Em busca dos 7 lugares de pensamento

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Na semana que vem começam meus cursos na pós-graduação, além do curso de formação de professores a distância da UAB que estou ajudando a ministrar, e como uso cada vez mais a escrita na avaliação dos alunos, quis pesquisar sobre a principal ferramenta que uso para e escrever e ensinar meus alunos a escrever: os 7 lugares do pensamento, representados pelas perguntas ‘O que’, ‘Quem’, ‘Quando’, ‘Como’, ‘Onde’, ‘Por que’ e ‘Para que’. Eu aprendi sobre eles com a Sonia Rodrigues quando estava reaprendendo a ler e a escrever.
Só que separar o Joio do trigo em busca da informação acurada no Google pode ser uma saga, como eu já descrevi aqui. Dessa vez foi outra epopéia, que eu contarei aqui, junto com o que eu descobri. Vou contar ela do início. O meu início. A minha ‘trilha’ do texto (que eu agora, depois do texto terminado, admito que ficou longa, quase um artigo. Certamente mais do que um post deve ser. Por isso, resolvi avisar aqui, pra se o tempo encurtar, você não ir embora sem ler os dois últimos parágrafos).
A primeira vez que vi as 7 perguntas fora das aulas da Sonia, foi no livro ‘O Anjo Pornográfico’ do Ruy Castro, uma biografia do jornalista Nelson Rodrigues. A história começa no Recife com seu pai, o jornalista Mário Rodrigues, do ‘Jornal da República’. A história de Nelson, nesse ponto, se confunde com a história da evolução do jornalismo no Brasil. Foi lá que aprendi que as perguntas eram o ‘Lead’, uma técnica de redação, do qual eu já vou falar.
“No Brasil, durante muito tempo, jornalismo e literatura se confundiam e até a segunda metade do século XX, era considerado um subproduto das belas artes. (…) Não tinham uma técnica própria de contar história, (…) um paradigma, um modelo a seguir e os jornalistas se espelhavam na literatura, seguindo uma gama variada de estilos. (…) Além de literatos, havia no jornalismo uma certa tradição associada aos bacharéis de Direito, o que fazia do jornalismo também herdeiro de uma certa retórica ’empolada’. Logo, “os periódico brasileiros seguiam então o modelo francês de jornalismo, cuja técnica da escrita era bastante próxima da literária. Os gêneros mais valorizados eram aqueles mais livres, como a crônica e o artigo polêmico”
Essa introdução do artigo de Lígia Guimarães[1] sobre o processo de produção jornalística no Maranhão da uma boa idéia do jornalismo naquela época, do qual um dos ícones era o ‘Nariz de Cera‘:
“O ‘nariz de cera’ era o texto introdutório, longo e rebuscado, normalmente opinativo, que antecedia a narrativa dos acontecimentos e que visava ambientar ao leitor sobre os fatos que seriam narrados a seguir. Usava uma linguagem prolixa, cheia de preciosismos e pouco objetiva. Outra marca visível do padrão francês no jornalismo brasileiro era o excesso de títulos e uma ausência de lógica na hierarquia do material.”
Isso dava muita liberdade aos redatores para ‘criar’ a notícia, como relata o Ruy Castro:
“Quando chegavam antes da polícia, repórter e fotógrafo julgavam-se no direito de vasculhar as gavetas da família, surrupiar fotos cartas íntimas e róis de roupas do falecido. Os vizinhos eram ouvidos. Fofocas abundavam no quarteirão, o que permitia ao repórter abanar-se com um vasto leque de suposições. (…) De volta à redação, o repórter despejava o material na mesa do redator e este esfregava as mãos antes de exercer sobre ele os seus pendores de ficcionista.(…) Nas suas mãos [de Nelson Rodrigues], o atropelamento de uma velhinha na rua São Francisco Xávier, no bairro do Maracanã, toprnava-se uma saga digna do merlho sub-Anatole France
Era ótimo para ficção e nos deu, anos depois, “A Vida como ela é” de Nelson Rodrigues . Mas para a verdade do fato… não era tão bom assim.
Tudo isso mudou na metade do século com a introdução do ‘Lead‘. O ‘Lead‘ palavra inglesa que significa ‘guiar, conduzir‘, é o primeiro parágrafo da notícia, a abertura que deve apresentar aos leitores os principais fatos, seguindo a lógica da ‘pirâmide invertida’ (o mais importante vem primeiro).
Aqui a dificuldade da busca por informações precisas se mistura com o próprio objeto da busca: será que se as pessoas se ativessem ao fato na hora de escrever seria mais fácil encontrar a informação? Acho que sim.
Pra começar tentaram, ainda que sem muito sucesso, abrasileirar o termo para ‘lide‘, o que já te manda para algumas páginas completamente fora do escopo. Mas o grande problema mesmo é a disputa pela paternidade do ‘Lead‘ (ou lide se você preferir), como vocês podem ver nesse trecho do artigo ‘Jornalismo Narrativo’ de Felipe Gomes[2]:
“No Brasil, o ‘Lead’ foi implantado pela primeira vez na redação do jornal ‘Diário Carioca’ em 1951, e muito se acredita que pelas mãos do chefe de redação, Pompeu de Souza, considerado o ‘pai do moderno jornalismo brasileiro’. Mas, segundo Nelson Werneck Sodré, a reforma foi devida a Luís Paulistano, chefe da reportagem.”
Outros autores ainda tentam atribuir a mudança ao Jornal do Brasil, mas o texto do Ruy Castro confirma a introdução do Lead no Brasil pelo ‘Diário Carioca’:
“O Diário Carioca (…) em sua casa nova, iria promover uma revolução na imprensa brasileira, adotando a técnica americana de uniformizar os textos e implantando a novidade do ‘copy-desk’ – o redator encarregado de escoimar as matérias de verbos como, por exemplo, escoimar. Ninguém mais podia ser literato na redação, a não ser em textos assinados, e olhe lá. As reportagens do ‘Diário Carioca’ tinham de ser objetivas e, logo nas primeiras linhas, dizer quem, quando, onde, porque e como o homem mordera o cachorro. Se fosse o contrário (mesmo que atendendo as exigências das 6 perguntas) não interessava. Isso se chamava ‘Lead’ – no fundo, um simples qui, quae, quod com Ph.D em Chicago”.
O Lead não foi bem aceito por todo mundo. Ainda hoje, se peço aos meus alunos, principalmente àqueles que são professores para serem mais sucintos… os animos se inflamam e sou acusado de tudo que vocês possam imaginar.
