Pra saber realmente "o que querem as mulheres"

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Abri o jornal, não pra saber sobre a guerra contra o tráfico de drogas no Rio, mas para procurar propaganda de colchões. Você sabia que pode comprar um colchão excelente em São Paulo, com frete grátis, pela metade do preço do mesmo colchão no Rio? Vi essa propaganda na revista do Globo semanas atrás e fui procurar de novo.
Mas não é disso que eu quero falar. Com eu tinha visto a propaganda do colchão em uma revista do Globo fui olhar o caderno Zona Sul, que era revista do dia no jornal. E nem precisei folhear para me deparar com a grande bobagem que era a reportagem da capa: “Palavra Feminina”.
A reboque da pouco-séria mini-série que a Globo está transmitindo, a revista perguntava a várias mulheres da Zona Sul, o que elas queriam.
Não é só que os depoimentos fossem banais, do tipo que Miss daria em concurso, como:
“Dinheiro no bolso e bumbum sem celulite” ou “Equilíbrio espiritual, mental e físico” ou ainda, “Independência financeira, sucesso profissional e amor”. É que toda essa idéia por trás de “o que é que as mulheres querem, é furada.
Explico o porquê. Primeiro, o que as mulheres realmente querem, é que ninguém saiba o que elas querem.
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Comecei a ler… Almanaque da Rede

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Ontem fui assistir a Sonia Rodrigues falar sobre o seu novo livro, Estrangeira, na Livraria Saraiva do Praia Shopping. Eu não escondo de ninguém o quanto sou fã dela e o quanto aprendi com ela. Por isso, foi uma grata surpresa quando o Beto Largman pediu pra ela falar do Almanaque da rede, livro que a Sonia também está lançando.
O debate foi ótimo, porque a Sonia, além de escrever muito bem, fala muito bem. Comprei os dois livros e ganhei dois autógrafos, com dedicatórias. Comecei a ler “Estrangeira” no mesmo dia e fiquei impressionado, como só ela sabe deixar, com o sofrimento do amor.
Fui pro Almanaque da rede e ai fique impressionadíssimo. Como ela diz, na primeira página, “O que você tem nas mãos é a soma do que aprendi sobre escrever histórias e expressar opiniões. É o que aprendi nos livros que li e também nos livros, peças de teatro e roteiros que escrevi. Aprendi muito também nos jogos de Roleplaying game que pesquisei no doutorado em Literatura e nos jogos ‘Autoria’ que criei ou ajudei a criar.”
Tudo que você precisa pra re-aprender a escrever está lá. É, na minha opinião, ainda melhor do que o jogo ‘Autoria‘, porque o espaço pra escrever está lá, já que o livro tem um formato de agenda. “Um blog de papel”, como ela disse.
E aprender a escrever é isso: escrever, escrever e escrever! De nada servem as dicas se você não colocar a mão na massa. Todos os dias.
Mas enquanto ouvia a Sonia falar sobre transmídia, que é, como o nome diz, quando a história transcende a mídia e passa de um veículo para outro (como a personagem principal de Estrangeira, Eilenora, que tem perfil no facebook, um blog de verdade e está escrevendo uma graphic novel também) e discutindo com o público sobre o desafio de escrever para diferentes mídias, eu fui percebendo um monte de coisas.
Para a Sonia, escrever é escrever. Quer dizer, não existem diferentes formas de escrever, ainda que haja diferentes mídias. Claro que seu texto é de um jeito em um livro, de outro em um blog, no twitter ou quando escreve uma SMS. Mas o resultado não é ‘para’ a mídia e sim ‘por causa’ da mídia. Não deixe passar desapercebida a diferença.
O que é limitada é a mídia e não a forma de escrever. E se você escreve de um jeito para cada mídia, meu palpite é que você ainda não percebeu isso. Mas tá, e daí? Qual é o problema? O problema é que se você não percebeu isso, talvez seja porque não percebe as limitações das mídias.
Quais são as limitações? As vezes coisas simples, como o limite de caracteres do Twitter (140 caracteres) ou de um SMS (160 caracteres). E o Twitter está mostrando que é incrível o que você pode fazer com 140 caracteres se souber escrever.
A conclusão é que se você sabe escrever e sabe respeitar os limites das mídias, então poderá escrever, para sempre, em qualquer mídia que venham a inventar, o que quiser.
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Nessa hora (foto acima), Sonia estava novamente falando da “Estrangeira”, e foi então me toquei que, a mesma importância que respeitar os limites tem para ser criativo na escrita, tem para ser feliz.
Da mesma forma que muitas pessoas não conseguem escrever porque perdem mais tempo questionando o enunciado da pergunta do que trabalhando na história, muitas, as vezes as mesmas pessoas, passam mais tempo questionando a justiça das coisas da vida, dos limites que nos são impostos pelos outros, do que partindo pra outra, para serem felizes.
Perguntaram para a Sonia o que ela, com uma tese de doutorado em literatura e RPG, acha dos games. Lembrei, como muitas vezes lembro, da palestra do Roberto da Matta na FLIP: “O futebol salvou o Brasileiro! Ensinou ela a ter disciplina”. Sim, porque não importa o quanto o seu time deveria ganhar ou o quanto você queria que ele ganhasse. O jogo acontece entre 4 linhas, não vale colocar a mão e o que vale é bola na rede. Não importa o quanto você queira que o seu time ganhe, ou o quanto um minuto a mais ou a menos mudaria o resultado: o seu time tem 90 min pra ganhar o jogo. Nem mais, nem menos.
Nos games (sejam os videogames de hoje ou o WAR que eu jogava), ninguém pode mudar as regras e ninguém questiona a instrução. E todo mundo aceita. E por isso as pessoas superam as fases e os desafios.
Então porque nas perguntas de prova, entrevistas de emprego e, porque não dizer, no amor, as pessoas preferem ficar questionando a matéria do professor, a pergunta do entrevistador e, porque não dizer, as razões do amante. Tomam pau na prova, pé na bunda no emprego e… chifre. O resultado é que são menos felizes.
O “Almanaque da Rede” pode ajudar as pessoas a superar os desafios, respeitar os limites para escrever, escrever melhor e serem mais felizes!

