Diário de um Biólogo – Sexta 09/10/2009

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Chove a cântaros no Rio de Janeiro. Já chovia ontem quando peguei a maior água voltando a pé do cartório, que fica perto o suficiente pra não querer ir de carro e longe o suficiente para ser complicado ir de metrô. Mas quando percebi estava na frente da livraria que mais gosto no Rio de Janeiro, a Prefácio ao lado do Estação Unibanco. É uma pena que as livrarias do Rio fiquem cada vez mais aconchegantes e os livros que elas vendem cada vez mais caros. Hoje em dia, comprar os livros pela internet (as vezes na loja virtual da mesmas livraria), significa quase comprar um livro a mais. Mas considero que agora essas mais ‘vitrines’ do que lojas e entro pra me proteger da chuva, tomar um café e dar uma zanzada no meio dos livros porque faz eu me sentir mais inteligente. Acabei topando com “Candido ou o Otimismo” de Voltaire.
Já queria ler esse livro há algum tempo, desde que comecei a usar sistematicamente o artigo clássico de Gould e Lewontin sobre os ‘Spandrels‘ da basílica de São Marcos em Veneza e as anedotas do personagem Dr. Pangloss de Voltaire para criticar o programa adaptacionista dos biologos evolucionistas (busco um link no meu blog para o texto onde discuto esse artigo e me surpreendo ao descobrir que nunca falei sobre ele. Mas fica pra outra vez).
Dr. Pangloss é o filósofo alemão Leibniz, autor da teoria de que ‘vivemos no melhor dos mundos possíveis’ e por quem Voltaire nutria grande desrespeito. Comecei a ler o livro, que é bem pequeno, no congestionamento para voltar pra casa hoje. Estou no capítulo V e é divertidíssimo.
Dou uma parada para o jantar, Carpaccio, que eu mesmo faço, com uma taça do vinho que sobrou do final de semana (mas que estava preservado no vácuo) e penso se isso me faz sofisticado e em quantas pessoas diriam que sim e quantas outras diriam que não. Sento no computador e entre a correspondência está o Jornal da Ciência (um clipping de todas as notícias científicas na mídia no dia).
O JC representa pra mim o problema atual do excesso de informação. Todos os dias ele chega e quase todos os dias eu o deleto sem nem mesmo ver as manchetes. A razão é simples: sempre tem uma manchete, pelo menos uma, que me interessa. Hoje eu abri e não foi diferente.
Era um artigo do geneticista mineiro Sérgio Pena sobre evolução e criacionismo na Ciência Hoje. Eu sou fã das pesquisas dele o Sérgio e já até escrevi sobre elas. Ele também já escreveu vários livros para o público leigo sobre raças, a sua especialidade. Mas não gostei desse artigo. Todas as informações estão corretíssimas, mas apenas para os pouco iniciados capazes de entendê-las ou de se sensibilizarem com elas. Sérgio diz que não entende como algumas pessoas podem renegar a evolução e desfila argumentos inquestionáveis como a semelhança do nosso genoma com os dos chimpanzés (95%), camundongos (67%), mosca da fruta (45%) e… até com as leveduras que fazem nossa cerveja (cerca de 15%). E ai reside o pecado do texto: ele prega para convertidos. Qualquer um capaz de entender os seus argumentos certamente não é alguém que renega a seleção natural e a evolução.
Lembrei da clarividente citação de Dobzhanski que publiquei aqui: de acordo com ele, não importa a qualidade (e quantidade) dos argumentos racionais. Se as conclusões forem desagradáveis, as pessoas resistirão a elas.
Fico pensando então de que serve todo o nosso intelecto, se no final das contas o que vale é o sentimento. Peraê, mas será que é o sentimento mesmo?
A questão é que se eu dissesse que é o nosso ‘instinto’ que vale, os humanistas começariam a bradar dizendo que nossa razão é dominante sobre o nosso instinto. Mas curiosamente, são esses mesmos humanistas que sublimam a razão em nome do sentimento.
No biografia de Voltaire há uma citação de Frederico da Prussia que durante algum tempo foi mecenas de muitos intelectuais do século XVIII, e teve de apaziguar algumas querelas entre os egos inflados: “O diabo encarnou nos meus literatos, e não há maneira de fazê-los voltar a razão… Deve ser um consolo para os animais ver que gente com tais cérebros não é muitas vezes melhor que eles”.
A questão não é o que diferencia razão e sentimento, mas o que os une: o instinto! Somos tão insuportavelmente animais que resistimos heroicamente a aceitar definitivamente a racionalidade de que tanto nos orgulhamos (que frase horrorosa… quantos advérbios…). O instinto pode se travestir tanto de razão quanto de emoção e é isso que o torna perigoso e maravilhoso.
O que fazer? Não sei, vou perguntar a Baco.

