que possamos estimar, com alta confiança, a probabilidade subjacente de um evento acontecer no futuro dado que aconteceu no passado.

É nesse método que se baseiam, por exemplo, as pesquisas de opinião para políticos. Dado que 60% da população prefere um candidato, qual o número de pessoas que deveríamos amostrar para estimar que o resultado da eleição (representará o conjunto real) que indicará a vitória desse candidato com 60% dos votos? De acordo com a primeira lei de Bernoulli, esse número é possível de ser calculado. E se nossa necessidade de segurança for baixa, digamos, permitirmos 5% de erro, esse número é até baixo (comparado com o tamanho de toda a população).

E foi ai que eu me toquei: é assim que poderíamos também avaliar nossos alunos! Na verdade, foi um pouco depois.

Modlinow ainda disse que, “na vida real, não costumamos observar o desempenho de alguém, ou de alguma coisa, ao longo de milhares de provas. Assim, enquanto Bernoulli exigia um padrão de certeza excessivamente estrito, nas situações da vida real, costumamos cometer o erro oposto: presumimos que uma amostra ou série de provas é representativa da situação subjacente, quando na verdade, a série é pequena demais para ser confiável.”

Isso se parece com alguma coisa que você conhece? Sim, justamente, com a avaliação através de provas bimestrais (ou prova final, ou qualquer variação dessas).

O problema é complicado e eu mesmo tenho que ler e reler sempre com muita atenção para, por um breve instante, compreender o que ele está dizendo (para dizer a verdade, só agora que estou escrevendo sobre isso, depois de ler várias vezes esse mesmo trecho, entendo um pouco mais).

O texto de Modlinow ajuda: “A concepção ou intuição equivocada de que uma amostra pequena reflete precisamente as probabilidades subjacentes é tão disseminada que Kahneman e Tversky lhe deram um nome: a lei dos pequenos números: um nome sarcástico para a tentativa de aplicar a lei dos grandes números a amostras pequenas.[…] Como em ações humanas nunca poderemos avaliar mais do que uns poucos eventos (ou anos) de sucesso ou fracasso de uma pessoa, jamais poderemos aplicar a lógica do teorema de Bernoulli, sob pena de incorrermos no erro dos pequenos números. Segundou Bernoulli, não deveríamos avaliar as ações humanos com base nos resultados”. É mais confiável julgarmos as pessoas analisando suas habilidades em vez de apenas o placar dos seus acertos e erros.”

A conclusão para mim é muito clara: jamais teremos tempo hábil para avaliar de maneira justa e eficiente a aprendizagem do aluno.

Pronto Mauro? É isso? Mais nada? Nenhuma proposta?

Na verdade tenho sim: não vamos mais avaliar o quanto o aluno aprendeu, mas vamos usar o que a neurociência tem mostrado que funciona: pequenos testes que ajudam o aluno a aprender enquanto estuda! A melhor coisa que podemos fazer é aumentar as oportunidades de auto-avaliação, ajudar o aluno a pensar sobre o conteúdo e desenvolver critério.

E quantas oportunidades temos que dar? Quantos exercícios temos que fazer?

Um monte! Quanto mais, melhor! Afinal, uns vão preferir um tipo de exercício, outros… outro.

Só que nao dá pra passar o dia todo preparando e corrigindo exercício não é? E ao mesmo tempo não dá pra deixar aluno sem resposta de exercício. Então nós TEMOS que passar para um método automatizado de correção. Que não tem problema nenhum!!!! Não é porque é multipla escolha e não discursivo, que é ruim. (aliás, é até bom que não seja, como você verá no próximo post). No final das contas, o discursivo não tem funcionado mesmo, porque nossos alunos estão tão ruim de conteúdo, e tão desacostumados com relatar e descrever coisas (e professores também), que, novamente, as provas discursivas são uma tortura para alunos e professores. Sem contar que, não se aprende NADA com a correção. E para ter um número grande de exercícios, precisaríamos ter uma equipe de assistentes. mas… nào temos, ai? E ai?! E porque não utilizar os próprios alunos?