“Na década de 50, a modernização do jornalismo brasileiro causava fortes discussões, acalentadas pela percepção de que a própria sociedade rompia com antigos padrões de cultura, política e comportamento. (…) A idéia da objetividade, que vinha agregada aos conceitos do Lead, chegava em detrimento do jornalismo em profundidade (que então crescia no Brasil). (…) A modernização do jornalismo se adequava aos processos industriais e atribuía ao passado a escrita tida como literária e desregrada, enquanto o jornalismo que se instalava procurava apresentar-se mais técnico, isento e regrado. Fortalecia a distinção entre informação e opinião.”
[2]
Mas a minha pesquisa não era sobre o ‘Lead‘ no Brasil. Não era nem mesmo sobre o Lead, mas sim sobre as 6 perguntas (que eu acredito que sejam melhor como 7, como aprendi com a Sônia, e como já discuti aqui). Ninguém sabe direito também quem inventou o ‘Lead‘ e as páginas na internet apontam em muitas direções. Um wikipedia da vida atribui ao jornalista americano Walter Lippmann na decadá de 1920-30, mas se ele foi alguma coisa, foi apenas o principal divulgador da ferramenta, já que era um árduo combatente do ‘tendenciosismo’ no jornalismo.
“O início do mito da imparcialidade, intrinsecamente arraigada ao modelo do ‘Lead’, teria raízes ainda mais distantes (…) a divisão entre informação e opinião teve início no dia 11 de maio de 1702, com o jornal inglês ‘The Daily Courant’. A primeira notícia redigida com a técnica da ‘Pirâmide Invertida’ teria aparecido no ‘The New York Times’, em abril de 1861″ diz um artigo do professor Luiz Costa Pereira Junior[3], que segue:
“o surgimento do atual modelo que impera no jornalismo impresso ocorreu durante a Guerra Civil dos Estados (1861-1865), como uma tentativa dos militares de superarem a falta de tecnologia da época. Com as dificuldades nas transmissões de dados via telégrafos, tanto entre meios de comunicação quanto nos próprios serviços militares, consolidou-se o artifício de inserir as principais informações da forma mais objetiva possível logo no topo da notícia. Naquela época, o telégrafo era a tecnologia mais utilizada para enviar informações para regiões mais distantes, mas, ainda assim, com falhas: comumente as informações chegavam incompletas ao destinatário. Nesse contexto, surgiu o paradigma da ‘Pirâmide Invertida’ e do ‘Lead’, cuja paternidade é reivindicada por norte-americanos e ingleses.”
Eu estava quase perdendo as esperanças quando encontrei a minha resposta. E não podia ser melhor. Resolvi replicar o artigo do professor Francisco Karam no Bioletim por que não achei os sites por onde encontrei o artigo dele muito confiáveis (até porque ele publicou em mais de um veículo), mas a maior parte das vezes a referência apontava para a revista mexicana Prensa. Ele diz que a origem do ‘Lead’ remonta a Roma antiga, quando Cícero, no seu livro ‘de Inventione‘ retoma idéias de retórica e oratória dos antigos gregos. Eu vou reproduzir alguns trechos aqui para encerrar a minha trilha, mas vale a pena ler o artigo completo.
“A origem do ‘Lead’ (…) não é responsabilidade exclusiva do jornalismo norte-americano ou inglês. Não surge do acaso ou por um simples arbítrio na articulação do discurso. (…) Em Roma, filósofos retomam a tradição grega da Retórica, entre eles o exímio orador Marco Túlio Cícero. Os retores, entre os quais Platão, Aristóteles e Protágoras (cerca de 400 anos antes da era cristã), na Grécia Antiga, já haviam consolidado a idéia de que o discurso deveria ser bem articulado e acessível às massas. Para que a exposição fosse completa exigia-se, no entanto, alguns elementos essenciais. Para o famoso orador romano, era preciso responder as perguntas quem? (quis/persona) o quê? (quid/factum) onde? ubi/locus) como? (quemadmodum/modus) quando?(quando/tempus) com que meios ou instrumentos (quibus adminiculis/facultas) e por quê (cur/causa). As proposições de Cícero, originadas na Retórica da Antigüidade Grega, foram paradigma da exposição de acontecimentos nos dois milênios seguintes. Em diversos momentos, ao longo de tal período, as circunstâncias do fato tiveram grande relevância na constituição de uma ética da palavra, sendo exemplarmente utilizada no discurso jurídico e na argumentação filosófica. (…) lembra que a retórica envolve o docere (transmissão de noções intelectuais), o movere (atingir os sentimentos) e o delectare (manter viva a atenção do auditório, sem se deixar dominar pelo aborrecimento, pela indiferença e pela distração). Por isso, a linguagem deve ter um caráter claramente acessível, já que se dirige não a mentes superiores, a espíritos puros, mas a homens de carne e osso, sujeitos portanto ao cansaço e ao tédio, vulneráveis a raciocínios demasiado difíceis“.
É isso, a ética da palavra. Que termo lindo! Ser ético na palavra é falar para ser compreendido, é assumir que parte importante da responsabilidade da compreensão da informação está em quem transmite a informação! É saber para quem está falando, ou então, falar para todo mundo! E para falar pra todo mundo, você tem que falar simples, falar conciso, falar objetivo. Por que? Porque assim todo mundo te entende! E ninguém desmaia de chatice.
P.S. Na minha busca, nenhum dos endereços WEB fornecidos nos documentos que encontrei funcionaram. Tive que usar o nome dos autores e trechos dos artigos para prosseguir com a busca e chegar aos originais. Por isso não coloquei os links, mas aqui vão os títulos e autores. Antes que alguém reclame, não são artigos científicos, por isso não sigo o padrão acadêmico de citação. Boa sorte na busca!
[1] Processo de Produção jornalística: do nariz de cera ao lead nos jornais de São
Luis. Lígia Guimarães, Pâmela Pinto, Reuben da Cunha Rocha Junior, Sarita Bastos Costa e Yane Botelho.
[2]Jornalismo Narrativo. Eficiência e viabilidade na mídia impressa. Felipe Sáles Gomes, Klenio Veiga da Costa e Renata Lourenço Batista.
[3] A crise e a historia da pirâmide invertida. Luiz Costa Pereira Junior.

