"Foi… por medo… de avião…"

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Em ‘O brilho eterno de uma mente sem lembranças’, Clementine, depois de anos de relacionamento com Joel, resolve apagá-lo, literalmente, de sua memória. As angustias que um despertava no outro, vivendo juntos ou separados, eram insuportáveis e eles se submeteram a um tratamento experimental no cérebro para bloquear as memórias que tinham um do outro.
Dois artigos publicados esse mês nas prestigiosas revistas Nature e Science mostram que a ciência está cada vez mais perto de fazer com que Joel possa bloquear, senão a memória de Clementine, a reação de angustia a lembrança dela.
Eu já falei aqui sobre drogas que podem induzir a perda do medo, mas elas tem o ‘pequeno’ inconveniente de interferir com a síntese protéica no cérebro de humanos. Mas esses novos artigos demonstram uma abordagem não invasiva, ou seja, sem drogas, que pode se tornar revolucionaria e mania nos consultórios de psicanálise.
Aprender a ter medo pode ser importante adaptativamente. Um dos maiores especialistas do mundo em memória, o neurocientista Ivan Izquierdo, diz que de todas as nossas emoções, a única que realmente sabemos que é capaz de estimular a nossa memória é o medo. O medo também pode ser ensinado através do ‘reflexo incondicionado’ de Pavlov. É quando ratos tomam um choque depois de ouvir o som de um apito e aprendem a temer o apito. O medo é medido através de uma resposta involuntária e inata (que no caso dos ratos é ficar completamente imóvel).
A memória pode ser de diferentes tipos e no caso de uma memória do medo, vários tipos estão envolvidos: a memória declarativa (aquela que é ativada por palavras e outros símbolos), a emotiva e a inconsciente (que gera, por exemplo, a resposta motora ao medo). Elas estão localizadas em diferentes regiões do cérebro, mas são fixadas contemporâneamente em um processo único e definitivo chamado de consolidação. No entanto, novos resultados de experimentos com bloqueadores químicos tem mostrado que a memória é fixada, construída, de novo, todas as vezes que ela é acessada (toda vez que nos lembramos daquilo), em um processo chamado de reconsolidação.
O período de reconsolidação é relativamente curto (em ratos e humanos, de até 6h), mas durante esse período, a memória pode ser relaxada, flexibilizada, alterada, manipulada e outros -adas que você queira. Passado esse período, a memória é fixada e não pode mais ser modificada. Porém, se tiver sido modificada, o efeito, segundo o artigo da Nature, é bastante duradouro, sendo observados mesmo após 1 ano da reconsolidação.
A maior parte dos tratamentos contra ansiedade é baseada em um processo chamado de extinção: o contexto amedrontador é apresentado, mas sem o agente do medo. A teoria diz que depois de repetir esse processo muitas e muitas vezes, o medo desaparece. E desaparece mesmo. Só que na maioria dos casos, não para sempre, com grandes chances de retorno após o final do tratamento.
Segundo os autores, a extinção só é eficiente se conduzida durante o processo de reconsolidação. É importante acessar a memória amedrontadora, para que o novo processo de contextualização seja disparado. E só então podemos alterar a memória.
Estou com a sensação que falta um exemplo. Fiquei aqui pensando no que eu poderia usar que não fossem os quadrados azuis e verdes do experimento descrito no artigo, medindo como resposta ao medo a variação na condutividade elétrica da pele. E ai lembrei do Belchior e do medo de avião que fez com que ele pegasse na mão da menina, me dando assim os dois argumentos que eu precisava para construir um bom exemplo: o contexto amedrontador – avião; e a resposta inata ao medo – segurar na mão.
O medo de avião é mais que bom, é um ótimo exemplo. É um medo intuitivo forte, porque o medo de altura é inato e todos nós o dividimos; mas ao mesmo tempo irracional, porque todo mundo sabe que é o meio de transporte mais seguro que existe e as estatísticas mostram que a chance de você morrer em um acidente aéreo é de 1:1.600.000 (menor que a de morrer atingido por um raio), o que significa que você pode viajar de avião todos os dias durante 26.000 anos sem que nada lhe aconteça. E ainda assim, a gente tem medo!
Eu, por exemplo, não tinha medo de avião até que comecei a andar muito neles. Mas tudo começou mesmo quando assisti um programa que mostrava que é durante a decolagem e a aterrissagem que a maior parte dos pouquíssimos acidentes acontecem. Agora, todas as vezes que o avião decola, eu não chego a segurar na mão de quem está do lado, mas as minhas mãos suam frio, que é outro sinal inato de medo.
É um medo que eu controlo tranquilamente. Mas se o Belchior não, então minha sugestão é que ele fosse ao psicólogo pra tentar uma terapia de extinção, mostrando, por exemplo, filmes de várias e várias viagens de avião onde as pessoas partiram integras e chegaram integras aos seus destinos.
Mas o artigo diz que a terapia de extinção só funciona se houver antes uma exposição ao medo e uma recuperação da resposta a ele. Então, antes de começar a extinção, antes de começar a mostrar as viagens que são bem sucedidas, é preciso mostrar uma viagem mal sucedida. Só depois de ver um avião caindo, pegando na mão da psicóloga, a memória amedrontadora terá sido acessada, dando inicio ao período de reconsolidação. Só ai os filmes teriam efeito na flexibilização da memória do desastre que despertava a reação de segurar na mão dela. Da próxima vez que ele viajar com a menina, o gesto de pegar na mão será voluntário, e não uma resposta incondicionada.
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Já o artigo da Science diz que essa extinção não funciona para todo mundo, porque eles identificaram que pessoas que possuem uma mutação em uma única letra do DNA do gene BNDF, um fator de crescimento de células do cérebro mas que também está envolvido com comportamentos relacionados com ansiedade, não são suscetíveis a extinção. E estão fadados a viver sempre com medo de Joel ou de Clementine.
Schiller, D., Monfils, M., Raio, C., Johnson, D., LeDoux, J., & Phelps, E. (2009). Preventing the return of fear in humans using reconsolidation update mechanisms Nature, 463 (7277), 49-53 DOI: 10.1038/nature08637
Soliman F, Glatt CE, Bath KG, Levita L, Jones RM, Pattwell SS, Jing D, Tottenham N, Amso D, Somerville L, Voss HU, Glover G, Ballon DJ, Liston C, Teslovich T, Van Kempen T, Lee FS, & Casey BJ (2010). A Genetic Variant BDNF Polymorphism Alters Extinction Learning in Both Mouse and Human. Science (New York, N.Y.) PMID: 20075215