Isso! O que era tarefa agora é estudo, e o que é a nova tarefa, é o que antes era estudar. É só transformar a concepção do exercício na tarefa. O principio é simples: ensinar é a atividade que mais te faz aprender! Transformar todos os alunos em professores é a melhor forma de fazê-los aprender! Cada um que viu o conteúdo, pode ter prestado atenção mais em uma coisa do que outra. Se interessado mais por uma coisa do que outra, ter ficado curioso mais sobre uma coisa do que outra. Isso leva cada um a preparar um exercício diferente. Mas na hora de testar o que aprendeu do vídeo, você tem uma ampla gama diversificada de exercícios para fazer. Só que pode voltar ao video, a aula, quantas vezes quiser. Pode tentar resolver o exercício também quantas vezes quiser. Seus pontos são acumulados de acordo com o seu desempenho, mas são tantos exercícios, tantas oportunidades de aprender, que qualquer nota ‘baixa’ é diluida. É uma grande saída!

 

De muitos para muitos

Na semana passada fizemos a mostra dos PACCE – Projetos Artísticos Científicos Culturais Educacionais dos alunos de Biofísica da UFRJ.

Um show de criatividade! Videos divertidíssimo, que atendiam a todos os critérios exigidos pelo professor: Eram originais (sem utilizar material de copyright), eram – uns mais outros menos – divertidos, eram digitais e ensinavam algum aspecto de biofísica.

Eu faria 5 destaques:
1 – Biosaga – O jogo da metástase – uma célula mutante caminha pelo corpo humano tentando disseminar o câncer, enquanto é combatida pelo sistema imune. Se quiser desenvolver a metástase, você tem que saber bioquímica e biofísica para obter energia e vencer os linfócitos e macrófagos. É simplesmente espetacular!

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2 – O telejornal – misturando realidade e fantasia, esses alunos criaram notícias que ajudam a entender o papel e a função de macromoléculas. Genial é pouco!

Vá direto para a ‘Rebelião na matriz mitocondrial (3′ 09″ – Espetácular!!!) e Trânsito no tilacóide (4′ 03″ – Espetácular!!!) Um Lelec lec lec pra terminar porque ninguém é de ferro (5’ 20″)!

3 – O Bonde da Biofísica com o Funk da contração muscular. Sem palavras… o despolarização não vai sair da sua cabeça.

Vá direto para o clip (1’18”). Despolarizaaaaaando… Despolarizaaaaaando… Imperdível!
4 – O samba de Newton. elegante, bem cantado, bem tocado e divertido. Uma graça

 
5 – o Metano e o aquecimento global. Surreal e divertidíssimo. A paródia do aquecimento global vai conquistar você. Fique até o final para ver o Harlem Shake da vaquinha.
 

Esses e os outros vídeos estão funpage da disciplina no Facebook.

O sucesso dos projetos me mostram duas coisas: primeiro que eles funcionam como modelo de engajamento, motivação e trabalho colaborativo. Segundo que é possível um ensino que seja mais produtivo e aproxime o erudito do popular, a universidade da sociedade. E que comece a apresentar para os nossos alunos, novos modelos de ensino, e para nossos professores também.

Na universidade, ainda estamos presos ao velho modelo do ‘pouco para muitos’. Antigamente, lá nos gregos, o ensino era de poucos para poucos. Os professores e tutores eram poucos e transmitiam oralmente seus ensinamentos para, no máximo, 3, 4 pupilos. Depois vieram as universidades, o quadro negro, e ampliamos a nossa capacidade de comunicação em uma ordem de grandeza: o ensino passou a ser então de poucos para muitos (ainda que, vamos lá, nem tantos assim, uns 40-50). A EAD e a internet nos possibilitaram aumentar em algumas ordens de grandeza esses valores, de 30-40 para 400, 4.000, 4.000.000. É isso que fazem hoje o Coursera com seus MOOCs (Massive Online Open Courses), o KHAN accademy (com vídeos também em português) e o Almanaque da Rede no Brasil.

Mas ainda assim é ensino de poucos para muitos, de um professor para muitos alunos. Os nossos PACCE são a verdadeira revolução porque estão fazendo ensino de muitos para muitos! Eu explico melhor.

Todo mundo tem alguma coisa a ensinar. Ou um novo modo de ensinar alguma coisa. E que é mais fácil pra alguém em especial aprender.