ISMEE's diary. Sunday, October the 24th. 2nd day.

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The day started at 10am. Despite his name, Stevens Rehen was born in Rio. Today he is the head of National Lab of Stem Cells research at UFRJ. Who better than one of the 100th most promising young researchers in the world to talk about the challenges of the academic career? He discussed cases involving responsibility, authorship and ethics in science and finished his talk with a quote from the Brazilian poet Ferreira Goulart: “I do not want to be right, I want to be happy.”
The ‘Blue Amazon Cultural Centre‘ has a prime location, literally inside the Anjos’ beach, so nobody felt the need to go somewhere else for lunch, and the ‘brunch’ became the perfect integration for the group.
We return 14h. The writer Sonia Rodrigues has published over 20 books and has a lot of experience in teaching people how to write. Today she is launching a new book while coordinating the ‘Network Almanac‘ a initiative involving the Internet, writing and physics teaching.
“If you follow these simple tips will never have a writer’s block.”

She talked about the narrative model and the seven questions, the ‘seven magic’ , that help students to organize ideas to say whatever they want to say. The good thing about Sonia is that in the end of her classes everyone writes!
We finished the day with an unusual class, but one that should be present in any scientific meeting: ballroom dancing. Without knowing it, while playing Samba and Forró students were learning posture, balance and corporal perception. Very Important!
Visit the ISMEE’s youtube channel