O sexo dos anjos

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ResearchBlogging.org

Há um tempo atrás escrevi um artigo sobre a importância do ambiente hormonal durante a gestação na determinação da sexualidade (e não do sexo) de um indivíduo.
A idéia de que o corpo humano é, por padrão, feminino e doses de testosterona (primeiro no utero e depois na adolescência) o masculinizam incomodou muita gente (especialmente meu pai). Todo mundo sabe que homens são XY e mulheres são XX, e que os ‘genes’ vêm antes do ‘corpo’. Então como poderia um corpo padrão feminino se desenvolver, mesmo que por um tempo (até receber as doses de hormônio masculinizante), a partir de células com os cromossomos XY?
A resposta está publicada em uma revisão sobre o tema que saiu esse ano e que, influenciada pela polêmica da atleta sul africana Caster Semenya, também foi publicada no The Scientist desta semana.
A natureza tem muitas, muitas formas de determinar o sexo de um indivíduo. E essas formas são tão variadas quanto os organismos em si. Em alguns peixes (trutas por exemplo) se você enriquecer a alimentação com um extrato de gonada masculina, todas as fêmeas viram machos. Na tartaruga Trachemys scripta, aquela que alguns de vocês podem ter num aquário em casa, é a temperatura que determina o sexo: se os ovos forem incubados a 26oC, todo os filhotes serão machos; se forem incubados a 31oC, todos os filhotes serão fêmeas. Em temperaturas intermediárias temos um pouco de um e outro.
Não bastasse a estranheza dessas curiosas formas de escolher o sexo da próxima geração, ainda há a estranheza biológica evolutiva. Explico: coisas básicas na natureza dos seres vivos (por exemplo os genes que formam o coração), e o sexo é uma delas, têm genes semelhantes, independentemente de você ser um peixe, uma tartaruga ou um humano (as vezes guardamos semelhanças até mesmo com as bactérias). Mas no sexo é tudo diferente. Pelo menos guardamos semelhança com os outros mamíferos.
Ainda há outra estranheza biológica. Durante o nosso desenvolvimento, passamos por um estágio onde todos os nossos órgãos ainda são pré-órgãos. Ainda não estão completos, mas também não podem se tornar mais nada além do que já foi determinado para ele. Então um pré-pulmão ainda não é um pulmão, mas não tem outra opção a não ser se tornar um pulmão. A mesma coisa para um pré-rim ou um pré-coração. A exceção é, novamente, a gonada: uma pré-gonada pode virar tanto testículos quanto ovários. E agora vem a novidade: isso (virar gonada ou testículo) pode acontecer tanto em um indivíduo XX como em um XY.
Não, não se perca, porque eu ainda vou entrar na parte complicada dos genes.
Então, a pré-gonada é um tipo de ‘gonada-tronco’ e ainda pode virar testículo ou ovário. E quem vai determinar isso são os genes. Mais especificmente os genes SRY, SOX9, FGF9 e WNT4. Calma, isso não são formulas matemáticas pra você ficar assustado. Na verdade SRY é a sigla em inglês para ‘região determinadora do sexo no cromossomo Y’ (Sex-determining Region Y); SOX9 é um pouco mais complicado, mas resumindo é a sigla de SRY BOX, ou seja, uma família de genes que se ligam em SRY; FGF9 é fácil de novo, já que também é uma sigla em inglês para “fator de crescimento de fibroblastos” (que é um tipo de célula do organismo) e WNT4… bom, essa dai não é uma sigla intuitiva e o nome tem a ver com um vírus causador de tumores de mama em camundongos, por isso vamos deixar como está mesmo.
Mas voltando aos genes, o primeiro a ser descoberto foi SRY lá na década de 90. É um gene que está apenas no cromossomo Y e, adivinhem, é a expressão dele que transforma a ‘mulher padrão’ em homem. Os pesquisadores fizeram um monte de experimentos bacanas transferindo o SRY para um dos X de um organismo XX que desenvolvia testículos, e quando tiravam o SRY do cromossomo Y de um organismo XY, ele desenvolvia ovários. Depois descobriram que a coisa era um pouco mais complexa, mas nada complicado. A pré-gonada possui de um lado FGF9 e SOX9 e do outro WNT4. Ambos os genes são produzidos (expressos é a expressão correta) na mesma quantidade. Se você for XX e nada de errado acontecer, então em algum momento o produto de WNT4 acumula em maior quantidade e você desenvolve ovários. Já se você for XY, na hora que SRY começar a produzir a sua proteína, ela dá uma turbinada no SOX9, que por sua vez turbina o FGF9, forçando a balança da pré-gonada e gerando testículos.
Então, qual o sexo dos anjos? Não importa, porque com um pouco, realmente só um pouco de manipulação gênica, podemos escolher o sexo que quisermos, independente da genética. Veja que eu falo gênica e genética. Uma manipulação genética levaria todas as células de um organismo a serem de um ‘jeito’ ou de outro. Mas na verdade se ligarmos ou desligarmos SRY durante um período de tempo do desenvolvimento embrionário (na hora em que a pré-gonada está para virar gonada), você poderá escolher um menino ou menina independente do genótipo XX ou XY.
Vai por mim, se bobear, dá menos trabalho do que os outros truques, simpatias e artimanhas que eu já ouvi para escolher o sexo da criança.