Todo professor sabe disso. Os melhores, mais ainda: é impossível uma aula, por melhor que seja, agradar a todo mundo. Isso porque, como todo mundo sabe, a aprendizagem é um processo individual e como a opinião, cada um tem o seu. Os bons professores, além de carisma e conteúdo, tem um repertório de modos de explicar a mesma coisa para quem não entendeu (ou de acordo com a turma que se encontra na sua frente). Mas por melhor qu ele seja, seu repertório não é infinito. Assim como não é infinito o tempo de aula. Então… o professor, sozinho, nunca vai poder dar o salto quantitativo necessário para incluir a massa de pessoas em busca de educação.

Mas com o PACCE aumentamos não só o alcance das aulas: aumentamos as oportunidades de aprendizagem! Assim, um aluno pode aprender com um vídeo meu, uma coisa; e com um vídeo de um aluno meu, outra (que possivelmente não aprendeu com o meu vídeo, por melhor que ele fosse).

Temos que disponibilizar mais conteúdo e fazer esse conteúdo chegar a mais pessoas. É um desafio gigante! Mas infelizmente não é suficiente. Isso por que algumas coisas são, simplesmente, difíceis demais para aprender só com uma explicação, ou de um só jeito. Momentos de aprendizagem, essa é a inclusão! Ops, a solução.

O mais inteligente de todos

Irmão mais velho

Quando eu era Chubby


Tenho duas irmãs lindas. O que seria de mim se eu não fosse o mais inteligente?

Não me entendam mal. Minhas irmãs não são ‘loiras burras’ (ainda que uma adore ser loira). A Adriana é uma bem sucedida empresaria de gastronomia na França e a Letícia, com talento incrível para lidar com animais (excluindo os da raça humana), é a melhor veterinária do mundo! E ainda são lindas. Sobrou pra mim então ser o mais inteligente. Bom, pelo menos é o que elas dizem.

Mas não são só elas. Desde 1874 a relação sobre a ordem de nascimento e a inteligência é investigada. Na época, o autor, F. Galton, havia encontrado mais primogênitos em posições de destaque na sociedade do que ele atribuiria ao acaso. Desde então foram vários artigos, muitos deles em revistas prestigiosas como a Science (o que de maneira alguma garante a veracidade do estudo, mas ajuda).

Bom, já posso ver a minha amiga Daniela Peres exaltada, contra-argumentando que milhares de outros fatores podem ter levado os primogênitos a serem mais bem sucedidos. Bom, ela também não é a única, e muitos cientistas argumentaram que o ‘efeito primogênito’ seria na verdade uma falácia, uma relação falsa causada por fatores de confundimento dentro de famílias grandes. Mas as evidências eram tantas, inclusive vindas de estudos com gêmeos, que outros pesquisadores ainda, resolveram examinar a questão da falácia. Eles (esses últimos) mostraram, em novos artigos, que artefatos diversos não poderiam produzir os resultados observados (nem mesmo classe social das famílias): existe realmente uma relação entre a ordem de nascimento e a inteligência em nível populacional.

Abre parênteses: Em nível populacional, aqui, significa que na sua família especificamente, você pode ser o mais novo, mais bonito e mais inteligente dos irmãos, mas isso não muda o fato de se pegarmos muitas, muitas, famílias, a maioria dos mais velhos será mais inteligente que os caçulas. Fecha Parênteses.

Mas que teoria biológica poderia explicar isso? Que ‘princípio’ poderia estar na base desse fenômeno?Alguns pesquisadores sugeriram a hipótese do ‘ataque dos anticorpos maternos’: um fenômeno não comprovado mais (pouco) plausível, já utilizado para explicar outros fenômenos interessantes mas sem muito sucesso.

Então o grupo de Kristensen e colaboradores, do artigo que cito abaixo, mostrou uma coisa interessantíssima: nas famílias onde o primogênito morreu, o segundo irmão tem o mesmo QI dos primogênitos de outras famílias! E em famílias onde o primeiro e o segundo irmão morreram, o terceiro irmão apresenta o mesmo QI dos primogênitos de outras famílias (verdade seja dita, com uma variância muito maior). O fator não é biológico: é ambiental. Ou melhor, é cultural. Ou melhor ainda, familiar!

Os primogênitos estão mais expostos a linguagem adulta que os caçulas. Eles também assumem a tarefa de responder perguntas e explicar coisas para os irmãos menores. Diversos estudos já mostraram que a preparação para ensinar alguma coisa, um tema, é a que leva a melhor compreensão daquele tema.