Check-List

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“Tô cansado do meu cabelo, tô cansado da minha cara, tô cansado de coisa vulgar, tô cansado de coisa rara”
Eu sei, tô muito novo para estar cansado, mas me dá um desanimo cada vez que tenho que ler uma tese, participar de uma banca, seja de tese ou de seleção. Talvez esteja até irritado esses dias, porque esse é meu terceiro post amargo. Mas… se os Titãs puderam um dia, então eu também posso.
É o seguinte, tá na hora de fazermos uma mea culpa para podermos mudar o status quo e preparar essa garotada para o mundo cruel ai fora.
Somos, muitas vezes, condescendentes com nossos alunos menos favorecidos ou menos capazes, por que nos convém: nos ajudam no lab, sabem uma coisa que os outros não sabem e demorariam para aprender, estão com a gente a muito tempo e desenvolvemos um carinho paternal/maternal, ou pelo motivo menos nobre de todos: obedecem nossas ordens sem questionar. Uma maravilha!
Mas a verdade é que não estamos formando bons profissionais. Estamos formando bons alunos para seguirem sendo ‘nossos’ alunos. Sim, porque se eles saírem de nossos laboratórios para uma outra universidade ou para um emprego fora da academia… eles não tem a menor chance.
Ou vocês acham que um entrevistador da ‘Natura’, por exemplo, tem 20 min para cada candidato apresentar seu projeto? Aonde o candidato ainda ultrapassa os 20 min? Sendo que levou 18 min para chegar aos objetivos?
Como disse semana passada, eu ainda acho que eles estão seguindo um modelo. Que lhes foi passado, ou que eles deduziram, vendo outras teses, aulas e seminários. Mas que está equivocado. E nisso, ela tinha razão (assim como tinha razão em várias coisas, mas nunca conseguiu ficar tempo suficiente para descobrir isso). Modelos pré-estabelecidos não servem. São para preguiçosos e pessoas pouco inteligentes. O que nós precisamos é de um check-list.
Então vou propor um check-list defesa de tese, de projeto, de seminário, de entrevista. Assim, que me encontrar ou me convidar para uma banca daqui pra frente, não vai poder dizer que não estava avisado:

  1. Seu título não tem mais de 30 palavras? (Uma linha. No máximo duas. Título não é resumo)
  2. Seu resumo responde as perguntas: O que? Quem/Qual? Quando? Como? Onde? Por que? Para que? (na verdade TODO o seu texto, cada primeiro parágrafo de sessão, deveria responder essas perguntas)
  3. Suas palavras-chave Não são vagas? Elas repetem palavras do título?
  4. Sua introdução ocupa menos de 30% da sua apresentação/tese? Ela esclarece o que o leitor precisa saber para avaliar seus resultados? Ela não repete desnecessariamente informações que o seu leitor já possui?
  5. Sua apresentação tem um número de slides correspondente a, aproximadamente metade do seu tempo de apresentação? (se você gasta menos de 30 s em um slide, é provavel que a sua platéia não tenha entendido direito. Se você gasta mais de 2 min, ela está entediada com ele. em ambos os casos, o slide não cumpre seu papel. Na média, você deve levar 2 min por slide. Por isso, NÃO INSISTA e não coloque slides demais!)
  6. Seus slides estão abarrotados de informação? Suas figuras são grandes o suficiente para que que o leitor possa efetivamente ver a informação? (florzinhas são para alunos do 2o grau enfeitarem o orkut. Uma figura ilustra e explica. Ou ainda sensibiliza. Em ambos os casos, ela deve ser nítida. Não use mais que 6 itens por slide e não mais que duas frases por item. Mais que isso… sua platéia perdeu o fio da meada).
  7. Sua apresentação usa fundo escuro e letra clara? Seu poster usa fundo claro e letra escura? (por causa do brilho da tela do computador, ou projetor, devemos evitar fundos claros. Fundo azul e letra amarela dão a melhor relação contraste/legibilidade. Se você não sabe montar uma apresentação com uma combinação de cores e distribuição de espaço e tipos de letras, escolha uma pronta do PPT. Elas estão lá pra isso e muitas foram feitas por especialistas.
  8. Seus dados são normais? Sua estatística é não paramétrica? Seus gráficos mostram média ou mediana? Desvio padrão ou quartis? (se você não sabe isso, vá descobrir antes de apresentar seu trabalho para uma platéia)
  9. Seus gráficos com resultados comparativos tem eixos na mesma escala? Os eixos tem nomes? Dá pra ler os eixos?
  10. Você sabe que ‘significativo’ é um termo estatístico? Você sabe o que é erro do tipo I e erro do tipo II? Você sabe a diferença entre coeficiente de regressão e correlação? O que é uma variável independente? E a diferença entre significância estatística x biológica? (se não sabe… vá descobrir, de novo, antes de se apresentar em público. Mas já tá arriscado a ter que adiar a sua prévia. E aprenda o que é um gráfico box-plot, porque existe uma chance enorme dele ser o gráfico correto, e não um gráfico de barras).
  11. Seus objetivos batem com suas conclusões?
  12. Você treinou antes da sua apresentação? Falou para o espelho? Gravou você falando no MP3? Ouviu? Releu o seu trabalho? Releu em voz alta?
  13. Seu orientador leu seu trabalho? Tem certeza? Alguém mais leu? Você atendeu as sugestões dessas pessoas em cuja experiência/opinião confiou?
  14. Você não abusa das cores e ornamentos? O tamanho das letras é legível? Mas também não é grande demais?
  15. Você passou o corretor ortográfico? Pediu para alguém revisar o inglês? Escolheu um padrão para títulos e subtítulos? Escolheu um padrão para a bibliografia e manteve esse padrão?

