Fluorescer da Guerra

Em alguns átomos especiais, esses elétrons têm maior facilidade de se excitar e com isso emitem muita energia quando voltam ao seu estado fundamental. Parte dessa energia é liberada na forma de luz visível imediatamente e com um determinado comprimento de onda. Mas outra parte dessa energia, de alguns elétrons retardatários, e liberada um pouco depois, e tem um comprimento de onda um pouco maior. Bem, essa “luz imediata”, é a fluorescência e cessa assim que termina a excitação. Já a “luz retardatária” é a fosforescência e essa demora um pouco mais para cessar, e continua por algum tempo mesmo depois que termina a excitação.
Ah, você acha que isso não interessa? Bom, confesso que eu posso me interessar mais do que os outros. Confesso também que esse texto foi para responder uma curiosidade minha (é, biólogos também fazem perguntas desse tipo). Mas vocês também deveriam se interessar, já que são fenômenos especialmente presentes no nosso dia-a-dia. Lâmpadas frias, interruptores de luz, ponteiros de relógio e quase tudo que ilumina ou brilha no escuro, envolve um dos dois. Pra quem quiser ir mais a fundo, tem preservativos fosforescentes também!
Com essa resposta eu já daria a minha curiosidade por satisfeita, mas conforme fui escrevendo o texto, me lembrei de uma coisa que li há algum tempo atrás, quando dava aulas de “Desenvolvimento sustentável”, e vi que esses fenômenos poderiam ter implicações bem mais profundas nas nossas vidas.
As lâmpadas fluorescentes, como o próprio nome diz, funcionam com o princípio da fluorescência. O tubo de vidro é preenchido com um gás inerte como o argônio e o vapor de Mercúrio (que é tóxico, mas a gente entra nessa questão outro dia). Quando vocês ligam a luz na sua casa, a eletricidade esquenta os filamentos (de Tungstênio, como nas lâmpadas incandescentes) que estão na extremidade de cada ponto do tubo da lâmpada e assim liberam elétrons para o gás. Esses elétrons ionizam o gás (fazem com que o argônio e o Hg também percam elétrons) e com isso eles ganham carga (positiva). Como de um lado da lâmpada é negativo e do outro é positivo, esses íons se aceleram com a diferença de potencial e vão ionizando outros átomos. Toda essa excitação produz ultravioleta. Se não fosse aquele pó branco que recobre a lâmpada o que teríamos seria um sol particular e vocês poderiam ficar se bronzeando debaixo da lâmpada da cozinha, não fosse o fato do UV ser um dos maiores agentes carcinogênicos existentes. O pó branco é um composto fosfórico (que contem ainda um monte de outros elementos, incluindo metais pesados diversos) que absorve a radiação UV e emite luz visível.
Quando desligamos a lâmpada, a fluorescência cessa, mas a lâmpada ainda pode emitir brilho, devido à fosforescência. Os interruptores de luz são feitos com um material fosfórico que emite mais fosforescência e, brilhando no escuro, depois que cessa a energia de excitação, para que você o encontre com mais facilidade e acenda a luz.
As lâmpadas fluorescentes também são chamadas de lâmpadas frias, e vem sendo cada vez mais utilizadas atualmente pelo fato de aproveitarem melhor a energia elétrica, diminuindo o desperdício. As lâmpadas incandescentes, para produzirem 5% de luz gastam os outros 95% da energia elétrica produzindo calor. As lâmpadas fluorescentes produzem 75% da energia em luz e apenas 25% é perdido como calor.
A princípio, não parece um número irrelevante, mas se vocês pensarem no resultado disso na conta de luz no final do mês ele pode parecer irrelevante sim. Uma daquelas economias bobas que varia entre R$ 0,76 e R$ 2,47. No entanto, se pensarmos globalmente, a economia não têm nada de irrelevante. Ela é enorme! Pensei nisso alguns anos atrás quando tivemos que reduzir nossas contas de luz por conta do Apagão.