Os irmãos mais velhos não são ‘naturalmente’ mais inteligentes. Eles ficaram mais inteligentes porque eram professores de seus irmãos mais novos.

Irmão mais velho

Kristensen, P., & Bjerkedal, T. (2007). Explaining the Relation Between Birth Order and Intelligence Science, 316 (5832), 1717-1717 DOI: 10.1126/science.1141493

As melhores universidades do mundo!

Turma de 89/1 (Com alguns agregados) no Interbio de 1990 na Universidade Federal de São Carlos.

“O Brasil tem, hoje, as melhores universidades do mundo!”

Eu, Ricardo Prado e Alex Pinheiro ficamos um pouco atônitos com a declaração de Domenico De Masi. Tivemos o prazer de almoçar com o ilustre sociólogo italiano na sua mais recente passagem pelo Rio de Janeiro. Eu já tive o privilégio de assistir uma das suas disputadíssimas (e caríssimas) palestras e já li diversos dos seus livros, o que me fazia pensar que conhecia bem sua opinião sobre as coisas. Mas a declaração das universidades brasileiras me pegou desprevinido: Como as nossas sucateadas instituições de ensino poderiam ser as melhores do mundo? Eu não tenho ‘complexo de vira-lata’ – aquele sentimento de que tudo que vem de ‘fora’ (leia-se EUA e Europa) é melhor – não, mas vivo a realidade da universidade diariamente e não tinha como concordar com isso.

“É claro, vocês brasileiros não vêem isso por que olham para os ‘rankings’. Nos rankings, Stanford, Harvard, Berkeley… são as melhores. Mas são as ‘Stanfords, Harvards, Berkeleys’ que FAZEM os rankings. E é claro que de acordo com os critérios ‘deles’, eles serão os melhores.”

Fazia todo o sentido.

“A universidade brasileira tem alegria, tem sensualidade, tem beleza. Essas as características mais importantes para o sucesso na sociedade pós-industrial. Para ter criatividade e para inovar.” E completou:

“Se o número de relações sexuais que ocorrem em um dia fosse o critério para determinar a melhor universidade, a UFRJ seria a número 1 do mundo!”

Todos rimos. Lembrei do Butão e do FIB, o índice de ‘Felicidade Interna Bruta’. Domenico disse que passa pelo menos 4 dias por ano no pequeno país encravado nas cordilheiras do Himalaia e que chamou atenção do mundo ao trocar o parâmetro de avaliação da qualidade de vida da sua população do PIB para o FIB.

“O Butão é um lugar maravilhoso. Até mesmo as empresas agora adotam critérios de bem-estar para avaliar a sua produtividade.”

Eu já tinha pensado sobre o Butão e o FIB, mas não seriamente. Eu gosto da idéia de se rebelar contra os critérios estabelecidos pelas classes (ou países) dominantes para avaliar qualidade, mas tinha parado por ai. Por outro lado, eu já escrevi aqui como me parece impossível para um povo sem problemas sociais, como os Noruegueses, fazerem inovação. Mas não tinha conectado as duas idéias.

“Mas o Butão é muito pequeno. Só o Brasil está em posição de mudar o mundo: é grande, é rico em recursos naturais, é uma democracia, é politeista e não tem conflitos nem internos, nem com seus vizinhos. Que outro país no mundo tem isso?”

Lembrei da minha turma da faculdade. Fomos a todos os Interbios (a olimpíada das universidades de Biologia), ENEBs e EREBs (encontros nacionais e regionais de estudantes de biologia), congressos, seminários, reuniões. Organizamos competições de Voley de praia na Barra, mostra de talentos, campeonato de truco. Passamos Festas Juninas, Carnavais do Rio e de Salvador, Natal e Ano Novo juntos. A beleza (como vocês podem ver), a diversão e a sensualidade (medida por enormes quantidades de beijos na boca e relações sexuais que se estabeleceram) foram sempre as forças motivadoras de todos esses eventos. E TODAS as pessoas nessa foto, uma amostra diversificada e representativa da turma 89/1, estão hoje entre os profissionais mais criativos e bem sucedidos que eu conheço.

É, pensando bem, Domenico está certo: Eu estudei na melhor universidade do mundo!

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