É isso gente, 15 itens que podem salvar a sua tese. Pelo menos se eu estiver na banca. Claro, dado que você tenha feito um bom trabalho experimental e que saiba do que está falando. Se seguirem esse check-list, garanto que não vão passar vergonha. Nunca! E ainda podem sair com um título, uma vaga, ou um emprego.

Bioletim Script for Science Communication

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In 1993, when a group of undergrads in biology from the (Federal) University of Rio de Janeiro created the BIOLETIM journal, we were aiming to provide a space where students could write about their research, to become familiar with the ‘art’ of article publication.
Open parentheses: Art? No, writing is not an art, neither is a natural talent that you are born either with or without. Writing is practicing! Is training! It is not inspiration, it is transpiration! But at that time we didn’t know that and still many student don’t know that. It is common, for example, to see on the chronograph of a thesis project, the last two months ‘reserved’ for the manuscript preparation. But when the time arrives, the student sit in front of the computer kind of waiting for ‘divine illumination’ to control their fingers to put characters in the computer screen in a way that they make sense. A kind of psychography. Close parentheses.
When in 2007 we published the BIOLETIM online version which should be even more publication friendly (we can’t forget that a printed journal is much more expensive than a online one), we thought that we would have thousands of submissions. But it didn’t really happen like that. We had a beautiful, high tech website, but we had no authors.
There are many reasons for that, but one of these is, I’m sure, that writing is more difficult for the students than they actually think!
That’s why we created a script to get the students out of inertia, out of the ‘writer’s block’. The script is available online in Portuguese at the BIOLETIM website. (you need to register and loggin to access)
But when I was preparing one of my ISMEE classes, I thought that this script could be useful not only to Brazilian students, but for everyone. Thus, we created and English version. I really liked the result! The file is an electronic form in .doc format and is available to download here.
The ‘BIOLETIM script’ is strong influenced by the ‘Autoria (authorship)‘ method (only in portuguese), created by Sonia Rodrigues and if you want to practice even more your writing, we strongly recommend the ‘Almanaque da Rede’ (only in Portuguese) which I have already mentioned hereaqui.
Download the script and write your science communication article. If you have any doubts or comments, write it in here and we will get back to you. We will be flattered if after that you send your article to be published at the BIOLETIM.

Roteiro Bioletim para divulgação cientíca

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Em 1993, quando um grupo de alunos de graduação em Biologia da UFRJ criou a Revista BIOLETIM, nosso objetivo era disponibilizar um espaço onde os estudantes pudessem escrever sobre suas pesquisas, iniciando-se na ‘arte’ da publicação de artigos.
Abre parenteses: Arte? Não, escrever não é uma arte, nem um talento inato. Escrever é prática! É treino! Não é inspiração, é transpiração! Mas até então a gente não sabia disso e a maior parte dos estudantes ainda não sabe disso também. É comum, por exemplo, vermos projetos de tese onde o aluno separa os dois últimos meses para ‘escrever a tese’. E quando chegam esses dois meses, ele senta em frente ao computador esperando que a iluminação divina se manifeste através dos seus dedos, enchendo a tela do computador com caracteres que façam sentido. Como se fosse psicografia. Fecha parenteses.
Quando re-editamos o BIOLETIM em 2007, numa versão online que favorecia ainda mais a publicação de artigos (porque afinal de contas uma revista online é muito mais barata que uma impressa), achamos que teríamos uma chuva de publicações. Só que não foi bem assim. Tinhamos um site bonitinho, de alta tecnologia, mas não tinhamos autores.
Há várias razões para isso e não vou discutir todas aqui. Mas uma delas, tenho certeza, é que escrever é mais difícil para os alunos do que eles pensam!
Por isso, criamos um roteiro para tirar o pessoal da inércia, do ‘branco’ que dá na hora de começar a escrever. O roteiro está disponível em português, online, no site do Bioletim. (você precisa estar logado no site para acessar)
Mas quando eu preparava uma das aulas do ISMEE, eu pensei que esse roteiro poderia ser útil não apenas para os alunos brasileiros, mas também para todo mundo. Por isso criei uma versão em inglês. Eu acho que ficou ótimo! O arquivo é um formulário eletrônico em formato .pdf e disponível para baixar aqui.
O ‘Roteiro BIOLETIM’ tem forte influência do método ‘Autoria‘ de escrita criativa criado pela escritora Sonia Rodrigues e se você quiser expandir sua prática em escrita, nós recomendamos fortemente o ‘Almanaque da Rede’, sobre o qual eu já falei aqui.
Faça o download. e escreva o seu artigo de divulgação científica. Qualquer dúvida, coloque um comentário aqui que a gente responde. E depois, mande pra gente publicar no BIOLETIM.