Já naquela época, apesar da série de confusões governamentais que levaram ao Apagão, quem pagou a conta, fomos nós. Um livro que eu li, muito antes do racionamento, dizia que a melhor coisa que um governo poderia fazer era trocar todas as lâmpadas incandescentes das casas de todas as pessoas no país por lâmpadas fluorescentes. E deveria fazer isso sem custo direto para a população. De graça!
Por que a economia seria tanta, mas tanta, que não haveria necessidade de se racionamento. E mais, nem mesmo construindo uma nova usina hidroelétrica, que custaria infinitamente mais do que a troca das lâmpadas, se conseguiria produzir mais energia do que teria sido economizada com esse simples gesto.
O livro trazia um cálculo parecido para os Estados Unidos. Segundo os autores, se o governo americano trocasse todas as lâmpadas incandescentes por fluorescentes, a energia economizada seria equivalente ao correspondente em petróleo, que o país importa do oriente médio todos os anos.
Ou seja, trocando todas as lâmpadas, a 1/100 do custo de construção de uma usina nuclear, não haveria mais necessidade de se importar petróleo do Oriente. E assim, não haveria mais necessidade de intervir em governos soberanos com guerras para manipular o preço do petróleo. E sem necessidade de resistir a invasão dos governos estrangeiros, talvez não houvesse insurgência de grupos fanáticos religiosos na região. E talvez fosse evitado o nascimento do terrorismo.
Tudo isso só trocando algumas lâmpadas.
Placebos
Hoje a pergunta, de um amigo de meu pai, veio disfarçada: “Mauro, você…” e não completou, “…me diga uma coisa”. Quando ele nem completou, eu já sabia que boa coisa não podia vir. Mas como ele foi uma das duas únicas pessoas que assistiu espontaneamente a reportagem que a Globonews fez comigo uns anos atrás, eu não franzi a testa e deixei ele perguntar:
“Enquanto eu estava morando nos EUA, tomava um remédio como acessório para o controle da minha diabetes. Como era um remédio muito caro, de volta ao Brasil resolvi pesquisar se o encontrava por aqui. Na Farmácia, consegui o mesmo remédio, na mesma dosagem. Então como se explica ele ter tirado meu sono e aumentado meu apetite?”
Não sou médico, não entendo de diabetes e não conheço o remédio que ele falou, mas uma das coisas que ele falou me chamou atenção: remédio acessório. Na verdade a dúvida do amigo de meu pai era como, exatamente o mesmo remédio, podia causar um efeito tão diferente quando comprado nos EUA ou aqui. A questão é que o remédio não era um remédio. Me lembrei de dois outros causos que terei mais facilidade pra explicar a questão.
No primeiro, namorava uma menina que sofria muito de cólicas e depois de penar em meio a uma crise terrível de TPM dela, uma amiga sugeriu que eu indicasse Artemísia para ela, dizendo que não existia nada melhor para a cólica. Fui numa dessas lojas de natureba e encontrei as gotinhas. No rótulo estava escrito: “Indicado para cólicas menstruais, blá, blá, blá”. No contra-rótulo estava: “Nenhuma contra-indicação. Não existe nenhuma comprovação científica dos efeitos da Artemísia.” Pronto, bastou para eu devolver o frasco para a prateleira e correr na farmácia pra comprar Buscopa.
Minha mãe, que andou sofrendo de artríte nos dedos por fazer suas belas pinturas, pediu uma vez que eu comprasse a última novidade para as dores nas articulações. Fui na farmácia, mas ninguém conhecia o tal do Sulfato de Glicosamína. É que ele fica na prateleira das vitaminas. O troço promete maravilhas: “diminui a dor nas articulações” e “aumenta a flexibilidade e a amplitude dos movimentos”; custa caríssimo, mas nas letras pequenas está dizendo “essas afirmações não foram testadas pela FDA. Não existe comprovação científica dos efeitos relatados”. Fala sério gente!