Sensibilidade e Especificidade

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O problema da gente tentar consertar um erro depois de errar muito, é que a gente tende a errar para o lado contrário. Sabe aquela coisa de pecar primeiro pela falta e depois pelo excesso?
Em estatística, a gente diz que existem dois tipos de erro: ‘Erro do tipo I’ e ‘Erro do tipo II’, que são nomes terríveis, porque não ajudam em nada a gente a saber o que é um e o outro, demonstram uma total falta de criatividade dos estatísticos e tiram a curiosidade das pessoas para essa informação super importante.
Um nome muito melhor para o ‘Erro do tipo I’ é ‘falso alarme’ ou ‘falso positivo’. Esse tipo de erro acontece quando alguma coisa que você disse que era verdadeira, no final das contas se mostrou falsa. Eu sei que vocês não gostam de exemplos se estatísticos, aquelas coisas com ‘lançamentos de dados’ e ‘retirada de bolas de uma urna’, então vou tentar uma coisa mais na linha da fofoca.
O primeiro passo é fazer uma pergunta: “Será que ela(e) me ama?”
Ai você tem que recolher as evidências que podem te ajudar na resposta: o que ela(e) disse aqui, o que ela(e) fez ali, o que ela(e) falou lá. Junta, eventualmente, com algumas coisas que os outros dizem por ai, etc.
Depois você coloca tudo em um modelo e chega a uma conclusão: “Sim, ela(e) me ama”.
Um teste de hipótese até calcula a probabilidade da sua conclusão ser um falso alarme. (que nesse caso, significaria que tudo que ela(e) disse e fez foram na verdade obra do acaso e não do amor). E se a chance de ser um falso alarme for inferior a 5%, você toma a sua conclusão como certa (mesmo que na verdade a certeza seja de 95%).
Mas 95% é muito bom, não é?! É quase certo, não é?! Com 95% de certeza eu até vou pra debaixo da janela da pessoa fazer serenata de amor. Os 5% de chance de quebrar a cara estão lá, mas é melhor a gente se arrepender do que fez, do que daquilo que não fez, certo? Bem, pra fins didáticos, vamos dizer que sim.
Noventa e cinco por cento de chance de estar certo deve ser muito bom, porque se tornou um valor sagrado para os cientistas. Se a sua probabilidade p de estar errado é de 0,05 (que é igual a 95% de chance de estar certo) então sua hipótese será aceita, seus dados serão publicados, sua tese será aprovada. Caso contrário, se for 0,06; 0,1 ou qualquer outro valor maior que 0,05; então você é um pobre coitado.
Esse valor não depende dos dados. Esses sempre são o que são. Se você coletou bem, são bons dados (senão, você também é um pobre coitado). Também não é uma questão de interpretação dos dados. Diferentes interpretações podem levar a diferentes conclusões, mas a chance de estar certo ou errado é a mesma.
A questão está no quanto você se permite errar. Vejamos um outro exemplo: Se você souber que a chance de chover é 5%, você sai de casa com guarda-chuva? Bom, eu não. Só 5% de chance não é suficiente para me deixar carregando aquele trambolho pra lá e pra cá o dia todo. Mas para isso, e ai está a questão, você tem que aceitar que pode se molhar em 5% das vezes que sair de casa.
É verdade, nem todo mundo aceita. Tem gente que fica bravo com a chuva e amaldiçoa as gotas de água. Mas quem está na chuva deveria estar preparado pra se molhar, não é?!
Por outro lado, tem gente que sairia de casa sem o guarda-chuva mesmo se a chance de se molhar fosse 6, 7 ou até 10%. Ou até mais. Afinal, como disse Richard Gordon, ‘Cientificamente, embora seja deprimente, não passamos de sacos à prova d’água cheios de produtos químicos e carregados de eletricidade’. No nosso dia-a-dia podemos, e temos que, tomar decisões com percentuais menores do que 95% de certeza, mas os cientistas tem mesmo que manter esse alto padrão de qualidade.
Precisa porque o falso positivo é um problema duplo: você não só aceitou como verdadeira uma coisa que era falsa, como não descobriu a coisa verdadeira!
E é por isso que, em geral, não nos importamos muito com o ‘Erro do tipo II’, que é o falso negativo. Ele significa apenas que ‘perdemos uma boa oportunidade de descobrir a verdade’. Se ela(e) acha que você não a(o) ama, quando na verdade você ama, pode dar uma tremenda ‘dor de cabeça’, mas eventualmente novas evidências aparecerão para esclarecer a verdade. E essa é outra razão para nos importarmos menos com o falso negativo. A chance de cometer um erro do tipo II diminui muito com o acumulo de evidências a por isso, em geral, conseguimos evitar ele com o bom senso. Se você se baseia em apenas um bilhete que ela(e) te escreveu pra concluir ela(e) te ama, pode até ser o mais bonito poema já escrito, mas você nunca vai conseguir ter 95% de certeza que ela(e) te ama só com isso. Então, naturalmente, você busca mais argumentos para chegar a sua conclusão.
Erros do tipo I são erros de falta de especificidade: Um(a) te ama, o(a) outro(a) não, mas você não consegue ver a diferença. O erro do tipo II é um erro de falta de sensibilidade: ele(a) pode te amar, mas você não consegue saber com certeza. Se você corrige a sua falta de sensibilidade deveria, automaticamente, melhorar a sua falta de especificidade (ainda que não na mesma proporção). Na pratica, infelizmente, nem sempre funciona assim, porque a coerência, que é um pressuposto estatístico, não é uma qualidade humana inata.
Outra razão pode ser o ‘Erro do tipo III’ (descoberto depois dos dois primeiros) que é: ‘Você fez a pergunta errada!’

A evolução da moda – parte II: As mulheres também

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(Esse post é uma continuação. Talvez você queria começar lendo a primeira parte)
Uma vez estava assistindo TV quando aparece a ex-modelo e ex-policial Marinara na telinha. Eu estava falando com uma amiga no telefone e comentei dos dotes ‘loiraça Beuzebu’ do Fausto Fawcett, o que levou ela a sintonizar mesmo no programa, ao que se seguiu o seguinte comentário: ‘Mas você viu esse cabelo dela? Não se usa essa franjinha desde os anos 80!’ Eu franja tinha passado desapercebida enquanto eu estava concentrado na relação C/Q.
Acho que foi nesse momento preciso que eu entendi que a moda era muito diferente para homens e mulheres.
Para ser justo, eu deveria começar perguntando também o que as mulheres querem, mas a resposta certamente escaparia das minhas mãos. Então, sem perguntar, vou começar respondendo que as mulheres também avaliam a beleza masculina com base na trindade rosto-torso-idade. Só que, consistentemente, as mulheres consideram esses fatores menos importantes do que a personalidade e o status (ou hierarquia) social.

Os homens colocam as características físicas acima da personalidade e do status ao avaliar as mulheres; as mulheres, não.