Comecei a ler… Almanaque da Rede

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Ontem fui assistir a Sonia Rodrigues falar sobre o seu novo livro, Estrangeira, na Livraria Saraiva do Praia Shopping. Eu não escondo de ninguém o quanto sou fã dela e o quanto aprendi com ela. Por isso, foi uma grata surpresa quando o Beto Largman pediu pra ela falar do Almanaque da rede, livro que a Sonia também está lançando.
O debate foi ótimo, porque a Sonia, além de escrever muito bem, fala muito bem. Comprei os dois livros e ganhei dois autógrafos, com dedicatórias. Comecei a ler “Estrangeira” no mesmo dia e fiquei impressionado, como só ela sabe deixar, com o sofrimento do amor.
Fui pro Almanaque da rede e ai fique impressionadíssimo. Como ela diz, na primeira página, “O que você tem nas mãos é a soma do que aprendi sobre escrever histórias e expressar opiniões. É o que aprendi nos livros que li e também nos livros, peças de teatro e roteiros que escrevi. Aprendi muito também nos jogos de Roleplaying game que pesquisei no doutorado em Literatura e nos jogos ‘Autoria’ que criei ou ajudei a criar.”
Tudo que você precisa pra re-aprender a escrever está lá. É, na minha opinião, ainda melhor do que o jogo ‘Autoria‘, porque o espaço pra escrever está lá, já que o livro tem um formato de agenda. “Um blog de papel”, como ela disse.
E aprender a escrever é isso: escrever, escrever e escrever! De nada servem as dicas se você não colocar a mão na massa. Todos os dias.
Mas enquanto ouvia a Sonia falar sobre transmídia, que é, como o nome diz, quando a história transcende a mídia e passa de um veículo para outro (como a personagem principal de Estrangeira, Eilenora, que tem perfil no facebook, um blog de verdade e está escrevendo uma graphic novel também) e discutindo com o público sobre o desafio de escrever para diferentes mídias, eu fui percebendo um monte de coisas.
Para a Sonia, escrever é escrever. Quer dizer, não existem diferentes formas de escrever, ainda que haja diferentes mídias. Claro que seu texto é de um jeito em um livro, de outro em um blog, no twitter ou quando escreve uma SMS. Mas o resultado não é ‘para’ a mídia e sim ‘por causa’ da mídia. Não deixe passar desapercebida a diferença.
O que é limitada é a mídia e não a forma de escrever. E se você escreve de um jeito para cada mídia, meu palpite é que você ainda não percebeu isso. Mas tá, e daí? Qual é o problema? O problema é que se você não percebeu isso, talvez seja porque não percebe as limitações das mídias.
Quais são as limitações? As vezes coisas simples, como o limite de caracteres do Twitter (140 caracteres) ou de um SMS (160 caracteres). E o Twitter está mostrando que é incrível o que você pode fazer com 140 caracteres se souber escrever.
A conclusão é que se você sabe escrever e sabe respeitar os limites das mídias, então poderá escrever, para sempre, em qualquer mídia que venham a inventar, o que quiser.
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Nessa hora (foto acima), Sonia estava novamente falando da “Estrangeira”, e foi então me toquei que, a mesma importância que respeitar os limites tem para ser criativo na escrita, tem para ser feliz.
Da mesma forma que muitas pessoas não conseguem escrever porque perdem mais tempo questionando o enunciado da pergunta do que trabalhando na história, muitas, as vezes as mesmas pessoas, passam mais tempo questionando a justiça das coisas da vida, dos limites que nos são impostos pelos outros, do que partindo pra outra, para serem felizes.
Perguntaram para a Sonia o que ela, com uma tese de doutorado em literatura e RPG, acha dos games. Lembrei, como muitas vezes lembro, da palestra do Roberto da Matta na FLIP: “O futebol salvou o Brasileiro! Ensinou ela a ter disciplina”. Sim, porque não importa o quanto o seu time deveria ganhar ou o quanto você queria que ele ganhasse. O jogo acontece entre 4 linhas, não vale colocar a mão e o que vale é bola na rede. Não importa o quanto você queira que o seu time ganhe, ou o quanto um minuto a mais ou a menos mudaria o resultado: o seu time tem 90 min pra ganhar o jogo. Nem mais, nem menos.
Nos games (sejam os videogames de hoje ou o WAR que eu jogava), ninguém pode mudar as regras e ninguém questiona a instrução. E todo mundo aceita. E por isso as pessoas superam as fases e os desafios.
Então porque nas perguntas de prova, entrevistas de emprego e, porque não dizer, no amor, as pessoas preferem ficar questionando a matéria do professor, a pergunta do entrevistador e, porque não dizer, as razões do amante. Tomam pau na prova, pé na bunda no emprego e… chifre. O resultado é que são menos felizes.
O “Almanaque da Rede” pode ajudar as pessoas a superar os desafios, respeitar os limites para escrever, escrever melhor e serem mais felizes!