O que eu vou fazer aqui, é explicar pra vocês o que quer dizer o “Não existe comprovação científica”. Isso quer dizer que, quando eles ministraram a droga para um monte de pessoas com dores nas articulações, umas sentiram melhora, mas outras… não. Quando eles repetiram o experimento, novamente algumas pessoas sentiram melhora e outras não, só que o percentual dessa vez era diferente. Pode ter sido ainda que em outras repetições do experimento, pra gente encurtar a estória, numa vez todos sentiram melhora, mas na outra… ninguém. O que importa não são as variações pra maior ou menor. O importante é que eles não conseguiam repetir o resultado. E isso, um resultado que não pode ser repetido, a ciência não admite! Com um resultado assim, não podemos provar nada.
Não dá pra provar que não faz bem, mas mal também não faz e… acaba-se conseguindo uma licença pra vender a porcaria. Mas ao invés de vir escrito em letras garrafais que apenas 13,87% das pessoas que consomem o medicamento observam alguma melhora, eles colocam uma embalagem linda e escondem em letras minúsculas que não há comprovação científica. E vendem pra grande parte da população, com a aprovação do governo, um placebo de luxo. Caríssimo!
Podemos discutir porque alguns remédios, com efeitos comprovados, realmente apresentam variação na resposta de pessoa pra pessoa (isso tem a ver, por exemplo, com a ativação dessas drogas pelos Citocromos P450 no fígado) mas o problema é que a força da ciência não é páreo para a propaganda. E nem para a especulação. Por isso que temos mais igrejas do que universidades, mais astrólogos que astrônomos, e os homeopatas e ortomoleculares crescem em meio aos médicos, que são cada vez mais arrogantes e despreparados para lidas com os seres humanos.
Pacientes são chatos é verdade, principalmente os com dores. Mas mais ainda, aqueles com dores com as quais os médicos não sabem lidar. A forma que eles tem achado para isso, é ministrar remédios com comprovação de resultados discutível, torcendo para que seus pacientes se encaixem nos 13,87% dos que apresentam melhoras, ou simplesmente, nos 42% que se contenta de estar tomando um remédio caro e melhoram só por isso, ou em algum outro percentual dos que param de reclamar.
Minha mãe tem menos dores nas articulações, mas o amigo de meu pai não teve tanta sorte e por algum motivo, o placebo dele não funcionou. Mas o laboratório o médico, a farmácia e o laboratório ficaram felizes nos dois casos.
"A Lua, quando ela roda, é nova, minguante e meia-lua, é cheia"



Como é possível? Lembre-se que seus olhos não vêem nada, eles apenas capturam as ondas eletromagnéticas que refletem nos objetos. Quem vê é o seu cérebro! Não fosse a sua experiência de associar significado as coisas, essas ondas que chegam na sua retina não fariam algum significado. Então, ainda que seja o seu cérebro que veja, ele pode se confundir de vez em quando.
Você não acredita? Experimente fechar os dedos e formando uma luneta, e olhe a lua no horizonte por entre a luneta. Viu?! Ela tem o mesmo tamanho de quando você a vê na abobada do céu!
O que você faria?

Animado com a possibilidade de iniciar seus trabalhos com os recursos oferecidos por Dr. Farias e de orientar Anthony, Dr. Arnold aceita a proposta. No início, Anthony se mostra muito interessado e aplicado. No entanto, com o passar do tempo, Dr. Arnold percebe que Anthony teve uma formação científica deficiente, com muitas lacunas em conceitos fundamentais. Sua base teórica é fraca, muitas de suas iniciativas são equivocadas e o esforço que ele emprega na bancada não se reverte em resultados positivos. Paralelamente, Dr. Farias oferece mais recursos a Dr. Arnold e propõe a co-orientação de um segundo aluno, Brian, que tem mais tempo para planejar seus experimentos e parece ter uma formação mais sólida, com potencial para realizar efetivamente um bom trabalho. Mas quando chega o momento de Anthony escrever a tese, o resultado é pior ainda. A sua dificuldade em colocar em palavras todo o conhecimento adquirido na revisão bibliográfica e em discutir seus resultados, torna a tese de difícil leitura e Dr. Arnold teme pela sua aprovação. Dr. Farias por outro lado acredita que os resultados de Anthony são suficientes para a defesa. Alem disso, Anthony já foi aprovado para o programa de doutoramento em sua instituição.