Diário de um biólogo – Domingo, 24/10/2010 – Segundo dia do ISMEE

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O dia começou as 10h. Apesar do nome, Stevens Rehen é carioca e chefe do Laboratório Nacional de Células Tronco na UFRJ. Ninguém melhor que um dos 100 jovens pesquisadores mais promissores do mundo pra falar sobre os desafios da carreira acadêmica. Ele discutiu casos envolvendo responsabilidade, autoria e ética na ciência e terminou com uma frase do poeta brasileiro Ferreira Goulart: “Eu não quero ter razão, eu quero é ser feliz!”.
O Centro Cultural Amazônia Azul tem uma localização privilegiada, literalmente dentro da praia dos Anjos, por isso, ninguém sentia necessidade de ir almoçar em outro lugar, e o ‘brunch‘ virou um espaço perfeito de integração para o grupo.
Voltamos as 14h. A escritora Sonia Rodrigues tem mais de 20 livros publicados e muita experiência em ensinar as pessoas a escrever. Hoje ela está lançando um novo livro enquanto coordena o ‘Almanaque da Rede’, um projeto que envolve internet, escrita e ensino de Física.
“Se vocês seguirem essas dicas simples nunca terão ‘branco’ na hora de escrever”.
Ela falou sobre o modelo narrativo e as sete perguntas que representam os lugares do pensamento e ajudam o estudante a organizar as idéias para dizer o que quer ele que queira dizer. O bom da Sonia é que no final da aula dela, sempre, todo mundo escreve!
Terminamos o dia com uma aula inusitada, mas que deveria estar presente em qualquer encontro científico: dança de salão. Sem saber, enquanto praticavam Samba e Forró os alunos estavam aprendendo postura, equilíbrio, percepção corporal. Importantíssimo.

Visite o canal do ISMEE no Youtube

ISMEE's diary. Saturday, October the 23rd. 1st day.

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I woke up early, but I was already late.
And, I don’t know how, I managed to run out of gas in the center of Rio. In the end, we arrived in Arraial do Cabo before the bus bringing students and teachers, but, to my surprise, there was, parked in front of the Navy’s Cultural Center, an evangelist “Trio Elétrico“(1). I was about to sit and cry when they left to parade around the city and left us in the Lord’s peace. We arranged everything more or less in time to start the course with a little delay at 8 pm.
I prepared an informal and provocative opening, as I was hoping the entire course would be, a talk entitled ‘Science in a world filled with information’. Scientists discover things that change the world but did not yet realized that the Internet has changed the world in which they live. It not only serves to send and receive e-mails or as a repository for scientific papers. The Internet is a language and we cannot think about doing business, politics, science or teaching in the same way as before. We can no longer, for example, have the luxury of being boring, just because what we have to say is so important. If you are boring, nobody will pay attention to you and see how important it is whatever you’re saying.
Later that night I opened a bottle of ‘Prosseco‘. It was just the beginning, but after months of preparation, I had to celebrate a good start.
(1)Trio Elétrico is a big truck, with speakers all around and a band playing on the top, typical from the carnival in Bahia
Watch this (and some other talks) on the ISMEE’s youtube channel

Diário de um biólogo – Sábado, 23/10/2010 – Primeiro dia do ISMEE

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Acordei cedo, mas já estava atrasado.
Consegui, inacreditavelmente, parar no centro do Rio por falta de gasolina. Apesar de tudo chegamos em Arraial do Cabo antes do ônibus que trazia alunos e professores, mas qual não foi a minha surpresa ao ver, estacionado em frente ao Centro Cultural da Marinha, um trio elétrico evangélico. Fiquei desesperado, mas felizmente eles saíram em desfile pela cidade e nos deixaram na paz do senhor. Conseguimos ajeitar tudo mais ou menos em tempo para começar o curso, com um pequeno atraso, as 20h.
Preparei uma abertura informal e provocativa, como gostaria fosse toda a escola: A Ciência em um mundo saturado de informação. Os cientistas descobrem coisas que mudam o mundo, mas ainda não se deram conta que a Internet mudou a forma de mudar o mundo. Ela não serve apenas para enviar e receber e-mails ou como repositório de artigos científicos. A internet é uma linguagem e com ela não se pode pensar em fazer negócios, política, ensino ou ciência da mesma forma. Não podemos mais, por exemplo, nos dar ao luxo de sermos chatos, só porque o que temos a dizer é tão importante. Se você for chato, ninguém vai prestar atenção em você e ver o quão importante é o que você está dizendo.
No final da noite abri um ‘Prosseco‘. Tava só começando, mas depois de meses de preparação, tinha que comemorar um bom começo.