As metáforas científicas no discurso jornalístico

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Hoje dei uma palestra sobre Escrita Criativa em Ciência na III Escola Temática de Química da UFRJ cujo tema era Divulgação Científica. Na palestra anterior a minha, um aluno perguntou que ferramentas poderiam ser utilizadas para sensibilizar o público da presença da ciência no nosso dia-a-dia.
Uma possível resposta para essa pergunta foi dada pelo nosso colega blogueiro e físico da USP-Ribeirão Osame Kinouche, com a psicóloga Angélica Mandrá, no ótimo artigo “Metáforas científicas no discurso jornalístico”. Meus amigos jornalistas deveriam adorar. Quando conversei com eles pela primeira vez sobre esse assunto, no I EWCLiPo, fiquei pasmo: era óbvio e eu nunca tinha pensado a respeito.
O que só torna a percepção deles mais genial: existem dezenas de termos utilizados na linguagem formal e informal cuja etimologia é científica.
As mais fáceis de reconhecer são termos da geometria Euclidiana como Ponto de vista; Linha de raciocínio; Traçar um paralelo; Analisar por outro ângulo; Volume de conhecimentos; Plano pessoal; Círculo de amizades e Triângulo amoroso.
É verdade que o oposto também é verdadeiro, e os cientistas se aproveitam de termos coloquiais com forte apelo imagético/sensorial para criar expressões científicas que possuem forte carga metafórica: barreira entrópica, relevo de energia, poço de potencial, ruído branco, paisagem rugosa, rede cristalina, buraco negro, supercordas. Termos mais simples como “carga”, “corrente”, “fio”, “pressão”, “resistência”, “campo” etc. também são etimologicamente anteriores ao seu uso científico.
Algumas vezes a comunicação tem ruído e as metáforas não funcionam bem. E com conseqüências relativamente sérias para o aprendizado de alguns conceitos em física: as palavras “aceleração”, “força”, “peso”, “trabalho”, “energia”, “calor”, tem sentidos coloquiais diferentes do técnico. Ou você não sabia que o que chamamos de ‘peso’ na verdade é a ‘massa’ de um corpo, e que o peso mesmo é a resultante da ação da gravidade nessa massa?! E dai?! Você pode dizer. Bom, você pode achar que isso não tem importância, mas dá um nó na cabeça dos alunos tanto no ensino médio quanto depois na faculdade de física. E nós já temos problemas suficientes para formar todos os físicos que o Brasil precisa.
A saída acha pelos cientistas para minimizar essa confusão não ajuda em nada a aproximar a ciência do cidadão leigo. Eles criam neologismos radicais, com um mínimo de sentido metafórico: quark, próton, entropia, entalpia, fractal, quasar etc. Mas mesmo assim, esses termos acabam chegando metaforicamente a linguagem comum, como já acontece com entropia (como metáfora para desordem) e fractal (como metáfora para organização em vários níveis). Não é um barato?!
Para vocês terem uma idéia, numa análise do número de vezes que os termos ‘pêndulo’ (física clássica) e ‘buraco negro’ (física moderna) são utilizados metaforicamente em aproximadamente 50% dos textos jornalísticos dos portais da Folha de São Paulo, do Estado de São Paulo e do G1 (confira o artigo para ver os números exatos).
O uso desses termos também demonstra que o uso metafórico de termos técnicos científicos serve para aumentar o potencial de expressão criativa do cidadão comum, ou mesmo um reconhecimento mais correto do mundo que o cerca, porque amplia ou expande a sua compreensão: termos como “forças políticas”, “equilíbrio de poder”, “fonte de atrito”, “tensão social”, sugerem a visão mecanicista da sociedade como uma máquina, que remete a física clássica determinística de Newton. No entanto, muitos desses fenômenos não tem nada de determinísticos. E a medida que aumenta a compreensão dos cientistas de fenômenos não lineares, como aqueles governados pela teoria do Caos, novos termos que expressam mais corretamente a incerteza relacionada aos fenômenos, como “efeito borboleta”, se incorporam a linguagem e permitem a representação mais correta dessas idéias.
Isso é muito importante porque, como dizem os autores, “Nosso repertório metafórico não apenas limita nossa capacidade de falar sobre tais sistemas, mas afeta nossa maneira de concebê-los e interagir com eles.”
Osame e Angélica terminam concluindo que o pensamento, o ato da cognição, é metafórico e usamos metáforas para compreender um conteúdo-alvo abstratos a partir de um conteúdo-origem concreto. Ao enriquecer o repertório conceitual da população, a educação e a divulgação científicas produzem novas metáforas no discurso comum, que permitem a melhor descrição de sistemas complexos como os sistemas sociais e econômicos.
Se você se interessa por ciência e por divulgação científica não pode deixar de ler.
PS: E olhem só, apesar de eu ter conversado apenas um pouco com um e outro tempos atrás pelo grande interesse que o assunto me despertou, ainda ganhei uma menção nos agradecimentos. Obrigado!

"E eu não quero dar pasto a crítica do futuro"

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A frase de Machado de Assis, lida em um dos autofalantes na exposição sobre o autor no museu da Língua Portuguesa (SP), reflete o cuidado que o escritor tinha antes de publicar um escrito.
Me lembrei da frase depois de conversar essa semana com duas pessoas. Ambas assistiram minha palestra sobre escrita criativa no II EWCLiPo: um é um pesquisador renomado e o outro um aluno que sempre enfrentou dificuldades com os rigorosos critérios da academia. Ambos acham que seus textos sempre precisam de mais alguma coisa antes de publicá-los. E nunca publicam.
“Escrever é sobretudo reescrever” falou o Antônio Lobo Antunes na FLIP e eu repeti na palestra. Conclamei todos a criarem seus blogs e começarem, com textos pequenos, falando de momentos ou acontecimentos específicos (como a dica de Fredo “escreva sobre o 1o tijolo, da esquerda para direita, do alto para baixo, do prédio da prefeitura em frente a lanchonete” com a qual conseguiu quebrar o bloqueio de uma aluna em ‘O Zen e a arte da manutenção de motocicletas‘), mas que por favor, começassem a escrever.
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A primeira coisa para andar avante em um texto é excluir o medo de errar como critério de qualidade. O medo da critica do futuro nunca impediu Machado de publicar nada. Os cientistas, por exemplo, sempre erraram. Um dos maiores deles, Einstein, acreditava em variáveis escondidas na mecânica quantica e refutava a sua natureza probabilística (o livro Penso, longo me engano está cheio de gafes científicas). Nem o ‘medo da critica do futuro’ deve impedir cientistas ou alunos de escreverem. O que eles sim devem é, como Machado fazia, era apurar o trabalho e o cuidado com a revisão de seus textos. O blog é a ferramenta perfeita para isso.
Quem já leu meus textos viu que a língua portuguesa não é o meu forte: semântica, gramática e ortografia. Meu pai e meus queridos amigos Edu e Bitty são incansáveis revisores dos meus textos, a quem eu sempre agradeço as correções que me fazem. E não são poucas.
Mas eu vou parar de escrever por isso? Não. Vou melhorando meu português aos poucos (porque as demandas são muitas) e prometo que vou contratar um revisor para os textos ficarem perfeitos enquanto isso não acontece.
A questão é que, quem deixa de escrever por medo de errar ou por timidez, está perdendo a grande arma do mundo moderno. A espontaneidade.
A privacidade, como nós a conhecíamos, acabou. Mas para alguns estudiosos isso não é necessariamente um problema (claro que não estou falando dos namorados que filmam suas garotas e colocam depois na internet. Esses continuam merecendo um encontro como capitão Nascimento). Enquanto a TV passou décadas tentando criar esteriótipos para as pessoas seguirem, na web 2.0 cada um fala o que quer e se mostra do seu próprio jeito, com todas as suas particularidades e idiossincrasias. Encontramos de tudo sobre qualquer assunto na internet, isso significa que encontraremos também sobre nós mesmos (ou você nunca digitou o seu nome no google?). Então, porque não ser você mesmo o primeiro a se mostrar?
Quem escreve se mostra. Quem se mostra, arrisca estar errado. Mas também só quem se mostra, mostra o que sabe.