BARSKE, L., & CAPEL, B. (2008). Blurring the edges in vertebrate sex determination Current Opinion in Genetics & Development, 18 (6), 499-505 DOI: 10.1016/j.gde.2008.11.004

"E eu não quero dar pasto a crítica do futuro"

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A frase de Machado de Assis, lida em um dos autofalantes na exposição sobre o autor no museu da Língua Portuguesa (SP), reflete o cuidado que o escritor tinha antes de publicar um escrito.
Me lembrei da frase depois de conversar essa semana com duas pessoas. Ambas assistiram minha palestra sobre escrita criativa no II EWCLiPo: um é um pesquisador renomado e o outro um aluno que sempre enfrentou dificuldades com os rigorosos critérios da academia. Ambos acham que seus textos sempre precisam de mais alguma coisa antes de publicá-los. E nunca publicam.
“Escrever é sobretudo reescrever” falou o Antônio Lobo Antunes na FLIP e eu repeti na palestra. Conclamei todos a criarem seus blogs e começarem, com textos pequenos, falando de momentos ou acontecimentos específicos (como a dica de Fredo “escreva sobre o 1o tijolo, da esquerda para direita, do alto para baixo, do prédio da prefeitura em frente a lanchonete” com a qual conseguiu quebrar o bloqueio de uma aluna em ‘O Zen e a arte da manutenção de motocicletas‘), mas que por favor, começassem a escrever.
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A primeira coisa para andar avante em um texto é excluir o medo de errar como critério de qualidade. O medo da critica do futuro nunca impediu Machado de publicar nada. Os cientistas, por exemplo, sempre erraram. Um dos maiores deles, Einstein, acreditava em variáveis escondidas na mecânica quantica e refutava a sua natureza probabilística (o livro Penso, longo me engano está cheio de gafes científicas). Nem o ‘medo da critica do futuro’ deve impedir cientistas ou alunos de escreverem. O que eles sim devem é, como Machado fazia, era apurar o trabalho e o cuidado com a revisão de seus textos. O blog é a ferramenta perfeita para isso.
Quem já leu meus textos viu que a língua portuguesa não é o meu forte: semântica, gramática e ortografia. Meu pai e meus queridos amigos Edu e Bitty são incansáveis revisores dos meus textos, a quem eu sempre agradeço as correções que me fazem. E não são poucas.
Mas eu vou parar de escrever por isso? Não. Vou melhorando meu português aos poucos (porque as demandas são muitas) e prometo que vou contratar um revisor para os textos ficarem perfeitos enquanto isso não acontece.
A questão é que, quem deixa de escrever por medo de errar ou por timidez, está perdendo a grande arma do mundo moderno. A espontaneidade.
A privacidade, como nós a conhecíamos, acabou. Mas para alguns estudiosos isso não é necessariamente um problema (claro que não estou falando dos namorados que filmam suas garotas e colocam depois na internet. Esses continuam merecendo um encontro como capitão Nascimento). Enquanto a TV passou décadas tentando criar esteriótipos para as pessoas seguirem, na web 2.0 cada um fala o que quer e se mostra do seu próprio jeito, com todas as suas particularidades e idiossincrasias. Encontramos de tudo sobre qualquer assunto na internet, isso significa que encontraremos também sobre nós mesmos (ou você nunca digitou o seu nome no google?). Então, porque não ser você mesmo o primeiro a se mostrar?
Quem escreve se mostra. Quem se mostra, arrisca estar errado. Mas também só quem se mostra, mostra o que sabe.