Veja o vídeo dessa (e algumas outras palestras do curso) no canal do ISMEE no Youtube

Um ponto de vista sobre o aborto

ResearchBlogging.org
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O aborto não é uma questão moral ou religiosa. É uma questão médica e científica. E se há uma razão para ele ser uma questão política, é essa: ser um problema de saúde pública, de saúde da mulher. E é uma vergonha ver nossos candidatos a presidente abrindo concessões e compactuando com crenças que colocam em risco a vida das mulheres.
Eu não sou médico e talvez devesse ficar quieto quanto ao assunto, mas acho que a ciência pode contribuir para esse debate, desmistificando a divindade da vida.
De tudo aquilo que a teoria da evolução nos ensinou sobre a vida, e ela nos ensinou muita coisa, uma eu considero extremamente importante. Que a ontologia imita a filogenia. Essas duas palavras complicadas querem dizer simplesmente que o desenvolvimento da vida imita a evolução da vida, e que quando o embrião e o feto de qualquer espécie está se desenvolvendo, ele passa por estágios que lembram formas ancestrais daquela espécie. É a teoria da recapitulação. Quer um exemplo? Durante o nosso desenvolvimento, no final do primeiro mês de gestação, os fetos humanos possuem arcos branquiais, como os peixes.
Uma outra semelhança é o próprio zigoto, a primeira célula do corpo, formada pela união do espermatozóide com o óvulo. Assim como a vida na Terra teria surgido de uma célula, cada nova vida também surge de uma célula.
Mas como surgiu a primeira celular?
Os filósofos gregos acreditavam que a origem era divina, e por isso não se preocupavam com o ‘como’ a vida apareceu e se contentavam apenas em classificá-la em ‘bichinhos’ e ‘plantinhas’. Mesmo hoje em dia, acredito que a física conheça melhor o que acontece com o início do universo do que a biologia o que acontece com o início da vida. Ainda assim, sabemos o suficiente para desmistificar o fenômeno: existem evidencias suficientes para mostrar que as primeiras células não tinham membrana plasmática, fruto de uma bioquímica de lipídeos complexa e que apareceu muito depois na evolução do metabolismo.
As teorias mais aceitas atualmente, não apontam mais para uma ‘sopa primordial’ feita de molecular orgânicas formadas por descargas elétricas em atmosferas de metano e CO2, mas sim para a origem de um código genético primordial a base de adenina (uma das bases nitrogenadas que formam o DNA), que tem estrutura química simples e é encontrado em TODO o universo. O suporte para esse código genético, que no DNA ‘moderno’ é um ‘esqueleto’ de açúcar e fosfato seria, acreditem, a superfície de cristais de argila. Parece que no final das contas a Bíblia não está tão equivocada ao dizer: “E formou o Senhor Deus o homem do barro da terra” (Gen 3, 7).
A bioquímica, termo que eu aqui uso no seu sentido etimológico, se formou a partir de uma química pré-biótica dentro de compartimentos rochosos de Sulfito de ferro no fundo do oceano. Ao que parece, as primeiras ‘células’ não eram de vida livre e tinham uma casca de pedra.
A ontogenia recapitula a filogenia. Ate hoje, todas as formas de vida que conhecemos são feitas de células (bom, isso pode causar arrepios nos virólogos, mas não vou entrar nesse mérito agora). E o que todas as células tem em comum é que são compartimentos, isolados do meio externo através de uma membrana semipermeável. E através dessa membrana, possuem os mesmos tipos de gradientes que existem (e existiram) no fundo do oceano Hadeano (a era geológica em que a Terra se resfriou), por bilhões de anos, há bilhões de anos.
Existem muitas evidencias que a vida surgiu no fundo do mar, em condições bem simples: um gradiente de eletricidade, que passava de um líquido hidrotermal reduzido (rico em elétrons) através de uma fina crosta terrestre para um oceano oxidado (que não quer dizer exatamente com oxigênio, o que não era ocaso, mas sim ‘pobre’ em elétrons); um gradiente de prótons do mesmo líquido hidrotermal que era alcalino para o oceano que era ácido e, finalmente, também um gradiente de calor, onde algo com 60oC passavam do líquido hidrotermal para o oceano.