A única exceção parece ser a altura. Em todo o mundo, as mulheres consideram homens altos mais atraentes do que homens baixos. Estima-se que menos de 1% dos casais humanos sejam formados por homens menores que as suas mulheres! Como conseqüência (ou talvez causa) calcula-se que cada 2 cm a mais de altura valem 6.000 dólares a mais no salário anual de um homem na América do Norte.
As mulheres também trazem essa preferência no hardware (a metáfora que estou usando para identificar um comportamento selecionado geneticamente). E novamente, tem a ver com a nossa sociedade monogâmica.
Nela, freqüentemente uma mulher escolhe o seu parceiro muito antes que ele tenha possibilidade de se transformar em um “chefe”. Mas ela tem de saber avaliar esse potencial futuro, e para isso, as ‘realizações passadas’ pouco contam. Os bons indicadores que ela deve procurar são traços de personalidade como equilíbrio, segurança, otimismo, perseverança, coragem, decisão, inteligência, ambição – estas são algumas das características que fazem com que os homens cheguem ao topo da carreira nas suas profissões. E não por acaso, estas são as características que as mulheres acham atrativas em um homem: os indícios do seu futuro status.
Essas preferências são confirmadas por estudos com o de Buss, que analisou 37 sociedades modernas, ou o de Low com duzentas sociedades tribais, e em todas elas a ‘beleza’ de um homem dependia mais das suas habilidades e bravura do que da sua aparência. Definitivamente, a linguagem corporal é importante para que um homem seja considerado sexy. Mas enquanto ela fala da sua personalidade, os ‘símbolos’ é que falam do seu status.
Para alguns pesquisadores esses símbolos sempre estiveram presentes na roupa e os ornamentos masculinos e atualmente, um terno Armani, um relógio Rolex e uma BMW são indícios de hierarquia gritantes, como eram antigamente as listras da patente de um general ou o cocar de um chefe Yanomami.
Mas peraê?! Eu não disse que as mulheres eram programadas geneticamente para buscarem personalidade e status? Como é que agora eu digo que as mulheres estão buscando a triade Armani-rolex-BMW, que existe há apenas uma geração humana, para avaliar os homens?
É que o que é selecionado geneticamente não é o símbolo em si, mas sim a ‘busca pelo símbolo de status’, qualquer que ele seja naquela época e lugar. As mulheres modernas possuem um mecanismo mental, evoluído durante o período Pleistoceno, que permite a elas perceber o que se correlaciona com status, entre os homens, e achar esses símbolos impressionantes.
E ai? Percebeu alguma coisa? Acendeu algum neurônio?
Alguma coisa que mude de acordo com a época e o lugar é quase uma definição precisa de MODA! A moda não é importante para aprimorar beleza, é importante para identificar símbolos de status!
Mas isso não sou eu que estou dizendo e nem é novidade. Vários estudos de historiadores da arte mostram que a Moda, até recentemente, estava amarrada à competição entre as classes: primeiro a simulação da aristocracia pela burguesia e depois das classes médias pelo proletariado.
Chegamos então a um paradoxo. Os evolucionistas e historiadores de arte concordam que a moda é uma questão de status. As mulheres procuram nos homens indícios de status, que mudam com moda, e os homens procuram nas mulheres indícios de fertilidade, que não mudam.
Biologicamente, os homens deveriam se importar menos com o que as mulheres vestem, desde que a sua pele seja lisa, elas sejam esbeltas, jovens, saudáveis e, preferencialmente, solteiras. Já as mulheres deveriam se importar extremamente com o que os homens vestem, porque isso lhes diz muito sobre a sua história, sua riqueza, seu status social e mesmo sobre suas ambições.
Mas então porque as mulheres seguem avidamente a moda para roupas e acessórios enquanto os homens se importam bem menos (muito, muito menos) com elas?
Angie Dickinson disse: “Eu me visto para as mulheres e me dispo para os homens”. É uma tremenda frase de efeito, mas não a luz da evolução.
Essa é uma questão que atualmente a ciência não consegue responder. O que parece é que a nossa moda, hoje, é uma aberração que surgiu alguns 200 anos atrás, porque durante o período regencial na Inglaterra, o reinado de Luis XIV na França, na idade media cristã européia, na Grécia antiga, ou mesmo entre Yanomamis modernos, os homens seguiam a moda tanto ou mais que as mulheres, vestindo cores brilhantes, roupas esvoaçantes, jóias e ornamentos luxuosos, lindos uniformes e armaduras decorados até com brilhos. O que podemos dizer com certeza é que estar ‘na moda’ é certamente um símbolo do status entre mulheres e por isso “qualquer pequeno detalhe que sinalize a habilidade de seguir as tendências da moda” é um sinal de status de uma mulher, que pode significar a sua posição hierárquica ou a riqueza do seu marido.
Falta esclarecer a razão, mas o erro esta claro: cada sexo age de acordo com seus instintos, na convicção que o outro sexo tem as mesmas preferências. As mulheres se importam mais com a roupa e os homens se importam menos, mas em vez de tentar influenciar o sexo oposto com seus interesses, eles tentam influenciar o próprio sexo.
Um experimento interessante foi feito na universidade de Pensilvânia. Os cientistas apresentavam para os sujeitos, homens ou mulheres, desenhos simples de figuras masculinas e femininas, e pediam que eles indicassem, nas figuras do seu próprio sexo, qual aquela que eles acreditavam que se assemelhava a sua forma física atual, sua forma física ideal e a forma física que eles consideravam mais atraente para o sexo oposto. E nas figures do sexo oposto, pediam que indicassem qual a forma física que consideravam mais atraente. Em geral, os sujeitos conseguiam identificar corretamente a sua própria forma física mas enquanto os homens colocavam a sua forma física ideal muito próxima da sua forma física atual (mostrando que os homens estão satisfeitos com o seu corpo), as mulheres escolhiam sempre figuras mais magras como o seu ideal. Mas o que intrigou os pesquisadores foi o cruzamento dos resultados de ‘qual a forma física do sexo oposto eles achavam mais atraente’ com ‘qual forma física você acha que mais atrai no sexo oposto’: os resultados não bateram! Os homens acham que as mulheres preferem caras mais fortes do que elas realmente preferem, e as mulheres acham que os homens preferem mulheres mais magras do que eles realmente preferem.

A moda ainda cria um outro paradoxo, que é o da uniformização da beleza. Evolutivamente, em uma espécie monogâmica, a beleza pode ser tudo, menos uniforme!
Charles Darwin já havia dito que “se todas nossas mulheres devessem se tornar tão bonitas quanto a Venus de Medici, nós acharíamos aquilo encantador por um momento; mas logo desejaríamos variedade; e assim que nós obtivéssemos a variedade, nós desejaríamos ver determinados caracteres nas nossas mulheres um pouco exagerados além do padrão comum existente.”
Bell disse que ‘É incrível que o hábito de se vestir de uma determinada maneira, que consiste em leis leis irracionais, arbitrárias e, freqüentemente, cruéis; impostas sem nenhuma sanção formal, sejam obedecidas com tamanha docilidade.’
No Brasil, onde a moda pega tanto e as leis tão pouco, é bem provável que o destino de mais estilistas seja o congresso nacional.
Para saber mais: Leia o capítulo 9 – “Os usos da beleza” do livro “A Rainha Vermelha: sexo e a evolução da natureza humana” de Matt Ridley.