O segundo dia do II Encontro de Blogs Científicos

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Domingo começou com a apresentação da neurocientista Suzana Herculano. Com 6 livros sobre neurociências para leigos publicados e uma esquete no programa Fantástico, ela é uma cientista pop e o melhor exemplo de cientista bem sucedido na tarefa de divulgar ciência. Suzana, que tem dois blogs (O cérebro nosso de cada dia e A neurocientista de plantão) chamou atenção dos cientistas blogueiros para que não fiquem apenas na internet porque existe um mercado real para livros de divulgação científica. Ela ainda defendeu a publicação de livros de ‘auto-ajuda científica’: “afinal, o objetivo da ciência não é tornar a vida das pessoas melhor?”. E isso ai.
Talvez pelo clima aprazível de Arraial e o aconchego do encontro, quando a jornalista Alessandra Carvalho (do Karapanã) subiu no palco com seu belo sotaque paraense não havia mais nenhuma dúvida de que jornalistas e cientistas devem divulgar ciência, que cada uma tem o seu espaço, mas que só tem a ganhar com a convivência. Ela relatou várias experiências bem sucedidas onde jornalistas ajudaram os cientistas a divulgar seus trabalhos.
Depois do intervalo, a jornalista Lacy Barca (que escreve no Minha amiga Jane) fez um incrível e delicioso panorama da ciência na TV, com apenas 8,5h por semana de programação (comparados a 50h de esporte e, acreditem, 190h de religião). Depois de trabalhar em programas como Globo Ciência ela é responsável pela recuperação do arquivo na Rede Brasil e mostrou pra nós trechos de vídeos dos primeiros programas de ciência na TV brasileira, remontando a década de 70, e falou sobre a mudança da linguagem na comunicação.
Foi a vez de Maria Guimarães (Ciência e idéias), cientista e jornalista da Revista FAPESP apresentar a sua visão de como cientistas escolhem seus temas de pesquisa e como jornalistas escolhem seus temas de reportagem: “minha paixão pela ciência não cabia em um só tema de pesquisa”. A platéia se encantou com a caçadora de roedores no doutorado que agora escreve até sobre astronomia. Para mim ficou o recado de que cientistas precisam aprender a contar, mesmo que só para os jornalistas, a história por trás de suas pesquisas, e os jornalistas não podem nunca esquecer a paixão por trás do tema de pesquisa de um cientista.
As meninas da Ciência Hoje não resistiram ao sol e fizeram muito bem ao almoçar camarão frito na praia enquanto alguns foram para as suas pousadas fazer o check-out e outros para o Saint-tropez se despedir da Muqueca de Dourado e da Lula Doré.
Mas as 15:30 estavam todos de volta para assistir Fábio Almeida, do Ciêncine falar sobre a importância dos documentários cinematográficos na divulgação científica. Mostrou trechos da entrevista com José Reis, ex-diretor do do Instituto Biológico de São Paulo e um pioneiro da divulgação científica rápida e eficiente. Fábio foi muito didático ao mostrar como a atividade científica e cinematográfica tem a ‘observação’ do mundo como ponto de partida e portanto, nada mais normal que os biólogos, ao registrar imagens em movimento para estudar fenômenos naturais, sejam os verdadeiros criadores do cinema. Aproveitou para mostrar o risco da divulgação irresponsável, que atribui aos irmãos Lumiére, criadores do cinema como espetáculo, a invenção do cinema como método. E terminou com uma alfinetada: os blogueiros tem que pensar em usar todo o potencial de outras mídias, porque ainda estão postando como se fossem uma revista impressa!
As 17h, sem tempo para uma despedida apropriada de todos os novos amigos que ser formaram ali, o ônibus partiu para o Rio levando convidados e agregados. Foram dois dias estimulantes e tenho certeza que todos voltaram pra casa com novas idéias para colocarem em prática nos seus blogs. Agora é esperar pelo próximo.
Obrigado a todos que ajudaram a tornar o evento um sucesso.

N.E.R.D.S.

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Um sistema é tão rápido quanto a sua parte parte mais lenta.
Ainda me lembro quando o Batata me explicou pela primeira vez o papel da memória e do processador na limitação de velocidade do computador. Não adianta ter um em excesso, se faltar do outro. O sistema será sempre limitado pela sua parte mais lenta, ou menos abundante.