Só isso? Bom, mais umas duas ou três coisas, mas isso era o fundamental.
A ontogenia repete a filogenia. O animado repete o inanimado. O conceito é que fenômenos complexos podem ser explicados por sub-fenômenos mais simples. Essa também é uma idéia antiga, um princípio descrito, vejam só, por um monge, no século XIV. Bom, é verdade que Guilherme de Occam era monge, mas naquela época, em que os poderosos dominavam haréns gigantescos, e apenas os primogênitos tinham ‘direito’ a se casar, um segundo filho não tinha muita opção, por lei ou por disponibilidade de parceiras, para se casar, restando apenas o monastério.
Mas como eu ia dizendo, o principio da economia da natureza, ou ‘navalha de Occam’ como ficou conhecido, foi muito bem enunciado por Einstein: “as coisas devem ser o mais simples possível. Mas não mais simples ainda”, e diz que sim, as coisas que vemos como complexas são frutos de coisas simples, porque a natureza é econômica (porque energia, a moeda da natureza) é uma coisa ‘cara’. E vai CONTRA a principal idéia da religião: de que algo complexo, como a vida e o ser humano, teria de vir de algo ainda mais complexo: Deus.
Duas palestras do TED que assisti recentemente, essa e essa, argumentam muito e muito bem em favor da simplicidade como fonte de complexidade.
Mas eu não espero que meus leitores leiam o excelente artigo de Martin & Russel que está anexo, ou que se debrucem sobre os escritos de Prigogine para se convencerem, ou apenas acreditarem, que a vida é uma inevitabilidade termodinâmica e não há nada de divino nisso.
Uma vez me pediram para escrever sobre aborto e eu tenho certeza que não era esse o tipo de resposta que estavam esperando. Mas eu guardei essa resposta para o final. Para mim, o principal argumento para convencer os religiosos da não divindade da vida, vem da freqüência com que os abortos naturais acontecem. Sim, porque abortos naturais são causados por Deus, não são?
Estimasse que 15 a 20% das gestações terminem em abortos espontâneos, aqueles que acontecem antes da vigésima semana de gravidez. Mas o número pode ser muito maior. Primeiro porque eles podem acontecer também depois da 20a semana, mas ai não recebem mais o nome de ‘aborto’: são natimortos ou óbitos fetais tardios. E depois, porque um percentual desconhecido acontece mesmo antes da 4a semana de gestação, em casos que a mulher nem mesmo sabe que está grávida e o aborto pode se passar por um ciclo menstrual um pouco mais dolorido. Com isso, os abortos espontâneos podem chegar a 50% das gestações! Provavelmente a causa mortis mais freqüente da humanidade!
Os abortos espontâneos ainda são responsáveis por 15% dos casos de morte materna por aborto (os abortos induzidos são responsáveis por 85%).
Homens e mulheres tem estratégias reprodutivas diferentes, ainda que colaborem para alcançar um objetivo comum. Mas é provável que por essas diferenças, os homens se preocupem mais com o risco de perderem suas parceiras do que com o risco de perderem uma gestação por aborto: espontâneo ou induzido.
Aposto que nenhum dos carolas que protesta contra o aborto induzido e a santidade da vida viu sua mulher se esvaindo em sangue por um aborto espontâneo.
Martin, W., & Russell, M. (2003). On the origins of cells: a hypothesis for the evolutionary transitions from abiotic geochemistry to chemoautotrophic prokaryotes, and from prokaryotes to nucleated cells Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 358 (1429), 59-85 DOI: 10.1098/rstb.2002.1183
Bruno Gil de Carvalho Lima (2000). Mortalidade por causas relacionadas
ao aborto no Brasil: declínio e
desigualdades espaciais Pan Am J Public Health, 7 (3), 168-172

"Você sabia?" (Mas quem foi que te disse?)