Dr. Farias então pede a Dr. Arnold que tome parte da banca e monte uma comissão julgadora que minimize as dificuldades de Anthony para que ele possa ser aprovado. Preocupado com o futuro da colaboração que envolve o trabalho de Brian e efeito que a reprovação na tese causaria no prosseguimento da carreira de Anthony, Dr. Arnold, juntamente com outro colega, resolvem aprovar a deficiente tese de Anthony.”
Na sua opinião, a decisão de Dr. Arnold envolveu a proteção do futuro e do trabalho de Brian, ou os recursos provenientes de Dr. Farias?
Como você vê a decisão de Dr. Farias de aprovar para o doutorado um aluno com tantas deficiências como Anthony?
Água mineral verde?

Outro dia me perguntaram, por que a água mineral do meu garrafão fica verde?
Segundo o revendedor, seria por causa do sol, na área onde os garrfões ficariam guardados. É verdade, o sol poderia ‘despertar’ as algas que estão na água. Peraí… mas tem algas ná água potável? Não deveria ter!
Bom, essas algas só poderiam se reproduzir se tivessem nutrientes. Principalmente P (fósforo) e N (nitrogênio) que são altamente limitantes em condições normais. Em geral, eles deixam de ser limitantes quando a água está, digamos, suja. Na verdade contaminada com esgoto doméstico (que pode ser representado pelos coliformes fecais). Peraí… á água mineral é suja? Não deveria ser!
Pode ser que alguma confluência de fenomenos complexos faça a sua água mineral ficar verde. Mas o mais provável, é que essa fonte seja uma porcaria.
Quem me perguntou comprou água de uma outra fonte, e ela nunca mais ficou verde!
Quem é o tricolor?
Tava no jornal hoje: “O novo técnico da seleção, Dunga, foi até o Beira Rio assistir o Grenal pelo campeonato brasileiro, mas viu pouco futebol e um show de pancadaria pela torcida tricolor gaúcha…”. Mais abaixo: “o tricolor paulista perdeu de goleada do Santos, mas continua em primeiro lugar com 29 pontos.” Outro dia me contaram que o Nelson Rodrigues dizia que “Tricolor é o Fluminense, os outros são times de três cores!”
Lamento desapontar a todos, mas nenhum deles é tricolor!
Tanto Grêmio, quanto São Paulo e Fluminense, têm o branco entre suas 3 cores. Sendo que Grêmio e São Paulo ainda tem o preto. Só que tanto o Branco quanto o Preto não são cores!
Nós enxergamos devido a sensibilidade das células da nossa retina (chamadas Cones e Bastonetes) a luz refletida nos objetos. A luz é uma onda eletromagnética. E a luz visível são aquelas ondas que as células da nossa retina podem captar, e estão na faixa de comprimento entre 400 e 700 nanometros. Na base do espectro, com comprimentos de onda pequenos, está o violeta e no final, com comprimento alto, está o vermelho. E entre elas… todas as cores do arco-íris.
Abaixo dos 400 nm temos o o ultra-violeta, que não só nossas células não percebem, como danifica elas (mesmo assim alguns insetos como as abelhas podem “ver” no ultravioleta). Acima dos 700nm temos o infra-vermelho, que nós percebemos como “calor”.
Quando vemos um objeto, como a camisa de um time, de uma determinada “cor”, é porque aquele objeto (o corante no tecido da camisa) “reflete” as ondas eletromagnéticas daquele comprimento de onda específico, absorvendo todas as outras ondas. Se ele reflete duas ondas, temos uma cor mista, como o amarelo, que é a mistura do verde e vermelho. E que deveria ser a cor da camisa do Vasco na final da copa do Brasil!
E quando o tecido absorve TODAS as ondas eletromagnéticas visíveis? Nada chega a nossa retina. Fica um vazio… escuro… é o preto! Mas e se o tecido refletisse TODAS as ondas? E TODAS chegassem a sua retina AO MESMO TEMPO? O resultado seria… o Branco! Isso acontece porque a luz que vemos não é polarizada (isso é uma outra história) e todos os os raios de uma fonte luminosa chegam a nossa vista ao mesmo tempo, com a sobreposição das ondas de todas as cores. A chamada luz branca.