O Batata era um NERD gente boa, mas apesar de termos feito a maior parte da faculdade contemporaneamente, só fomos descobrir afinidades depois, na fria e chuvosa Rio Grande (RS), onde morávamos durante o mestrado.
Eu admirava ele por ler coisas como ‘A mente nova do Imperador’ de Roger Penrose. Foi ele quem me explicou que os halos de luz em volta da lua em noites muito, muito frias, eram formados pela difração da luz em no gelo acumulado em camadas elevadas da atmosfera. O mais engraçado é que estávamos Eu, Dani e Lilica na rua da vila em que morávamos, quando vimos encantados o halo em torno da lua e, depois de uns 15 min de elocubrações, sentenciamos: “vamos perguntar pro Batata porque definitivamente ele sabe”. E sem pensar por apenas um minuto, o Batata respondeu, como se a resposta fosse a coisa mais trivial do mundo.
Eu e Batata conseguíamos discutir por várias coisas sem nunca brigar, o que até hoje me surpreende, já que não é uma coisa que eu experimente com frequência. Mas acho que era possível apenas pelas convicções fortíssimas de cada um. Ele adorava gatos e eu detestava gatos. Nada seria capaz de demover um ou outro. Mas como morávamos na casa dele, eu aturava os gatos. E o Batata também é autor daquela célebre frase: “Sexo é bom mas dá muito trabalho!” Éramos realmente diferentes.
Mas porque essa história toda do meu amigo NERD se eu quero falar sobre sistemas? É pra dizer que eu também sou NERD. Talvez um pouco menos na aparência, mas não muito menos no espírito. Eu fui ler Nietzsche, Popper e outros caras pra poder ter mais assunto com cérebro privilegiado do meu amigo, enquanto ele fazia batata frita com casca e eu frango assado pro pessoal da nossa vila. Infelizmente não consegui que o Batata aprendesse um passo de dança, mas felizmente, não me deixei contaminar pelo RPG.
O que me torna NERD, e me deixa orgulhoso disso, é o tesão que tenho no conhecimento. Além de continuar gostando de ler livros densos até hoje, eu vejo um sistema, qualquer um, e procuro a parte mais lenta dele, para descobrir o quão rápido ele pode ir. E quando consigo, me fascina! É também um exercício de resolução de problemas: se você precisa de mais velocidade no seu computador, não adianta investir todo o seu dinheiro em memória, e deixar o processador pra lá: o computador não ficará mais rápido por isso. Mas principalmente se não dá pra investir em memória e processador, tem de descobrir qual deles é o limitante (senão são tempo e energia desperdiçados).
Isso vale para qualquer área. Em ecologia também temos os fatores limitantes. Dos 3 principais nutrientes para as plantas, nitrogênio, fósforo e carbono; não adianta nada ter excesso de um ou dois, se faltar o terceiro. Com um fator limitante, a planta não cresce.
Por isso, muitas vezes sei, de antemão, se a proposta para resolver um problema não vai funcionar: a solução não leva em conta o fator limitante.
Identificar os fatores limitantes dá trabalho. É preciso conhecer o sistema e isso requer um considerável investimento de tempo e recursos.
Você pode achar que não vale a pena gastar nem um minuto com esse divertimento NERD, mas eu acho meu entretenimento esporádico um treinamento que aumenta em muito as minhas chances para resolver qualquer problema que possa aparecer, por me ajudar a reconhecer pontos chaves, fatores limitantes e calcular probabilidades de sucesso. Ai é uma questão de decidir (que, definitivamente, nem sempre é fácil).
Mas eu também decido, porque convenhamos, depois que a gente cresce, resolver problemas pode ser divertido também. Mas como resolver problemas não é a minha única forma de divertimento (eu tenho muitas, muitas outras), depois de resolvido o problema, posso ir mais cedo pra praia, ou pra festa, me divertir de verdade.
O que eu não acho a menor graça, é em quem não gosta de investir nenhum tempinho em resolver seus problemas, e fica pra lá e pra cá com os problemas debaixo do braço, sem nunca abandoná-los. Quase se vangloriando, orgulhosos, que seus problemas não tem solução. Vai pra praia e leva os problemas. Vai pra festa e leva os problemas. Isso é que não é diversão. Pra mim, esses são os verdadeiros NERDS.