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Com esse bordão, a ZYJ 465 ‘Rádio Relógio Federal’ do Rio de Janeiro AM 580 Khz tocava curiosidades diversas enquanto a bela voz da bela modelo e locutora Íris Lettieri (a voz do aeroporto internacional do Rio) anunciava a hora minuto-a-minuto. Eu era criança e me lembro de várias vezes ficar, realmente, ouvindo o tempo passar.
As curiosidades da radio relógio, como as que você pode ouvir no trecho acima, vinham de enciclopédias, essa maravilhosa e ultrapassada invenção do iluminismo francês. Eu me pergunto, se nessa época alguém questionava a validade das informações colocadas nas enciclopédias ou divulgadas na rádio relógio.
Como eu já falei aqui, hoje em dia nosso maior problema não é obter informação, mas saber se podemos ou não confiar nela. E estou muito atento a isso.
Entao, agora que estou preparando a aula de abertura do ISMEE e queria usar ‘aquela’ citação, ‘daquele’ cara, que vi ‘naquele’ video, que falava ‘daquela’ coisa, você sabe qual é? (1) Odeio quando meus alunos usam pronomes demonstrativos por falta de vocabulário ou por falta da informação correta. Então não podia fazer isso também. Fui correr atrás da informação correta.
Aquela‘ citação era: “as 10 profissões mais solicitadas de 2010 não existiam em 2004” (the top 10 in-demand jobs in 2010 may not have existed in 2004). E era seguida por uma outra, que é a que eu mais gosto: “Nós estamos preparando estudantes para empregos que ainda não existem, para usarem tecnologias que ainda não foram inventadas, para resolverem problemas que nós ainda não sabemos que são problemas” (we are currently preparing students for jobs that don’t yet exist, using technologies that haven’t been invented yet, in order to solve problems we don’t even know are problems yet) e o vídeo era “Did you know? Shift happens” (Você Sabia? Mudanças acontecem), esse mega hit do Youtube, aqui em uma das suas muitas versões.

Apesar de ser esse grande sucesso, eu tive um trabalhão pra achar o vídeo de novo, porque obviamente apaguei o e-mail de ‘quem quer que tenha mandado’ porque sempre apago, geralmente sem ler, e-mails que me mandam ver algum vídeo. Bom, e provavelmente por alguma incompetência em procurar coisas no youtube também.
O vídeo é realmente instigante. Até mesmo chocante. Mas para usar aquelas informações (se é que alguém no planeta ainda não viu o vídeo – ou justamente porque todo mundo já viu), eu tinha que verificar o que estava sendo dito ali.
A primeira tarefa foi descobrir o autor do vídeo. Não foi tão difícil chegar até Karl Fisch, professor e adminstrador da Arapahoe High School nos Estados Unidos. Esse professor veterano todos os anos dava uma palestra para os professores sobre as novidades em tecnologia na escola, para que eles soubessem o que poderiam usar durante o ano letivo. Mas em 2006 ele resolveu fazer algo diferente e preparou uma apresentação sobre para onde ele achava que ‘eles’, enquanto escola, deveriam ir.
Ele alcançou o objetivo, fazer seus professores pensarem a respeito das questões que o inquietavam, e muito mais. Como eu disse, milhões de pessoas assistiram o vídeo na internet. Como um cara conectado, Karl rapidamente liberou os direitos da apresentação para que fosse editada, modificada, alterada, copiada, duplicada, reproduzida e replicada. E felizmente se preocupou em organizar e divulgar as fontes de TODAS informações contidas na apresentação, documento que pode ser encontrado no seu blog.
Mas que surpresa quando justamente a referencia para as citações que eu queria usar não estavam lá. Em princípio ele estava justamente citando outra pessoa, Ian Jukes um especialista no uso de computadores na educação e responsável pelo projeto ‘um laptop por criança’ (One Laptop per child) de inclusão digital. Bom, mas o Ian também estava citando alguém, e consultado algumas fontes, chegamos a conclusão que todos estavam replicando o que havia sido dito pelo ex-secretário de educação dos Estados Unidos Richard Riley, no livro “The Jobs Revolution: Changing How America Works” (a revolução dos empregos: mudando como a américa trabalha) publicado em 2004 por Gunderson, Jones e Scanland.
Bom, pra terminar a história, parece que não é verdade. Dois sites, esse e especialmente esse, fizeram um amplo trabalho de pesquisa sobre cada afirmação do vídeo. Com algumas imprecisões, muita coisa é verdadeira, mas no caso dos ‘empregos’, alguém cometeu uma gafe ao publicar em 2009 dados de uma previsão de 2004 que já poderiam ter sido verificados e considerados equivocados. Isso porque o ministério do trabalho americano já havia publicado, em 2009, uma lista com as 10 profissões mais procuradas. As 5 primeiras eram:

  • Enfermeiras
  • Gerentes gerais e de operações
  • Médicos e cirurgiões
  • Professores do ensino fundamental
  • Contadores e auditores

Verdade seja dita, essas profissões não só existiam em 2004, como em 1904 também. Mas verdade ainda maior, não consegui confirmar essa informação no site do ministério do trabalho dos gringos.
O que me diz a minha experiência e meu bom senso? Como já discutimos aqui, o Brasil tem um deficit gigante de professores de física para o ensino fundamental. E eu não tenho dúvida que quem se formar professor de Física pelos próximos 10 anos terá emprego garantido. Mas também sei que alguém que se formar em Biotecnologia ou Tecnologia da informação terá um emprego e um salário melhor do que alguém que se forme apenas em Biologia ou em Física.
Existem sim novas carreiras, novas tecnologias e novos problemas. Mas elas não substituem as antigas: elas se acumulam as antigas. Para cada biofísico que precisarmos, precisaremos de mais dois biólogos e três físicos. É provável que o biofísico, biotecnólogo, tenha um ‘valor agregado’, da mesma forma que o suco de laranja tem mais valor agregado que a laranja no pé.
O que nós NÃO podemos, nesse mundo cheio de novos desafios e saturado de informação, é descuidar das nossas fontes. A frequencia com que uma informação aparece serve para endossar essa informação.
1 – Não tinha um comercial que fazia uma sátira a isso? Eu acho que era com a Fernanda Torres, ou com a Montenegro, mas pode ter sido também a Marília Pera. Novamente estou sendo impreciso, mas queria muito usar esse comercial em uma aula. Alguém sabe de qual estou falando? Se souber pode deixar um comentário?

1a Escola Internacional de Ecologia Marinha e Ecotoxicologia

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No ano 2000 eu fui selecionado para participar da Escola Internacional de Meio ambiente e Saúde da Universidade de Siena, na Itália.
Durante duas semanas, ficaríamos, 30 alunos, de diversas partes do mundo, internados na Certosa de Pontignano, um antigo monastério do século XIV nos arredores de Siena, com aulas em horário integral e professores renomados mundialmente. Mas acho que ninguém estava esperando, e por isso preparado, para aquilo.
Nós éramos de todos os lugares. Sudeste da Ásia, norte, sul, leste e oeste da Europa, África Ocidental, América do Norte e América do sul. E muitos, muitos italianos. Em um lugar simplesmente M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O, e com a melhor, vejam bem, eu disse A MELHOR, comida do mundo.
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A certosa fica no meio das colinas de Chiante, com vinhedos e oliveiras para todos os lados, de onde tiravam os ingredientes para preparar o ‘oglio e Vino della casa’. Em meio a palestras interessantíssimas, onde 10 anos antes de tudo eu ouvi falar de medicamentos com Valium sendo medidos em água de rios (hoje em dia medimos PROZAC) e aprendi tudo sobre Câncer, fiz amigos para o resto da vida. Mesmo!
No jantar de encerramento eu chorei como uma criança.
Aquela experiência foi tão importante para mim que eu me prometi que um dia organizaria um curso igual.
Daqui a duas semanas estaremos recebendo os convidados, alunos e professores, para a 1a Escola Internacional de Ecologia Marinha e Ecotoxicologia, em Arraial do Cabo (RJ).
Durante 7 dias consecutivos alunos de pós-graduação na área de ciências biológicas de mais de 10 países e instrutores de outros 5 países estarão reunidos para discutir planejamento da carreira científica e política acadêmica, inovação na universidade e na empresa, escrita criativa e organização da informação. Objetividade e subjetividade no método científico, espécies invasoras no ambiente marinho, toxicologia de mamíferos marinho e biologia molecular, interações entre drogas e enzimas, histologia de invertebrados, algas e macrófitas aquáticas, desenho experimental e avaliação de incerteza.
Será imperdível. Só não posso chorar no final.