Dessa forma o Flamengo é vermelho, o Fluminense vermelho e verde, o Vasco é uma cruz vermelha e o Botafogo é uma estrela, sem nenhuma cor.
Fico com essa impressão de que era melhor continuar falando de sexo!
O que você já aprendeu com um best-seller?
Vejam que legal. Uma amiga escritora viu o VQEB e me convidou pra escrever em uma oficina literária onde ela orienta alunos de literatura e física a terem uma linguagem comum de aprendizado, a literatura. Eu então, pra não fazer feio, pensei muito no assunto e vi que ele renderia não só um texto, mas, me arrisco a dizer, uma revolução no ensino. Eis o texto que mandei para o site dela:

Enquanto os cientistas se aprofundam cada vez mais em descobertas inacessíveis ao público leigo e se sentem incapazes (acham desnecessário ou são incompetentes) para transmitir o conhecimento das suas descobertas para o público leigo, os autores de ficção estão contando histórias que transmitem essas informações de uma forma suave e divertida.
Atualmente se segue uma ordem compartimentalizada para comunicar a informação. Primeiro se publica em formato e linguagem científica, os artigos científicos; depois se divulga em linguagem para leigos, os artigos de jornais e revistas, alem de alguns programas de televisão; em terceiro na forma de manual, o material didático; e por fim, a totalmente inexplorada propaganda das descobertas científicas: o marketing científico.
Existem profissionais para cada uma dessas atividades, mas nenhum que passeie por todas elas. Os cientistas escrevem seus artigos chatíssimos e totalmente inacessíveis em revistas especializadas. Os jornalistas tentam divulgar a informação para os leigos, mas a velocidade dos meios de comunicação como jornal e televisão, impedem que a informação científica seja verificada e transmitida com cuidado requerido pelo pesquisador que gerou essa informação. A divulgação de informações científicas equivocadas por parte da imprensa tem sido motivo de atrito entre pesquisadores e jornalistas por muito tempo, e afastado a ciência dos noticiários. É verdade que muitos jornalistas, atrás do furo, acabam tratando descobertas científicas como se fossem ficção científica (ou seja, com sensacionalismo). O material didático por outro lado é sempre antiquado e de renovação lenta. E nem de longe acompanha a velocidade das novas descobertas (e viva as iniciativas como a século 21, que tentam suprir essa falha do material didático) e o marketing… acho que os publicitários nunca ouviram falar de ciência na faculdade. Nem se interessam por isso. Enquanto para os cientistas isso parece ser a forma de transmissão do conhecimento menos importante, comparada as outras. Um erro que pode estar sendo fatal.
Por que um de nós não pode preencher todos os quesitos e comunicar, de uma só vez, a informação acessível a todos os grupos? Não seria a narrativa a ferramenta que viabilizaria esse desafio? Se a narrativa e uma ferramenta importante para o ensino, então o best-seller “O Código da Vinci” deveria ser um livro didático. E é!
Em seus 4 livros, Dan Brown comunicou mais ciência e história (e para mais pessoas) do que todos os artigos científicos e livros didáticos que li no último ano. O mesmo vale para outros livros como “O enigma do 4” e “Aqueles malditos cães do Arquelau”. “O mundo de Sofia” conseguiu me ensinar mais (alguma) filosofia enquanto do que todos os livros citados pelo autor que eu tentei ler. Quem nunca aprendeu sobre lei e justiça lendo livros como “O peso da verdade”?
Tem uma lenda urbana que diz que a primeira vez que Einstein foi comunicar sua teoria da relatividade especial, ninguém entendeu. Então ele tentou simplificar um pouco e contou a estória de novo. Ninguém entendeu ainda. E ele simplificou mais e mais e mais vezes, até que, quando a platéia conseguiu entender o que era, não era mais a teoria da relatividade especial.