O primeiro dia do II Encontro de Blogs Científicos

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O ditado diz que tudo o que é bom, dura pouco.
E durou mesmo. Acabou ontem as 17h o 2o EWCLiPo. Foi organizado, num lugar lindo (Arraial) com um tempo maravilhoso, gente inteligente, discussões pertinentes e … diversão. O que mais eu poderia querer?
Tudo começou na 6a feira com Milton Moraes do ‘Confraria da Boa Companhia‘ falando sobre gastronomia e ciência. Ele usou os novos conceitos de gastronomia molecular para mostrar como a ciência vem mudando a culinária. Ferran Adrià, considerado atualmente o melhor ‘chef’ do mundo, é um químico de formação que aperfeiçoa a sua cozinha com conceitos científicos. Como um professor em uma aula prática, impressionou a platéia extraindo DNA de morango ao vivo usando apenas produtos encontrados na cozinha e aplicou conceitos da gastronomia molecular para fazer drinks como caipirinha sólida e mousse de caipirinha.
A seguir o coquetel de abertura teve um risoto de frutos do mar preparado pela chef Janaina Jan do Chez Naná. Quando os marinheiros do Hotel Ressurgência começaram a ficar nervosos com aquela movimentação toda as 11:30 da noite, nos transferimos para o Saint-Tropez, no final da Praia dos Anjos.
O dia amanheceu belíssimo, confirmando as previsões da meteorologia, apesar da chuva pesada de 5a e 6a feira e qual não foi a minha surpresa quando as 9:30, com apenas meia hora de atraso, estavam todos prontos para ouvir esse que vos conta, Mauro Rebelo do ‘Você que é biólogo…’ falar de Escrita criativa.
A palestra tratou dos 7 pontos problemáticos na escrita de alunos (e outros cientistas) no processo de autoria de textos: sejam eles respostas a perguntas de provas, ou a elaboração de artigos, dissertações e teses. Fez um paralelo com a 2a lei da termodinâmica para questionar aqueles que acreditam que escrever depende de ‘inspiração’: escrever depende de ‘investimento energético’, porque a maior parte do tempo você precisa gastar re-escrevendo o que escreveu, até ficar bom. Seja na tese, no blog e até mesmo no twitter.
Depois Sonia Rodrigues do ‘Inclusão Digital’ falou da sua experiência no ‘Poesia para físicos’, no ‘sei mais física‘ e no ‘almanaque da rede‘: iniciativas para a inclusão digital de jovens e adolescentes. Quando você tenta fazer inclusão digital para jovens, descobre que o problema é anterior a universidade, onde eles chegam dom deficiências difíceis de consertar, o que ficou claro no ‘poesia para físicos’. Foi então que ela resolveu atacar o problema em crianças e adolescentes da escola pública, se deparando com os problemas que a falta de cidadania gera para esse público, principalmente em áreas de risco. As vezes R$100 para a passagem de ônibus e 1h de acesso a internet em uma Lan House é a diferença entre uma criança com 90 pontos no índice de Raven conseguir chegar ao vestibular em física na UFF.
Foi então que blogueiro profissional Carlos Cardoso do ‘Contraditórium‘, ‘Meio bit‘ e uns outros 5 blogs subiu no palco para falar aos blogueiros de ciência sobre os desafios da profissionalização. Com 5000 visitas únicas por dia em apenas um de seus blogs e muito conhecimento do assunto, ele tinha conhecimento de causa. Só que ainda era muito divertido: “Bom dia, meu nome é Carlos Cardoso, e eu sou um NERD”. Entre as dicas para ganhar dinheiro com um blog a associação com sites de vendas de livros nos textos com resenhas foi a que mais fez sucesso com os blogueiros científicos, mas a apresentação também levantou outras questões como a perseguição de grupos fundamentalistas e outros ‘stockers’. O mesmo tema voltaria a tona no dia seguinte na palestra de Suzana Herculano.
Em seguida, Carlos Hotta do ‘Brontossauros em meu jardim‘ e Átila Iamarino do ‘Rainha Vermelha‘ movimentaram a platéia falando sobre a experiência de ‘síndicos’ do Science Blogs Brasil. As vantagens de se andar em bando são muitas, e o que suscitou a discussão foram justamente os critérios para se entrar no grupo, principalmente agora que o grupo está se aproximando do seu limite de número de blogs. Um condomínio não deixa de ser um ‘selo’, mas esse selo não deve ser o único. É importante que outros condomínios de blogs científicos se formem em torno de temas comuns, e que blogs importantes continuem em suas trajetórias individuais. Viva a diversidade! Átila ainda falou sobre o Research Blogging, uma ferramenta para aumentar a credibilidade da informação publicada que dá um ‘selo’ ao texto que é publicado fazendo referência (e disponibilizando) o artigo original ao que se refere ao informação.
Caminhada pela praia, almoço no Saint-Tropez, é incrível que novamente as 15:30 estivessem todos reunidos novamente para ouvir Osame Kinouchi do ‘SemCiência‘ falar sobre ‘Redes de informação e a blogsfera científica’. O conceito de redes complexas é fundamental para um blogueiro compreender como a informação flui na grande rede e como o qual o comportamento da informação publicada no seu blog. Ele ainda falou das mudanças na autoridade ‘technorati’ geradas pelo aparecimento do Twitter e deu um panorama da blogsfera científica brasileira, que hoje conta com aproximadamente 250 blogs, considerados como blogs ‘vivos’ aqueles que sobrevivem publicando após os primeiros 3 meses de empolgação, blogs ‘mortos’ aqueles que deixaram de publicar há seis meses e extintos os que saíram do ar.
Então Leandro Tessler do ‘Cultura Científica‘ falou da anti-ciência, o efeito negativo causado pela ciência de má qualidade publicada em jornais de grande circulação. Para ele o problema pode estar nos conflitos que a rede (internet) criou com relação a hierarquização, autoridade, e da informação. Ele acha que temos que tentar regular isso, eu acho que não dá: vamos ter que aprender a conviver com isso.
Depois de mais um intervalo, Bernado Esteves, editor da ‘Ciência Hoje on line‘ falou do espaço do blogs na divulgação de ciência e mostrou com muita clareza o papel de jornalistas e cientistas nessa divulgação, antecipando a discussão de Domingo. Para ele cada um tem sua especialidade e da mesma forma que um jornalistas não pode entrar em um laboratório e se propor a ensinar o pesquisador como operar um espectrômetro de massas, um pesquisador deveria ter mais cuidado ao propor como deve ou não deve ser o texto de um jornalista. Muita gente deveria vestir essa carapuça. Para ele, os cientistas tem um papel fundamental na divulgação ao publicar sobre o que é interessante, mas não necessariamente importante (como o funcionamento de um mecanismo molecular dentro da célula), enquanto o do jornalista é informar sobre o que é importante, ainda que não seja tão interessante (como a distribuição de verbas para a ciência no próximo ano).
O dia terminou com Osame Kinouchi distribuindo os prêmios de melhor blogs científicos eleitos por votação popular organizada pelo ‘Anel de Blogs Científicos‘.
Como a 6a feira tinha terminado tarde, resolvemos todos ir direto para o Saint-Tropez tomar uma cerveja (porque ninguém é de ferro) e tentar voltar mais cedo para a pousada. Foi uma ótima idéia, mas não funcionou. Fomos todos dormir tarde. Cardoso se apaixounou pela filha do dono do Saint-Tropez, uma loira linda com um micro shortinho que trabalhava no caixa e que ele apelidou carinhosamente de Penny, em homenagem a loirinha que anda com Nerds no seriado ‘The Big Bang Theory‘.