Blogs de ciência e Inclusão digital

Sonia Rodrigues e Mauro Rebelo na noite de autógrafos do livro dela 'Meu nome é Maria'Versão completa da entrevista a Sonia Rodrigues no Blog Inclusão Digital de O Globo.
Queria começar agradecendo à Sonia o convite para a entrevista. Ainda há muito preconceito no meio acadêmico quanto aos blogs, e acredito que haja 3 razões: primeiro o pânico dos acadêmicos em colocar seus dados em qualquer outra mídia que não sejam os tradicionais artigos científicos em revistas indexadas; segundo que apenas essas revistas contabilizam para o currículo do CNPq e outras agências; e terceiro, um preconceito maior ainda com novas ferramentas que são usadas na internet, principalmente, para entretenimento.
Sonia: Queria que você falasse um pouco sobre blogs científicos. O que é mesmo um blog científico?
Mauro: São blogs que falam de descobertas científicas (tanto as novas quanto as históricas), a vida e obra de cientistas, mas principalmente, sobre a ciência no cotidiano das pessoas. Está todo mundo ouvindo falar na TV de genoma, terapia celular, células tronco, clonagem, nanotecnologia, computadores quânticos, mas sem que haja uma verdadeira ‘tradução’ do que significam esses termos, e o que as tecnologias desenvolvidas a partir dessas descobertas científicas podem realmente trazer de benefícios para a sociedade. Os blogs científicos oferecem uma possibilidade do cidadão comum se informar ou se esclarecer sobre essas coisas, que é verdade, podem ser muito complicadas. O mais importante é que os blogueiros científicos possuem um compromisso com a ciência do que eles estão divulgando, mas que com a notícia. Nem sempre um jornal ou programa de TV pode valorizar isso. É claro que nesse processo os blogs acabam falando de outros assuntos ligados direta ou indiretamente a ciência como educação, política, tecnologia, saúde e religião. Houve, por exemplo, um grande esforço na comunidade de blogs científicos para explicar o que os cientistas realmente sabiam sobre a gripe H1 para tentar amenizar o sensacionalismo das notícias. Ainda são poucos, infelizmente, os blogs científicos especializados, que fazem o que chamamos ‘cadernos de protocolo’, onde cientistas divulgam os resultados de suas pesquisas para o publico diretamente do laboratório para a grande rede. Para quem quiser saber mais sobre o que é um blog científico, nos dias 25 a 27 de Setembro realizaremos o II encontro de blogs científicos em Arraial do Cabo (RJ).
Sonia: De que maneira esse movimento de blogs científicos se relaciona com inclusão digital?
Mauro: De diversas maneiras. Acredito que a melhor forma de desmistificar a tecnologia, é desmistificar a ciência por trás dela. A exclusão digital que observamos hoje é resultado da exclusão científica que vimos observando há muito tempo. Hoje tudo de importante que acontece aparece na televisão, no computador, no celular. Mas quando eu entro na sala de aula e pergunto quem foi Maxwell, o físico escocês que descobriu que campos elétricos variando rapidamente deveriam gerar ondas eletromagnéticas que se propagariam no espaço, o que é a base da tecnologia de todos esses aparelhos, todo mundo acha que ele é só o nome de uma marca de CDs. As equações de Maxwell são realmente difíceis, mas ninguém precisa aprender elas pra saber o que elas explicam. É verdade também que ninguém precisam saber o que elas explicam para poderem usar um celular, mas se soubessem, saberiam que um vídeo na internet que coloca um ovo sendo cozido entre dois celulares que se comunicam só pode ser uma montagem. Para mim, sem inclusão científica, não há inclusão digital. E os blogs de ciência ajudam na inclusão científica.
Mas também há o oposto: não há como fazer inclusão científica hoje sem inclusão digital. Vivemos em um mundo saturado de informação (em boa parte produzida pela ciência) e precisamos muito da tecnologia para acessar essa informação científica. Alguém que quisesse se informar sobre ciência há 50 anos, ia a uma biblioteca, hoje tem que ir a internet. Se ela não sabe usar o computador… Isso também prejudica os futuros cientistas. Hoje, as metodologias da ciência são todas de alta tecnologia. Antigamente os estudantes precisavam aprender a misturar líquidos em frascos, usar uma balança, uma pipeta. Hoje tem de operar espectrômetros de massas, citômetros de fluxo, microscópios confocais e outros aparelhos, todos digitais, que são delicados e complexos. Tudo passa pelo computador.
Sonia: Você conhece a ferramenta “Google Wave” em teste? Poderia falar um pouco sobre isso?
Mauro:
Essa me parece uma nova ferramenta para uma velha idéia: colocar os cientistas para colaborar online. Antes mesmo da WEB 2.0 já existiam programas capazes de fazer isso. O próprio PUBLIQUE!, software nacional utilizado para gerenciar o conteúdo WEB de dezenas de empresas publicas e privadas, ficou famoso mais de 10 anos atrás justamente por ser colaborativo. É maravilhoso que um documento possa ser editado por diferentes autores e que o conteúdo não seja limitado ao texto. Imagina clicar no nome de uma proteína (e eu trabalho com uma que se chama metalotioneína) e ver não só a foto ao lado da sua estrutura molecular, mas também abrir uma janela para movimentar a sua estrutura em 3D? Mas eu vejo dois problemas: o primeiro, como diz a própria entrevista, é a dificuldade para usar essas ferramentas. O segundo, é que os cientistas realmente não estão pedindo por elas. Eles ainda não sentem a necessidade disso. Entre em um departamento de uma universidade e tente explicar a um professor sênior, que até 5 anos atrás mal usava e-mail, que ele agora tem que escrever os artigos dele online de forma colaborativa. Você vai ouvir todo o tipo de resistências. Mas ai é que entram os alunos. Eles estão gerando a demanda. Minhas alunas no laboratório mandam ‘presentes virtuais’ umas para as outras, da loja de ‘presentes para biólogos moleculares’ do facebook. Eles usam as comunidades virtuais e estão dominando as ferramentas de colaboração. Os professores e pesquisadores vão ter de acompanhar.
Sonia: Gostaria que você comentasse também como o software livre e as ferramentas colaborativas funcionam na produção ou extensão no campo da ciência.
Mauro:
Acredito que o conhecimento científico deve ser público e gratuito. Para isso o cientista passa pro 3 etapas: a produção do conhecimento, a sua verificação e a divulgação. O software livre tem participa de todas elas.
Para gerar conhecimento, a análises de muitos dados científicos são possíveis apenas através de programas de computador, por softwares muito específicos e utilizados por poucas pessoas. Esses programas geralmente foram subsidiados (direta ou indiretamente) e por isso são livres e de código aberto.
O principal mecanismo de correção da ciência é a discussão, a avaliação pelos pares. Essa verificação é feita principalmente no momento da publicação dos dados e por isso ambos se misturam. Ainda hoje o sistema de comunicação de dados científicos formal ainda são as revistas impressas. A discussão funciona, mas é muito, muito lenta. Os autores escrevem artigos, enviam para os editores, esses enviam para revisores, esses enviam de volta para o editor, que retorna para o autor. Quando publica, um leitor precisa escrever uma carta ao editor para poder fazer um comentário. Dá pra acreditar? Mas isso está mudando. Na revista científica especializada PLoS One o leitor pode dar nota e fazer comentários online em um artigo científico. No Brasil, a revista eletrônica Bioletim (www.bioletim.org), publica os estudantes de biologia em fase de revisão em um blog, para que possam ser revisados pelos colegas antes mesmo da publicação. O Bioletim é na verdade um portal de serviços pra comunidade acadêmica com muitas outras ferramentas colaborativas e foi todo construído com o software de código aberto DRUPAL (drupal.org). Ele é gratuito, modular, extremamente flexível e possui uma comunidade de desenvolvedores enorme, que produzem módulos para praticamente qualquer facilidade que você queira introduzir no seu portal. Hoje um cientista tem a sua disposição um grande arsenal de software livre para realizar qualquer uma das suas atividades e isso tem favorecido a divulgação da ciência e a inclusão científica.