A evolução da moda – parte I: Os homens são todos iguais

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Meu pai é completamente avesso a modismos. Se mais de 5 pessoas começarem a gostar de alguma coisa (que não seja o Vasco), ele logo arruma uma razão pra discordar. Se a gente estende um pouco o assunto, descobre que ele tem uma grande dificuldade para ‘entender’ a questão da moda. Só que nisso, ele não é o único: a maior parte dos homens tem dificuldade de entender o interesse da maior parte das mulheres com a moda.
A estação brasileira dos desfiles está terminando e com espaço que os desfiles, as modelos e os estilistas ganharam na mídia nessa Fashion Week, eu me pergunto se não teria espaço para um cientista também fazer algumas considerações sobre a moda (afinal, depois que ouvi a tal de Glória Coelho falar e não dizer nada sobre aquecimento global, eu estaria até perdoado se o que vou dizer não tiver interesse).
A primeira pergunta que precisa ser feita é: do que os homens gostam? (Fiz essa pergunta também porque ela é muito mais fácil de responder do que a outra: do que as mulheres gostam?)
Os homens não gostam de mulheres porque ‘aprenderam’ isso durante o seu desenvolvimento. Existe uma predisposição genética para os organismos com cromossomas sexuais XY gostarem de mulheres. Mais especificamente os genes SRY, SOX9, FGF9 e WNT4, já que são eles que controlam as doses de testosterona durante o desenvolvimento que fazem com o que o cérebro seja ‘masculino’ e, entre outras coisas, ‘goste de mulheres’.
Homens gostam de mulheres, ponto. Isso não é uma moda e não vai passar. O que eu quero dizer, é que existem coisas, comportamentos, que não são aprendidos, não são flexíveis e não poderiam variar com a moda.
Mas os homens gostam de qualquer mulher? Essa é uma pergunta um pouco mais complicada que a primeira, mas ainda assim mais fácil de responder do que a variante feminina da mesma.
Os machos da espécie humana são, na verdade, muito mais seletivos do que as mulheres da espécie humana podem imaginar. Certamente não tão seletivos quanto as mulheres, mas muito mais seletivos do os machos das espécies de primatas próximas a nossa. Um chimpanzé ficará interessado (e excitado) por uma fêmea seja ela feia ou bonita, alta ou baixa, gorda ou magra, nova ou velha, desde que ela esteja no cio. E, pensando bem, porque ele deveria desperdiçar uma oportunidade, qualquer que fosse, de reproduzir?
No caso dos homens esse ‘desperdício’ pode ser vantajoso. É que somos uma espécie muito particular em aspectos sociais. E uma dessas particularidades é a monogamia. A monogamia também não é aprendida, é algo que está no nosso hardware. Já veio de fábrica (eu sei que isso dá outros posts inteiros, mas peço que por favor guardem suas considerações para que possamos seguir adiante na questão da moda).

Abre parênteses:
para alguma coisa ‘entrar no hardware’, que significa se transformar em um comportamento determinado geneticamente, é necessário que durante milhões de anos, homens que não apresentavam essas características (esses comportamentos) e por ‘vontade’ ou ‘aprendizado’ escolheram mulheres fora desse padrão, deixaram menos filhos, que deixaram menos netos, que eventualmente desapareceram. Fecha parênteses.
E junto com a monogamia, foram selecionadas 3 características de gosto dos homens, sem as quais essa opção evolutiva (a monogamia) seria infrutífera. E por isso os homens gostam de mulheres bonitas de rosto, jovens, e com uma alta relação entre a cintura e os quadris.
Você, mulher, pode não gostar (e até conhecer vários exemplos contrários), mas o conjunto de evidências científicas apontando nessa direção é enorme. E não, vestidos novos ou velhos, azuis ou verdes, de seda ou de malha, estampados ou floridos, com ou sem brilho, combinando ou não com o sapato, não fazem parte da opção.
A beleza do rosto é um ótimo indicador não só de bons genes, como de uma boa nutrição durante a criação. Existem vários estudos (e eu não vou ficar citando tudo aqui porque essa não é uma revisão formal, mas você pode ler o capítulo que eu recomendo no final do texto) que mostram, por exemplo, o efeito de doses de testosterona ou estrogênio nos delineamentos do rosto (o que qualquer transsexual sabe). Don Symons diz que “A face é a parte mais densa de informação de todo corpo”.
A relação entre a cintura e os quadris (C/Q) mostra que não há um acúmulo de gordura que poderia ser prejudicial a saúde, ao mesmo tempo que sugere facilidade na hora do parto.
“Dentro do limite do razoável, um homem achará uma mulher de qualquer peso atraente desde que sua cintura seja mais fina do que seus quadris.”
Os estudos mostram que uma mulher cheinha, mas com uma alta C/Q é geralmente preferida à uma mulher magra mas C/Q baixa. Como a dieta em mulheres razoavelmente magras, como as modelos das passarelas, não tem nenhum efeito na relação C/Q (e quando muito piora ela, ao reduzir o quadril e não a cintura), elas estão condenadas a nunca se sentirem atraentes.
Finalmente, a juventude diz que aquela fêmea poderá reproduzir muitas vezes. Na verdade, muitos dos componentes da beleza feminina são indicadores da idade: ausência de marcas na pele, lábios cheios, olhos brilhantes, seios firmes, cintura estreita e pernas finas.
Abre parênteses: “Os homens (realmente) preferem as loiras”. As mulheres tingiam (ou descoloriam) em os cabelos de loiro desde a Roma antiga. O gene para cabelo loiro nas crianças é bastante comum na Europeus (e também entre os aborígines Australianos) e por isso, quando apareceu um mutação para que o cabelo loiro permanecesse até o início da idade adulta (não depois dos 20 anos de idade), todos os homens com tivessem uma preferência genética por mulheres loiras estariam casando somente com mulheres jovens. Os homens nunca tiveram uma forma direta de saber a idade das mulheres e por isso esse tipo de ‘hardware’ foi levou a um número maior de descendentes, espalhando a preferência e também a propagação do próprio traço (o cabelo loiro) que era certamente um indicador honesto do valor reprodutivo da fêmea. Fecha parênteses.
Se esses os 3 fatores que podemos dizer que determinam geneticamente a preferência dos homens por mulheres, a próxima pergunta tem que ser: pra que serve a moda? Porque certamente não é para deixar as mulheres mais bonitas para os homens. Quem achar isso, não entende nada de homem!
É verdade, a cirurgia plástica pode dar uma esticada no rosto e adiar um pouco a avaliação da idade, uma saia com crinolinas (armações usadas sob as saias para lhes conferir volume) podem enganar a relação C/Q ali; assim como esses malditos sutiãs com forro (que estão super na moda, ainda que sejam menos eficientes e bem menos bonitos que os antigos ‘meia-taça’), mas todos esses subterfúgios não são suficientes para enganar a maquinaria psico-fisiológica dos homens para detectar uma boa candidata a parceira.
A roupa pode ajudar, as pesquisas revelam o que todos já sabem: Os homens são atraídos por mulheres em roupas reveladoras, apertadas, curtas, coladas e decotadas. Quanto mais ‘inadequada’, melhor. A moda faz pouco por isso.
“Os homens são todos iguais” dizem a sabedoria feminina popular. Pelo menos no que tange o gosto pelas mulheres, é verdade. Podemos até dizer que todos os homens querem o mesmo tipo de mulher: o tipo bonito, jovem e reprodutor.
Mas, como os Stones já diziam, “You can’t always get what you want”.
Na Europa medieval e na Roma antiga, os homens poderosos pegavam todas as belezas para seus haréns, deixando uma falta generalizada de mulheres para os outros homens (hoje ainda é assim, na verdade, um pouco menos). Assim uma mulher feia tinha alguma chance de encontrar um homem desesperado bastante para casá-la. Isso não pode parecer muito justo, mas a justiça raramente é uma conseqüência da seleção sexual.
(Continua no próximo post)
Para saber mais: Leia o capítulo 9 – “Os usos da beleza” do livro “A Rainha Vermelha: sexo e a evolução da natureza humana” de Matt Ridley.