Titiririca na cabeça

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Em 1988 o chimpanzé (Pan troglodytes) do Zôo do Rio Macaco Tião (1963 – 1996) chegou em terceiro lugar, entre doze candidatos, na eleição para prefeito do Rio de Janeiro. Foram mais de 400 mil votos.
Mas por mais inteligentes que os macacos possam ser, nunca serão mais que um humano. Nem mesmo que o Tiririca. E ainda que tenha conseguido um terceiro lugar com um volume de votos de um terço do fenômeno das urnas de 2010, o Macaco Tião não era um candidato pra valer e nunca poderia ocupar o lugar que certamente lhe caberia em uma eleição para deputado ou vereador. Mas Tiririca ocupará. E se não for dessa vez, será em uma próxima. A cassação da sua candidatura por analfabetismo, na minha opinião, o transformará em um tipo de mártir e lhe garantirá ainda mais votos na próxima eleição.
Mas tenho que confessar que fiquei, assim como muitos de vocês, imagino, pensando no que leva 1,3 milhão de pessoas a votar em um palhaço semi-analfabeto que prega a ignorância através do deboche. Sim, porque eu entendo votar no Macaco Tião. É uma forma de protesto. Inclusive mais debochado e mais engraçado do que o do Tiririca. Afinal, o pessoal do Casseta & Planeta (que propuseram a candidatura do Macaco) é muito mais engraçado do que o Tiririca. Mas votar nesse cara fantasiado para deputado federal?! O que poderia ser?
Eu acho que sei. Uma parte pelo menos. Não é explicação definitiva, mas pode contribuir para esse que certamente é um fenômeno complexo, com diferentes forças atuantes. Pelo lado de lá, o despreparo, descrédito e a descrença nos políticos em geral, a propaganda, a imagem, a televisão, etc. Do lado de cá a lista também é ampla e eu incluiria a falta de opção, o protesto, o despreparo e a falta de educação da população em geral.
Mas eu também incluiria, no topo dessa lista, a falta de educação científica. “Mas como assim?!?!” Vocês vão dizer. “O que a ciência tem a ver com o Tiririca?!?!”
Uma população que não é educada e treinada em ciência não aprende a valorizar a evidência. Como disse Richard Dawkins na conferência TED de 2002:
“Na minha opinião, não é só a ciência que é nociva para a religião, mas a religião também é altamente nociva para a ciência. Ela ensina as pessoas a se contentarem com o trivial, com não-explicações sobrenaturais, e os cega para as explicações reais e maravilhosas que temos ao nosso alcance. Ela ensina a aceitar a revelação, a autoridade e fé, em vez de insistir sempre em evidência.”
Imaginem que Tiririca fosse candidato a piloto de avião e seu discurso fosse o mesmo:
“Vocês sabem o que acontece em uma cabine de 747? Eu também não! Mas vou contar pra vocês”.
Ele não teria como, mesmo que quisesse. Mesmo que quisesse muito. E aposto que nenhuma das pessoas que votou nele para deputado, votaria nele para piloto de um avião em que eles embarcariam.
Não há nenhuma evidência para apostar que Tiririca possa trazer alguma grande contribuição para a política nacional. Só a crença no sobrenatural pode levar alguém alguém a votar nele.

PS: Enquanto isso, a manchete do jornal “O Globo” de hoje diz que Dilma vai atrás dos votos dos religiosos no 2 turno. Que Deus nos proteja!

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