Falta 1 dia para o II EWCLiPo

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O II EWCLiPo começa amanhã, mas nós já estamos indo pra Arraial arrumar tudo pra esperar vocês. Ainda dá tempo de se planejar. A programação está imperdível.
PS: Se o tempo continuar assim chuvoso, o encontro será um sucesso! 🙂

Observações

Tava escrito até no artigo da Nature: blogueiros nunca poderão substituir jornalistas, porque eles querem escrever apenas sobre o que eles quiserem.
Talvez seja porque estou me emocionando lendo a biografia de Nelson Rodrigues escrita por Ruy Castro que hoje não vou falar diretamente de ciência. Nelson era incrivelmente, unanimamente mal compreendido, mas fazia poucas, muito poucas concessões. Admiro pessoas que fazem poucas concessões (talvez da mesma forma que não admiro aquelas que não fazem nenhuma).
Hoje uma querida amiga, psicóloga, me enviou um link para um artigo que falava sobre como homens ‘perdem a cabeça’, um eufemismo para ficam mais burros, quando falam com um mulher bonita.Lembrei de você‘ ela escreveu.
Tentei ler o artigo original, o que eu sempre faço quando leio um release que chame atenção, que seja minimamente interessante, ou de alguma forma polêmico; mas o site do sciencedirect, que guarda os artigos da “Journal of Experimental Social Psychology“, mas hoje o site está fora do ar para manutenção durante todo o dia. O primeiro release foi publicado no Telegraph, de Londres, um jornal que pode não ser o mais sério, mas também não é pequeno.
Não precisei ler o artigo original para ver que concluir que se tratava de mais um estudo mal planejado, com conclusões precipitadas, mas que, por se tratar de um tema popular, saiu publicado em jornais de todo mundo.
E aqui novamente me lembro de Nelson Rodrigues.
Ontem dei uma aula sobre Criatividade no mestrado em Educação em Saúde da Fiocruz. Há vários anos meu amigo Milton me convida para dar essa aula. Eu sempre convido ele pra falar sobre marcadores moleculares de doenças negligenciadas no meu curso de Relações Gene-Ambiente, o que é muito menos legal. Mas esse ano estou compensando, porque ele fará a abertura do 2o EWCLiPo, falando sobre ciência e gastronomia: pode ter alguma coisa mais legal?
Ontem, antes da aula, enquanto discutíamos sobre o caipirinhas de DNA (que ele preparará ao vivo no encontro) conversamos, como tantas vezes fazemos, sobre ciência e sociedade. A citação do artigo ‘cospe ou engole’ em um texto sensacional sobre orgasmos, no blog Rainha Vermelha, gerou mais de 500 acessos no VQEB. Chegamos a conclusão que se quisermos aumentar o nosso público leitor, teremos de colocar sexo entre as palavras-chave.
O artigo ‘mostra’ que homens que conversam, até mesmo poucos minutos, como uma mulher que eles acham atraente, tem uma performance pior em testes para medir habilidades cognitivas. Isso estaria relacionado ao esforço de sedução que os homens empregam e as oportunidades de acasalamento que procuram. As conseqüências estariam nos efeitos dessa ‘baixa performance’ em ambientes de trabalho e escolas mistas.
Me lembro novamente de Nelson Rodrigues, porque talvez, eu disse talvez, o artigo fosse interessante como exercício teórico. Mas isso na Holanda. No Brasil, Nelson já falava disso mais de 50 anos atrás (‘Vestido de Noiva’ estreou em 1953).
Como pesquisa científica? Fala sério. O cara usou um grupo de 100 adolescentes, estudantes de alguma faculdade da Holanda, conversando com modelos. Pra quem quiser saber alguma coisa séria sobre sexo e a natureza humana, leia a ‘Sperm Wars’ ou ‘Red Queen‘. Sinto muito, mas os títulos estão em inglês justamente porque os livros ainda não foram publicados em português (outra opção é ler o VQEB).
Houve uma época que todos os livros de ciência traziam ‘Deus’ no título. Era uma estratégia de marketing. Será que basta agora colocar sexo no título? Eu aprendi com que nunca, nunca devemos enganar o nosso leitor. Por isso, sexo no título (ou nas palavras chaves) só quando tiver sexo no texto.
Mas não só. Escreveremos sobre sexo apenas quando houver o que ser dito sobre sexo. Pelo amor de Deus(?)! O artigo sobre ‘Como a interação como mulheres atraentes podem diminuir as funções cognitivas do homem’ sugeria como leitura outras pérolas:

Infelizmente, existem revistas demais que são científicas de menos. E um jornal sensacionalista quase sempre conseguirá ‘legitimar’ de um de seus artigos em um artigo científico furreca. E sem critério, não dá pro leitor saber.