Contorcionismo

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Eu sei que os bons jornalistas não revelam suas fontes, mas eu sou biólogo e meus amigos biólogos são minhas principais fontes.
Foi num churrasco de final de ano da minha turma que ouvi uma das piadas mais engraçadas e didáticas até hoje: “Sabe qual é a definição de ‘Lingua’ no dicionário? Órgão sexual usado pelos antigos egípcios para falar!” Não é ótima?!
Quando aprendemos que na ponta da língua está a maior concentração de sensores de tato de todo o corpo humano, começamos a pensar se não é realmente um mal uso o que fazemos desse órgão tão nobre.
Um churrasco como o de ontem, para nos despedirmos da Alejandra, que nos deixará para viver grandes aventuras românticas e profissionais em New Orleans, me dá material para uns 3 meses de blogagem (ainda que no final do ano seja complicado manter o mínimo de um texto por mês).
Acompanhado de toda sorte de piadas politicamente incorretas sobre Batman e Robin, um dos assuntos foi o artigo recentemente publicado na excelente revista PLoS One sobre o habito sexual de morcegos de fruta Cynopterus sphinx, em que a fêmea lambe o pênis do macho durante a cópula. Eu já havia escrito sobre o hábito sexual de morcegos antes, e me interessei em dar uma olhada no artigo.
Eu e o mundo todo. Descobri que o artigo estava comentado nas páginas de ciência de jornais e blogs em todo mundo. Mas são sempre os mesmos “cortes e colagens” que impregnam a internet e contribuem muito pouco para o engrandecimento do espírito humano. Ao ler o artigo fiquei contente de ver que, ao contrário do artigo sobre a relação entre redemoinhos de cabelo e a homosexualidade, esse tinha conteúdo, era bem feito e realmente interessante.
“(…) enquanto um macho estava mastigando ou cortando folhas de palmeira para fazer sua tenda (…) uma fêmea voava para dentro, esticava as asas e movia a cabeça lentamente em direção ao macho, cheirando seu pescoço e rosto. Em seguida as cabeças se debruçavam e eles se lambiam mutuamente. Neste momento, o macho segurava a fêmea com os polegares, circulava em torno dela para encontrar a postura mais adequada para a cópula e terminava por trás da fêmea, com sua face voltada para o pescoço dela. Às vezes, a fêmea parecia resistir, e ate mesmo escapava acidentalmente, mas nesses casos o macho a perseguia até que a cópula fosse concluída. (…) Durante a cópula, o macho normalmente mantinha a fêmea presa pela nuca com a boca e segurava suas asas com os polegares. (…) e o casal avançava e recuava de forma rítmica e ininterrupta. (..) Após a conclusão da cópula, o macho lambia seu pênis durante vários segundos e permanecia na tenda fazendo uma auto-catação, raramente voando para longe. A fêmea também se catava após a cópula e, normalmente, ficava perto de seu companheiro.”
O que há nessa tradução livre do texto que pode ser encontrado no link abaixo, além de um eventual erro de inglês? O fato da descrição da cópula entre morcegos se assemelhar incrivelmente a descrição de uma cópula entre humanos! Ou você discorda?
Agora vem a curiosidade sobre essa espécie de morcego.
“Descobrimos que a fêmea abaixava a cabeça para lamber a haste ou a base do pênis do macho, várias vezes durante a cópula (veja o vídeo anexo). E nesses casos, nunca houve interrupção do coito. (…) A felação durava aproximadamente 20 s ou 10% do tempo da cópula. Houve uma forte correlação entre o intervalo de tempo em que a fêmea lambeu o pênis do macho e da duração da cópula e quanto mais a fêmea lambia o pênis de seu parceiro, mais longo era o coito. E mais frequente. Esses pares também passavam mais tempo copulando do que aquelas onde a fêmea não praticava a felação. Os resultados sugerem que o comportamento lambedor pode trazer vantagens evolutivas por prolongar o tempo de intercurso durante a cópula.”

Apesar da felação com propósito excitatório ser pouco documentada entre os animais, lamber as genitais é um hábito comum entre muitos, muitos, muitos mamíferos. Ela permite detectar se a fêmea está no cio e também a presença de odores indicativos da ‘presença’ de outros machos ou de doenças.
Mas qual seria o benefício da lambeção no morcego?

“O pênis dos morcegos contém tecido erétil (corpo cavernoso e corpo esponjoso) semelhante ao encontrado em primatas e humanos. O tecido eréctil é estimulado durante a cópula pela contração rítmica vaginal, que aumenta a rigidez do pênis e mantém a ereção por mais tempo. Nós supomos que a felação em C. sphinx aumenta a estimulação e o enrijecimento do pênis, mantendo a ereção do macho. Ao mesmo tempo, a saliva da fêmea pode aumentar a lubrificação, facilitando a penetração e as estocadas. Em conjunto, esses recursos podem prolongar a cópula.”

“A cópula prolongada ajuda no transporte do esperma da vagina para a trompa uterina, estimula a secreção da glândula pituitária feminina e, consequentemente, aumenta a probabilidade de fertilização. A cópula prolongada também pode ser um método de manter o par, já que após a cópula os parceiros segregam para formarem grupos unissexuais que persistem até a próxima temporada de acasalamento. (Menos romantico, porém muito eficiente) A felação confere benefícios bactericida e ajudar na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, tanto para as fêmeas quanto os machos, já que a saliva apresenta, além da clássica atividade antibacteriana, propriedades antifúngicas, anticlamidicas e antivirais. E finalmente, o sexo oral pode facilitar a identificação de pistas químicas ligadas ao fato de histocompatibilidade, que tem sido associado a escolha de companheiros.”
Mas meu ponto é o seguinte. Um grande esforço é feito por milhares de cientistas sociais, sociólogos, antropólogos e psicólogos, para estabelecer as bases culturais das ações humanas por trás de ritos como o sexo. O homem começou a falar aproximadamente 60.000 anos atrás e a escrever apenas 5.000 anos atrás. A seleção natural é um modelo muito mais eficiente para explicar esses comportamentos, geração após geração, espécies após espécie, por milhões e milhões de anos.
Com todas essas semelhanças entre homens e morcegos, a única coisa realmente curiosa aqui é como essa fêmea consegue se contorcer a ponto de alcançar a própria vagina.
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Tan M, Jones G, Zhu G, Ye J, Hong T, Zhou S, Zhang S, & Zhang L (2009). Fellatio by fruit bats prolongs copulation time. PloS one, 4 (10) PMID: 19862320