Como estabelecer o vínculo entre a fantasia e a realidade, para que as informações científicas não sejam incorporadas erroneamente ou super simplificadas durante a narrativa? O professor(!) vira peça fundamental nesse processo. E na ausência do professor, o computador e a Internet podem preencher a lacuna com aulas virtuais, acesso aos as fontes da informação e criando um ambiente virtual de discussão dos alunos.
Não é uma questão do aluno ser autodidata e aprender com livros de narrativa, mas do professor ensinar com esses livros. E do pesquisador “comunicar” com eles. Enquanto a TV, o cinema, o computador e a Internet bombardeiam os jovens com linguagens cada vez mais dinâmicas e interessantes, estamos apegados a um modelo de ensino fadado a… monotonia.
E nós podemos perdoar um monte de coisas, mas a chatice não é uma delas!
Posso tirar uma flor da árvore?
É uma pergunta que comporta um simples sim ou não como resposta, mas seria um desperdício, por que há tanto para se falar sobre esse assunto.
Vou fazer outra pergunta (daqui a pouco eu chego lá no ponto que interessa). Os elefantes podem tirar flores de árvores? Ou melhor, os elefantes podem derrubar árvores inteiras quando em manada correm pela savana (ah… você achava que eles desviavam)? Sendo mais delicado, é certo que abelhas retirem o néctar das flores? É errado que cupins alterem a paisagem dos pastos construindo cupinzeiros?
Uma das questões que se esconde por trás de retirar uma flor da árvore é a existência de certo ou errado na natureza, que como eu já falei antes, não existe. O que existem são estratégias que se mostram viáveis (eficientes) ou não em longo prazo.
O homem não deveria ser nem melhor, nem pior que o elefante, ou a abelha, que não estão nem ai pra natureza. Pra eles não existe certo ou errado. Mas eles puderam, por tentativa e erro, ao longo do tempo, descobrir se uma estratégia era viável ou não. Se pensarmos em TODAS as espécies que já habitaram o planeta terra, 99,9999% já se extinguiram. É um número bastante impressionante e mostra que o homem, por mais que esteja acelerando esse processo, não muda o fato que, assim como a morte é a única certeza da vida para um organismo, a extinção é a única certeza de uma espécie. Independentemente (e inclusive) do homem.
Os eventos que consideramos danosos a natureza (radiação, contaminação, incêndios, competição) sempre foram importantes mecanismos para controlar o tamanho das populações e criar a variabilidade que, eventualmente, gerou a grande biodiversidade que encontramos hoje no planeta.
A inteligência humana ainda não foi capaz de compreender como funciona a sua consciência, mas permitiu o homem desenvolver um ego grande o suficiente para se considerar à parte da natureza. Algo do tipo “bicho é bicho, gente é gente”. O que vem do homem não é natural. Que besteira!
Essa idéia tem levado a noção de que o homem é que está destruindo a natureza. De que somos os “vilões” e que estamos “errados”. Só que julgamos esse “errado” de acordo com a moral judaico-cristã predominante no mundo ocidental. Para reparar esses “erros” criamos parques nacionais, reservas biológicas e áreas intocadas, para compensar a destruição que fazemos em todos os outros locais. No entanto, a moral judaico-cristã não se aplica a natureza! Não é muito diferente do que fazer sacrifícios aos Deuses para que um vulcão não entre em erupção. E o vulcão… insensível ao sacrifício… explode do mesmo jeito!
Ainda que o homem esteja fazendo algum estrago, se considerarmos as mudanças pelas quais o planeta passou nos últimos 3 bilhões de anos, vemos que o potencial do homem para destruir a Terra é bem menor, muito menor, extremamente menor, do que o potencial da Terra para destruir o homem. Toda a humanidade! Se você não acredita em mim, pense nos últimos tornados, ciclones, secas, enchentes, terremotos e tsunamis. Na verdade, as áreas do planeta que apresentam maior diversidade de animais e plantas não são os parques e reservas. São justamente aquelas áreas onde comunidades humanas tradicionais (índios, ribeirinhos…) coexistem com a natureza.
Retirar uma flor da árvore, para qualquer fim que seja, não é errado. E não vai causar um desequilíbrio ecológico. Então enfeite sua mesa, enfeite sua vida!