Cuidado com o penteado

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“Gosto não se discute” é o que diz a sabedoria popular. Mas não é bem assim, não é mesmo? Pra começar uns dizem que na verdade não se discute, se lamenta. Mas a maioria… essa gosta mesmo é de discutir (e principalmente criticar) o gosto dos outros. Se olharmos pra todos os bares lotados no Rio de Janeiro a partir de 5a (4a?) feira, podemos até dizer que é esse o esporte nacional.
Pô, então eu vou me juntar ao coro dos que não gostaram do texto publicado na coluno Espiral do G1. O estudo de um indiano, publicado numa revista indiana, revela(?) a relação entre o sentido dos redemoinhos no couro cabeludo de homens e as suas preferências sexuais. Eu já escrevi sobre homsexualidade aqui e aqui e sei que é um tema acalorado. Mas é sempre um tema que desperta o interesse das pessoas, então sempre que há uma discussão científica sobre o assunto, vira notícia. O problema é que de ciência o artigo original tem muito pouca. Falta de embasamento teórico, seleção de observação, baixo número amostral, má aplicação de ferramentas estatísticas, conclusões tendenciosas… está tudo lá (vejam os comentários da matéria). Nossa… parecia até o exemplo que meu amigo usava nas aulas de estatística sobre como a eventual existência de correlação entre ‘dias de chuva x número de homens calvos’ em uma cidade não demonstra qualquer relação causal. A relação entre a preferência sexual, a orientação dos redemoinhos de cabelo e o uso de hemisférios do cérebro é tão fraca que eu arrisco a dizer que na verdade a orientação dos redemoinhos é um efeito da força de Coriolis (aquela relacionada com a rotação da Terra e que faz com que a água desça pelo ralo para a esquerda no hemisfério sul e para a direita no hemisfério norte). A impressão que dá é que o autor (do artigo) quis fazer uma brincadeira. E o autor da coluna quis fazer outra. Só que parece, pelos comentários, um monte de cientistas lêem a coluna e não acharam muita graça. Vai gente, foi brincadeira! Logo o Alysson que parece ser um cara preocupado com as mazelas do marketing científico a ponto de escrever um artigo sobre o tema no início do ano. Então acho que foi só uma brincadeira de gosto duvidoso mesmo. Tomara que ele publique logo outra coisa. Mas justamente quando o II EWCLiPo se propões a discutir o papel de cientistas e jornalistas na divulgação científica, não poderia deixar de comentar isso. Dá até pro Leandro usar na palestra dele.

A Musa

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Uma das coisas que me fascina na ciência é a íntima relação com o conhecimento. Me deixa excitado e é o maior afrodisíaco que conheço.
Tantas coisas aparentemente chatas ficam legais depois que você conhece a história por trás delas. É o caso dos Fori romanos. Quem disser que acha lindo aquele monte de ruinas está mentindo pra se fazer de intelecutal. Mas quando você vê uma reconstituição dos edifícios, lê a história da batalha, cuja vitória justificou a construção de um templo em homenagem ao Deus da guerra (Marte), aprende de onde foram trazidos os mármores das colunas, então tudo ganha um significado diferente e passear por aqueles escombros se torna uma aventura épica. É melhor que o livro, que é melhor que o filme.
Por isso que eu disse que dá tesão, porque é a emoção gerada pelo conhecimento, e não o conhecimento em si, que muda tudo. As vezes uma informação simples, transforma algo banal em uma coisa especial. Se não especial, bela. Enfeita.
E a biologia pode fazer o mesmo pelas coisas simples. E ainda hoje, apesar da nossa longa convivência, continua me surpreendendo. Veja a banana. Para mim sempre foi a mais banal das frutas: ‘dá como banana em cacho’; ‘a preço de bananas’… Nunca fui muito fã de bananas. Já meu avô, português de Trás-os-montes, adorava bananas que na sua terra eram uma coisa completamente diferente do que se encontrava aqui.
Talvez tenha sido quando morei fora do Brasil e as bananas eram realmente horrorosas, ou quando aprendi a dividir uma banana em 3 no ‘The Dreamers’ de Bertolucci, ou quando descobri que é uma fruta muitíssimo prática para quem mora sozinho e quer ter uma fruta em casa. Comecei a ficar fã das bananas. Mas depois de ontem, elas me emocionam.
Como não pude atender o convite, fui perguntar as meninas como tinha sido a fala do escritor angolano Agualusa na Travessa. Eu já tinha visto ele na FLIP de 2007 e sabia que o cara era bom. Elas disseram que ele contou como ser agrônomo influenciou na sua decisão de ser escritor, porque ele se inspirava nos belos nomes científicos das espécies. O exemplo foi a banana, cujo nome científico, dado por Lineu no século XVIII é Musa paradisiaca. Gente… e como eu não sabia disso?
Quis saber mais (porque eu sou assim mesmo é quero sempre mais). Na verdade a pergunta na minha cabeça era: o que levou Lineu a dar esse nome tão singular a banana?
Curiosamente encontrei a resposta. Mas essa história já está super bem contada neste artigo de 2001 da colunista Vera Moreira, que eu cito aqui não só porque vale super a pena ser lida a etimologia do termo escolhido por Lineu para identificar cientificamente a banana (que já foi tida como a verdadeira fruta proibida), mas também porque eu sempre cito as minhas fontes e não quero mais os chatos de plantão me acusando de plágio.
De uma forma ou de outra, foi emocionante comprar bananas no supermercado hoje.

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