Achados e perdidos

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Um dia, assistindo House (1o episódio da 2a temporada), ouvi ele falar dos 5 estágios da perda. Eram as etapas pelas quais passavam todos os pacientes que se deparavam, por exemplo, com uma doença terminal. São eles: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Uau! Adoro quando a realidade vem assim, como pílulas de sabedoria, de forma simples e inegável. Pensei logo que os 5 estágios poderiam ser aplicados a qualquer perda, ainda as pequenas, e cheguei a conclusão que o roterista de House era um gênio e corri para o computador para escrever a respeito.
Mas não era bem assim.
Descobri então que a autora da brilhante constatação era da Dra. Elizabeth Kübler-Ross, uma médica psiquiatra Suíca, e que seu modelo dos 5 estágios havia sido publicado no livro “Sobre Morrer e a Morte” de 1965. Além disso, havia (e há) uma quantidade enorme de material sobre a médica e seu modelo na internet e muitos deles já discutindo a possibilidade de aplicação a outros tipos de perdas. Deixei meu texto então no forno, enquanto esperava outra deixa pra falar sobre o assunto.
Mas desde então vivo com os 5 estágios na cabeça (na verdade com alguns deles mais do que outros) porque é impressionante quantas perdas experimentamos no nosso dia-a-dia (ainda é assim que se escreve com a nova gramática?). Sendo que estou considerando ‘perda’ como eventos cujos resultados são diferente das nossas expectativas.
Então ontem, enquanto preparava uma questão de prova sobre ‘sinalização celular’, me lembrei novamente do modelo Klüber-Ross, mas não por causa de uma perda. Tudo que acontece dentro de uma célula (e olha, acontecem muitas, muitas coisas) é resultado, ou resulta, de um sinal, que pode ser interno ou externo. Apesar da membrana celular possuir receptores bastante específicos para um número perto do infindável de moléculas, existem basicamente uns quatro ou cinco ‘tipos’ de receptores. Isso significa que apenas uma parte deles se modifica para poder reconhecer a molécula que ativará o sinal com especificidade, mas o mecanismo de gatilho que dispara o sinal a partir dai é o mesmo em todos os receptores do mesmo tipo. Esses sinais podem ser super complexos, mas obedecem uma lógica simples: uma proteína modifica outra, que modifica outra, que modifica outra, que modifica outra, que realiza uma tarefa. Como uma cascata. Mas apesar dessa bela metáfora, sinalização celular não é linear.
O que por alguma razão me remeteu aos 5 estágios. Quando lemos sobre eles, parecem que vem sempre na mesma ordem, com a mesma intensidade e de maneira linear. Mas assim como os eventos entre a ativação de um receptor na membra da célula e a expressão de um gene no núcleo podem se espalhar horizontalmente, se cruzarem com outras vias de sinalização ou trocarem sinais com elas; não há necessariamente linearidade no modelo de Klüber-Ross e a superação de um dos estágios não significa que você não pode voltar a ele. É tudo, menos linear.
E podemos até mesmo ficar presos em ciclos de negação-raiva-negação, raiva-barganha-raiva, raiva-barganha-depressão-raiva; sem nunca chegar a aceitação.
E para cada um de nós essas emoções podem ter mais ou menos poder. Me lembro quando assisti ‘Beleza Americana‘ e o personagem de Wes Bentley fala para Kevin Spacey sobre a relutância de seu pai em aceitar que ele trafica drogas: “nunca subestime o poder da negação!”
O caminho através dos estágios deve se parecer mais como uma espiral, e da mesma forma que um fio de telefone, se enroscar em si próprio em um nó superespiral difícil de desatar.
Para deixar a situação ainda mais complexa, da mesma forma que a célula envia diferente sinais ao mesmo tempo, e também em sequência, também nós experimentamos diferentes perdas, de intensidades variadas, contemporaneamente e em sequência. E em um dado momento qualquer, vivemos um mosaico de diferentes perdas, cada uma em um estágio do modelo.
E como pode ser o nosso estado de espírito enquanto negamos uma coisa, temos raiva de outra, tentamos negociar uma terceira, estamos deprimidos com uma quarta, sentimos raiva pela terceira vez de uma quinta coisa, negociamos pela 4a vez uma sexta perda, negamos novamente uma sétima depois de já termos passado duas vezes pela raiva e pela barganha; enquanto experimentamos apenas um pouco de paz por finalmente termos aceitado uma oitava frustração?
Felizmente a vida não é feita apenas de perdas e as nossas vitórias, principalmente aquelas batalhadas, mas também, e porque não, aquelas fruto do acaso e da sorte, trabalham a favor da nossa autoestima (essa ficou sem hífen mesmo, não é?!). Só que as vitórias são só felicidade, ou alguém tem dificuldade em aceitar uma vitória?
Esse ‘mosaico das perdas’ se configura em nós como uma impressão digital móvel, que nos caracteriza de uma maneira única, mas que se modifica ao longo do tempo e com a aquisição de cada nova perda e ganho; e assim determine, através de um modelo matemático caótico e complexo no melhor estilo ‘efeito borboleta’, como responderemos a uma nova perda: se ela, ainda que menor, despertará sentimentos de raiva e depressão acumulados; ou se, ainda que maior, será mais facilmente aceita.
Mas, para o bem e para o mau, a realidade é mais parecida com a parábola do Rei Persa, que pede ao artista do reino uma obra de arte que o ajude a ficar feliz quando está triste e triste quando está feliz, e este lhe presenteia com um anel com os dizeres: “Tudo acaba”.
Quanto mais rápido aceitamos a perda, mais rápido podemos começar de novo. Essa é a beleza da vida.

O sexo dos anjos

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ResearchBlogging.org

Há um tempo atrás escrevi um artigo sobre a importância do ambiente hormonal durante a gestação na determinação da sexualidade (e não do sexo) de um indivíduo.
A idéia de que o corpo humano é, por padrão, feminino e doses de testosterona (primeiro no utero e depois na adolescência) o masculinizam incomodou muita gente (especialmente meu pai). Todo mundo sabe que homens são XY e mulheres são XX, e que os ‘genes’ vêm antes do ‘corpo’. Então como poderia um corpo padrão feminino se desenvolver, mesmo que por um tempo (até receber as doses de hormônio masculinizante), a partir de células com os cromossomos XY?
A resposta está publicada em uma revisão sobre o tema que saiu esse ano e que, influenciada pela polêmica da atleta sul africana Caster Semenya, também foi publicada no The Scientist desta semana.
A natureza tem muitas, muitas formas de determinar o sexo de um indivíduo. E essas formas são tão variadas quanto os organismos em si. Em alguns peixes (trutas por exemplo) se você enriquecer a alimentação com um extrato de gonada masculina, todas as fêmeas viram machos. Na tartaruga Trachemys scripta, aquela que alguns de vocês podem ter num aquário em casa, é a temperatura que determina o sexo: se os ovos forem incubados a 26oC, todo os filhotes serão machos; se forem incubados a 31oC, todos os filhotes serão fêmeas. Em temperaturas intermediárias temos um pouco de um e outro.
Não bastasse a estranheza dessas curiosas formas de escolher o sexo da próxima geração, ainda há a estranheza biológica evolutiva. Explico: coisas básicas na natureza dos seres vivos (por exemplo os genes que formam o coração), e o sexo é uma delas, têm genes semelhantes, independentemente de você ser um peixe, uma tartaruga ou um humano (as vezes guardamos semelhanças até mesmo com as bactérias). Mas no sexo é tudo diferente. Pelo menos guardamos semelhança com os outros mamíferos.
Ainda há outra estranheza biológica. Durante o nosso desenvolvimento, passamos por um estágio onde todos os nossos órgãos ainda são pré-órgãos. Ainda não estão completos, mas também não podem se tornar mais nada além do que já foi determinado para ele. Então um pré-pulmão ainda não é um pulmão, mas não tem outra opção a não ser se tornar um pulmão. A mesma coisa para um pré-rim ou um pré-coração. A exceção é, novamente, a gonada: uma pré-gonada pode virar tanto testículos quanto ovários. E agora vem a novidade: isso (virar gonada ou testículo) pode acontecer tanto em um indivíduo XX como em um XY.
Não, não se perca, porque eu ainda vou entrar na parte complicada dos genes.
Então, a pré-gonada é um tipo de ‘gonada-tronco’ e ainda pode virar testículo ou ovário. E quem vai determinar isso são os genes. Mais especificmente os genes SRY, SOX9, FGF9 e WNT4. Calma, isso não são formulas matemáticas pra você ficar assustado. Na verdade SRY é a sigla em inglês para ‘região determinadora do sexo no cromossomo Y’ (Sex-determining Region Y); SOX9 é um pouco mais complicado, mas resumindo é a sigla de SRY BOX, ou seja, uma família de genes que se ligam em SRY; FGF9 é fácil de novo, já que também é uma sigla em inglês para “fator de crescimento de fibroblastos” (que é um tipo de célula do organismo) e WNT4… bom, essa dai não é uma sigla intuitiva e o nome tem a ver com um vírus causador de tumores de mama em camundongos, por isso vamos deixar como está mesmo.
Mas voltando aos genes, o primeiro a ser descoberto foi SRY lá na década de 90. É um gene que está apenas no cromossomo Y e, adivinhem, é a expressão dele que transforma a ‘mulher padrão’ em homem. Os pesquisadores fizeram um monte de experimentos bacanas transferindo o SRY para um dos X de um organismo XX que desenvolvia testículos, e quando tiravam o SRY do cromossomo Y de um organismo XY, ele desenvolvia ovários. Depois descobriram que a coisa era um pouco mais complexa, mas nada complicado. A pré-gonada possui de um lado FGF9 e SOX9 e do outro WNT4. Ambos os genes são produzidos (expressos é a expressão correta) na mesma quantidade. Se você for XX e nada de errado acontecer, então em algum momento o produto de WNT4 acumula em maior quantidade e você desenvolve ovários. Já se você for XY, na hora que SRY começar a produzir a sua proteína, ela dá uma turbinada no SOX9, que por sua vez turbina o FGF9, forçando a balança da pré-gonada e gerando testículos.
Então, qual o sexo dos anjos? Não importa, porque com um pouco, realmente só um pouco de manipulação gênica, podemos escolher o sexo que quisermos, independente da genética. Veja que eu falo gênica e genética. Uma manipulação genética levaria todas as células de um organismo a serem de um ‘jeito’ ou de outro. Mas na verdade se ligarmos ou desligarmos SRY durante um período de tempo do desenvolvimento embrionário (na hora em que a pré-gonada está para virar gonada), você poderá escolher um menino ou menina independente do genótipo XX ou XY.
Vai por mim, se bobear, dá menos trabalho do que os outros truques, simpatias e artimanhas que eu já ouvi para escolher o sexo da criança.