Sonia: Gostaria que você sugerisse alguns links, se possível com uma linha de identificação de cada um.
Mauro:
A melhor dica para conhecer um blog de ciência é visitar o Roda de Ciência (http://rodadeciencia.blogspot.com) onde diversos blogueiros publicam sobre um tema diferente a cada mês. Cada um tem o seu blog e publica nele o texto sobre o tema do mês, e direciona os comentários para a roda. O Blogs de Ciência (http://divulgarciencia.com) é um site português que repete os artigos publicados em vários blogs de ciência em língua portuguesa cadastrados. Pra quem lê inglês uma boa dia é o Science Blogs (http://scienceblogs.com). E é claro, o Science Blogs Brasil, onde está o meu blog ‘Você que é biólogo…’ (http://scienceblogs.com.br/vqeb) na ilustre companhia de vários colegas blogueiros da maior qualidade.

Oficina de Escrita Criativa em Ciência

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Dias 08 e 09 de Agosto de 2009 (e por mais 4 semanas on line) realizaremos mais uma edição da “Oficina de Escrita Criativa em Ciência” pela coordenação de atividades de extensão do Instituto de Biofísica da UFRJ.
O curso tem cargo horária de 16h presenciais e 72h a distância, sob responsabilidade dos professores Mauro Rebelo e Cláudia Nobre. Entre na página do curso para ver todos os detalhes.
As inscrições custam R$160,00 e podem ser feitas no site do CATE-IBCCF pelo e-mail cate@biof.ufrj.br ou pelo tel: 21 2562 6722.

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Que bichinho é esse? Que plantinha é essa? E como dizer isso pros outros?

Na viagens que fazia com amigos durante a faculdade, era inevitável a presença de zoólogos ou botânicos que paravam a cada passo para admirar, identificar ou coletar alguma coisa. Os amigos dos amigos, estudantes de direito, economia ou administração, começaram logo a implicar: “Que bichinho é esse?” ou “Que plantinha é essa?” Apesar da implicância, essa curiosidade pelo mundo que nos cerca não é exclusiva dos biólogos, e nem dos cientistas. Ela está dentro de cada um de nós.

Em outro momento, já depois de formado, ouvia com enorme freqüência a seguinte pergunta: “Mauro, você que é biólogo, me explica…” e o que se seguia eram as dúvidas mais estapafúrdias, nem sempre pertinentes, de pessoas leigas e sinceramente intrigadas com a natureza que as cercava. As vezes, devo confessar, fui mau, e criava uma resposta fantasiosa tão estapafúrdia quanto a pergunta. Era divertido. Como quando num dos muitos finais de semana que passei em São Paulo na casa do meu tio, indo do Rio de Janeiro para Rio Grande onde cursei o mestrado, sentados na varanda, ele me perguntou: “Mauro, você que é biólogo, tem um passarinho que sempre vinha aqui na minha varanda. Ele chegava a tarde e depois ia embora. Porque agora ele não vem mais?”

Respondi que a culpa era da poluição e que ele devia fumar menos por isso também. Ou algo desse tipo. Como eu poderia falar que a pergunta estava mal formulada, pedir o número de observações que ele fez da frequência de visitas do pássaro, se ele usou algum método de foto-identificação para saber se era sempre o mesmo pássaro, se havia mudado as plantas do jardim, e outras tantas variáveis que seriam pertinentes se aquele fosse um experimento ou trabalho de campo. Todos somos cientistas, mas trabalhar com o método científico é para poucos. Dá trabalho e exige muita dedicação e atenção. Além de uma fé quase religiosa nos seus procedimentos. Mas como explicar isso para os outros? O que escrever? Para quem? Como?

Essas são perguntas que chegam a atormentar um cientista todos os dias, e foi sobre elas que eu escolhi falar para os alunos da UNICAMP que gentilmente me convidaram para uma palestra sobre divulgação científica no seu IX CAEB – Congresso Aberto aos Estudantes de Biologia em Julho/2009. Tenham certeza que estarei lá.

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