Por que a Serra é dos Órgãos?
De acordo com os sites consultados, a reposta pode ser resumida nesse parágrafo extraído da revista Terra: “Um pouco mais à frente, através de uma trilha secundária, chega-se ao ponto conhecido como Portais de Hércules, onde se descortinam, subitamente, os picos que revelam a origem do nome da cadeia de montanhas. Pontiagudos, e dispostos paralelamente, o Dedo de Deus, o Dedo de Nossa Senhora, o Cabeça de Peixe, o Santo Antônio, o São João, o Verruga do Frade, o Agulha do Diabo e o Garrafão parecem mesmo os majestosos tubos de um órgão de igreja.”
Com a licença de Lavoisier, “Nada se cria, tudo se copia!”
A invasão dos percevejos!
Uma amiga querida me perguntou, já que eu era o biólogo, por que sua casa foi invadida por percevejos. Apesar de ser um biólogo apaixonado, que de vez em quando se espanta com o quanto às pessoas desconhecem do que é ser biólogo, o mais engraçado nesse momento seria criar uma teoria mirabolante para responder a mirabolante pergunta. De acordo com um outro amigo querido, filosofo (na verdade dono de buteco, o que é quase a mesma coisa): A versão verdadeira deve ser sempre aquela que for a mais engraçada!
Essa amiga se interessou pelo assunto e foi a Internet (o Oráculo) a procura de informações. Descobriu que os percevejos são insetos do filo Arthropoda; classe Insecta e da ordem Hemíptera (a mesma dos besouros). Como insetos, possuem 3 pares de patas (ao contrário dos aracnídeos, do mesmo filo, mas de outra classe, que possuem 4 pares de patas). Os sites a assustaram, falando sobre percevejos sugadores de sangue que adoram fazer ninhos nas camas. Na verdade esses insetos são caseiros, mas de diferentes tipos. Alguns voam, outros não, e nem todos fazem ninhos nos colchões (menos ainda nos chuveirinhos higiênicos dos banheiros) e nem todos sugam sangue. A sua principal característica, o cheiro desagradável, é justamente a sua ferramenta pra espantar os outros. Por outros, leia-se, seus inimigos, competidores e predadores.
Mas o que faz com que uma casa seja invadida por percevejos? Um desequilíbrio ecológico? É a pergunta e também a resposta mais natural, mas não necessariamente a correta.
Vemos o dano que os desequilíbrios ecológicos vem causando por todo planeta: Aquecimento global, falta d’água potável, furacões e tsunamis, derretimento da calota polar, mosquitos mutantes… Mas geralmente os vemos em noticiários leigos e sensacionalistas.
A primeira coisa que temos de descobrir é se realmente ouve uma invasão de percevejos. Os ovos de muitos insetos se parecem, e podem ser confundidos. O odor característico dos percevejos pode permanecer em um ou mais cômodos da casa mesmo quando os animais, que estavam de passagem, já foram para outro local. A segunda coisa é saber se é um evento isolado. Seus vizinhos foram invadidos por percevejos? A rua? Saiu na televisão?
O mais provável é que não tenha havido desequilíbrio ecológico. A maior parte dos insetos é oportunista. Quando encontra um ambiente favorável, um nicho ecológico desocupado, sem predadores e com oferta de alimento, se instala e explora o ambiente, tentando se reproduzir rapidamente (alguns machos humanos adoram fazer o mesmo em bares!). Mas o que leva a esse nicho estar desocupado? Provavelmente nunca poderemos responder.
Apesar disso, certamente deve existir uma razão: um filho que foi passear no parque trouxe ovos ou mesmo uma fêmea grávida na roupa e, tirando a camisa na sala depois do jantar, deixou os bichinhos perto de alimento e abrigo: tudo que eles precisam pra desencadear um processo de “o ambiente está propício para novas gerações, vamos reproduzir”. Mas também pode ter sido o cachorro do irmão que veio passar o final de semana, ou um pássaro que pousou no terraço. Quem pode saber?
O acaso é uma ferramenta poderosa, mas vamos deixar pra falar dele um outro dia.