BARSKE, L., & CAPEL, B. (2008). Blurring the edges in vertebrate sex determination Current Opinion in Genetics & Development, 18 (6), 499-505 DOI: 10.1016/j.gde.2008.11.004

N.E.R.D.S.

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Um sistema é tão rápido quanto a sua parte parte mais lenta.
Ainda me lembro quando o Batata me explicou pela primeira vez o papel da memória e do processador na limitação de velocidade do computador. Não adianta ter um em excesso, se faltar do outro. O sistema será sempre limitado pela sua parte mais lenta, ou menos abundante.
O Batata era um NERD gente boa, mas apesar de termos feito a maior parte da faculdade contemporaneamente, só fomos descobrir afinidades depois, na fria e chuvosa Rio Grande (RS), onde morávamos durante o mestrado.
Eu admirava ele por ler coisas como ‘A mente nova do Imperador’ de Roger Penrose. Foi ele quem me explicou que os halos de luz em volta da lua em noites muito, muito frias, eram formados pela difração da luz em no gelo acumulado em camadas elevadas da atmosfera. O mais engraçado é que estávamos Eu, Dani e Lilica na rua da vila em que morávamos, quando vimos encantados o halo em torno da lua e, depois de uns 15 min de elocubrações, sentenciamos: “vamos perguntar pro Batata porque definitivamente ele sabe”. E sem pensar por apenas um minuto, o Batata respondeu, como se a resposta fosse a coisa mais trivial do mundo.
Eu e Batata conseguíamos discutir por várias coisas sem nunca brigar, o que até hoje me surpreende, já que não é uma coisa que eu experimente com frequência. Mas acho que era possível apenas pelas convicções fortíssimas de cada um. Ele adorava gatos e eu detestava gatos. Nada seria capaz de demover um ou outro. Mas como morávamos na casa dele, eu aturava os gatos. E o Batata também é autor daquela célebre frase: “Sexo é bom mas dá muito trabalho!” Éramos realmente diferentes.
Mas porque essa história toda do meu amigo NERD se eu quero falar sobre sistemas? É pra dizer que eu também sou NERD. Talvez um pouco menos na aparência, mas não muito menos no espírito. Eu fui ler Nietzsche, Popper e outros caras pra poder ter mais assunto com cérebro privilegiado do meu amigo, enquanto ele fazia batata frita com casca e eu frango assado pro pessoal da nossa vila. Infelizmente não consegui que o Batata aprendesse um passo de dança, mas felizmente, não me deixei contaminar pelo RPG.
O que me torna NERD, e me deixa orgulhoso disso, é o tesão que tenho no conhecimento. Além de continuar gostando de ler livros densos até hoje, eu vejo um sistema, qualquer um, e procuro a parte mais lenta dele, para descobrir o quão rápido ele pode ir. E quando consigo, me fascina! É também um exercício de resolução de problemas: se você precisa de mais velocidade no seu computador, não adianta investir todo o seu dinheiro em memória, e deixar o processador pra lá: o computador não ficará mais rápido por isso. Mas principalmente se não dá pra investir em memória e processador, tem de descobrir qual deles é o limitante (senão são tempo e energia desperdiçados).
Isso vale para qualquer área. Em ecologia também temos os fatores limitantes. Dos 3 principais nutrientes para as plantas, nitrogênio, fósforo e carbono; não adianta nada ter excesso de um ou dois, se faltar o terceiro. Com um fator limitante, a planta não cresce.
Por isso, muitas vezes sei, de antemão, se a proposta para resolver um problema não vai funcionar: a solução não leva em conta o fator limitante.
Identificar os fatores limitantes dá trabalho. É preciso conhecer o sistema e isso requer um considerável investimento de tempo e recursos.
Você pode achar que não vale a pena gastar nem um minuto com esse divertimento NERD, mas eu acho meu entretenimento esporádico um treinamento que aumenta em muito as minhas chances para resolver qualquer problema que possa aparecer, por me ajudar a reconhecer pontos chaves, fatores limitantes e calcular probabilidades de sucesso. Ai é uma questão de decidir (que, definitivamente, nem sempre é fácil).
Mas eu também decido, porque convenhamos, depois que a gente cresce, resolver problemas pode ser divertido também. Mas como resolver problemas não é a minha única forma de divertimento (eu tenho muitas, muitas outras), depois de resolvido o problema, posso ir mais cedo pra praia, ou pra festa, me divertir de verdade.
O que eu não acho a menor graça, é em quem não gosta de investir nenhum tempinho em resolver seus problemas, e fica pra lá e pra cá com os problemas debaixo do braço, sem nunca abandoná-los. Quase se vangloriando, orgulhosos, que seus problemas não tem solução. Vai pra praia e leva os problemas. Vai pra festa e leva os problemas. Isso é que não é diversão. Pra mim, esses são os verdadeiros NERDS.

Observações

Tava escrito até no artigo da Nature: blogueiros nunca poderão substituir jornalistas, porque eles querem escrever apenas sobre o que eles quiserem.
Talvez seja porque estou me emocionando lendo a biografia de Nelson Rodrigues escrita por Ruy Castro que hoje não vou falar diretamente de ciência. Nelson era incrivelmente, unanimamente mal compreendido, mas fazia poucas, muito poucas concessões. Admiro pessoas que fazem poucas concessões (talvez da mesma forma que não admiro aquelas que não fazem nenhuma).
Hoje uma querida amiga, psicóloga, me enviou um link para um artigo que falava sobre como homens ‘perdem a cabeça’, um eufemismo para ficam mais burros, quando falam com um mulher bonita.Lembrei de você‘ ela escreveu.
Tentei ler o artigo original, o que eu sempre faço quando leio um release que chame atenção, que seja minimamente interessante, ou de alguma forma polêmico; mas o site do sciencedirect, que guarda os artigos da “Journal of Experimental Social Psychology“, mas hoje o site está fora do ar para manutenção durante todo o dia. O primeiro release foi publicado no Telegraph, de Londres, um jornal que pode não ser o mais sério, mas também não é pequeno.
Não precisei ler o artigo original para ver que concluir que se tratava de mais um estudo mal planejado, com conclusões precipitadas, mas que, por se tratar de um tema popular, saiu publicado em jornais de todo mundo.
E aqui novamente me lembro de Nelson Rodrigues.
Ontem dei uma aula sobre Criatividade no mestrado em Educação em Saúde da Fiocruz. Há vários anos meu amigo Milton me convida para dar essa aula. Eu sempre convido ele pra falar sobre marcadores moleculares de doenças negligenciadas no meu curso de Relações Gene-Ambiente, o que é muito menos legal. Mas esse ano estou compensando, porque ele fará a abertura do 2o EWCLiPo, falando sobre ciência e gastronomia: pode ter alguma coisa mais legal?
Ontem, antes da aula, enquanto discutíamos sobre o caipirinhas de DNA (que ele preparará ao vivo no encontro) conversamos, como tantas vezes fazemos, sobre ciência e sociedade. A citação do artigo ‘cospe ou engole’ em um texto sensacional sobre orgasmos, no blog Rainha Vermelha, gerou mais de 500 acessos no VQEB. Chegamos a conclusão que se quisermos aumentar o nosso público leitor, teremos de colocar sexo entre as palavras-chave.
O artigo ‘mostra’ que homens que conversam, até mesmo poucos minutos, como uma mulher que eles acham atraente, tem uma performance pior em testes para medir habilidades cognitivas. Isso estaria relacionado ao esforço de sedução que os homens empregam e as oportunidades de acasalamento que procuram. As conseqüências estariam nos efeitos dessa ‘baixa performance’ em ambientes de trabalho e escolas mistas.
Me lembro novamente de Nelson Rodrigues, porque talvez, eu disse talvez, o artigo fosse interessante como exercício teórico. Mas isso na Holanda. No Brasil, Nelson já falava disso mais de 50 anos atrás (‘Vestido de Noiva’ estreou em 1953).
Como pesquisa científica? Fala sério. O cara usou um grupo de 100 adolescentes, estudantes de alguma faculdade da Holanda, conversando com modelos. Pra quem quiser saber alguma coisa séria sobre sexo e a natureza humana, leia a ‘Sperm Wars’ ou ‘Red Queen‘. Sinto muito, mas os títulos estão em inglês justamente porque os livros ainda não foram publicados em português (outra opção é ler o VQEB).
Houve uma época que todos os livros de ciência traziam ‘Deus’ no título. Era uma estratégia de marketing. Será que basta agora colocar sexo no título? Eu aprendi com que nunca, nunca devemos enganar o nosso leitor. Por isso, sexo no título (ou nas palavras chaves) só quando tiver sexo no texto.
Mas não só. Escreveremos sobre sexo apenas quando houver o que ser dito sobre sexo. Pelo amor de Deus(?)! O artigo sobre ‘Como a interação como mulheres atraentes podem diminuir as funções cognitivas do homem’ sugeria como leitura outras pérolas:

Infelizmente, existem revistas demais que são científicas de menos. E um jornal sensacionalista quase sempre conseguirá ‘legitimar’ de um de seus artigos em um artigo científico furreca. E sem critério, não dá pro leitor saber.

A Musa

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Uma das coisas que me fascina na ciência é a íntima relação com o conhecimento. Me deixa excitado e é o maior afrodisíaco que conheço.
Tantas coisas aparentemente chatas ficam legais depois que você conhece a história por trás delas. É o caso dos Fori romanos. Quem disser que acha lindo aquele monte de ruinas está mentindo pra se fazer de intelecutal. Mas quando você vê uma reconstituição dos edifícios, lê a história da batalha, cuja vitória justificou a construção de um templo em homenagem ao Deus da guerra (Marte), aprende de onde foram trazidos os mármores das colunas, então tudo ganha um significado diferente e passear por aqueles escombros se torna uma aventura épica. É melhor que o livro, que é melhor que o filme.
Por isso que eu disse que dá tesão, porque é a emoção gerada pelo conhecimento, e não o conhecimento em si, que muda tudo. As vezes uma informação simples, transforma algo banal em uma coisa especial. Se não especial, bela. Enfeita.
E a biologia pode fazer o mesmo pelas coisas simples. E ainda hoje, apesar da nossa longa convivência, continua me surpreendendo. Veja a banana. Para mim sempre foi a mais banal das frutas: ‘dá como banana em cacho’; ‘a preço de bananas’… Nunca fui muito fã de bananas. Já meu avô, português de Trás-os-montes, adorava bananas que na sua terra eram uma coisa completamente diferente do que se encontrava aqui.
Talvez tenha sido quando morei fora do Brasil e as bananas eram realmente horrorosas, ou quando aprendi a dividir uma banana em 3 no ‘The Dreamers’ de Bertolucci, ou quando descobri que é uma fruta muitíssimo prática para quem mora sozinho e quer ter uma fruta em casa. Comecei a ficar fã das bananas. Mas depois de ontem, elas me emocionam.
Como não pude atender o convite, fui perguntar as meninas como tinha sido a fala do escritor angolano Agualusa na Travessa. Eu já tinha visto ele na FLIP de 2007 e sabia que o cara era bom. Elas disseram que ele contou como ser agrônomo influenciou na sua decisão de ser escritor, porque ele se inspirava nos belos nomes científicos das espécies. O exemplo foi a banana, cujo nome científico, dado por Lineu no século XVIII é Musa paradisiaca. Gente… e como eu não sabia disso?
Quis saber mais (porque eu sou assim mesmo é quero sempre mais). Na verdade a pergunta na minha cabeça era: o que levou Lineu a dar esse nome tão singular a banana?
Curiosamente encontrei a resposta. Mas essa história já está super bem contada neste artigo de 2001 da colunista Vera Moreira, que eu cito aqui não só porque vale super a pena ser lida a etimologia do termo escolhido por Lineu para identificar cientificamente a banana (que já foi tida como a verdadeira fruta proibida), mas também porque eu sempre cito as minhas fontes e não quero mais os chatos de plantão me acusando de plágio.
De uma forma ou de outra, foi emocionante comprar bananas no supermercado hoje.

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